O SR. REMI TRINTA (PL-MA) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, levantamento do Governo Federal mostra que 135 pessoas, entre homens e mulheres, moram em logradouros públicos de São Luís, em condições péssimas de higiene e sem perspectivas de melhoria. Isso é muito triste, se lembrarmos que esses nossos concidadãos, vivendo na rua, deixaram de lado a esperança, abriram mão de uma existência digna, perderam o elo concreto com a sociedade, abdicaram de lutar pela possibilidade de uma vida melhor. Urge que, de posse desses dados, sejam tomadas medidas efetivas para alterar essa radiografia de miséria, tais como a adequação de políticas públicas com a articulação das entidades envolvidas: municípios, organizações nãogovernamentais, universidades. Ilustres Parlamentares, São Luís tem muitas áreas que abrigam moradores de rua: a Praça da Praia Grande; o
2 coreto ao lado da Rampa Campos Melo; a Praça do Marinheiro, em frente à Capitania dos Portos; o terreno onde funcionava a antiga fábrica da Oleama; embaixo da ponte do São Francisco, sob os viadutos do Café, no Outeiro da Cruz e do elevado da Cohama; na capela em frente ao Iate Clube, na Ponta d Areia. As 135 pessoas que vivem nesses locais, segundo a pesquisa, são motivadas por casos de violência doméstica, abandono, conflitos familiares, falta de moradia, desemprego, subemprego, baixo nível educacional, Aids/HIV, drogas, sexo livre, entre outros fatores; desse total, 21 são mulheres, com histórias de sofrimento; e todos, apesar de tentativas de reintegração social, retornam aos elevados e marquises. Senhor Presidente, em razão de tais fatos, houve demanda crescente de providências enérgicas; uma delas, segundo notícia dos jornais, foi a ampliação, no ano passado,
3 pela Prefeitura da Capital maranhense, do programa de atendimento à população de rua, para abranger, além das crianças e adolescentes, os adultos. Com o trabalho assistencial em desenvolvimento, o público-alvo foi identificado, foram levantadas suas principais necessidades, bem assim foi esboçado seu perfil inferiu-se que grande parte dessa população é proveniente do interior, do próprio Maranhão e de outros estados do Brasil. Com base em tais dados, a Fumcas tem procurado providenciar desde a volta desses moradores às suas cidades de origem, até a inclusão em programas de transferência de renda, como o Benefício de Proteção Continuada (BCP), Bolsa-Família e atendimento na área de saúde, entre outros serviços. Nobres Deputados, São Luís é reconhecida por ter história e testemunho no desenvolvimento de políticas
4 voltadas para as crianças e adolescentes, em situação de rua; tais desabrigados vêm sendo assistidos e acompanhados pela Rede Amiga da Criança. Contudo, no caso dos adultos, como o programa está sendo construído há menos tempo, somado ao fato da complexidade da situação desses desabrigados por terem perdido muito, inclusive a auto-estima, a recuperação é mais difícil está sendo estudado um conjunto de medidas, que passa pela exigência de acesso a diversas políticas públicas e que envolve mudança de projetos de vida pessoal. Senhor Presidente, são comoventes as histórias desses moradores de rua; às vezes, adquirem uma pretensa tranqüilidade, alheia aos perigos e, outras, por fantasia, ou não, têm mais receio das forças policiais e das autoridades constituídas, razão pela qual as evitam, abrindo mão da reconstrução de suas vidas.
5 Ouve-se a narrativa de uma sem teto que está na rua desde os sete anos de idade e que possui quatro filhos; outra, a da moradora, que passou a residir no elevado quando estava grávida e entregou, depois do nascimento, o filho aos cuidados da família do pai da criança, e confessa não ter esperança alguma de residir numa casa, e não alimenta qualquer sonho nesse sentido. Senhores Deputados, venho a esta tribuna para apoiar os trabalhos realizados, quer pela equipe do Governo Federal, quer pela Prefeitura Municipal; e, mais, questiono se não seria o caso de alterar a Lei Orgânica de Assistência, como pretende projeto do Deputado Henrique Afonso, do PT do Acre, em que se dará prioridade para os programas de atendimento à população de rua. Essa é uma bandeira que ora empunho e conclamo os Pares a fazerem o mesmo, pois, com certeza, iremos
6 encontrar moradores de rua em situação de penúria, em muitas cidades, de todos os estados, que necessitam de amparo e assistência, mediante a adoção de legislação e políticas públicas eficazes, para a sua reintegração social. Muito obrigado. 2005_12471_Remi Trinta_007