2 OLHARES SOBRE A FORMAÇÃO DOCENTE E A PRÁTICA PEDAGÓGICA NO PROJETO UCA Andrea Pinheiro Paiva Cavalcante (Universidade Federal do Ceará) Maria Auricélia da Silva (Universidade Federal do Ceará) Renata Lopes Jaguaribe Pontes (Universidade Federal do Ceará) Fabiana Cristiane de Medeiros (Universidade Federal do Ceará) RESUMO Este artigo trata do processo formativo de professores durante a implantação do Projeto Um Computador por Aluno (UCA) no Ceará. O referido Projeto visa promover a inclusão digital de alunos das escolas públicas do país, dando oportunidade de utilização das tecnologias digitais a partir da inserção de laptops educacionais nas salas de aula. Como se trata de um projeto piloto, foram contempladas cerca de 300 escolas brasileiras, distribuídas em todos os estados da federação. Este estudo tem como objetivo é analisar a formação e a prática docente durante o processo de implantação do laptop educacional nas nove escolas cearenses inseridas no Projeto UCA. A metodologia utilizada neste trabalho é de natureza qualitativa e descritiva, segundo a qual a pesquisa envolve a obtenção de dados obtidos no contato do pesquisador com a situação observada, priorizando o processo e preocupando-se em relatar a perspectiva dos participantes. Os dados foram coletados através de observação da formação e da prática docente no Projeto UCA, de entrevistas realizadas com professores, assim como da análise dos relatórios emitidos periodicamente pelas escolas e dos relatos feitos por professores nos encontros presenciais. Dentre os resultados observados, percebe-se que o processo de apropriação tecnológica de professores para a introdução do laptop nas atividades pedagógicas é crescente. A despeito de algumas dificuldades vivenciadas, a formação docente no Projeto UCA pode ser considerada exitosa, posto que as aprendizagens estão sendo vivenciadas na prática, e os resultados começam a aparecer. A motivação para o uso do laptop e a busca por novas formas de trabalhar são constantes, uma vez que os professores não concebem mais a escola sem o suporte do computador portátil, pois a comunicação mediada pela tecnologia encontra, na sala de aula e fora dela, uma nova forma de saber, fazer e pensar o processo de ensinoaprendizagem. Palavras-chave: Formação docente; apropriação tecnológica; laptop educacional; Projeto UCA. 1. Introdução A disseminação das tecnologias digitais na sociedade vem impulsionando a introdução do computador na educação e chamando a atenção dos educadores para sua utilização como recurso pedagógico, alternativa viável para a inovação na prática docente. Desse modo, pode-se afirmar que a inserção do computador nas atividades de ensino tem ocorrido mediante a compreensão de que constitui um recurso pedagógico rico de possibilidades e, em consequência, deve ser utilizado com critério e Livro 2 - p.004689
3 compreensão de sua aplicabilidade. Como afirma Kenski (2003, p. 72), a opção pelo ensino com o computador [...] exige alterações significativas em toda a lógica que orienta o ensino e a ação docente em qualquer nível de escolaridade. Convém observar que tecnologia não é somente a máquina, o componente físico. É, também, o conhecimento aplicado, o saber humano implícito em um processo, a integração entre a técnica e o uso dos instrumentos; é o repensar do fazer pedagógico, ao qual subjaz a correspondente mudança de concepção e de postura. A ação docente, portanto, é essencial para o bom aproveitamento dos alunos. Se o professor não estiver efetivamente preparado, com uma formação adequada para utilizar os recursos digitais, o investimento tecnológico não terá o retorno almejado. Nesse contexto, surge o laptop educacional, que apresenta uma nova perspectiva na utilização dos computadores no contexto escolar. Antes da inserção do laptop, o uso das tecnologias digitais estava restrito aos Laboratórios de Informática Educativa (LIE) das escolas ou em apresentações de trabalhos, nas salas de aula. Porém, com a chegada do Projeto Um Computador por Aluno (UCA) em algumas escolas brasileiras, novas formas de utilização podem ser vislumbradas. O Projeto UCA é uma ação do governo brasileiro, baseada na proposta da organização não-governamental One Laptop per Children (OLPC), dirigida por Nicolas Negroponte, cuja finalidade é proporcionar a inclusão digital do aluno oriundo das classes populares por intermédio da escola e a utilização dessas tecnologias nos processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento do currículo (ALMEIDA; PRADO, 2011, p.14). Dessa forma, o Projeto visa promover a inclusão digital dos alunos de escolas públicas do país, dando oportunidade de utilização das tecnologias digitais a partir da inserção de laptops educacionais nas salas de aula. Como se trata de um projeto piloto, foram contempladas cerca de 300 escolas brasileiras, distribuídas em todos os estados da federação. Dentre as várias diferenças entre o modelo atual de laboratórios de informática e o modelo UCA, pode-se destacar a mudança entre os modelos um-para-muitos e umpara-um (1:1), isto é, cada aluno da escola tem um computador à sua disposição. Warschauer (2006) assevera que a proposta 1:1 potencializa a relação do estudante com a tecnologia numa situação de imersão tecnológica necessária ao desenvolvimento do Projeto. Acrescente-se a isso a mobilidade dos laptops, visto que eles passam a ser Livro 2 - p.004690
4 usados na sala de aula e em qualquer ambiente da escola ou fora dela, ao invés de somente no laboratório. Do mesmo modo, a convergência de mídias presente no laptop, que possibilita a integração da máquina com outros recursos, e a conectividade sem fio aumentam ainda mais as possibilidades de uso. Tais aspectos sugerem mudanças na prática pedagógica, de modo que a coautoria e a colaboração entre alunos e professores tornam-se presentes no processo ensino-aprendizagem. A conectividade e a mobilidade dos laptops constituem, portanto, uma ótima oportunidade para o desenvolvimento de práticas colaborativas envolvendo alunos de realidades distintas. Esses aspectos evocam posturas alinhadas com as propostas atuais de uso da tecnologia na sociedade, que priorizam a colaboração e o compartilhamento de recursos e ferramentas. Tanto assim que a proposta de formação docente do Projeto UCA envolve uma dinamização e inovação dos processos pedagógicos na escola através de práticas educacionais que potencializem novas aprendizagens aos discentes, docentes e gestores escolares (BRASIL, 2008). A formação é composta de cinco módulos, distribuídos em 180 horas, que tratam das seguintes temáticas (BRASIL, 2009): Módulo de Apresentação; 1) Apropriação Tecnológica; 2) Web 2.0; 3) Formação na escola: Professores e Gestores; 4) Elaboração de Projetos; 5) Sistematização da Formação na Escola. No estado do Ceará, a formação docente é coordenada pelo Instituto UFC Virtual, unidade acadêmica da Universidade Federal do Ceará (UFC), encarregada pelo Ministério da Educação (MEC) da formação UCA em nove escolas, com o apoio da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), as Secretarias Municipais de Educação (SMEs) e dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE) do Estado e dos municípios. O trabalho da equipe de formação docente das escolas UCA do Ceará vem sendo realizado conforme preconiza o documento intitulado UCA Projeto Um Computador por Aluno: formação Brasil, que contêm diretrizes e orientações para a execução desse processo formativo (BRASIL, 2009). A formação é híbrida, isto é, prevê encontros presenciais e estudos virtuais, mediante a utilização do ambiente virtual de aprendizagem Eproinfo (http://e-proinfo.mec.gov.br). Essa formação tem sido vivenciada como um processo continuado em serviço, na qual teoria e prática estão alinhadas e priorizam as teorias pedagógicas com apoio dos recursos digitais. A apropriação tecnológica dos docentes é intercalada com momentos de utilização do laptop com alunos nas atividades curriculares, no trabalho coletivo da escola em reflexões e registros dos processos e resultados. Livro 2 - p.004691
5 Dentre seus pressupostos, convém destacar os que estão mais diretamente ligados às funções dos docentes, quais sejam: compreensão da função do professor como mediador do conhecimento e promotor de condições adequadas à aprendizagem dos alunos; reconhecimento da liderança que os gestores são capazes de exercer na articulação da comunidade escolar e no suporte ao uso das tecnologias digitais, a fim de otimizar os tempos e espaços de ensino-aprendizagem e oportunizar as mudanças no projeto político-pedagógico (BRASIL, 2009). Diante do acompanhamento desse processo teórico-prático, surgem questões como as que se seguem: qual a contribuição do Projeto UCA para a apropriação tecnológica de professores? A inserção do laptop educacional favorece a inovação pedagógica na educação básica? Quais as dificuldades e os principais avanços na implementação desse Projeto nas escolas? Tais indagações concorrem para a elaboração do problema deste estudo, que consiste em analisar a formação e a prática docente durante o processo de implantação do laptop educacional nas nove escolas cearenses inseridas no UCA. Nas seções seguintes será feita a exposição da metodologia adotada durante os encontros de formação docente e acompanhamento pedagógico, a apresentação das experiências já vivenciadas, os relatados das dificuldades e avanços vivenciados durante esse processo e, por último, as considerações finais. 2. Contexto e Metodologia O Projeto UCA no Ceará teve início em janeiro de 2010 a partir da criação de uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais das áreas técnica e pedagógica. No primeiro momento, a equipe analisou a infraestrutura das nove escolas selecionadas pela SME e SEDUC e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), que definiram quatro escolas do sistema municipal de ensino e cinco escolas do sistema estadual. Duas escolas, uma municipal e outra estadual, estão localizadas no município A, enquanto as outras sete estão distribuídas nos municípios B, C, D, E, F, G e H, com o total aproximado de 4.105 alunos e 190 professores. Para essa ação foram avaliados os seguintes aspectos: instalações físicas de cada unidade; viabilização de dispositivos e/ou equipamentos de antifurto; estrutura das salas de aula no que se refere à adequação do mobiliário e da distribuição das carteiras Livro 2 - p.004692
6 escolares, permitindo maior interação e melhor mobilidade para o acesso dos professores a cada aluno. Nesse mesmo período os professores multiplicadores dos NTEs foram capacitados pela equipe da Universidade para dar continuidade à formação dos professores nas próprias escolas. Paralelamente a essas ações, a equipe realiza visitas às escolas para acompanhar o processo formativo, o planejamento das atividades e as aulas com o laptop educacional, bem como as diversas atividades que as escolas realizam. Nesse contexto, foi sistematizada a metodologia deste estudo, que é de natureza qualitativa e descritiva, segundo a qual a pesquisa envolve a obtenção de dados obtidos no contato do pesquisador com a situação observada, priorizando o processo e preocupando-se em relatar a perspectiva dos participantes (BOGDAN; BIKLEN, 1994). Os dados foram coletados através de observação da formação e da prática docente no Projeto UCA, de entrevistas realizadas com professores, assim como da análise dos relatórios emitidos periodicamente pelas escolas e dos relatos feitos por professores nos encontros presenciais. Assim, os dados coletados foram analisados e serão apresentados a seguir. 3. Resultados O processo de formação, acompanhamento pedagógico e observação dos professores das nove escolas participantes do Projeto UCA no Ceará aponta para vivências semelhantes, mesmo em contextos distintos, já que as escolas estão localizadas em municípios diferentes, sendo duas na capital e sete no interior do Estado. O sentimento de inovação, mudança e inserção de um novo paradigma e, ao mesmo tempo, de compromisso e responsabilidade com a construção dessa parte da história da educação foi comum a todas. A despeito de dificuldades enfrentadas em razão da infraestrutura de algumas escolas, cada uma soube adaptar as novas demandas e possibilidades à sua forma de planejar as aulas, tornando-as mais dinâmicas e atrativas, conforme as declarações dos professores: Sei que a tecnologia oferece recursos bastante interessantes para trabalhar diferentes conteúdos nas nossas aulas [...] tenho consciência de que preciso mudar a maneira de ministrar minhas aulas seja usando recursos online ou off-line, pois a aula convencional não convence mais (Professor 98). Livro 2 - p.004693
7 É um recurso facilitador que promove aprendizagens de maneira prática e rápida. A possibilidade de introduzir mudanças no processo de ensino e aprendizagem capacitando o aluno a entrar na era digital, utilizando a tecnologia e a mídia (Professor 46). Esses relatos demonstram o potencial que os recursos tecnológicos apresentam quanto à motivação dos alunos e, por conseguinte, como recurso pedagógico, de forma que tais ferramentas podem ser inseridas com êxito no processo ensino-aprendizagem. A apropriação tecnológica dos professores e o conhecimento de ferramentas disponíveis na Internet favoreceram a criação de sites para as escolas e blogs por área de conhecimento. Conforme relatos dos professores, o blog é um recurso que pode disponibilizar informações e atividades sobre os conteúdos das aulas: Pretendo criar um blog para divulgação dos trabalhos, como também outro que agregue pesquisas e desafios que possam incentivar a participação dos alunos através de comentários, enquetes, entre outras interações (Professor 101). Ainda que problemas com o acesso à Internet tenham interferido no processo, a utilização de blogs promoveu a divulgação dos conteúdos, a interação online entre professores, alunos e pais, além de demonstrar a evolução dos docentes quanto ao uso desses recursos na prática pedagógica. No município A, professores das duas escolas contempladas com o Projeto relataram como o processo formativo e a introdução do laptop transformou a maneira de trabalhar os conteúdos nas aulas. O laptop educacional foi considerado mais uma ferramenta de suporte ao processo de ensino e aprendizagem, de modo que o computador portátil fosse incorporado à prática docente. Segundo uma professora de Inglês, a aula sobre adjetivos possibilitou integração do conteúdo com a tecnologia no momento em que os alunos representaram os adjetivos através das suas próprias expressões faciais capturadas pela câmera do laptop. Para isso, os alunos utilizaram o dicionário, a fim de consultar o significado de cada adjetivo e, depois, usaram o editor de texto KWord para expor e associar as fotos dos colegas aos adjetivos e seus significados. Conforme a professora, a aula foi muito divertida e enriquecedora, visto que os alunos se apropriaram de duas tecnologias para a aprendizagem do conteúdo: o dicionário e o laptop (Professor 120). A apropriação tecnológica do corpo docente e do núcleo gestor é cada vez mais crescente, principalmente quanto ao uso das ferramentas da web nas práticas Livro 2 - p.004694
8 pedagógicas e quanto às formas de ministrar as aulas. A criação e a utilização de blogs no trabalho pedagógico foram relatadas como ponto positivo por todas as escolas. As escolas dos municípios A e B participaram do Projeto Nossos Lugares no Mundo, visando às trocas culturais de forma colaborativa entre alunos 5º Ano do Ensino Fundamental, alunos da UFC e de uma universidade americana com o intuito de discutir a cultura dos lugares onde vivem. Em duas escolas, nos município E e F, observa-se uma prática crescente de aulas de campo com o apoio do laptop, prática de fundamental importância para a compreensão e a leitura do espaço geográfico. A utilização do laptop nesse tipo de atividade favorece o registro das experiências em fotos, vídeos e textos para elaboração de conhecimentos, confecção de relatórios e comunicação dos resultados, que podem ser enriquecidos com pesquisas na Internet e textos colaborativos. Procedimento semelhante foi observado em uma aula de laboratório numa escola do município C, na qual os alunos registraram os dados de um experimento sobre proliferação de fungos, no laboratório de Ciências, usando o laptop através de imagens e textos. A mobilidade da máquina permitiu o registro do processo e a posterior discussão para obtenção dos resultados. A maioria dos professores relatou que os recursos educativos digitais tanto do laptop quanto disponíveis na web contribuem para subsidiar a prática pedagógica e que eles estão sendo incorporados à rotina da escola. Eis a visão de alguns professores sobre o uso de recursos tecnológicos em sua prática: Tem sido de grande utilidade, pois tem tornado as aulas mais atrativas e interessantes. Essa ferramenta vem tornando os projetos mais interessantes e mais reais, porque podemos colocar em prática atividades diversificas, que antes só ficaria no papel (Professor 40). Quanto mais nos apropriamos das tecnologias maiores são as oportunidades de acesso ao conhecimento tanto para nós como para os alunos (Professor 25). Em atividades especificas como: atividades educativas e jogos online, para matemática e vídeo nas atividades sobre ciências e saúde (Professor. 17). O professor planeja os recursos que serão utilizados e a aula acontece com o uso do laptop adequado ao conteúdo (Professor 13). O laptop foi utilizado em atividades complementares nas áreas de matemática e português onde o aluno tem oportunidade de aprimorar o seu conhecimento matemático, a oralidade e o seu vocabulário (Professor 19). Livro 2 - p.004695
9 As mudanças e os avanços observados pelos docentes durante as aulas com os laptops educacionais estão relacionadas ao maior interesse e concentração dos alunos nas atividades propostas, às sugestões e utilização de recursos diferentes para trabalhar as dificuldades de aprendizagem das crianças e à integração do laptop no planejamento das aulas. No entanto, foi observado que os professores possuem dificuldade de organizar horários de estudo integrados ao planejamento para se apropriarem melhor das ferramentas da máquina e dos recursos digitais, como afirma o Professor 03: Necessitamos de um tempo maior para maturação e este tempo deve ser encontrado para que nós possamos usar a ferramenta e planejar as aulas. Outro fator que interferiu no andamento dos processos formativos foi a mudança de professores nas escolas estaduais (da ordem de 50% do rol de docentes), que ainda têm muitos professores substitutos em seus quadros, o que gera grande rotatividade de pessoal nas escolas. Essa situação exigiu a retomada da formação, de modo que em uma mesma escola, havia professores em níveis distintos. Nas escolas municipais, houve pequenas mudanças e, quando aconteceram, foram no início dos anos letivos de 2011 e 2012, motivo pelo qual foi mais fácil reorganizar o processo formativo. De todo modo, esses níveis diferenciados de apropriação tecnológica foram compensados com o fato de os professores mais adiantados no estudo dos módulos ajudarem os recém-chegados, e vice-versa, já que o conhecimento que os novatos traziam sobre o uso dos recursos tecnológicos também foi considerado. Cumpre salientar que as ações voltadas às possibilidades de implantação do UCA e de capacitação docente contribuíram, sobremaneira, para mudanças nos processos pedagógicos, nas práticas docentes, no uso das TICs e do laptop em particular, tendo como eixo central um processo significativo de mudança nas escolas participantes do Projeto. 4. Considerações finais O Projeto UCA, que tem como base a aprendizagem baseada na colaboração para a construção do conhecimento e utiliza as possibilidades do laptop educacional e do universo das tecnologias digitais como suporte, vem oportunizando a formação continuada dos professores. Os momentos de formação presencial e virtual constituem oportunidades em que toda a escola reflete sobre a mesma temática, identifica a Livro 2 - p.004696
10 realidade e as limitações e, ao mesmo tempo, propõe e experimenta novas estratégias e ações. Convém enfatizar que a tônica da formação é o processo ensino-aprendizagem, que suscita a reflexão, a organização curricular, a distribuição dos tempos e espaços de aprendizagem, enfim, pilares que dão suporte às práticas pedagógicas e à busca de inovações. Essas questões não são novas na escola, mas a inserção do laptop reforça a necessidade de rever conhecimentos, concepções, estratégias e ações e concorrem, de certo modo, para o diálogo e a colaboração entre professores. Percebe-se que o UCA trouxe melhorias significativas às nove escolas, principalmente quanto a: aumento do número de aulas com os recursos digitais; aulas de campo; trabalho com projetos; atenção à interdisciplinaridade; pesquisas na Internet; criação de blogs educacionais por disciplina/área de estudo e uso das ferramentas disponíveis no laptop. Além disso, os professores disponibilizam atividades e propostas de trabalho, socializam ideias, apresentam dicas de leitura e jogos através de ferramentas online. A apropriação da cultura digital por parte dos professores pode ser considerada um dos grandes desafios, uma vez que tal processo requer tempo para assimilação e inserção dessa nova realidade à rotina da escola. Mesmo considerando um processo coletivo, cada professor tem suas expectativas, crenças, limitações e (in)certezas. Os avanços aconteceram de modo diferente para os professores e as escolas, pois há instituições em que a cultura digital já estava mais consolidada e, em outras, o processo teve início com a Formação UCA. A despeito de algumas dificuldades vivenciadas, a formação docente no Projeto UCA pode ser considerada exitosa, posto que as aprendizagens estão sendo vivenciadas na prática, e os resultados começam a aparecer. A motivação para o uso do laptop nas atividades escolares e a busca por novas formas de trabalhar são constantes, uma vez que os professores não concebem mais a escola sem o suporte do computador portátil, pois a comunicação mediada pela tecnologia encontra, na sala de aula e fora dela, uma nova forma de saber, fazer e pensar o processo de ensino e aprendizagem. Referências ALMEIDA, M. E. B.; PRADO, M. E. B. B. Indicadores para a formação de educadores para a integração do laptop na escola. In ALMEIDA, M. E. B.; PRADO, Livro 2 - p.004697
11 M. E. B. B. (Org.) O computador portátil na escola: mudanças e desafios nos processos de ensino e aprendizagem. São Paulo: Avercamp, 2011. BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994. BRASIL. Um Computador por Aluno: a experiência brasileira. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, Série Avaliação de Políticas Públicas, nº 1. 2008. Disponível em http://bd.camara.gov.br. Acessado em 02ago2011.. UCA Projeto Um Computador por Aluno: formação Brasil. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância, 2009.. Programa Um Computador por Aluno: Formação Brasil Planejamento das Ações. Brasília: SEED/MEC, 2010. KENSKI, V. M.. Tecnologias de ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, 2003. WARSCHAUER, M. Laptops and literacy: Learning in the wireless classroom. New York: Teachers College Press, 2006. Livro 2 - p.004698