MÍDIAS DIGITAIS E REDES SOCIAIS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO FUNDAMENTAL

Transcrição

1 MÍDIAS DIGITAIS E REDES SOCIAIS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO FUNDAMENTAL Daniela Diesel Suzana Feldens Schwertner Centro Universitário UNIVATES Resumo: Para que os processos de ensino e de aprendizagem continuem a desempenhar o seu papel nas escolas contemporâneas, Siemens (2004) propõe pensarmos a produção de conhecimento por meio do conectivismo, que se refere a um modelo de aprendizagem que perpassa as conexões estabelecidas entre pessoas, grupos, em rede, ou mesmo com fontes de informação. As mudanças vivenciadas na sociedade e o uso de novas ferramentas tecnológicas altera o desenvolvimento e a divulgação das informações que estão cada vez mais velozes, fazendo com que as interações e a comunicação tomem outras perspectivas. Muda-se, assim, a forma de aprender dessa geração de estudantes. O presente trabalho consiste no relato de uma prática pedagógica realizada envolvendo o uso da rede social Facebook como ferramenta nos processos de ensino e aprendizagem nas aulas de Educação Física do Ensino Fundamental. A prática pedagógica foi realizada com uma turma de 8º ano de uma escola privada do interior do estado do Rio Grande do Sul. Nessa atividade, objetivou-se utilizar mídias digitais como possibilidade de diversificar os processos de ensino e de aprendizagem nas aulas de Educação Física. A atividade envolveu a produção de imagens através de recursos tecnológicos, por meio das quais os estudantes conceituaram o termo atividade física e a produção de selfie dos alunos praticando alguma atividade física. A utilização da rede social Facebook foi introduzida como uma possibilidade de troca de experiências pessoais entre os alunos e para ampliar o diálogo entre os mesmos com o conteúdo em questão. No desenvolvimento dessa prática, observou-se que o uso de diferentes ferramentas e dispositivos em sala de aula ampliou o diálogo dos alunos nas discussões sobre promoção de saúde, atividade física e práticas corporais por meio de trocas de imagens e de experiências pessoais dos estudantes. Palavras-Chave: Processos de ensino e aprendizagem. Educação Física. Conectivismo. Vivemos em um mundo mediado pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), conforme descreve Silva (2014), em que as relações entre quem ensina e quem aprende sofrem profundas mudanças. Tem-se produzido uma democratização do conhecimento, fazendo com que o professor analise a sua postura de ensinar, já que não é mais a fonte principal do processo de ensinar. Um dos sinônimos possíveis para a sociedade contemporânea pode ser indicado pelo uso da tecnologia, em que novas formas de sociabilidade se constituem, estando quase tudo atrelado às conexões por máquinas. Essas máquinas, conforme Carvalho (2014), trazem a informação de um modo instantâneo, avassalador; passando a fazer parte dos sujeitos, formando verdadeiras extensões do corpo. Isso especialmente por 12662

2 2 meio da internet, que requer conexões permanentes, sendo alguns de seus programas mais acessados o buscador Google, o canal de vídeos Youtube, a rede social Facebook, o aplicativo Whatsapp, o repositório de imagens Instagram, o Twitter etc. As cenas de conectividade com as máquinas, seja clicando, digitando, ou mesmo através do toque/touch, tanto por homens, mulheres, crianças, jovens ou até mesmo idosos, são constantes e ocorrem por todo lado o tempo inteiro. Passam a existir novas formas de comunicação, que rompem com a maneira de interagir com o conhecimento. A mudança das tecnologias e nos suportes de informação acarreta uma mudança de paradigma na sociedade contemporânea. Toda a mudança de paradigma não é isolada, ela modifica aspectos sociais, econômicos e culturais do meio no qual ela ocorre. Ao pensar sobre as funções da escola na contemporaneidade, percebe-se que as expectativas que são depositadas sobre essa instituição são reconfiguradas. De acordo com Canário (2006), é preciso uma reinvenção da escola, do ofício do professor e do modo como a escola atual concebe os processos de aprender e de ensinar. Na área do ensino voltada Educação Física, esta diversidade de recursos digitais ofertados às crianças e jovens faz com que as práticas de atividades físicas percam espaço a cada dia na era digital. Estamos diante de tempos em que a Educação Física vem perdendo fortemente seus espaços e as atividades a ela relacionadas para o domínio digital e tecnológico. Faz se necessário reorganizar a dinâmica das aulas de Educação Física e as práticas pedagógicas que vêm sendo desenvolvidas neste contexto. Como despertar o interesse dos alunos para práticas de atividades físicas? É possível aproximar as mídias digitais do contexto da Educação Física escolar? Como trazer os recursos tecnológicos para a sala de aula? As redes sociais podem auxiliar na construção do conhecimento? Siemens (2004), ao apresentar estudos voltados à proposta do conectivismo, refere-se a um modelo de aprendizagem que reconhece as mudanças tectônicas na sociedade. Com essas mudanças, o desenvolvimento e a divulgação das informações estão cada vez mais velozes, as interações e a comunicação tomam outras perspectivas. Muda-se, assim, a forma de aprender dessa geração de alunos. Na proposta do conectivismo, os processos de ensino e aprendizagem são constituídos por meio da conexão entre pessoas, grupos, sistemas e instituições, que os capacitam a aprender mais, mediados pela tecnologia A aprendizagem se torna cada vez 12663

3 3 mais informal; segundo Silva (2014), aprende-se em comunidades de práticas, em redes pessoais, ou na realização de tarefas. Na perspectiva do conectivismo, segundo Siemens (2004), a aprendizagem ocorre na inclusão da tecnologia e na distribuição deste conhecimento. Pois o conhecimento reside nas conexões que são estabelecidas, seja com outras pessoas, em grupos, em rede, ou mesmo com fontes de informação, como por exemplo, em um banco de dados. A partir disto, foi desenvolvida uma prática pedagógica envolvendo o uso da rede social Facebook como ferramenta pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem nas aulas de Educação Física do Ensino Fundamental. A Educação Física escolar enfrenta novos desafios a cada dia: notamos os alunos mais cansados, sedentários, sem disposição e vontade de realizar atividades físicas ou práticas desportivas. Cabe ao professor de Educação Física promover ações de valorização da importância de práticas regulares de atividade física para a saúde e bem-estar e despertar nos alunos o gosto por diferentes práticas corporais. A prática pedagógica foi realizada com uma turma de 31 alunos de 8º ano de uma escola privada no interior do estado do Rio Grande do Sul. A proposta pedagógica teve como objetivo conscientizar sobre a importância da atividade física regular na vida dos jovens por meio do uso de tecnologias de comunicação e informação para o desenvolvimento da prática. Desta forma, utilizou-se a rede social Facebook como ferramenta pedagógica para diversificar os processos de ensino e de aprendizagem nas aulas de Educação Física. A atividade envolveu a produção de imagens através de recursos mídias digitais, por meio das quais os estudantes conceituaram o termo atividade física e a produção de uma selfie dos alunos praticando alguma atividade física. A utilização da rede social Facebook foi pensada e introduzida como uma possibilidade de troca de experiências pessoais entre os alunos, como facilitador no diálogo entre os mesmos e com as temáticas em questão: promoção de saúde, atividade física e práticas corporais. Muitas selfies foram compartilhadas, envolvendo atividades como jogo de tênis, de futebol, de voleibol, de basquete, andar de bicicleta, patinação, acompanhadas de algumas definições eles igualmente compartilhavam, tais como: Aluno 1: Atividade física não é um bem-estar apenas para o corpo, mas também para alma! (J, 2014). Aluno 3: Para uma vida melhor, deixe escorrer o suor. Com a atividade física você cansa o corpo mas relaxa a mente (P. 8º ano, 2014)

4 4 Aluno 7: Faça dos seus dias mais saudáveis, faça seu futuro valer seu esforço. Faça sua vida valer o prazer de praticar atividade física" (D, 8º ano, 2014). Apresentaram, igualmente, outras imagens que exibiam suas atividades físicas, como podemos visualizar nas duas imagens abaixo: Imagem 1 e 2: Sinônimo do termo atividade física em imagem para os alunos 4 e 6 do 8º ano. Fonte: Imagens produzida pelos alunos 4 e 6 O uso de redes sociais como instrumento pedagógico possibilita ao professor explorar inúmeras potencialidades. De acordo com os estudos de Ferreira, Corrêa e Torres (2012), o docente precisa ir além do recurso, otimizar a rede para estabelecer uma aprendizagem colaborativa, uma forma de ensinar e aprender com objetivos claros, metodologias e avaliações definidas e coerentemente alinhadas à proposta estabelecida entre professor e aluno. Este trabalho demonstrou que ao envolver mídias digitais e dispositivos, como no caso a rede social Facebook com os conteúdos da Educação Física, possibilitamos infinitas experiências de aprendizagem para um grupo de alunos. Primeiramente podemos citar: a experiência de correlacionar recursos tecnológicos com Educação Física; segundo, a experiência com a produção de imagens e conceitos; terceiro, a experiência da autoimagem (selfie) com atividade física; quarto, a experiência de 12665

5 5 trocas de diálogos em uma rede social com uma turma de alunos; quinto, a experiência de falar de si, de expor as suas opiniões sobre vivências corporais; e, por último; a experiência de estar em rede, conectados via rede social, com seus colegas de turma. Podemos considerar que o desenvolvimento de uma prática pedagógica aparentemente desafiadora por envolver conectividade, redes sociais, internet, uso de mídias digitais dentro do contexto da Educação Física, tornou-se algo de crescente interesse por parte dos alunos ao utilizar recursos e dispositivos com os quais eles possuem afinidades. As temáticas puderam ser trabalhadas de uma forma prazerosa, favorecendo a troca de informações e de conhecimento entre todos os envolvidos. Referências CANÁRIO, Rui. A escola tem futuro? Das promessas às incertezas. Porto Alegre: Artmed, FERREIRA, J. L.; CORRÊA, B. R. P. G.; TORRES, P. L. O uso pedagógico da rede social Facebook. Redes Sociais e Educação. Colabor@ (Digital), v. 7, n. 28, Disponível em: Acesso em: 26 de fevereiro LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. 14ª ed. Rio de Janeiro: Editora 34, SIEMENS, George. Conectivismo: Uma Teoria de Aprendizagem para a Idade Digital Disponível in: Acesso em: 23 de janeiro de SILVA, Edna Marta Oliveira. Como aprende o nativo digital: reflexões sob a luz do conectivismo. Revista Intersaberes. V. 9, n. 17, Disponível em: Acesso em: 23 de janeiro de