O JOGO NO ENSINO FUNDAMENTAL: EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO DOCENTE EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO PIBID RESUMO
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- Sabrina Sampaio Castelo
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1 O JOGO NO ENSINO FUNDAMENTAL: EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO DOCENTE EM EDUCAÇÃO FÍSICA NO PIBID Heloisa Braga dos Santos Christian Vieira de Souza RESUMO Este artigo foi elaborado com o objetivo de relatar a experiência de uma estudante, participante de um programa de formação docente em Educação Física - PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) e destacar a importância do jogo como conteúdo e estratégia para o ensino da Educação Física no Ensino Fundamental. Tendo como base teorias que defendem a importância do ensino e aprendizagem do jogo no contexto educacional como conteúdo da Educação Física, defende-se que o jogo pode e deve ser utilizado como estratégias de ensino, porém não pode ser limitado como tal. É necessário que o docente o faça presente em seus planejamentos, para abordá-lo e apresentá-lo aos estudantes como uma importante manifestação cultural em sua totalidade, com suas características, origem, diferentes práticas, classificações e nomenclaturas. Nesta perspectiva, o ensino não é apenas a transmissão de informações do docente aos estudantes, mas considera-se o jogo como um conhecimento a ser vivenciado, pesquisado, aprendido e partilhado como experiência cultural. O relato apresenta algumas experiências importantes na formação inicial em decorrência da participação no PIBID; reflexões a respeito da ação docente e das opções possíveis de intervenção nos planejamentos, estratégias e saberes docentes perspectivando a docência na Educação Física. É necessário que o professor propicie situações e momentos aos seus alunos, para que eles possam sistematizar estes conhecimentos e realizar as inter-relações destes conteúdos ensinados e compreendidos, envolvidos por valores. Sendo assim, a escola e a Educação Física, desempenham um papel único no sentido de promover ao estudante a compreensão do jogo como um bem cultural, favorecendo a vivência do jogo em seu contexto que é a cultura popular brasileira. Palavras-chave: Formação de Professores de Educação Física; Jogo; Ensino Fundamental. O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) se iniciou em nossa instituição no ano de 2009 e pouco tempo depois, em 2011, passou a ser inserido em todos os cursos com habilitação em licenciatura. Este programa tem como objetivo incentivar a formação de docentes para a educação básica, elevando a qualidade da formação inicial
2 dos professores, fazendo com que haja uma intervenção entre a educação superior e educação básica (UEL, 2015). Estou inserida neste programa a um ano e dois meses, passando por duas escolas de nível fundamental do município de Londrina-PR. Vivenciei neste período muitas situações que contribuíram e estão contribuindo para a minha formação docente. Através da minha experiência como estudante e participante de um programa de formação docente em Educação Física, irei destacar aqui a importância do jogo como conteúdo e estratégia para o ensino da Educação Física no Ensino Fundamental. Quando tentamos buscar uma definição para o jogo, nos deparamos com diversas dificuldades, sejam elas de caráter cultural (sua real origem, seus precursores); de caráter pedagógico (o quê, o como, o quando, o porquê e o para quê ensinar este conteúdo); ou de caráter histórico (o que ele foi nos diferentes períodos da história). Porém, apesar dessas dificuldades de um conceito específico para o jogo, existem algumas teorias que se sobressaem em relação à outras. Kishimoto (1997), sobre a definição do jogo afirma que: Tentar definir o jogo não é tarefa fácil. Quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entende-la de modo diferente. Pode se estar falando de jogos políticos, de adultos, crianças, animais ou amarelinha, xadrez. [...] Tais jogos, embora recebam a mesma denominação, têm suas especificidades (p. 13) Como podemos identificar, se ficarmos presos na busca de sua definição, acabaremos por não vê-lo por um conceito geral. Assim, de acordo com Santos (2009) [...] "Procurar a essência do jogo é buscar seu significado na sociedade e na vida dos indivíduos em sua inter-relação" (p. 4). Por esta razão, é necessário abordar o jogo como núcleo e conteúdo estruturante da Educação Física. Suas características de cunho pedagógico e como ele pode ser desenvolvido no âmbito escolar e também como estratégia, ferramenta pedagógica utilizada para pelos professores ao ensinar. O jogo, como manifestação cultural e como eixo de conhecimento da Educação Física, deve estar presente no planejamento docente. O que hoje, acontece com frequência, é a abordagem do jogo somente nos primeiros níveis
3 de ensino, ou então, sua redução apenas no fazer, repetindo regras e movimentos/ações já sistematizadas. Muitas disciplinas usufruem dos diferentes tipos de jogos, como estratégias para o ensino de determinados conteúdos específicos de suas áreas, porém, é de responsabilidade da Educação Física ensiná-lo em sua totalidade, para que os alunos possam elevar seus conhecimentos sobre ele, pois o jogo é parte dos conteúdos específicos desta matéria escolar (SANTOS, 2009). Tanto para superar essa visão simplista e tradicional da área, de que ao aplicar determinado jogo na aula está se cumprindo uma tarefa de ensino, voltada para a formação de um cidadão crítico e autônomo, é que precisamos nos preocupar não apenas com qual jogo devo ensinar e se meus alunos conseguem jogá-lo, mas devemos centralizar nossos esforços em pensar sobre: por que ensinar o jogo? Para que ensinar o jogo? O que ensinar sobre o jogo? Quando ensinar determinado jogo? Como ensinar determinado jogo? (SANTOS, 2009, p. 5). Como podemos observar nesta citação, a autora deixa claro que uma das dificuldades ao abordar o conteúdo jogo está relacionada a falta de resposta para estes cinco questionamentos: Por quê, para quê, o quê, quando e como ensinar o jogo (SANTOS, 2009). No âmbito pedagógico, estas questões devem ser consideradas como orientadoras para que a constituição do ato educativo atinja seu objetivo principal na formação integral do sujeito. No entanto, historicamente observase, em muitos casos, que nas aulas de Educação Física o jogo fica reduzido à prática pela prática, descontextualizado de um planejamento sistematizado de ensino (PALMA et. al. 2010; SOUZA, 2012). Atualmente, apesar de práticas descontextualizadas, o jogo está sendo muito utilizado como meio, ou seja, como estratégia para o ensino de outros conteúdos. Não que isso seja incorreto, muito ao contrário, o jogo pode e deve ser utilizado como estratégia de ensino, porém não pode ser limitado como tal, pois o universo do jogo é muito abrangente e possui características únicas e que devem ser transmitidas aos alunos. O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de
4 um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana (HUIZINGA, 2000, p. 33). Neste sentido, as regras e também as formas de se jogar podem ser diferentes de cultura para cultura. Ou seja, talvez as regras e formas de se jogar um jogo, como a bola-queimada, por exemplo, podem sofrer variações de grupos para grupos, de cidade para cidade, regiões ou estados. Enfim, de acordo com a cultura presente em cada lugar (SANTOS, 2012). Nesta perspectiva, o docente deve ser capaz de identificar essas diferenças e apresentá-las para os alunos interagindo também com o conhecimento que eles já possuem, para que possam elevar estes conhecimentos por meio do ensino e da vivência da cultura. PALMA et. al. (2010) traz em sua obra os conteúdos estruturantes da Educação Física divididos em cinco núcleos de conhecimento e em relação aos jogos, ele é subdividido em O Movimento e os Jogos, trazendo como conteúdos básicos da área Aspectos socioculturais dos jogos, jogos populares (p. 57). Seguindo esta forma de organização, o docente pode explorar de diversas formas o conteúdo jogo, suas características, sua essência, origens, as diversas formas de se jogar e de compreender esta manifestação e suas classificações, aprofundando o conhecimento. No entanto, esta concepção de ensinar e aprender o jogo nas aulas de Educação Física, só é possível se o docente compreender a grandeza e a complexidade desta manifestação, ou seja, abordá-lo como conteúdo estruturante de nossa área e como uma manifestação construída e constituída como cultura, devendo ser ensinada com o objetivo de propiciar a apropriação da cultura pelo sujeito. Assim como no ensino de outros conteúdos, a aprendizagem do aluno necessitará desequilibrá-lo cognitivamente para que saia de sua zona de conforto e repense suas ações, a cultura e consequentemente, transcenda (PALMA et. al., 2010). Quando mencionamos o jogo como um conhecimento a ser ensinado, não podemos considerar que um aluno passa a ter conhecimento sobre determinado assunto, apenas pela transmissão de informações do docente. É necessário que o professor propicie situações e momentos aos seus alunos, para que eles possam sistematizar estas informações e realizar as inter-relações destes conteúdos que estão sendo ensinados, e estes não
5 podem ser compreendidos de forma neutra, mas envolvidos por valores (VELOZO, 2004). Assim como qualquer conteúdo a ser ensinado na escola, o jogo também possui seu grau de importância na formação do indivíduo. Porém, o jogo torna-se uma possibilidade de romper as regras da realidade, geralmente de forma prazerosa, resultando do caráter livre por ele proporcionado (SANTOS, 2012, p.41). É neste universo que o indivíduo reporta o prazer da liberdade, que barreiras da realidade são rompidas, propiciando a ludicidade e o contentamento. E é desta forma que ele pode e deve ser ensinado/transmitido na escola, de forma que se possibilite uma aprendizagem por meio de um processo que valorize a dimensão lúdica, ou seja, que o aluno tenha prazer em aprender. Durante minha atuação em uma das escolas como pibidiana (estagiária do PIBID), pude presenciar e auxiliar o professor no ensino do jogo Betes. Pude perceber, no decorrer das aulas, que eram poucos os alunos que já possuíam determinados conhecimentos sobre ele, sendo que a maioria não o conhecia. E o que mais me instigou foi a tamanha dificuldade em compreenderem e vivenciarem este jogo; não por falta de interesse, mas por ser algo desconhecido. Aos poucos, com a intervenção do professor, questionando, auxiliando, respondendo, exemplificando, os alunos foram assimilando e aula após aula pudemos observar uma grande evolução deles em relação ao jogo. Esta experiência foi marcante, pois pude reportar meus pensamentos de quando eu tinha aquela idade e já sabia sobre o jogo de Betes. Eu poderia não saber sua origem, quem o inventou, mas eu sabia sobre suas regras, sobre a forma de jogá-lo e até qual taco era o mais adequado pra um melhor desempenho. O que mais me chama atenção hoje, é que esse conhecimento sobre os jogos já não estão mais tão presentes no cotidiano das crianças. O que a minha geração, há dez ou doze anos atrás dominávamos, hoje é algo novo e desconhecido para essa geração. Confesso que não aprendi muito sobre jogos nas aulas de Educação Física, mas meus pais me ensinaram a jogar trilha, bugalha, bola-queimada na
6 rua. Sei que hoje, esses conhecimentos que eram passados de geração para geração, também estão se perdendo, e talvez um dos objetivos bem sucedidos do PIBID seja o de ter me mostrado que, como futura professora de Educação Física, não posso deixar que determinados conteúdos se percam, pois são importantes pedagogicamente e culturalmente. Que meus alunos, assim como eu, possam e levem estes conhecimentos adiante. Aqui, relatei uma, das diversas experiências que tive no decorrer do PIBID, mas posso afirmar, com total certeza, de que todos os momentos foram e estão sendo importantes para minha formação inicial. Alguns momentos pude refletir em como não agir, pois se escolhesse outro caminho, seria talvez uma melhor opção. Alguns outros momentos, me mostraram que poderei ser diferente e atuar a minha maneira em minhas futuras aulas de Educação Física quando formada. É necessário compreender a importância que o jogo possui, tanto como meio, quanto como conteúdo estruturante e que ele não só pode, mas deve estar inserido no planejamento docente. Portanto, ao pensarmos nas relações existentes entre o jogo e a Educação Física, devemos superar a visão simplista e o entusiasmo ingênuo de utilizar o jogo no âmbito educacional apenas como um fim em si mesmo, aproveitando-se de suas características lúdicas, sem que os objetivos pedagógicos sejam considerados. Não devemos limitar a elencar em nossos planejamentos um determinado número de jogos, apenas com a perspectiva de vivenciá-los, mas podemos proporcionar em nossas aulas a apropriação de conhecimentos sobre os jogos tradicionais, no qual nossos alunos possam experimentar e refletir, agir e reorganizar suas ações motoras, construindo assim, conhecimentos acerca dos jogos que fizeram parte da história e que expressam nossa realidade cultural (SANTOS, 2012). Em consequência do modo de vida da sociedade atual, as vivências do jogo popular vem se perdendo. São raras as crianças que aprenderam algo sobre ele com os pais, avós e tios. Com a tecnologia se tornando acessível e cada vez mais precoce, os jogos populares ou tradicionais estão sendo substituídos por jogos eletrônicos, jogos virtuais que em sua maioria, despersonaliza o sujeito em seu protagonismo enquanto corpo que se movimenta com intencionalidade. Sendo assim, a escola e a Educação Física, desempenham um papel único no sentido de promover ao estudante a
7 compreensão do jogo como um bem cultural, favorecendo a vivência do jogo em seu contexto que é a cultura popular brasileira. REFERÊNCIAS HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, KISHIMOTO, Tizuko Morchida Jogos Infantis: o jogo, a criança e a educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993 PALMA, A. P. T. V. et al. Educação Física e a Organização Curricular: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio. 2.ed. Londrina: Eduel, SANTOS, Gisele Franco de Lima. Jogos Tradicionais e a Educação Física. Londrina. Eduel, Origem dos Jogos Populares: em busca do elo perdido. Anais do 4º CONPEF Congresso Norte Paranaense de Educação Física Escolar, SOUZA, C. V. Motricidade humana e o ensino da educação física: estabelecendo relações. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado em Educação. Universidade Estadual de Londrina. Londrina, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA. Prograd - Pibid. Disponível em: Acesso em: 02 de abr VELOZO, E. L. Os saberes nas aulas de Educação Física Escolar: uma visão a partir da escola pública. Faculdade da Educação Física. Campinas: UNICAMP, 2004 PIBID - EF UEL Universidade Estadual de Londrina - UEL heloisabraga16@hotmail.com FACESI / UNIESP - Ibiporã - PR Prefeitura Municipal de Londrina GEPEF - UEL- Londrina - PR christianvieir@gmail.com Linha 1- Formação de professores em Educação Física
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