CORRELAÇÃO ENTRE VHS (VERTEBRAL HEART SIZE) E AS VARIÁVEIS ELETROCARDIOGRÁFICAS: DURAÇÃO E AMPLITUDE DAS ONDAS P E DO COMPLEXO QRS, EM CÃES

Transcrição

1 CORRELAÇÃO ENTRE VHS (VERTEBRAL HEART SIZE) E AS VARIÁVEIS ELETROCARDIOGRÁFICAS: DURAÇÃO E AMPLITUDE DAS ONDAS P E DO COMPLEXO QRS, EM CÃES CORRELATION BETWEEN VHS (VERTEBRAL HEART SIZE) AND THE ELECTROCARDIOGRAPHIC VARIABLES: DURATION AND AMPLITUDE OF P WAVES AND QRS COMPLEXES IN DOGS Ana Paula Marques MULLER 1* ; Thiago Martins SOUZA 1 ; Erica Mendes BRANDÃO 1 ; Dennis Leite dos SANTOS 2 ; Dglan Firmo DOURADO 2 ; Adriana Vivian Costa ARAUJO 3 ; José Ribamar da Silva JUNIOR 4 1 Estudante de graduação de medicina veterinária, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, anamuller13@outlook.com 2 Mestrando em Ciência Animal Universidade Estadual do Maranhão - UEMA 3 Doutoranda em Biotecnologia pela Renorbio, Universidade Federal do Maranhão - UFMA 4 Professor do departamento das Clinicas, CCA, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA - anejun@gmail.com Resumo: O VHS (vertebral heart size) é um método sensível para a identificação de cardiomegalia, sendo estimado através relação entre tamanho cardíaco e o comprimento de corpos vertebrais em radiografias laterolaterais direita e ventrodorsais. O eletrocardiograma (ECG) é menos especifico para a identificação da hipertrofia cardíaca, no entanto ele pode sugerir o aumento dos átrios e ventrículos quando as ondas P e QRS estão alteradas em amplitude (mv) e/ou duração (ms). Devido ao ECG ser de uso corriqueiro na medicina veterinária, realizou-se este estudo para correlacionar os achados do ECG com o VHS de cães. A amostra de animais utilizada neste trabalho foi de 19 cães, onde os dados de amplitude e duração das ondas P e QRS foram correlacionadas ao VHS. O valor médio de VHS foi 11,01±0,84 UV, onde 10,5 UV, a duração média da onda P foi 50,36±7,91 ms e de QRS, 61,36±6,39 ms; e a amplitude média de P foi 0,54±0,44 mv e a de R, 1,78±0,79 mv Não houve correlação significativa (p>0,05) obtida entre os achados eletrocardiográficos e o VHS Palavras-chave: cão, radiografia torácica, eletrocardiografia, silhueta cardíaca, VHS Anais do 38º CBA, p.0803

2 Keywords: dog, thoracic radiography, electrocardiography, cardiac silhouette, VHS Introdução: A utilização da relação cardíaca e esquelética para estimar o tamanho cardíaco não é nova, sendo proposta por Buchanan e Bücheler em O sistema chamado VHS (vertebral heart size) relaciona o tamanho cardíaco com o comprimento dos corpos vertebrais. O VHS consiste na soma do comprimento apicobasilar e da largura craniocaudal máxima mensurada do coração, correspondendo o comprimento encontrado com a quantidade de corpos/unidades vertebrais (UV) começando na face cranial de T4. (INAMASSU, 2011). O método VHS é muito útil para avaliar a presença de cardiomegalia. Em um estudo realizado em Beagles com cardiomegalia induzida por marca-passo, o VHS nestes apresentou uma correlação positiva significativa com a duração da onda P e do complexo QRS medidos no eletrocardiograma (NAKAYAMA et al., 2001). No eletrocardiograma (ECG) podemos avaliar a função do sistema de condução cardíaco e deduzir alterações estruturais, eletrolíticas e funcionais do músculo cardíaco. O ECG se baseia no fato das despolarizações e repolarizações do miocárdio gerarem diferenças de potencial detectáveis por elétrodos posicionados na superfície do corpo do animal, essas diferenças em milivolts (mv) em função do tempo (milissegundos) são ilustradas num gráfico e medidas segundo seis derivações (CUNINGHAM, 2004). As deflexões na linha base do gráfico do ECG são denominadas onda P, complexo de ondas QRS e onda T, que são ondas de despolarização e repolarização, no caso da onda T. Alterações no comprimento de onda ou duração podem indicar aumento de câmaras cardíacas. No caso do átrio esquerdo, a onda P pode se mostrar prolongada e, por vezes, serrada (notched), designada P-mitrale. O átrio direito pode originar um aumento na amplitude de P (P-pulmonale), especialmente nas derivações DII, DIII e avf. A onda R com alta amplitude nas derivações DII, DIII e avf e ocasionalmente o prolongamento do complexo QRS, em casos mais graves, podem indicar aumento de ventrículo esquerdo e o Anais do 38º CBA, p.0804

3 surgimento da onda S nas derivações DI, DII, DIII e avf, sugerem aumento de ventrículo direito. (FUENTES et al., 2010). Para a detecção de hipertrofia cardíaca, o ecocardiograma possui uma melhor sensibilidade quando comparado ao ECG, no entanto, o eletrocardiograma possui características diferenciais, como: a sua larga difusão na medicina veterinária, sua facilidade para interpretação e equipamentos de custo mais baixo. Desta forma, este trabalho tem como objetivo correlacionar os achados radiográficos, baseados no VHS e achados do ECG de cães atendido no HVU no período de 2016 a Metodologia e Métodos: O estudo foi realizado no setor de diagnóstico por imagem do hospital veterinário universitário Francisco Edilberto Uchoa Lopes, localizado na Universidade Estadual do Maranhão, em São Luís, Maranhão. Para este trabalho, foi utilizada uma amostra de 19 cães, sendo estes, pacientes que se utilizaram dos serviços prestados pelo hospital, em um período entre julho de 2016 a janeiro de O critério utilizado para a formação da amostra estudada partiu do fato dos animais terem alteração em dimensão do coração no exame radiográfico do tórax e sobrecarga elétrica no eletrocardiograma. Não foram requisitos para a formação da amostra: idade, sexo, porte ou raça. Para o exame radiográfico foram realizadas projeções laterolaterais direita e ventrodorsais do tórax, em um aparelho de raio-x fixo, e a revelação das películas ocorreu de modo manual. Durante o cálculo do VHS utilizou-se uma régua milimetrada para a mensuração dos comprimentos do eixo maior do coração, que em seguida foi transformado em unidades vertebrais partindo da face cranial de T4, e do eixo menor, no qual foi realizado o mesmo procedimento. Somou-se as duas quantidades para a obtenção do VHS. O exame eletrocardiográfico ocorreu com o auxílio de eletrocardiógrafo computadorizado e os registros foram feitos segundo metodologia descrita por Souza et al. (2000). Para a correlação foram utilizadas as medidas de VHS e amplitude (mv) das ondas P e R e as durações (ms) da onda P e do complexo QRS. Anais do 38º CBA, p.0805

4 Com os dados foi montado uma tabela com a distribuição dos casos. Criou-se um gráfico de dispersão para melhor visualização, foi realizada a correlação entre o VHS e a amplitude e duração da onda P e QRS. Os dados foram submetidos ao teste de correlação de Spearman com probabilidade de erro de 5%. Resultados e Discussão: O valor médio de VHS foi 11,01±0,84 UV, onde 10,5 UV é o limite máximo para um tamanho normal de silhueta cardíaca na maioria das raças (BUCHANAN e BUCHELER, 1995); a duração média da onda P foi 50,36±7,91 ms e de QRS, 61,36±6,39 ms; e a amplitude média de P foi 0,54±0,44 mv e a de R, 1,78±0,79 mv. Os 19 cães com alteração em dimensão do coração apresentaram sobrecarga elétrica ao exame eletrocardiográfico, sendo que 52,6% apresentaram sobrecarga elétrica generalizada, Segundo Gabay (2003) a radiografia é um método mais sensível do que o eletrocardiograma para determinação de dimensões das câmaras cardíacas, desta forma os achados eletrocardiográficos são apenas indicações quando relacionado ao aumento cardíaco. Quando relacionamos cada seguimento do ECG percebemos que as principais alterações ocorram no aumento da amplitude da onda P (90%) e no aumento da duração do QRS (90%). Em percentual menos aparece o aumento da duração da onda P (31,5%), e aumento na amplitude do QRS (31,5%). Ao se analisar as variáveis eletrocardiográficas dos animais 90% dos cães apresentaram aumento do átrio direito, indicativo de aumento atrial compensatório por problema pulmonar relacionado. Não houve correlação significativa (p>0,05) entre as variáveis analisadas, resultado diferente do encontrado por Nakayama et al. (2001), no qual as medidas correlacionadas para ECG e VHS foram significativas, no entanto no mesmo trabalho citam que a correlação entre VHS e ECG falhou quando a cardiomegalia induzida evoluiu, podendo ser devido ao fato do ECG ser mais sensível a hipertrofia concêntrica ou elo fato do VHS ser mais especifico para cardiomegalia. Conclusão: Anais do 38º CBA, p.0806

5 O fato de não haver correlação significativa (p>0,05) entre os achados eletrocardiográficos e o VHS pode ser explicada por conta da hipertrofia das câmaras cardíacas se classificarem de duas formas: a hipertrofia concêntrica que se desenvolve em resposta a uma sobrecarga de pressão e a excêntrica que surge em resposta a sobrecargas de volume, onde na radiografia, a hipertrofia excêntrica se apresenta mais evidente, enquanto que a concêntrica menos. Referências: 1. BUCHANAN, J. W., BÜCHELER J. Vertebral scale system to measure canine heart size in radiographs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 206, n 2, p , CUNNINGHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária. (Ed.3ª). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, FUENTES, V.L., JOHNSON, L.R., DENNIS, S. (Eds.) BSAVA Manual of Canine and Feline Respiratory Medicine (Ed.2ª) Gloucester: British Small Animal Veterinary Association, GABAY, A. Radiologia Cardiovascular. In: BELERENIAN, G. C.; MUCHA, C. J.; CAMACHO, A. A. Afecções Cardiovasculares em Pequenos Animais, (Ed.1ª). São Caetano do Sul: Interbook, cap. 3, p , INAMASSU, L. R. Mensuração das dimensões cardíacas pelo método VHS (Vertebral Heart Size) em cães. Trabalho de conclusão de curso (bacharelado - Medicina Veterinária) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, NAKAYAMA, H., NAKAYAMA T., HAMLIN R.L. Correlation of cardiac enlargement as assessed by vertebral heart size and echocardiographic and electrocardiographic findings in dogs with evolving cardiomegaly due to rapid ventricular pacing. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 15, n 3, p , SOUZA, R.C.A WOLF, R.; CAMACHO, A.A. Eletrocardiografia computadorizada em cães. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. vol.52, n.6, p , Anais do 38º CBA, p.0807