DISPERSÃO DA ONDA P EM CÃES OBESOS P wave dispersion in obese dogs

Documentos relacionados
Curso de capacitação em interpretação de Eletrocardiograma (ECG) Prof Dr Pedro Marcos Carneiro da Cunha Filho

Nome: Paulo Mendonça Ferreira Sexo: M Altura: 1.84 Peso: 98 Fumante: 0 Data de nascimento: 11/10/1981

Registro dos eventos elétricos. Base do ECG. O eletrocardiograma (ECG) é o registro dos sinais elétricos emitidos durante a atividade cardíaca.

Registro dos eventos elétricos. Base do ECG. O eletrocardiograma (ECG) é o registro dos sinais elétricos emitidos durante a atividade cardíaca.

O Processo de Enfermagem aplicado ao Sistema Cardiovascular

Eletrocardiografia Teoria e pratica de interpretação de ritmos sinusais, arritmias e bloqueios de condução

Serve como um valioso instrumento para o diagnóstico de várias patologias cardíacas e distúrbios hidroeletrolítico.

Noções básicas de eletrocardiografia e principais aplicações na toxicologia

AVALIAÇÃO DA TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR EM CÃES OBESOS RESUMO

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DO PESO CORPORAL E DO COMPORTAMENTO DE CÃES APÓS OVÁRIO-HISTERECTOMIA E ORQUIECTOMIA ELETIVA. Introdução

Marcos Sekine Enoch Meira João Pimenta

Cardiologia do Esporte Aula 2. Profa. Dra. Bruna Oneda

SERVIÇO DE CARDIOLOGIA VETERINÁRIA: CASUÍSTICA DO ECODOPPLERCARDIOGRAMA

Atividade Física e Cardiopatia

Professor Assistente da Universidade de Brasília 4 Orientadora Professora Adjunto da Escola de Veterinária UFG,

C A R D I O V I D A On Line

Carlos Alberto Pastore Nelson Samesima Rafael Munerato CMY

Atlas das Arritmias Cardíacas

FÓRUM VET. Outubro 2012 Nº 2. Avaliação de Nova Formulação de Ração Terapêutica para uso em cães com doença Valvar Degenerativa Mitral: Aspectos

INTERPRETAÇÃO DO ECG resolução de exercícios

C A R D I O V I D A On Line

FIEP BULLETIN - Volume 82 - Special Edition - ARTICLE I (

PERFIL MOTOR DE ESCOLARES SOBREPESOS E OBESOS DE AMBOS OS SEXOS NA FAIXA ETÁRIA DE 9 E 10 ANOS

S U M Á R I O. 1 Obesidade em cães. 2 Dieta

VARIABILIDADE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA EM CÃES IDOSOS E ARRITMIAS ASSOCIADAS ATRAVÉS DA MONITORIZAÇÃO ELETROCARDIOGRÁFICA AMBULATORIAL.

Cardiologia - Eletrocardiografia - Ecodopplercardiografia Holter 24h RELATÓRIO DE HOLTER

Curso Nacional de Reciclagem em Cardiologia Região Sul 20 a 24 de setembro de 2006 ACM - Florianópolis

PERFIL METABÓLICO E ENDÓCRINO DE EQUÍDEOS

Arritmias Cardíacas CLASSIFICAÇÃO. Taquiarritmias. Bradiarritmias. Supraventriculares. Ventriculares

Cardiologia. Prof. Claudia Witzel

XVI. Eventos Noturnos: Descrição e Importância no Holter

PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL

Avaliação da eletrocardiografia de alta resolução em cães clinicamente normais

Atlas de Eletrocardiograma

Eletrocardiografia computadorizada em cães da raça American pit bull terrier. Computerized electrocardiography in American pit bull terrier dogs

EDUCAÇÃO FÍSICA FUNDAMENTAL PROF.ª FRANCISCA AGUIAR 7 ANO PROF.ª JUCIMARA BRITO

INSTRUÇÃO DE TRABALHO

MANUAL DO SISTEMA DE TELEDIAGNÓSTICO MANUAL DO SOLICITANTE

Obesidade em cães e gatos da teoria a prática

TÍTULO: PROBLEMAS ASSOCIADOS À OBESIDADE EM CÃES NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE ANHANGUERA

PROBLEMAS NUTRICIONAIS EM CÃES E GATOS OBESIDADE VISÃO GERAL

PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ELETROCARDIOGRAMA

O MEU ANIMAL DE ESTIMAÇÃO ESTÁ A FICAR GERIÁTRICO?

Qual o delineamento e quantas observações devo considerar em meu projeto? Ivan Barbosa Machado Sampaio Professor Emérito Escola de Veterinária - UFMG

BENEFIT e CHAGASICS TRIAL

Serviço de Fisiologia

ASSOCIAÇÃO ENTRE PRESSÃO ARTERIAL ELEVADA E DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM CRIANÇAS COM SOBREPESO/OBESIDADE

EFEITOS DE DOIS PROTOCOLOS DE TREINAMENTO FÍSICO SOBRE O PESO CORPORAL E A COMPOSIÇÃO CORPORAL DE MULHERES OBESAS

UNIVERSIDADE DE SÃOPAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA

ELECTROCARDIOGRAMA EFEITO DA DIRECÇÃO DA ONDA DE DESPOLARIZAÇÃO NAS DEFLECÇÕES DO E.C.G.

ANO LETIVO 2013/2014. ESTUDO DO IMC (Índice de Massa Corporal) Avaliação Final

CORRELAÇÃO ENTRE ÍNDICE DE MASSA CORPÓREA E NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA DE IDOSOS EM UMA CIDADE DO NORDESTE BRASILEIRO

IMC DOS ALUNOS DO 4º PERÍODO DO CURSO TÉCNICO EM ALIMENTOS DO INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS CAMPI/INHUMAS.

TÓRAX: Percussão. Auscultação: Resenha Anamnese Exame físico Inspeção Palpação Percussão Auscultação. Exames complementares.

Diagnóstico e tratamento das arritmias em crianças e pacientes e com Cardiopatia Congênita. Dr. Bráulio Pinna

Taxa Metabólica Basal: é importante medir? Tânia Kadima Magalhães Ferreira

O ECG nas síndromes coronárias isquêmicas

ESTUDO DA POSSÍVEL CORRELAÇÃO ENTRE

LITERATURA LOWAT PERCA PESO 2X MAIS RÁPIDO

Biofísica da circulação. Hemodinâmica cardíaca. Forças e mecanismos físicos relacionados à circulação sanguínea

INTERPRETAÇÃO DE ECG LUCAS SILVEIRA DO NASCIMENTO

Aplicações do Eletrocardiograma de Alta Resolução e da Micro Alternância da onda T na prática cardiológica. Rogério Andalaft

Como realizar um exame com o sistema TEB ECGPC:

Flutamida, metformina ou ambos para mulheres com sobrepeso ou obesidade e síndrome dos ovários policísticos (SOP).

MCDT evaluation of aortic root and aortic valve prior to TAVI. What is optimal imaging point in the cardiac cycle?

CardioReader: Sistema de identificação de batimentos cardíacos

19/11/2015 (quinta-feira)

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS CARDIOVASCULARES DA DEXMEDETOMIDINA, ISOLADA OU ASSOCIADA À ATROPINA, EM FELINOS

RITMO IDIOVENTRICULAR EM CÃO RELATO DE CASO

Respostas cardiovasculares ao esforço físico

TÍTULO: OS MARCADORES BIOQUÍMICOS NO DIAGNÓSTICO DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

Taquiarritmias. Fernanda Queiroz

Resumos clínicos bifásicos

Parâmetros ecocardiográficos em modo unidimensional de cães da raça Poodle miniatura, clinicamente sadios 1

ECG - ELETROCARDIOGRAFIA

Avaliação antropométrica de crianças

Radiologia do Coração

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO PRODUTIVO E REPRODUTIVO, BIOMETRIA CORPORAL E GENEALOGIA DE BOVINOS DA RAÇA ANGUS E SUAS CORRELAÇÕES

TÍTULO: ÍNDICE DE CONICIDADE EM ADULTOS SEDENTÁRIOS DA CIDADE DE CAMPO GRANDE-MS

TÍTULO: ELETROCARDIOGRAMA COMO DIAGNÓSTICO NA SUSPEITA DE POSSÍVEIS CARDIOPATIAS EM PSITACÍDEOS DA ESPÉCIE NYMPHICUS HOLLANDICUS

Paulo Donato, Henrique Rodrigues

12. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1 ÍNDICE DE MASSA CORPORAL DE ALUNOS DO PROJETO ESCOLA DA BOLA COM BASE NOS TESTES DA PROESP-BR

Este material visa informar os pontos fortes da realização destes exames na clínica/hospital, de forma a contribuir ao profissional da saúde a ter um

ESTADO NUTRICIONAL E FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES COM DIABETES MELLITUS

Comparação de insuflação com dióxido de carbono e ar em endoscopia e colonoscopia: ensaio clínico prospectivo, duplo cego, randomizado - julho 2017

COMPARAÇÃO DO TC6 EM PORTADORES DE MARCA PASSO CARDÍACO ANTES E APÓS UM PROGRAMA DE EXERCÍCIOS

CAPITULO III METODOLOGIA

Minha Saúde Análise Detalhada

Obesidade. Estratégias de combate e prevenção.

Oficina de Interpretação de ECG. Dr. Leandro Dias de Godoy Maia

ESTUDO DO PERFIL LIPÍDICO DE INDIVÍDUOS DO MUNICÍPIO DE MIRANDOPOLIS/SP

A INFLUÊNCIA DE UM PROGRAMA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS NA GORDURA CORPORAL DOS PARTICIPANTES DO PIBEX INTERVALO ATIVO 1

SOBRE ECG EM 10 MINUTOS

SIMPÓSIO DE ELETROCARDIOGRAMA

BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA FUNÇÃO CARDIO-VASCULAR E EXERCÍCIO

Prof. Dr. Alfredo J Rodrigues. Departamento de Cirurgia e Anatomia Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo

INSTRUÇÃO DE TRABALHO

Avaliação nutricional do paciente

LINHA DE CUIDADO EM CARDIOLOGIA PNEUMOLOGIA E DOENÇAS METABÓLICAS

Transcrição:

DISPERSÃO DA ONDA P EM CÃES OBESOS P wave dispersion in obese dogs BROOCKE, G. M. V. D. 1 ; DITTRICH, G. 1 ; SOUSA, M. G. S. 1 ; TOSTES, S. 1 1 Universidade Federal do Paraná, Curitiba-PR, Brasil E-mail: gustavo.dittrich@gmail.com Palavras-chave: obesidade, arritmia, eletrocardiografia. INTRODUÇÃO A dispersão da onda P é um índice eletrocardiográfico definido como a diferença entre a maior e a menor duração da onda P entre as diferentes derivações registradas em um exame eletrocardigráfico. Resulta de propriedades eletrofisiológicas do átrio, portanto distúrbios de condução inter e intra-atrial e condução heterogênia do impulso sinual podem resultar em variação da dispersão da onda P nas diferentes derivações eletrocardiográficas (NOSZCZYK-NOWAK et al., 2011). Seu cálculo foi desenvolvido no estudo de Dilaveris et al.,1999 o qual evidenciou aumento significativo da dispersão da onda P em pessoas com fibrilação atrial paroxística, revelando importante utilidade do índice na avaliação de arritmias, especialmente as supraventriculares. A relação da dispersão de onda P com a obesidade é bastante discutida na literatura médica, uma vez que esta condição clínica resulta em alterações cardíacas anatômicas e eletrocardiográficas, afetando os índices de onda P, o que predispõe a um maior risco no desenvolvimento de arritmias (MARINOU et al., 2010). No que tange à medicina veterinária, os estudos da dispersão de onda P são escassos em cães. Em 2008, Noszczyk-Nowak et al. determinaram os valores da dispersão de onda P em cães saudáveis e em 2011 o mesmo grupo de pesquisadores constataram aumento significativo na dispersão de onda P em cães com doença valvar crônica e naqueles com distúrbios de condução supraventricular em comparação aos cães saudáveis. Não existem informações na literatura a respeito dos efeitos da obesidade sobre os valores de dispersão de onda P em cães. O presente estudo teve como objetivo calcular os valores da dispersão de onda P em cães obesos, correlacionando-os com índices de adiposidade e o tamanho do átrio esquerdo. 001

MATERIAL E MÉTODOS Foram selecionados cães de idade adulta, de porte pequeno a médio, independente do sexo e raça. Os animais foram submetidos a hemograma, perfil bioquímico hepático e renal, avaliação da condição corporal, dosagem do hormônio T4 livre, bem como exames eletrocardiográficos e ecocardiográficos. Aqueles com suspeita ou confirmação de comorbidades, como doenças metabólicas crônicas, endocrinopatias ou doenças inflamatórias e infecciosas foram excluídos do estudo. A avaliação da condição corporal foi efetuada através da determinação do escore corporal, sendo estipulado um valor em uma escala de 1 a 9, de acordo com a deposição de gordura em região costal e abdômen (LAFLAMME, 1997). Foram selecionados animais com condição corporal normal (escores 4 e 5) e animais com obesidade (escores 8 e 9). Também foram calculados dois índices de adiposidade: o índice de massa corporal (IMC), de acordo com Mueller et al. (2008) e a porcentagem de gordura corporal (%GC), segundo Burkholder & Toll (2000). Para o eletrocardiograma, utilizou-se aparelho TEB ECG-PC VET (São Paulo-SP, Brasil), equipado com filtros de rede. Os cães foram posicionados em decúbito lateral direito e o traçado eletrocardiográfico foi registrado em seis derivações (DI, DII, DII, avr, avl e avf). Os traçados foram analisados para determinação da duração da onda P e cáculo de sua dispersão. Em cada derivação avaliada, a duração da onda P foi mensurada como a distância entre seu início e seu término, registrada em milisegundos. Dessa forma, determinou-se dentre as seis derivações, a duração mínima (P mín ) e a duração máxima (P máx ) da onda P. A dispersão da onda P foi calculada como a diferença entre a P máx e a P mín, (P d = P máx - P mín ), realizando-se na sequência a média aritmética das medidas de três ciclos cardíacos distintos. Todos os cães foram submetidos ao exame ecocardiográfico (Esaote MyLab 30 VET, Gênova, Itália), sendo determinadas as dimensões do átrio esquerdo e da artéria aorta. As medidas foram obtidas em janela paraesternal direita, em corte transversal do coração, em nível aórtico, mensurando o átrio esquerdo e a aorta em fase final da diástole, a partir da cúspide não coronariana. Através da definição destas medidas, a relação átrio esquerdo: aorta (AE/Ao) foi calculada. Valores da relação AE/Ao maiores que 1,37 foram indicativos de aumento atrial esquerdo (PRADA et al., 2012). Foram incluidos no estudo cães com cardiopatia valvar, sendo excluídos aqueles com cardiomiopatia dilatada e cardiopatias congênitas, a fim de tornar a amostra mais homogênea. Os cães foram divididos em quatro grupos distintos: Grupo I: condição corporal indicativa de obesidade, sem doença cardíaca; Grupo II: condição corporal indicativa de obesidade, com doença valvar crônica; Grupo III: condição corporal ideal, com doença valvar crônica e; 002

Grupo IV: saudáveis (condição corporal ideal, sem cardiopatia). A análise estatística dos dados baseou-se na realização de medidas de tendência central e de dispersão para as medidas referentes à frequência cardíaca, P mín, P máx e P d. Verificou-se a normalização dos dados com o teste de D Agostino & Pearson. Para comparação de valores entre os grupos foi realizada a análise de variância seguida de teste de comparações múltiplas de Tukey para dados paramétricos e teste de Kruskal-Wallis e análise de comparações múltiplas de Dunn para dados não paramétricos. Ainda, efetuou-se a correlação de Pearson entre a P d e o IMC, a %GC e a AE/Ao. Os testes estatísticos foram realizados através do software GraphPad Prism 5 (La Jolla, Califórnia, Estados Unidos). RESULTADOS O estudo foi realizado em 76 cães divididos em quatro grupos, sendo o grupo I composto por 18 cães (15 fêmeas e 3 machos), o grupo II por 19 (13 fêmeas e 6 machos), o grupo III por 19 (6 fêmeas e 13 machos) e o grupo IV por 20 (14 fêmeas e 6 machos). Na Tabela 1 encontra-se a média e desvio padrão dos valores de frequência cardíaca, P mín, P máx e P d dos animais pertencentes aos grupos estudados. Cães dos grupos I, II e III obtiveram valores significativamente mais elevados de P d quando comparados ao grupo IV (p<0,0001). Não houve diferença estatística destes parâmetros entre machos e fêmeas, independente do grupo (p = 0,4527). Frequência cardíaca (bpm) Grupo I Obeso Grupo II Obeso-cardiopata Grupo III Cardiopata Grupo IV Saudável 140,4 ± 25,9 a 128,4 ± 36,1 ab 146,7 ± 32,3 a 112,7 ± 14,1 b P mín (ms) 40,5 ± 5,4 a 40,4 ± 3,5 a 40,0 ± 4,8 a 46,7 ± 9,8 a P máx (ms) 62,6 ± 8,1 a 60,4 ± 5,4 a 55,5 ± 7,4 a 55,9 ± 10,4 a P d (ms) 18,0 ± 7,6 a 16,1 ± 4,4 a 12,1 ± 4,3 a 7,3 ± 2,2 b Tabela 1 Dispersão da onda P em cães. Resultados da média seguida do desvio padrão no que tange a frequência cardíaca, P mín, P máx e P d. Os dados de P d foram correlacionados com o peso corporal, o IMC, a %GC e a relação AE/Ao em todos os grupos. Houve correlação significativa entre a P d e os índices de adiposidade IMC e %GC somente nos cães com obesidade, pertencentes aos grupos I e II (Gráfico 1). Não houve correlação entre a P d e os valores referentes ao peso corporal e à relação AE/Ao. 003

G r u p o I - IM C x P d G ru p o I - % G C x P d r = 0,708 3 p = 0,0 0 1 0 r = 0,579 8 p = 0,0 1 1 7 Índice de M assa C o rp o ra l (IM C ) 5 0 3 0 2 0 1 0 0 0 1 0 2 0 3 0 P orcentagem de gordura c o r p o r a l (% G C ) 5 0 4 5 3 5 3 0 2 5 0 1 0 2 0 3 0 G ru p o II - IM C x P d G r u p o II - % G C x P d r = 0,625 0 p = 0,0 0 4 2 r = 0,691 7 p = 0,0 0 1 0 Índice de M assa C o rp o ra l (IM C ) 6 0 2 0 0 0 1 0 2 0 3 0 P orcentagem de gordura c o r p o r a l (% G C ) 5 0 4 5 3 5 3 0 2 5 0 1 0 2 0 3 0 Gráfico 2 Correlação entre a P d e os parâmetros de adiposidade relacionados ao índice de massa corporal (IMC) e porcentagem de gordura (%GC) nos cães obesos (grupo I) e cães obesos com cardiopatia valvar (grupo II). DISCUSSÃO Em seres humanos já é definido que pessoas obesas apresentam maiores valores de dispersão da onda P, o que parece ser um fator de risco para desenvolvimento de arritmias cardíacas, especialmente a fibrilação atrial (DOGAN et al., 2003; GOUDIS et al., 2015). No que tange os índices de onda P e a medicina veterinária, não há informações prévias sobre a associação da obesidade e a elevação da duração e da dispersão da onda P. O presente trabalho verificou a relação da P d em cães com obesidade, demonstrando que cães obesos com ou sem cardiopatia valvar e remodelmaneto atrial concomitante apresentaram valores de P d mais elevados quando comparados a cães saudáveis. Entretanto, não houve diferença estatística nos valores de P d entre machos e fêmeas, o que permite supor que o valor da P d independe de gênero nos animais da espécie canina. A respeito da correlação da P d com índices de adiposidade, verificou-se associação com o IMC e a %GC em animais obesos. Kosar et al. (2008) também verificaram correlação significativa entre os valores da P d e o IMC em pessoas obesas. Estes resultados suportam a hipótese de que indivíduos com maior IMC apresentam maiores valores de dispersão de onda P e consequentemente maior risco para o desenvolvimento de fibrilação atrial. Animais pertencentes ao grupo IV obtiveram índices de dispersão de onda P mais baixos em relação aos cães dos outros grupos. Sugere-se, portanto, tratar-se de um índice constante em cães 004

saudáveis, sendo um parâmetro independente para avaliar a condução inter e intra-atrial. No tocante à P d e a relação AE/Ao não foi encontrada correlação entre estes índices, o que corrobora com dados de Noszczyk-Nowak et al. (2011). Logo, levanta-se a hipótese de que a P d depende mais intensamente de distúrbios de condução inter e intra-atrial e de propagação não homogênea dos impulsos elétricos do que de diferentes níveis de remodelamento atrial esquerdo. CONCLUSÃO O presente trabalho evidenciou que, além de estar presente em cães com cardiopatia valvar, a elevação da dispersão da onda P também está presente em cães com obesidade. Isto demonstra um dos efeitos do excesso de peso e acúmulo de tecido adiposo em relação ao sistema cardiovascular de cães. Estudos longitudinais e prospectivos em cães obesos são encorajados a fim de determinar a relação dos índices da onda P com o surgimento de arritmias cardíacas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DILAVERIS, P. E.; ANDRIKOPOULOS, G. K.; METAXAS, G.; RICHTER, D. J.; VGEROPOULOU, C. K.; ANDROULAKIS, A. M.; GIALAFOS, J. E. Effects of ischemia on P wave dispersion and maximum P wave duration during spontaneous anginal episodes. Pacing Clin Electrophysiol, v. 22, p. 1640-1647, 1999. DOGAN, A.; ACAR, G.; GEDIKLI, O.; OZAYDIN, M.; NAZLI, C.; ALTINBAS, A.; ERGENE, O. A comparison of P-wave duration and dispersion in patients with short-term and long-term atrial fibrillation. Journal of electrocardiology, v. 36, p. 251-255, 2003. GOUDIS, C. A.; KORANTZPOULOS, P.; NTALAS, I. V.; KALLERGIS, E. M.; KETIKOGLOU, D. G. Obesity and atrial fibrillation: A comprehensive review of the pathophysiological mechanisms and links. Journal of cardiology, v. 66, p. 361-369, 2015. LAFLAMME, D. P. Development and Validation of a Body Condition Score System for Dogs. Canine practice (Santa Barbara, Calif.: 1990)(USA), 1997. MARINOU, K.; TOUSOULIS, D.; ANTONOPOULOS, A. S.; STEFANADI, E.; STEFANADIS, C. Obesity and cardiovascular disease: From pathophysiology to risk stratification. International journal of cardiology, v. 138, p. 3-8, 2010. 005

NOSZCZYK-NOWAK, A.; PASLAWSKA, U.; SZALAS, A.; NICPON, J. P-wave dispersion in healthy dogs. A preliminary study. Bull Vet Inst Pulawy, v. 52, p. 683-688, 2008. NOSZCZYK-NOWAK, A.; SZALAS, A.; PASLAWSKA, U.; NICPON, J. Comparison of P-wave dispersion in healthy dogs, dogs with chronic valvular disease and dogs with disturbances of supraventricular conduction. Acta Veterinaria Scandinavica, v. 53, p. 1, 2011. PRADA, D. G.; OLIVEIRA, V. M. C.; LARSSON, M. H. M. A.; YAMAKI, F. L. Avaliação ecocardiográfica do átrio esquerdo de cães sadios por meio do modo-m convencional e do modo bidimensional. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 64, p. 585-592, 2012. KOSAR, F.; AKSOY, Y.; ARI, F.; KESKIN, L.; SAHIN, I. P-wave duration and dispersion in obese subjects. Annals of Noninvasive Electrocardiology, v. 13, p. 3-7, 2008. 006