Palavras-chave: Cardiologia. Cães. Alterações congênitas Keywords: Cardiology. Dogs. Congenital changes

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1 MEGAESÔFAGO CONGÊNITO ASSOCIADO A PERSISTÊNCIA DE DUCTO ARTERIOSO EM CÃO SEM RAÇA DEFINIDA RELATO DE CASO CONGENITAL MEGAESÔPHAGO ASSOCIATED WITH THE PERSISTENCE OF ARTERIOUS DUCT IN DOGS WITHOUT A DEFINED BREED - CASE REPORT Renan Paraguassu de Sá RODRIGUES¹; Marina Pinto SANCHES 1 ; Maria Angélica Parentes da Silva BARBOSA 1 ; Mariela Sousa GOMES 1 ; Laecio da Silva Moura 1 ; Gerson Tavares PESSOA¹; Flávio Ribeiro ALVES 1 1 Laboratório de Diagnóstico por Imagem Veterinário Especializado (LABDIVE), Curso de Medicina Veterinária, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Piauí, flavioribeiro@ufpi.edu.br Resumo: A persistência do ducto arterioso (PDA) é um defeito cardíaco congênito de grande importância para os cães devido às implicações clínicas que esta afecção pode acarretar, podendo vir isolada ou acompanhada de outras, cardíacas ou não, como o megaesôfago. Os achados radiográfico e ecocardiográfico da paciente em questão, tais como, dilatação do lúmen esofágico torácico, silhueta cardíaca definida, deslocamento ventral da traqueia, disfunção sistólica ventricular esquerda e sobrecarga de volume, foram essenciais para o diagnóstico definitivo de PDA associada ao megaesôfago. O objetivo deste trabalho é relatar o caso de um paciente canino de 06 meses de idade que foi atendido no Hospital Veterinário HVU/UFPI, acometido por uma associação de alterações congênitas, cardíacas e não cardíacas, uma PDA e um megaesôfago, respectivamente, confirmados por meio de exames complementares de imagem. Palavras-chave: Cardiologia. Cães. Alterações congênitas Keywords: Cardiology. Dogs. Congenital changes Revisão de literatura: As cardiopatias congênitas são as alterações cardíacas mais frequentes nos animais jovens e sua prevalência tem sido estimada em 0,67% a 0,85%. Dentre estas, destaca-se a persistência do ducto arteriosos (PDA) (SILVA, 2009). O ducto arterioso é um vaso derivado do sexto arco aórtico esquerdo existente durante a Anais do 38º CBA, p.1535

2 vida fetal, que conecta o tronco pulmonar à aorta. Este oblitera-se após o nascimento, passando a ser chamado de ligamento arterioso (BONAGURA, 1992). A PDA, é um defeito cardíaco congênito importante que pode ser encontrado em cães. Existem duas condições com características hemodinâmicas diversas em relação à PDA: a primeira e mais frequente, é caracterizada pelo fluxo sanguíneo no interior do ducto, ocorrendo no sentido da esquerda para direita, da aorta para o tronco pulmonar, denominada de persistência do ducto arterioso clássica (PDAc). A segunda forma, chamada persistência do ducto arterioso reverso (PDAr), caracteriza-se pela reversão do fluxo sanguíneo, isto é, no sentido do tronco pulmonar para a aorta (FOSSUM, 1997). A principal consequência da PDA no coração é a sobrecarga ventricular esquerda, o que acarretará em processos de dilatação e hipertrofia ventricular esquerda. Tal desvio resultará em contínuo sopro cardíaco, aumento do fluxo pulmonar e aumento do retomo venoso para o átrio e o ventrículo esquerdos. (JONES e BUCHANAN, 1981). O tratamento da PDA será baseado na sintomatologia do paciente. O tratamento definitivo é cirúrgico, porém, deve-se atentar primariamente para o estado geral do paciente, tratando-se os sintomas associados (STOPIGLIA, 2004). Diversos autores relatam a associação da PDA com outras patologias congênitas, cardíacas ou não. Dentre estas patologias, destaca-se o megaesôfago, caracterizado pela dilatação generalizada do esôfago, onde este órgão perde parcial ou totalmente seu peristaltismo, devido a uma desordem neuromuscular. Esta alteração pode ser classificada como congênita e idiopática, ou adquirida (STOPIGLIA et al., 2004). As principais causas de megaesôfago secundário são miastenia grave, neuropatias degenerativas, anomalias do anel vascular tumores e problemas cervicais, além disso, obstruções esofágicas comumente podem causar estenose, com consequente dilatação da porção anterior (STOPIGLIA, 2004). Algumas raças de cães apresentam predisposição para a ocorrência do megaesôfago, tais como o Schnauzer, Pastor Alemão e Dogue Alemão. O sinal clínico mais comum é a regurgitação logo após a ingestão alimentos sólidos. O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos e nos exames de imagem. O tratamento é clínico e consiste em oferecer ao animal apenas pequenas refeições semi-sólidas ou Anais do 38º CBA, p.1536

3 líquidas, com este em posição elevada, mantendo-o por 15 minutos nesta posição após a refeição (NELSON e COUTO, 1998). O objetivo deste trabalho é relatar o caso de uma paciente canina que foi atendido no Hospital Veterinário HVU/UFPI, acometido por uma associação de alterações congênitas, cardíacas e não cardíacas, PDA e megaesôfago, respectivamente, confirmados por meio de exames complementares de imagem. Descrição do caso: Foi atendido no Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal do Piauí - HVU/UFPI uma cadela, sem raça definida, mestiça de Pastor Alemão, 06 meses de idade, pesando 13,6 kg. Na anamnese, o tutor relata um histórico de regurgitação a cerca de três meses. A cadela vinha apresentando perda de peso, tinha apetite e se alimentava com voracidade, más regurgitava o alimento após alguns minutos, bebia água normalmente e apresentava engasgos eventuais. Ao exame físico observou-se um leve grau de desidratação, frequência cardíaca (FC): 103bpm, mucosas normocoradas e um sopro cardíaco grau III na auscultação. Mediante às características observadas, levantou-se a suspeita clínica de megaesôfago e cardiopatias congênitas, onde solicitou-se a realização de exames complementares. A radiografia de tórax demonstrou presença de dilatação do lúmen esofágico torácico com conteúdo gasoso, silhueta cardíaca definida, deslocamento ventral da traqueia intratorácica e câmaras cardíacas sem alterações evidentes, imagens sugestivas para megaesôfago. O exame ecocardiográfico evidenciou: disfunção sistólica ventricular esquerda discreta, sobrecarga de volume, evidenciando menor resposta em contratilidade radial e contratilidade longitudinal reduzida, função diastólica em ventrículo esquerdo preservada, função sistólica e diastólica preservada do ventrículo direito, insuficiência em válvula pulmonar leve. Tais achados foram sugestivos para persistência de ducto arterioso (PDA) ou comunicação entre a artéria pulmonar e vaso anômalo derivado de persistência de quarto arco aórtico. Discussão As alterações cardíacas encontradas apresentaram-se bastante semelhantes a outra cardiopatia congênita conhecida na clínica médica, a Tetralogia de Fallot, Anais do 38º CBA, p.1537

4 que reúne em um mesmo paciente a combinação de quatro defeitos: comunicação interventricular, dextroposição da aorta, estenose pulmonar e hipertrofia congênita secundária do ventrículo direito (MENDES et al., 2012). Para o presente caso, o diagnóstico definitivo destas cardiopatias foi baseado nos exames de imagem, a ecocardiografia e a radiografia, bem como descrito por (SISSON e GROSSMAN, 1986). O animal aqui estudado, apesar de não ser de raça pura, é um mestiço de pastor Alemão, uma das raças predisponentes para a ocorrência de megaesôfago. Suspeitou-se de megaesôfago devido à sintomatologia clínica, sendo considerado congênito pelo fato desta alteração ter aparecido em uma idade tão nova, não havendo tempo de ser adquirida. Na radiografia torácica, foi possível observar dilatação generalizada do esôfago, com conteúdo gasoso em seu interior, confirmando a suspeita clínica (FORBES e LEISHMAN, 1985). O tratamento preconizado foi sintomático, a fim de minimizar os sinais clínicos, bem como preconizado por Nelson e Couto (1998). Com relação à PDA, o exame ecocardiográfico também foi responsável por fornecer o diagnóstico definitivo. Por meio da técnica Doppler, foi possível identificar a direção do fluxo no ducto arterioso, permitido classifica-lo como PDAc. Em casos mais graves de PDAc, pode-se visualizar aumento atrial esquerdo, dilatação e hipertrofia ventricular esquerda, fluxo turbulento de ejeção da aorta, além de poder elucidar o diâmetro e comprimento do ducto. Contudo, por se tratar de um animal jovem e compensado, estes sintomas não haviam sido observados ainda (ARORA, 2001). O tratamento cirúrgico foi recomendado, bem como descrito por Stopiglia (2004). Contudo, até o presente momento a cirurgia não foi realizada devido às condições financeiras do proprietário. Conclusão: As doenças congênitas, cardíacas ou não, são as alterações mais frequentes nos animais jovens. A anamnese, o exame físico e os sinais clínicos observado, foram de fundamental importância para o diagnóstico precoce das alterações aqui estudadas. Os exames complementares constituíram-se como uma ferramenta auxiliar de diagnóstico indispensável, possibilitando a detecção precoce e Anais do 38º CBA, p.1538

5 fornecendo ao clínico subsídios para um tratamento correto e eficaz, propiciando, consequentemente, uma melhor qualidade de vida ao paciente. Referências: ARORA, M. Reversed Patente duclus arleriosus in a dog. Canadian Veterinary Journal, v.42, p , BONAGURA, J. D. Moléstia cardíaca congênita. In: ETTINGER, S. J. Tratado de medicina interna veterinária: moléstias do cão e do gato. 1. ed. São Paulo: Manole, p. FORBES, D. C.; LEISHMAN, D. E. Megaesophagus in cats. Canadian Veterinary Journal, v.26, n.11, p , FOSSUM, T. W. Surgery of the cardiovasclllar system. In: Small animal surgery. 1. ed. Saint Lollis: Mosby-Year Book, 1997, p. JONES, C. L.; BUCHANAN, J. W. Patent duclus arleriosus: anatomy and sllrgery in a cal. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.179, n.1, p , MENDES, R. S.; SOUZA, A. P.; e SANTANA, V. L. Tetralogia de Fallot em pequenos animais - Revisão bibliográfica. Pubvet, v.6, n. 3, p.1279, NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Anomalias do anel vascular. 1. ed. São Paulo: Manole, 1998, 125p. SILVA, D. L. Cardiopatias congênitas de maior ocorrência em cães f. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Castelo Branco - UCB/QUALITTAS, São Paulo, 2009 SISSON, S; GROSSMAN, J. D. Anatomia dos animais domésticos. 3. Ed. São Paulo: Guanabara,1986, 1497p. STOPIGLIA, A. J.; FREITAS, R. R.; IRINO, E. T.; AKAO, M. H. M.; JATENE, F. B. Persistência do ducto arterioso em cães: revisão. Revista de Educação Continuada, v.7, n.3, p.23-33, Anais do 38º CBA, p.1539