UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA - HABILITAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL JULIANA CORREIA DO CARMO

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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA - HABILITAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL JULIANA CORREIA DO CARMO O CONCEITO DE JOGOS E BRINCADEIRAS EM VYGOTSKY Salvador - Bahia. 2010

JULIANA CORREIA DO CARMO O CONCEITO DE JOGOS E BRINCADEIRAS EM VYGOTSKY Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Pedagogia Habilitação em Educação Infantil, da Universidade do Estado da Bahia, Campus I, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia, sob orientação da Profª Drª Maria de Fátima Noleto. Salvador - Bahia. 2010

FICHA CATALOGRÁFICA : Sistema de Bibliotecas da UNEB Carmo, Juliana Correia do O conceito de jogos e brincadeiras em Vygotsky / Juliana Correia do Carmo. Salvador, 2010. 44f. Orientadora: Profª. Maria FICHA de Fátima CATALOGRÁFICA Noleto. : Sistema de Bibliotecas da UNEB Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2010. 1. Brincadeiras. 2. Jogos. 3. Brinquedos. 4. Crianças. I. Noleto, Maria de Fátima. II.Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD:790.1

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA - HABILITAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL JULIANA CORREIA DO CARMO Trabalho de conclusão de curso apresentado ao departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura de Pedagogia com Habilitação em Educação Infantil. APROVADA EM 30/08/2010 BANCA EXAMINADORA Prof.ª Msc. Adelaide Rocha Badaró Profª Drª Maria de Fátima Noleto Profª Msc. Claúdia

Dedico este trabalho a minha mãe, meu exemplo de vida.

AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus, que me deu força e disposição suficiente para conseguir concretizar esta etapa. A minha avó e a minha mãe, pelo apoio e incentivo de sempre, sem elas certamente eu não teria chegado até aqui. À minha orientadora, professora Drª Maria de Fátima Noleto que me auxiliou e orientou até o último instante e que sem seu suporte eu não conseguiria concluir este trabalho. A minha querida professora, Msc. Adelaide Badaró que não mediu esforços para me ajudar, obrigada! E as minhas amigas de faculdade que me deram apoio e incentivo para término desta monografia.

O homem não consegue ser completo senão quando joga. (Schiller 1805)

RESUMO Este trabalho tem como objetivo tratar do conceito e das dimensões dos jogos e das brincadeiras na concepção de Vygotsky. Conceituar jogo, brinquedo e brincadeira não são uma tarefa fácil, é tanto que, é notável percebemos o quanto os significados desses termos se confundem. Neste trabalho o brinquedo será compreendido, como, o objeto da brincadeira, enquanto a brincadeira será sempre a ação que a criança pratica ao realizar as regras do jogo. Desta maneira brinquedo e brincadeira relacionase diretamente com a criança e não se confundem com o jogo. O jogo e a brincadeira são atividades importantes na formação da criança, uma vez que, estas atividades contribuem no desenvolvimento cognitivo, social, e afetivo da criança. É por meio da brincadeira e do jogo que a criança cria, agi, senti, pensa, aprende e desenvolve-se integralmente. Assim é de fundamental importância a presença destas atividades na vida da criança, pois é na brincadeira e no jogo que a criança libera emoções, imaginação e representações dos objetos e meio que a envolvem. Palavras chave: Brincadeiras, Brinquedos, Jogos, Criança.

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...8 2. CONCEITOS DE JOGOS E BRINCADEIRAS EM VYGOTSKY...10 3. AS DIMENSÕES DO JOGO E DA BRINCADERIA NA CONCEPÇÃO DE VYGOTSKY...25 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...42 REFERÊNCIAS...43

INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão acerca do conceito e das dimensões do jogo e da brincadeira em Vygotsky. A preocupação com essa temática surgiu em 2006, quando cursava o segundo semestre do curso de pedagogia e na disciplina de Psicologia e Educação me deparei com o livro O Jogo e a Educação Infantil de Tizuko Morchida Kishimoto. Tal obra trazia de maneira detalhada significados e características do jogo na educação infantil e algumas contribuições teóricas acerca do conceito de jogo infantil, também foram apresentadas na obra. Teóricos como Piaget, Wallon, Bruner, e Vygostky traziam de forma clara e objetiva o jogo e a brincadeira como elementos fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança. Os mesmo também apresentavam e defendiam suas idéias centradas em um único objeto de estudo: a criança. No decorrer dos capítulos Vygotsky falava da importância do jogo e do brinquedo como instrumento capaz de estimular a imaginação e criatividade da criança. Ao desenvolver meu estagio, no ano de 2006, em uma escola da rede municipal, localizada no bairro de Plataforma, periferia de Salvador, e em uma turma do grupo cinco com vinte cinco alunos com idades entre 4 e 5 anos, pude perceber em um momento recreativo como o brinquedo junto com o jogo tinha o poder de transportar o aluno para uma outra realidade, realidade esta ainda não vivenciada por ele. Observava que ao brincar os alunos se transportavam para seu próprio mundo, um mundo da imaginação onde ali seus desejos eram expostos. Era através destas atividades que as crianças abandonavam seu mundo de necessidades e constrangimentos e criava uma nova realidade e personalidade. Era no ato de brincar que os meninos expressavam seus desejos internalizava regras sócias e papeis imaginários. Sendo assim percebi que através das brincadeiras as crianças passavam a conhecer suas potencialidades, habilidades e limitações. Em outros momentos, deste mesmo estagio, também pude observar como o jogo e o brinquedo

contribuía na construção das relações afetivas e sociais da criança, uma vez que, na brincadeira a criança seguia regras de condutas e assumia papeis sociais. Diante dessas inquietações, pretendo estudar as seguintes questões de estudo: qual o conceito da brincadeira e jogo em Vygotsky? E as quais são as dimensões do jogo brincadeira na concepção de Vygotsky? Sabendo-se da importância dos jogos e das brincadeiras na formação integral da criança, surgiu este trabalho. Foi realizado um estudo, elaborado a partir da pesquisa e da observação desta temática, tendo em vista compreender as implicações e desafios que poderão se fazer presentes, bem como suas atribuições. Este é um trabalho teórico de pesquisa bibliográfica, fundamentada nos estudos realizados por Vygotsky(1997) sobre conceitos e concepções acerca de jogos e brincadeiras. Este trabalho foi organizado em dois itens: O primeiro trata do conceito de jogos e brincadeiras em Vygotsky; O segundo aponta as dimensões dos jogos e das brincadeiras, também na concepção de Vygotsky.

1. JOGOS E BRINCADEIRAS: CONCEITOS BÁSICOS. Tentar definir o jogo não é tarefa fácil. Ao pronunciar a palavra jogo cada pessoa pode entendê-la de maneira diferente. Pode-se estar falando de crianças, adulto, xadrez, amarelinha... Por exemplo, no jogo de faz- de conta, há forte presença da situação imaginaria; no jogo de xadrez, regras estabelecidas. Piaget (1976), no seu estudo sobre a formação simbólica da criança define o jogo como sendo: atividade intelectual da criança (p.160). Ele ainda analisa o jogo sob uma ótica cognitivista e caracterizado por uma particular orientação do comportamento que denomina assimilação, a ponto de afirmar que: Cada ato, de inteligência é definido pelo desequilíbrio entre duas tendências: acomodação e assimilação. Na assimilação, a criança incorpora eventos, objetos ou situações dentro de formas e pensamentos, que constituem as estruturas mentais organizadas. Na acomodação, as estruturas mentais existentes reorganizam-se para incorporar novos aspectos do ambiente externo. Durante o ato de inteligência, o sujeito adapta-se ás exigências do ambiente externo, enquanto, ao mesmo tempo, mantêm sua estrutura mental intacta. O brincar neste caso é identificado pela primazia da assimilação sobre a acomodação. Ou seja, a criança assimila eventos e objetos a suas estruturas mentais. (PIAGET, 1976, p.139) Observa-se que no processo cognitivo o desequilíbrio na busca do equilíbrio dos esquemas cognitivos envolve a acomodação e a assimilação. É tanto que Piaget (1976) destaca que a assimilação é, portanto, um processo cognitivo de incorporar novos eventos em esquemas existentes. É a incorporação de elementos do meio externo (objeto, acontecimento,...) a um esquema ou estrutura do sujeito (p.139). Desta forma quando a criança capta o ambiente e, o organiza possibilita a ampliação de seus esquemas. Na acomodação há a modificação de um esquema ou de uma estrutura em função das particularidades do objeto a ser assimilado. Nesse momento, a criança cria um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo, ou modifica um já existente de forma que o estímulo possa ser incluído. Ocorrido esse processo cognitivo, a criança tenta outra vez encaixar o estímulo no esquema e aí ocorre a assimilação. Logo, a acomodação não é determinada pelo objeto e sim pela ação da criança sobre esse, para tentar assimilá-lo. O balanço entre assimilação e acomodação é chamado de adaptação.

Piaget (1976) ao conceituar o jogo como uma atividade que desenvolve o intelecto da criança (p.139), constatou no decorrer dos seus estudos, que através dos jogos a criança muda seu comportamento e exercita a sua autonomia, pois aprendem a julgar argumentar, a pensar, a chegar a um consenso. A respeito do comportamento da criança o autor traz que: o comportamento da criança diante das pessoas e objetos com os quais convive, é baseado na evolução das estruturas mentais (p.139). Sendo assim, Piaget classifica o jogo em três categorias, cada uma delas corresponde a um nível de desenvolvimento da criança: jogo de exercício sensório motor, jogo de formação simbólica e o jogo de regras. Segundo o autor eles acontecem da seguinte forma. Jogo em Exercício Sensório Motor Aparece durante os primeiros 18 meses de vida. Diz respeito aos movimentos de seqüências já estabelecidas de ações e manipulações, não com propósitos práticos e instrumentais, mas movido por um prazer derivados das ações motoras (PIAGET, 1976, p.160). Para o autor, neste período, a criança conquista através da percepção e dos movimentos todo do universo que a cerca. Contudo ainda não existe diferenciação entre o eu e os objetos exteriores. Observa-se também que, exercícios simples como emitir sons, sacudir braços, pular não é desenvolvido apenas como propósito básico, mas sim como atividade que proporciona prazer. Segundo Piaget (1976) o Jogo Simbólico, surge durante o segundo ano de vida com o aparecimento da linguagem de representação. O mesmo acrescenta ainda que Jogos Simbólicos Nesta fase a criança já consegue ter uma representação mental das pessoas e situações. Contudo sua percepção é global, sem descriminar detalhes. Com o aparecimento do jogo simbólico a crianças ultrapassa a simples satisfação de manipulação. Ela vai assimilar a realidade externa do seu eu, fazendo distorções ou transposições. Da mesma forma, o jogo simbólico é usado para encontrar satisfação fantasiosa por meio de compensação superação de conflitos, preenchimentos de desejos, como por exemplo, um cabo de vassoura pode ser um cavalo, ora uma espada. Outro aspecto desse período é a imitação de animais reais ou imaginários, que a criança realiza, com objetos ou com seu próprio corpo. Esses brinquedos de faz de faz-de-conta

apresentam-se numa forma que chama-se de esquema simbólico. (PIAGET, 1976, p.160). Entende-se que, esses jogos satisfazem a necessidade da criança de não somente relembrar uma situação que já aconteceu, mas de executar a representação. Na concepção de jogo simbólico comenta o mesmo autor que, a criança se limita a fazer de conta que exerce uma de suas ações habituais: finge que dorme que se lava, que esta comendo, etc. Portanto, o jogo simbólico representa construções simbólicas do real, por meio de ações imitativas, que quanto mais à criança avança a idade, mais se aproxima da realidade. Para Piaget (1976) o jogo de regras só é possível após certo desenvolvimento da inteligência e é característico de um individuo socializado. Esse tipo de jogo surge mais tarde na vida da criança, mas, em compensação, ele subsiste e desenvolve- se durante toda a vida adulta, enquanto os jogos de exercício e simbólicos, que se apresentam mais cedo, aparecem mais raramente no adulto. Para tanto o autor afirma que: Jogos de regras- Neste período a criança já é capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Através do jogo de regras a criança passa pelo processo da atividade individual á socializada. (PIAGET, 1976, p.160) Compreende- se desta maneira que a criança ao jogar entra em contato com regras estabelecidas o que lhe confere um caráter eminentemente social. Henri Walton (1979), em suas pesquisas sobre a importância do jogo no desenvolvimento da criança, definiu o jogo como uma atividade voluntária da criança. Ao postular a natureza livre do jogo, Wallon, classifica os jogos em quatro tipos: funcionais, de ficção, de aquisição e de construção. Os jogos funcionais para este autor acontecem da forma mais simples e natural, quando a criança descobre o prazer de produzir som, executar movimentos e sentir necessidade de pôr em prática as novas aquisições, do tipo: gritar, explorar os objetos, entre outros. É tanto que o afirma o autor: os jogos funcionais representam os movimentos simples como encolher os braços as pernas, agitar os dedos, balançar objetos, produzir sons e ruídos. (p.79).

Quando o autor discute os jogos de ficção ele afirma que: são atividades que requer uma interpretação mais definida e diferenciada no manejo com objetos: jogo de bonecas, cavalo de- pau, etc. (p. 79), ou seja, a criança usa objetos do mundo real conforme seus desejos e anseios. É tanto que Piaget diz que nesta atividade a criança transforma matéria real em objetos dotados de vida fictícia (p. 81). Já nos jogos de aquisição, este mesmo autor entende que a criança é todo olhos, todo ouvidos (p.79). Inicia-se ai o processo de compreender, conhecer, imitar músicas, gestos, imagens. Estes jogos estão relacionados com a percepção e compreensão com o meio físico, como olhar, perceber, compreender relatos, canções, imagens, seres, etc. Quanto, aos jogos de Fabricação, esses fazem com que a criança crie, combine, junte e transforme objetos. Os jogos de fabricação são quase sempre as causas ou conseqüências do jogo de ficção, ou se confundem num só. Quando a criança cria e improvisa o seu objeto, ou seja, a boneca, os animais podem ser modelados. Nas palavras de Wallon (1979) essas atividades envolvem a criatividade a transformação, a combinação e agrupamentos de objeto (P.81). É através da imitação que a criança vive o processo de desenvolvimento que é seguido por fases distintas. É por meio do jogo de faz- de- conta que a criança experimenta situações do seu cotidiano, e internaliza regras de condutas sociais já estabelecidas. Não existe na criança um jogo natural, logo, o jogo pressupõe uma aprendizagem social. A criança aprende a jogar. Sendo assim, para que o jogo seja uma atividade eficácia, completa, necessariamente a criança experimenta as quatro fases comentadas acima. Vygotsky (1997), em suas análises acerca da aprendizagem e o desenvolvimento da criança, conceitua jogo como sendo atividade primordial da criança, a uma só vez espontânea, criativa e elaborada de situações. É uma linguagem, uma das principias formas de relação da criança consigo mesma, com os demais e com os objetos do mundo que nos rodeia. (VYGOTSKY, 1997, p. 132)

Neste sentido o autor conceitua o jogo como sendo uma atividade própria e espontânea da criança, assim, esta atividade possibilita que ela explore o seu mundo através de elaboradas situações. É por meio destas situações que a criança tem seu primeiro contato com os objetos do mundo físico. Na obra, Aprendizagem e desenvolvimento, de Vygotsky (1997), a ZDP é referida como: A distancia entre o nível de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver, independentemente um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outro companheiro capaz. (VYGOTSKY, 1997, p.100) A zona de desenvolvimento proximal é um conceito forte na teoria desse autor, que afirma que a distancia entre a fase de desenvolvimento potencial, que são as funções emergentes, no qual a criança só pode resolver um problema com a ajuda de um adulto, e a fase de desenvolvimento real, que seriam as funções autônomas, ou seja, as funções já internalizadas somando com que a criança pode fazer sem a colaboração do adulto. Configura-se, assim, o encontro do individual com o social, visto que o desenvolvimento não ocorre como processo interno da criança, mas resulta de sua participação em atividades socialmente compartilhadas. A Zona de desenvolvimento proximal compreende, portanto funções em fase de maturação, situando-se entre o nível de desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial da criança. E é justamente nessa linha de raciocínio, no ponto de maturação, que Piaget se diferencia de Vygotsky. Para o primeiro, esse processo evolutivo está relacionado com a maturação e para o segundo o jogo está ligado ao surgimento da capacidade de simbolizar, ou seja, representar papéis. O jogo em Vygotsky (1998, p.72) implica na ação de dois elementos básicos: o objeto e o significado. Ou seja, é no jogo que as crianças representam um significado imaginário real. Desta maneira, conforme a percepção que tem o objeto lhe é atribuído um significado. Nesta perspectiva, Vygotsky(2000), afirma que a criança observada na atividade lúdica entre três e seis anos não reside na percepção dos símbolos,

mas pode utilizar as distintas formas de representação. (p.50). Assim, através do jogo, ela pode atribuir um novo significado de um círculo, transformando-o em um volante de carro. Desde modo, o jogo tem uma importância nessa linha teórica, para o desenvolvimento integral da criança, seja social, intelectual, moral. Assim o jogo além de favorecer tal desenvolvimento, contribui ás transformações internas, ou seja, da ação imaginária para o predomino de regras. Vygotsky chama a atenção que: ao jogar, a criança imagina e ameniza conflitos e tensões entre os desejos infantis e suas limitações, havendo uma aproximação da situação imaginaria e a situação real, onde as crianças jogam reproduzindo a realidade, a ação imaginaria é mais limitada, ou seja, o que sobressai é a reconstituição da vida real da criança. Entende- se que as crianças ao interagir com os outros formando pares, além de desenvolver-se socialmente, ela também internaliza regra de conduta social. Fato que também é desenvolvido através da ação imitativa ao mundo adulto, seja na família, seja na escola ou no ambiente onde vive. Segundo o autor a ação imaginaria, criada pelo jogo, favorece ao desenvolvimento do pensamento abstrato, e ao amadurecimento das regras sociais. (p.54). Desta forma a essência do jogo é a relação que se cria entre o campo do significado e o campo real, relação que em outras palavras, se daria entre situações imaginárias, que somente existem no pensamento e em situações reais. A abordagem do autor parece emergir como alternativa á teoria de Piaget, especialmente no que se refere à participação do contexto social na formação da inteligência. Ao contrario de Piaget e Wallon em que asseguram que o jogo começa nas atividades das crianças a partir do nascimento, Vygostsky, afirma que o jogo só começa nas atividades infantis, depois dos três anos de idade. Para este teórico, a criança antes desta idade não possui ainda elementos representativos simbólicos, ou seja, o jogo surge na criança, quando atinge a idade escolar, juntamente com a interiorização dos símbolos.

Conforme Piaget, esta fase significa a aquisição dos jogos simbólicos, enquanto que na concepção vygotskana, esta fase representa um processo do jogo imaginativo. Esta definição do simbolismo é que estabelece a diferença de interpretação entre autores vygotskanos, piagentianos e wallinianos. Vygotsky valoriza o fator social, mostrando que no jogo de papéis a criança cria situação imaginaria e incorpora elementos do contexto cultural. E neste processo dinâmico, a situação imaginaria desencadeia- se em regras de condutas oriundas da própria situação referida. Em função disso, o autor afirma que: A ação imaginária contribui no desenvolvimento das regras de conduta social, onde as crianças, através da imitação, representam papéis e valores necessários á participação da mesma vida social por elas internalizadas durantes as brincadeiras em que imitam comportamentos adultos. (VYGOSTSKY, 2000, p 164) Wallon assim como Vygotsk admitem que o jogo é produto social. Contudo, os três teóricos se situam na idéia de que a imitação é a origem da apresentação mental e a base do pensamento da criança. Kishimoto (1997), nos seus estudos realizados sobre seus o Jogo e a Educação Infantil, salienta que quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendê-la de modo diferente. Pode-se estar falando de jogos políticos, de adultos, crianças, animais ou amarelinha, xadrez,... Por exemplo, no faz-deconta, há forte presença da situação imaginária; no jogo de xadrez, regras padronizadas permitem a movimentação das peças (p.115). A autora afirma ainda que, ao jogar, a criança vivencia um momento lúdico, com situações estruturadas pelo próprio tipo de material utilizado. Nesse sentido jogos, como xadrez, construção, requer um desempenho de habilidades definidas pela estrutura do próprio objeto e suas regras. Kishimoto (1994) traz que: Os jogos populares, também chamados de jogos tradicionais são jogos muito antigos, praticados desde séculos e que são transmitidos oralmente de geração para geração. No entanto, conforme os condicionalismo de cada região, as diferentes gerações adaptam-nos a sua maneira de ser e viver. (KISHIMOTO, 1994, p. 15-16).

Os jogos tradicionais, portanto, são criados a partir do repertorio mais velho e adaptados ás características locais. Desta maneira se explicam as variantes de um mesmo jogo. (como por exemplo, o jogo da batata quente que em alguns lugares é conhecido como o jogo do passa a bola). Ainda sobre os jogos tradicionais, Kishimoto (1994) acrescenta que: grande parte dos jogos tradicionais popularizados ou regionalizados, como a amarelinha, bolinha de gude, pula-corda, pião, chegaram ao Brasil pelas mãos dos colonizadores portugueses, outros foram incorporados da cultura indígena e afro-brasileira.. (KISHIMOTO, 1994, p. 15) Desta maneira, Kishimoto( 1994) revela que os jogos tradicionais estão inseridos na cultura local. Essa cultura não oficial, desenvolvida, sobretudo, pela oralidade, incorporando criações anônimas das gerações que vão sucedendo. (p. 15). Sendo assim os jogos populares ou tradicionais, apresentam um forte elemento folclórico, e assumem características de anonimato, dando a entender que por estes aspectos, é muito difícil conhecer a origem desses jogos. É reafirmando tal pensamento que a autora diz que compreender a origem e o significado dos jogos tradicionais pede uma investigação das raízes folclóricas (p.18). Ao tratar destas características, de anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação, mudança e universalidade, Kishimoto, (1998) traz que A tradicionalidade e universalidade dos jogos assentam-se no fato de que povos distintos e antigos como os da Grécia e do Oriente brincaram de amarelinha, empinar papagaios, jogar pedrinhas e até hoje as crianças os fazem quase da mesma forma. Tais jogos foram transmitidos de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil. (KISHIMOTO, 1998, pg 25). Entende-se que a tradicionalidade e a universalidade do jogo se firmam no fato de que pessoas de lugares diferentes já desenvolveram esta atividade em algum tempo, já as características de anonimato e oralidade deve-se ao fato de que as regras eram passadas de forma oral e de geração para geração. Assim, as crianças precisam conhecer e incorporar estes tipos de jogos nas suas vivencias para não sejam esquecidos.

Huizinga, (2005), em seu livro Homo Ludens considera o jogo como: Toda e qualquer atividade humana e também como um fator distinto e fundamental, presente em tudo o que acontece no mundo, que é no jogo e pelo jogo que a civilização humana surge e se desenvolve (p.3). E ainda, o jogo é: uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias (p.13), com um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana. Situado nesta mesma definição Huizinga destaca três características essências do jogo, tais como: Uma atividade livre, conscientemente tomada como não seria e exterior a vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites espacias e temporais, próprios, seguidos de uma certa ordem e certas regras. (HUIZINGA, 1995, p.16) Por trazer significados que não expressa o sentido do termo não seria como relapso ou ainda vulga, quando Huizinga o coloca o jogo como atividade nãoséria não está de maneira alguma desmerecendo a atitude de envolvimento total no jogo, pois como ele mesmo relata certas formas de jogo podem ser extraordinariamente sérias (p. 8). Ainda sobre essa característica o autor menciona que é preciso que o professor se conscientize de que ao desenvolver o conteúdo programático, por meio do jogo, não significa dizer que ocorra um descaso com a aprendizagem do conteúdo escolar. Pelo contrário, ao desenvolver o conteúdo mediante os jogos, o educador trabalha também com o processo de construção do conhecimento, respeitando o estágio do desenvolvimento de aprendizagem criança. E ao se referir ao jogo como atividade exterior a vida habitual, o autor menciona que o jogo se concretiza como evasão da vida real (p.3), ou seja, uma fuga da realidade, uma fuga do nosso cotidiano.

O autor afirma também que o jogo acontecia mesmo antes da civilização humana, isto é, sempre existiu na vida dos animais. Huizinga (2005) entende que o jogar é toda atividade que envolve prazer. O jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana; mas, os animais não esperaram que os homens os iniciassem na vida lúdica. É-nos possível afirmar com segurança que a civilização humana não acrescentou característica essencial alguma à idéia geral de jogo. Os animais brincam tal como os homens (HUIZINGA, 2005, p.03). Lembra-nos o autor, quem já não observou a brincadeira de um grupo de cachorrinhos sobre a relva de um jardim? Em função disso, descreve o autor, os cachorrinhos: Convidam-se uns aos outros para brincar mediante um certo ritual de atitudes e gestos. Respeitam a regra que os proíbe morderem com violência, a orelha do próximo. Fingem ficar zangados e, o que é mais importante, eles, em tudo isto experimentam evidentemente imenso prazer e divertimento. (HUIZINGA, 2005, p.0 3) Para Huizinga(2005) o jogo é uma atividade cultural, tendo função social. Observa-se, no entanto, que o jogo pode ser visto como o resultado de um sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto social; um sistema de regras; e um objeto. Esses três aspectos, sistema lingüísticos, de regras e de objetos, possibilitam a compreensão do jogo, diferencia os significados atribuídos por culturas diferentes, pelas regras e objetos que o caracterizam. Existe uma variedade de jogos conhecidos, tais como: faz-de-conta, simbólicos, motores, sensórios-motores, cognitivos, individuais ou coletivos, de adultos, de crianças, de animas, e uma infinidade de outros, o que mostra uma multiplicidade de fenômenos incluídos na categoria jogo sendo que cada um joga à sua maneira, pois tais jogos, mesmo que receba a mesma denominação, cada um tem suas especificidades, dentro do contexto social, cultural em que estão inseridos. Jogo, brinquedo e brincadeira se confundem. É tanto que Kishimoto (1999), em seus trabalhos a cerca do jogo e da brincadeira na educação infantil, diz que existe uma dificuldade em compreender o significado atribuído aos termos jogo,brinquedo e brincadeira (p.8). Essa dificuldade de definição aumenta quando diferentes situações recebem a mesma denominação. Para uns é jogo,

para outro é brincadeira e assim sucessivamente. Neste trabalho o brinquedo será compreendido, como o suporte da brincadeira, enquanto a brincadeira será sempre a ação que a criança pratica ao realizar as regras do jogo. Desta maneira brinquedo e brincadeira relaciona-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo. Piaget (1976), no seu estudo sobre a formação simbólica da criança, também define a brincadeira como sendo: atividades intelectuais da criança (p.160). As brincadeiras são meios de estímulo ao desenvolvimento social, cognitivo e afetivo da criança e também é uma forma de auto-expressão. Poucos pais não entendem a importância do brincar para o desenvolvimento intelectual e físico de seu filho. A idéia espalhada popularmente resume a brincadeira a um simples passatempo, sem importantes funções. Por meio da brincadeira a criança desenvolve potencialidades e habilidade, além de desenvolver também suas relações afetivas e sociais. Baseado neste pensamento, das brincadeiras serem consideradas atividades mais sérias, Piaget (1994) diz: Para os pais entenderam os filhos, é necessário que entendam suas brincadeiras. Ao observar uma criança brincando, o adulto pode compreender como ela vê e constrói o mundo, como ela gostaria que fosse, o que a preocupa e os problemas que as cercam. ( PIAGET, 1994, p.152) Desta forma, está comprovado que crianças que não brincam ou que os pais interagem nesse sentido com elas, sofrem um bloqueio em processos intelectuais, pois é na brincadeira que a criança deixa sair suas angústias e aprende a lidar com as limitações. É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação (p.159). É partindo dessa linha de raciocínio, a brincadeira como meio de desenvolver o intelecto da criança, que Piaget afirma que estas não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual (p.159). Henri Wallon, (1998), em suas pesquisas sobre a relação entre o brincar e o desenvolvimento da criança, definiu a brincadeira como sendo atividade

espontânea, livre de qualquer repressão. Partindo desse conceito o autor afirma que a brincadeira é uma ação voluntária, caso contrário, não é brincadeira, mas sim trabalho ou ensino (p.80). Ao trazer este conceito, sobre brincadeira, o autor concorda com Piaget ao dizer que os mesmo provem da imitação que representa uma acomodação do objeto. Entende-se que na acomodação postural a base do que se tornara a imagem e na imitação uma participação motora do que é imitado e um certo prolongamento da imitação do real. Partindo deste pensamento o autor afirma que è no brincar que a criança expressa seus sentimentos, a identificação com determinadas pessoas leva a criança a assumir papéis, buscando saciar sua curiosidade com relação ao mundo que a cerca. Não são todas as pessoas ou situações que são imitadas, apenas aquelas que a criança considera importante, podemos desta forma afirmar que há uma carga afetiva na brincadeira infantil. (WALLON, 1998, p.80) É então, a partir da imitação da realidade que a criança simboliza suas observações. Assim, as brincadeiras de faz- de- conta possibilitam que a criança, crie e recrie seu mundo, conforme seus anseios e desejos. Para Vygotsky, (1997), em seus estudos sobre a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, conceitua brincadeira como sendo uma atividade que traz prazer á criança. O mesmo ainda acrescenta que a a brincadeira, é uma atividade específica da criança que recria a realidade usando sistemas simbólicos. (p.32) Essa é uma atividade social, com contexto cultural e social. Em sua teoria Vygotsky também faz: referência à imitação da realidade, porém o mais importante é a imaginação da criança. Se para Wallon a imitação é a regra do jogo, para Vygotsky a regra é a imaginação. Ao brincar a criança cria uma situação imaginária, com regras próprias. (VYGOTSKY, 1997, p. 142) Vygotsky considera que toda brincadeira tem símbolo (imaginário) e regra. Inicialmente as regras podem não estar explícitas, com a evolução da brincadeira estas passam a ser clara. É justamente neste ponto que Vygotsky e Piaget se diferenciam.

A noção de zona proximal de desenvolvimento é de extrema importância para o processo de desenvolvimento da criança. Para esclarecer melhor tal importância, Vygotsy (1997) traz que: a noção da ZDP interliga-se,portanto, de maneira muito forte, à sensibilidade do professor em relação às necessidades e capacidades da criança e à sua aptidão para utilizar as contingências do meio a fim de dar-lhe a possibilidade de passar do que sabe fazer para o que não sabe. (VYGOTSKY, 1997,p.97). Assim sendo, as brincadeiras que são oferecidas à criança devem estar de acordo com a zona de desenvolvimento em que ela se encontra. Kishimoto (1999), em estudos realizados sobre seus o Jogo e Brincadeira na Educação Infantil, diz que o brinquedo será entendido sempre como objeto, suporte de brincadeira e esta por sua vez é ação da criança ao realizar as regras do jogo. O brinquedo é o suporte da uma brincadeira, seja ela qual for. O brinquedo tem sempre como referencial a criança e sua história está ligada com a história da criança (p.16). O mesmo acrescenta que o brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Situado nesta afirmação o autor traz que: O brinquedo representa certas realidades, isto é, algo presente no lugar de algo. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais para que possa manipulá-los. O vocábulo brinquedo não pode ser reproduzido à pluralidade de sentido do jogo, pois conota criança e tem uma dimensão material, cultural e técnica. (KISHIMOTO, 1999, p.16) Sendo o brinquedo o suporte da brincadeira, ele é o estimulante material para fazer fluir o imaginário da criança, tendo relação estreita com o nível de seu desenvolvimento. A brincadeira é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo ao mergulhar na ação lúdica. Dessa forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo. A criança ao brincar livremente, está no mundo imaginário e distante da vida cotidiana. É exatamente neste ponto, o brincar como forma desenvolver a imaginação, que o autor se aproxima da teoria de Vygotsky.

O brinquedo como suporte da brincadeira tem papel estimulante para a criança no momento da ação lúdica, permitindo a exploração do seu potencial criativo numa seqüência de ações libertas e naturais em que a imaginação se apresenta como atração principal. Sobre isso, Kishimoto (1999) traz que por meio do brinquedo a criança reinventa o mundo e libera suas atividades e fantasias. Por meio da magia do faz-de-conta explora os limites e, parte para aventura que a leva ao encontro do Outro-Eu. (p.90). Diante dessa perspectiva, entende-se que a brincadeira, por ser ação própria da criança, um fim em si mesmo, não visa a um resultado final, o que importa é o processo em si de brincar que a criança se impõe, sua atenção está concentrada na atividade em si e não em seus resultados ou efeitos. É pela brincadeira que a criança recria, interpreta e estabelece relações com o mundo em que vive. Têm-se como evidente que a brincadeira, contribui para o desenvolvimento e aprendizagem da criança. Isso acontece porque o meio em que a criança em início de desenvolvimento (cognitivo, social, afetivo, etc.) se encontra está em constante expansão. Sendo assim, os jogos, brinquedos e brincadeiras assumem um importante papel na formação da criança, pois permitem à criança dialogar com o real ao mesmo tempo em que fantasia, o que lhe possibilita a criar, agir, sentir, pensar, aprender e além de tudo desenvolver-se integralmente. E é partindo dessa concepção, o jogo e a brincadeira como sendo atividades fundamentais no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança, que iniciarei o segundo capitulo deste trabalho, onde o mesmo irá tratar de forma detalhada das dimensões cognitivas, afetivas, social e física da criança

2. AS DIMENSÕES DO JOGO E DA BRINCADEIRA EM VYGOTSKY Diante dos teóricos lidos no decorrer deste trabalho, o jogo e a brincadeira favorece o desenvolvimento afetivo, cognitivo, social e intelectual da criança. São essas as dimensões do jogo e da brincadeira: dimensões cognitiva, afetiva, social e intelectual. Por meio dos jogos e da brincadeira a criança aprende a seguir regras, e vivenciar situações imaginarias criadas por elas mesmas, situações estas que Piaget (1976), em seus estudos sobre o desenvolvimento cognitivo da criança, chamou de representações simbólicas. É perceptível que no brincar e no jogar, ocorre um processo de troca, pois no momento em que a criança joga, ela internaliza regras socais já estabelecidas. Piaget (1994), nos seus estudos acerca dos jogos sociais, constatou que o jogo adota regras (p. 23). Esta característica é apresentada em umas das suas categorias: o jogo de regra, citado no primeiro capitulo deste trabalho. Neste período as regras começam a se manifestar, pois a criança sai do mundo dos símbolos e se aproxima mais do mundo real. O autor acrescenta ainda que o jogo é um reflexo da sociedade uma vez que contem toda uma estrutura de regras. Ao trabalhar com as regras do jogo mesmo autor destacou dois fenômenos: a prática das regras e a consciência da regra. Segundo o autor esses fenômenos acontecem da seguinte forma: A prática das regras, isto é, a maneira pela qual as crianças de diferentes idades as aplicam efetivamente. A consciência da regra, isto é, a maneira pela qual as crianças de diferentes idades representam as regras: sejam elas consideradas de caráter obrigatório, sagrado ou decisório. (PIAGET, 1994, p. 23) Para o autor, o primeiro fenômeno, prática das regras, acontece quando a criança segue a regra do jogo, sendo que cada criança possui sua própria versão. Já a consciência da regra, a regra é imposta e não pode ser alterada a não ser com o consentimento do grupo. Acrescenta Piaget (1994) que toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras. (PIAGET, 1994, p.23)

Assim o respeito às regras deve ser estabelecido e obedecido pelo grupo, ou seja, pela coletividade, não pela tradição e sim pelo acordo ente as partes. A respeito ainda das regras, Piaget (1976) afirma que a regra prevê a interação de dois indivíduos, a qual tem como função, regular o grupo social. (p.24-25). Neste sentindo o mesmo classifica as regras em dois tipos: transmitidas e espontâneas. As regras transmitidas para este autor são as regras que se referem aos jogos institucionais, que são passados pelas gerações anteriores. São regras de fora. Quanto às regras espontâneas, essas são resultados da socialização dos jogos de simples exercício ou dos simbólicos. São jogos de regras de natureza contratual e momentânea (Piaget, 1976, p.114). Vygotsky (1997), em seus estudos sobre a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, afirma que o jogo e a brincadeira tem símbolos e regras (p. 142). O mesmo acrescenta também que as situações imaginárias possuem regras e vice - versa. Tais regras podem ser classificadas em explícitas ou implícitas. As regras explícitas para este autor são as aquelas regras construída pelo grupo, ou seja, socializada. Já a regras implícitas são regras que são criadas e seguidas por experiências próprias de cada sujeito, neste caso a criança. É por seguir esse tempo particular da criança, que Vygotsky (1997, p.142) diz que as regras implícitas dificulta muitas vezes para quem está "de fora", tornando incompreensível o que emerge no clima do jogo (142). Neste sentido, jogos de regras implícitas, apenas a cumplicidade do grupo e seus vínculos, é que podem ser critérios para se avaliar os limites e as possibilidades da situação de brincar. Vygotsky e Piaget diferem nesta questão: as regras. Para o primeiro o jogo evolui do jogo de regras oculta (regras implícitas) ao jogo de regras manifestas, já para o segundo, a evolução se dá do símbolo para o jogo de regras. Piaget (1976) afirma que ser o jogo puramente assimilação predominando sobre a acomodação (p.148). O mesmo diverge de Vygotsky (2000), quando ele diz que só haverá regras a partir do momento em que a criança entra no processo de socialização (p.42). É tanto que ele valoriza o fator social,

mostrando que no jogo de papéis a criança cria uma situação imaginária, incorporando elementos do contexto cultural adquirido por meio da interação (p.42). Ainda dentro desta perspectiva, as regras do jogo e da brincadeira para Vygostsky significa que: Na brincadeira a criança cria uma situação imaginária, porém baseiase em regras. Não existe brincadeira sem regras. Estas são as de comportamento, as quais são adquiridas através de sua realidade. Não são previamente estabelecidas como as do jogo, mas tem sua origem na própria situação imaginária. Ou seja, se a criança está representando um papel de mãe e a boneca é sua filha, ela irá obedecer às regras de comportamento maternal. Esta relação que ela representará com o objeto originará sempre delas. (VYGOSTSKY, 1998, p.106). A partir desta perspectiva, torna-se claro que a brincadeira será sempre entendida como a ação que a criança pratica ao realizar as regras do jogo. É por meio da brincadeira e do brinquedo, que a criança entrará no seu mundo da imaginação. Nesta situação imaginária, a criança seguirá regras de conduta social e assumirá papeis sociais, dando assim, novos significados aos objetos. Assim o significado dado ao objeto originará sempre da situação imaginaria da criança. Neste sentido está comprovado que sendo o brinquedo, o objeto da brincadeira, e esta por sua vez a ação da criança, brinquedo e brincadeira se complementam uma vez que um será o suporte do outro. Vale ressaltar que o brinquedo não condiciona a ação da criança, ou seja, não é necessário que se tenha o brinquedo para que exista a brincadeira. A brincadeira pode existir apenas na imaginação da criança. O brinquedo apenas oferece um suporte determinado, mas que produzirá novos significados através da brincadeira, pois transmite um significado social e simbólico (p.108). Situado ainda neste pensamento, da brincadeira sem o objeto, o livro de Ruth Rocha, Para Toda Criança: os direitos da criança em palavras e imagens traz que a criança deve conferir significados ao brinquedo, durante sua brincadeira (p. 52), ou seja, a brincadeira em si, geralmente não exige um brinquedo, que seja um objeto concreto, ela pode acontecer na própria imaginação da criança.

A brincadeira para ser brincadeira não precisa necessariamente da presença objeto. É tanto que Vygotsky (1997) diz que: [...] uma criança que domina o mundo que a cerca é a criança que se esforça para agir neste mundo. Para tanto, utiliza objetos substitutos aos quais confere significados diferentes daqueles que se normalmente possuem. O brinquedo simbólico e o pensamento estão separados dos objetos e a ação surge das idéias então das coisas... (VYGOTSKY, 1997, p. 28.) Neste sentido pode-se afirmar que há brincadeira sem brinquedo. A brincadeira não se limita apenas ao objeto ela também pode estar na imaginação da criança. É na brincadeira que a criança começa a seguir regras de comportamentos sociais e imaginar seu próprio mundo conforme seus anseios. Assim esta atividade faz com que, através do imaginário, a criança vivencie experiências e comportamentos nunca experimentados anteriormente. Wallon (1979), em suas pesquisas sobre a importância do jogo e da brincadeira no desenvolvimento da criança, afirma que é a partir da imitação da realidade que a criança simboliza suas observações (p.181). É por meio da brincadeira na brincadeira que a criança expressa seus sentimentos, assumi papéis sociais e busca acabar sua curiosidade com relação ao mundo que a cerca. Não são todas as pessoas ou situações que são imitadas, somente aquelas que a criança tem certa identificação, desta forma, pode afirmar que há uma carga afetiva na brincadeira da criança. Vygostsky (1998), também faz referência à imitação da realidade, porém o mais importante é a imaginação da criança. Se para Wallon a imitação é a regra do jogo, para Vygotsky a regra é a imaginação, ou seja, enquanto um defende a idéia de que é através do imitar ( reproduzir) que as crianças criam suas próprias regras, o outro acredita que as mesmas provem da imaginação( criação). É por meio das brincadeiras e do jogo que a criança cria e recria situações da realidade em que vive. internaliza regras de condutas sociais. É na brincadeira que a criança assumi papéis e Desta forma o jogo e o brinquedo possibilitam a criança a viver situações imaginarias e representar papéis e valores necessários á participação da vida social.

É situado nesta dimensão, a imaginação, que Piaget (1976) em seus estudos sobre o desenvolvimento cognitivo da criança, chamou as situações imaginarias das crianças de representações simbólicas (p.160). Essas representações são bem descritas em uma das suas categorias do jogo: os jogos simbólicos. Nesta fase a criança reproduz, representa situações do seu ambiente social, assimila a realidade e desenvolve sua maneira de auto expressar-se, assim, quanto mais a criança brinca, mais papéis ela representa e mais ela aumenta a sua expressividade. Os jogo-de-faz-de-conta possibilita à criança a realização de sonhos e fantasias, revela conflitos, medos e angústias, aliviando tensões e frustrações (p.160). Piaget (1986 ) acrescenta ainda que: nos jogos simbólicos, ocorre a representação pela criança, do objeto ausente, já que se estabelece uma comparação entre um elemento real, o objeto e um elemento imaginado, o que ele corresponde, através de uma representação fictícia. (PIAGET, 1986, p. 147) Neste sentido o jogo implica na ação de dois elementos básicos: o objeto e o elemento imaginado. Ao brincar a criança entra no seu mundo imaginário e dá um novo sentido, um significado ao objeto real estabelecendo assim uma relação entre o objeto e o significado, a ponto de Piaget (1986) afirmar que: Os jogos simbólicos caracterizam-se pela assimilação deformante. Deformante porque nessa situação a realidade (social, física etc.) é assimilada por analogia, como a criança pode ou deseja, isso é, os significados que ela dá para os conteúdos de suas ações, quando joga, são deformações maiores ou não dos significados correspondentes na vida social ou física. Graças a isto, pode compreender as coisas, afetivas ou cognitivamente, segundo os limites do seu sistema cognitivo. (PIAGET, 1986, p.148) Neste sentido pode-se afirmar que, quando envolvida em um jogo simbólico, a criança imagina seu mundo da forma que quer e deseja. Ela transforma o real em função de seus desejos e um novo significado aos conteúdos de suas ações. É por esse motivo que Piaget afirma que as representações simbólicas da criança é deformante (p. 148), ou seja, a criança ao entrar no seu mundo imaginário ela transforma a realidade conforme seus anseios e desejos. Vale ressaltar também que ao criar seu mundo do seu próprio jeito, a criança traz também por meio das brincadeiras seu lado afetivo e emocional, uma vez

que a criança, ao imaginar seu mundo conforme seus desejos ela consegue expor seus gostos e preferências. Vygotsky (1998), nos seus estudos acerca das brincadeiras e dos jogos no desenvolvimento da criança, afirma que além da regra, a imaginação também é um elemento fundamental da brincadeira e do jogo (p.117). Segundo ele, sempre que brinca, a criança cria uma situação imaginária na qual assume um papel social e afirma que ao brincar criança se imagina, utiliza e manipula objetos da mesma forma de um adulto. Quando uma criança põe a mesa ao brincar de casinha, ela está assumindo um papel de um adulto envolvido numa atividade singular. (VYGOTSKY, 1998, p.117) Nesta perspectiva, a imaginação, o faz-de-conta, permite que a criança execute uma tarefa mais avançada do que a usual para a sua idade. A criança age como se fosse mais velha do que é realmente (p. 117). Uma vez envolvida num jogo ou numa brincadeira onde acontece a situação do faz de conta a criança imagina viver comportamentos e papéis dos adultos, ensaia atitudes e hábitos para os quais não está madura na vida real, atribuindo- lhes significados que estão distantes das suas possibilidades afetivas. A atuação nesse mundo imaginário criou uma zona que Vygotsky em seus estudos sobre as brincadeiras e jogos infantis, chamou de Zona de Desenvolvimento Proximal. Lembrando que esta zona significa a distancia entre o desenvolvimento real e o potencial que está próximo, mas ainda, não foi atingido. Vygotsky( 1998) afirma que : na brincadeira de faz-de-conta, os objetos perdem a sua força determinadora sobre o comportamento da criança, que começa a agir independentemente daquilo que ela vê. Uma colher se transforma em um aviãozinho, um cabo de vassoura em um cavalo. Na brincadeira, a criança aprende a se comportar não somente pela percepção imediata dos objetos, ou pela situação que a afeta de imediato, mas pelo significado desta ação. A brincadeira fornece um estágio de transição em direção à representação, desde que um objeto seja um pivô da separação entre um significado e um objeto real. (VYGOTSKY, 1998, p. 157) Entende- se que por meio das brincadeiras a criança passa do domínio das situações imaginárias para o domínio das regras. É tanto que Vygotsky (1998) diz que a importância do brincar para o desenvolvimento da criança reside no