Cancro do Pâncreas: a melhor decisão multidisciplinar Como estadiar? Manuela Machado IPO Porto, Oncologia Médica

Documentos relacionados
Cancro de Pâncreas Tumores localmente avançados /Borderline ressecáveis

Algoritmo de condutas para tratamento de câncer de pâncreas

Orlando Jorge M Torres Núcleo de Estudos do Fígado - UFMA. Câncer da vesícula biliar: É necessário ressecar o hepatocolédoco?

TUMORES DE PÂNCREAS: DIAGNÓSTICO E INDICAÇÃO DE BIÓPSIA UFRJ

Sarcomas de partes moles do adulto Estudo Populacional/Institucional Regiões do Alentejo e Algarve

Hospital de São João, E.P.E. Grupo Oncológico Hepato-Bilio-Pancreático INDICAÇÕES: Carcinoma Hepatocelular. Colangiocarcinoma

CIRURGIA DO PÂNCREAS Câncer do Pâncreas. Dr. José Jukemura assistente doutor serviço de vias biliares e pâncreas da FMUSP

XXIII Jornadas ROR-SUL. 15, 16 e 17 Fevereiro 2016 Lisboa

Tumores Malignos do Endométrio

Diagnóstico por Imagem em Oncologia

Avaliação do Doente Oncológico. José Alberto Fonseca Moutinho

Trabalho de biologia

CANCRO GÁSTRICO: do diagnóstico ao tratamento

Câncer Medular de Tireóide Diagnóstico e Tratamento

Caso clínico. Homem, 50 anos, desempregado, casado, sem filhos, Gondomar. parestesias diminuição da força muscular. astenia anorexia emagrecimento

TROCANDO IDÉIAS XV MICROCARCINOMA CERVICAL HISTERECTOMIA SIMPLES? Gutemberg Almeida Instituto de Ginecologia - UFRJ ABG Capítulo RJ

ADENOCARCINOMA DE PÂNCREAS PANCREATIC ADENOCARCINOMA

TABELA DE PROCEDIMENTOS SUS


Ingestão de cáusticos - avaliação de factores preditivos de gravidade. Ver PDF

EFICÁCIA DA TERAPÊUTICA NEOADJUVANTE EM DOENTES COM ADENOCARCINOMA DO PANCREAS: ANÁLISE MULTICÊNTRICA DOS ÚLTIMOS 5 ANOS.

Lídia Roque Ramos, Pedro Pinto-Marques, João de Freitas SERVIÇO DE GASTROENTEROLOGIA

Câncer: sinais, sintomas e diagnóstico

Sessão Educacional I Cancro de Pâncreas: A melhor decisão multidisciplinar. Enfª Joana Ferreira Unidade de Digestivo - Fundação Champalimaud

Gastrinoma. Departamento de Anatomia da UFPR Professor Adjunto de Anatomia Dr. Eduardo José B. Ramos.

O que é o cancro do pâncreas?

TC Abdominal 18/05/24

Tomografia Computadorizada ou Ressonância Magnética qual a melhor opção para cada caso?

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada (TC)

Sumário. Pâncreas Aparelho urinário

Oncologia Gastrintestinal

PÂNCREAS ENDÓCRINO. Felipe Santos Passos 2011

SETOR DE ABDOME - JOURNAL CLUB

Resseção versus Vigilância de Quistos Pancreáticos

TESTE DE AVALIAÇÃO. 02 novembro 2013 Duração: 30 minutos. Organização NOME: Escolha, por favor, a resposta que considera correta.

Tumores da Junção Esófago-Gástrica

Hospital de São Marcos Departamento de Cirurgia Director: Dr. António Gomes

Neoplasias sólidas e císticas do pâncreas: diagnósticos diferenciais

Hospital de São Marcos Departamento de Cirurgia Director: Dr. António Gomes. Ratio dos Gânglios Linfáticos Metastizados no Carcinoma Gástrico

Qual o diagnóstico e a melhor conduta a ser realizada neste paciente?

TUMORES NEUROENDÓCRINOS PULMONARES. RENATA D ALPINO PEIXOTO Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Tumores Neuroendócrino do Pâncreas - Tratamento cirúrgico dos insulinomas pancreáticos

Faculdade de Medicina - UNISUL NEOPLASIAS DO OVÁRIO. Aula disponível no site: Rodrigo Dias Nunes

Adenocarcinoma da cárdia. ELIAS JIRJOSS ILIAS Departamento de Cirurgia Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paul0

manejo do nódulo pulmonar subsólido Dr. Mauro Esteves -

Radioquimioterapia a título curativo no carcinoma anal - os nossos resultados

Universidade Federal do Ceará Módulo em Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Tumores das Glândulas Salivares. Ubiranei Oliveira Silva

Questões das aulas teóricas de Propedêutica Cirúrgica II

ESTÔMAGO ANATOMIA FISIOLOGIA ULCERA PÉPTICA

CANCRO GINECOLÓGICO PROTOCOLOS DE DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA

ENFERMAGEM DOENÇAS GASTROINTESTINAIS. Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Carcinoma hepatocelular. Departamento de Cirurgia Hospital das Clínicas FMUSP. Prof. Dr. Marcel Autran C. Machado

C a ro l i n a Te r ra D i re tor de serviço: Pro f. D r. Pa u l o D o n ato

Estudo Epidemiológico Neoplasia Maligna na Cabeça do Pâncreas

Gaudencio Barbosa R3 CCP HUWC 10/2011

CURSO CONTINUADO DE CIRURGIA GERAL

Tumores Ginecológicos. Enfª Sabrina Rosa de Lima Departamento de Radioterapia Hospital Israelita Albert Einstein

SUS A causa mais comum de estenose benigna do colédoco e:

Punção Aspirativa com Agulha Fina Guiada por Ultrassonografia Endoscópica PAAF-USE primeira linha suspeita de neoplasia do pâncreas

CIRURGIA DO PÂNCREAS

Sobre o câncer de pulmão

REGISTO ONCOLÓGICO 2014

Métodos de imagem. Radiologia do fígado. Radiologia do fígado 12/03/2012

Lesões císticas do pâncreas: abordagem diagnóstica e terapêutica

REGISTO ONCOLÓGICO 2009

DIRETRIZES DE UTILIZAÇÃO DO PET CT ONCOLÓGICO NO PLANSERV.

CÂNCER DE BOCA E OROFARINGE

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

TUMORES SÍNCRONOS OU METASTÁTICOS? COMO TRATAR?

Sessão TOMOGRAFIA. Diego S. Ribeiro Porto Alegre - RS

CÂNCER DE PÂNCREAS E A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO PRECOCE PARA UM BOM PROGNÓSTICO

Cirurgia da mama em casos de câncer de mama metastático: entendendo os dados atuais

NÓDULO PULMONAR SOLITÁRIO

IMAGIOLOGIA NOS TUMORES DE CÉLULAS RENAIS

Conceito e Uso do PET/CT em Cabeça e Pescoço. Carlos Eduardo Anselmi

Doença de Órgão vs Entidade Nosológica. NET como case study

Rodrigo de Morais Hanriot Radioterapeuta Sênior Hospital Israelita Albert Einstein e Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Importância do Estadiamento. Cirurgia Cabeça e Pescoço - HMCP Cirurgia Torácica - HMCP. J. L. Aquino

Linfadenectomia Retroperitonial no Tumor Renal Localmente Avançado Papel Terapêutico ou Somente Prognóstico? Guilherme Godoy

REGISTO ONCOLÓGICO 2012

REGISTO ONCOLÓGICO INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA DE FRANCISCO GENTIL CENTRO REGIONAL DE ONCOLOGIA DO PORTO, EPE

Como tratar Abordagem cirúrgica. Cancro Pâncreas. Outubro 2018 Joana Cunha

Terapia conservadora da mama em casos multifocais/multicêntricos

Abordagem dos Nódulos Pulmonares em Vidro Fosco e dos Nódulos Sub-sólidos

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA ADENOCARCINOMA DE PÂNCREAS: OTIMIZANDO A PREVENÇÃO E A SOBREVIDA

Paciente de 80 anos, sexo feminino, com dor abdominal, icterícia progressiva e perda de peso não quantificada há 08 meses.

REGISTO ONCOLÓGICO INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA DE FRANCISCO GENTIL CENTRO REGIONAL DE ONCOLOGIA DO PORTO, EPE

Seminário Grandes Síndromes

Responda às perguntas seguintes usando exclusivamente o glossário.

Nódulos pulmonares incidentais em TC: o que fazer?

REGISTO ONCOLÓGICO INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA DE FRANCISCO GENTIL CENTRO REGIONAL DE ONCOLOGIA DO PORTO, EPE

Prova Objetiva Médico Anatomia Patológica

Câncer de Pulmão. Tratamento Cirúrgico DR. RAFAEL PANOSSO CADORE

ENFERMAGEM DOENÇAS HEPÁTICAS. Profª. Tatiane da Silva Campos

Luís Gargaté Médico Radiologista Director de Serviço de Radiologia do Hospital Beatriz Angelo Coordenador da Unidade de Imagiologia Digestiva do

Câncer de Pulmão. Dra. Rosamaria Cúgola Ventura Mestrado em Física Médica 24/06/2016

REGISTO ONCOLÓGICO INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA DE FRANCISCO GENTIL CENTRO REGIONAL DE ONCOLOGIA DO PORTO, EPE

CIRURGIA HEPÁTICA MINIMAMENTE INVASIVA. Dr. Fabricio Ferreira Coelho

Transcrição:

Cancro do Pâncreas: a melhor decisão multidisciplinar Como estadiar? Manuela Machado IPO Porto, Oncologia Médica

Tumores endócrinos Tumores exócrinos Tumores pancreáticos exócrinos - classificação AFIP e WHO Neoplasias benignas Cistoadenoma seroso Tumores Pancreáticos Lesões pré malignas Neoplasia intraepitelial pancreática microscópica (PanIN) Neoplasia intraductal papilar mucinosa (IPMN) Neoplasia cística mucinosa (MNC) Lesões malignas Adenocarcinoma ductal (85%) Neoplasia mucinosa papilar intraductal associada a carcinoma invasor (2-3%) Neoplasia mucinosa cistica intraductal associada a carcinoma invasor (1%) Neoplasia pseudopapilar sólida ( 1%) Carcinoma de células acinares( 1%) Pancreatoblastoma ( 1%) Cistoadenocarcinoma seroso ( 1%) AFIP: Armed Forces Institute Of Pathology WHO: World Health Organization

Cancro do pâncreas - Epidemiologia Mundialmente: 4ª causa de morte por cancro Representa apenas 3% dos novos casos de cancro: 280.000 novos casos/ano Taxa de incidência anual: 8/100000 habitantes Previsível aumento de incidência Taxa de mortalidade elevada (apenas 5,8% dos doentes sobrevive mais de 5 anos) Europa: 10º cancro mais frequente (2,6% dos cancros em ambos os sexos) 4ª causa de morte por cancro no homem e na mulher Previsível aumento da incidência Observatório Europeu do Cancro (2012): 78.654 novos casos; 77.940 mortes nesse ano Em 2014 ocorreram 82300 morte Idade mediana ao diagnóstico: homem 71 anos; mulher 75 anos SEER - Surveillance Research Program, NCI, Europen Cancer Mortality Predictions For The Year 2014;25: 1650-1656

Tumores exócrinos pancreáticos Tipos Histológicos Carcinoma de células em anel de sinete Carcinoma adenoescamoso Carcinoma indiferenciado (anaplástico) Carcinoma mucinoso não cístico Localização Cabeça (60-70%) Corpo (15-20%) Cauda (5%) 10 % envolvem difusamente o pâncreas

Cancro do Pâncreas: Cancro do pâncreas hereditário (< 10%) Cancro do pâncreas esporádico (> 80%) Factores de risco: Tabaco (risco relativo aumentado 1.74 vezes) Obesidade (BMI > 30 Kb/m 2 ) Diabetes mellitus tipo 1 e 2 Dieta (consumo elevado de carnes vermelhas; baixo consumo de fruta e vegetais) Álcool Café (?) Pancreatite crónica não hereditária( 5% das neoplasias pancreáticas) Helicobacter pylori Hepatite B HIV Exposição: pesticidas, benzenos, certas tintas, petroquímicos e β nafetilamina... Idade (pico de incidência: 65-75 anos) Género (predomínio no sexo masculino: 1,3/1) Raça (predomínio dos negros versus caucasianos)

Sintomas ao diagnóstico Dependentes da localização: Astenia Perda ponderal Dor abdominal e/ou epigástrica Colúria Icterícia Náuseas Vómitos Dor lombar Diarreia Esteatorreia Dispepsia Depressão Diabetes mellitus

Diagnóstico NCCN guidelines

Abordagem multidisplinar

Estadiamento: TC abdominal com fase arterial e venosa +pélvica + tórax RMN Ecoendoscopia Limitada no diagnóstico de doença gânglionar Valor no diagnóstico de invasão vascular e avaliação de ressecabilidade Permite amostra tecidular Biópsia Doente candidato a cirurgia sem tratamento prévio não necessita de biopsia Perfil analítico que incluí ca 19.9 Ca 19.9 está elevado em 80% dos doentes - Falsos negativos: genótipo Le a-b- 7-8% - Falsos positivos: colestase CPRE (colangiopancreatografia endoscópica retrógrada) PET CT: não por rotina Ponderar nos doentes de elevado risco de doença metastática como: - Doença de ressecabilidade borderline - Tumores primários grandes - Gânglios regionais aumentados - Ca 19.9 elevado - Doentes sintomáticos Laparoscopia Não por rotina... Fundamental uma abordagem multidisciplinar

Adenocarcinoma - Classificação TMN (AJCC 2010) TUMOR PRIMÁRIO (T) TX - tumor primário não pode ser avaliado T0 - sem evidência de tumor primário Tis - carcinoma in situ T1 - tumor limitado ao pâncreas e 2 cm T2 - tumor limitado ao pâncreas e > 2 cm T3 - tumor que se estende além do pâncreas, não envolvendo o eixo celíaco ou a AMS T4 - tumor que invade o eixo celíaco ou a AMS (tumor 1º irressecável) GANGLIOS LINFÁTICOS REGIONAIS (N) NX - gânglios linfáticos regionais não podem ser avaliados N0 - gânglios regionais sem metástases N1 - gânglios regionais metastizados METÁSTASES À DISTÂNCIA (M) M0 - sem metástases à distância M1 - metástases à distância AJCC: American Joint Committee on Cancer

Estadiamento TMN (AJCC 2010) Estádio 0 Tis N0 M0 Estádio IA T1 N0 M0 Estádio IB T2 N0 M0 Estádio IIA T3 N0 M0 Estádio IIB T1-3 N1 M0 Estádio III T4 qqn M0 Estádio IV qqt qqn M1 Abordagem: DE ACORDO COM A RESSECABILIDADE - Doença ressecável (8%) - Doença localmente avançada/ irressecável (27%) - Doença metastática (53%) SOBREVIVÊNCIA AOS 5 ANOS - 22% - 9% - 2% Siegel R, et al. CA Cancer J Clin. 2012; 12:10-29 American hepato-pancretic-biliar Association (doentes M0): Tumores ressecáveis Tumores borderline para ressecabilidade Tumores irressecáveis

Cancro do pâncreas - tumor borderline: Diferentes definições American Hepato-Pancreato-Biliary Association (AHPBA) the Society for Surgery of the Alimentary Tract (SSAT) and the Society for Surgical Oncology (SSO) MD. Anderson Cancer Center NCCN: Neoplasias ressecáveis que têm um elevado risco de margens microscopicamente de margens microscópicamente envolvidas Diferentes subtipos A Encosto à AMS/eixo celíaco 180º Encosto ou Encastoamento (>180º) de um pequeno segmento da artéria hepática Oclusão de um pequeno segmento da VMS, VP confluência da VMS-VP, sendo possível a resseção e reconstrução B Suspeita de eventual doença extra hepática metastática; N1 conhecido C PS marginal (zubrod3); co- morbilidades severas

Cancro do Pâncreas: a melhor decisão multidisciplinar Como estadiar? Manuela Machado IPO Porto, Oncologia Médica