TERMO DE ORIENTAÇÃO ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS EM ABORDAGEM SOCIAL NA RUA
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- João Guilherme Faria Machado
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1 TERMO DE ORIENTAÇÃO ATUAÇÃO DE ASSISTENTES SOCIAIS EM ABORDAGEM SOCIAL NA RUA Este Termo de Orientação tem por objetivo orientar o trabalho de assistentes sociais ao realizarem, em sua intervenção profissional, abordagem a pessoas na rua. Reafirma que todo exercício profissional está regulamentado pela Lei 8662/93 e pelo Código de Ética Profissional. Chama atenção para a necessidade de observância de seus princípios fundamentais, especialmente: Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; Posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças; Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação ou exploração de classe, etnia e gênero; Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional; Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.
2 Assistentes Sociais necessitam considerar em qualquer de suas ações as competências e atribuições privativas expressas nos artigos 4º e 5º da Lei Federal 8662/93, em todos os espaços em que elas ocorram. No que diz respeito à abordagem social na rua, assistentes sociais devem defender e buscar viabilizar direitos daqueles que por razões diversas encontram-se em situações específicas de violação de direitos. Algumas delas encontram-se listadas a seguir, com públicos potencialmente mais atingidos: pessoas que residem e dormem nas ruas; sofrimento mental; violência doméstica (mulheres, crianças e adolescentes, idosos, pessoas com deficiência); agressões e abandono nas ruas; violência de gênero (mulheres, população LGBT); violência xenófoba e étnico-racial (indígenas, imigrantes, população cigana, negros e negras); violência sexual (mulheres, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência, trabalhadoras e trabalhadores do sexo); uso nocivo de álcool e outras drogas (dependentes); trabalhadoras e trabalhadores informais (coletores de materiais recicláveis e/ou ambulantes, que não possuam condições de retornar para casa); outros. É importante destacar que nem sempre tais violações aparecem como primeira demanda para a ação profissional. O imaginário social sobre o papel da profissão e sobre fenômenos como a violência (de diferentes origens), o uso nocivo de drogas e a situação de rua, pode fazer com que outros profissionais, agentes e/ou órgãos públicos sejam acionados como potenciais sujeitos de abordagens. Este quadro, contudo, não isenta assistentes sociais de buscarem identificar e atuar em situações que denotem violações de direitos de segmentos que habitem e/ou permaneçam nas ruas. Porém, a abordagem social na rua realizada por assistente social deve estar integrada a um projeto de intervenção profissional que vise garantir: orientar a população atendida de modo a possibilitar o acesso à rede de serviços e a benefícios assistenciais;
3 identificar famílias e indivíduos com direitos violados, buscando apreender a natureza das violações, condições em que vivem, estratégias de sobrevivência, procedências, aspirações e relações estabelecidas com as instituições; promover ações que busquem viabilizar convivência comunitária, encaminhando e incentivando a frequência e participação em equipamentos públicos; quando tecnicamente avaliado necessário, identificar pessoas procuradas por familiares e/ou restabelecer vínculos familiares e pessoais (sempre se atentando para apreender se os mesmos não são geradores das violações constatadas); orientar procedimentos para acesso à documentação; buscar viabilizar retorno para cidades e estados de origem, quando assim a população atendida desejar; incentivar a organização social e o protagonismo da população atendida, através de movimentos sociais, fórum, entidades e grupos de representação dos segmentos a que pertencem; potencializar desenvolvimento cultural, educacional e profissional dos indivíduos sociais abordados; orientar pela busca por órgãos de defesa de direitos, quando identificadas as violações, procedendo encaminhamentos aos mesmos quando necessários; garantir a plena informação, reflexão e discussão sobre as possibilidades e consequências das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões das pessoas usuárias, mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais de profissionais, conforme previsto pelo Código de Ética Profissional (Artigo 5º, alínea b). Ao realizar abordagem social nas ruas, assistentes sociais devem atuar em perspectiva de redução de danos e riscos em que potencialmente as pessoas se encontrem. Tais tarefas implicam necessariamente, como requisito a profissionais de Serviço Social: saber escutar usuários; conhecer o território em que a abordagem ocorre, identificando rede de serviços e possíveis encaminhamentos; conhecer políticas existentes para tais procedimentos; conhecer entidades que recebam denúncias de situações para as quais as instituições atualmente existentes não oferecem atendimento adequado, satisfatório e/ou suficiente.
4 Em muitas situações, como por exemplo pessoas em uso nocivo de álcool e/ou outras drogas que se encontram em situação de rua, destaca-se a importância de apreender as diversas dimensões envolvidas nestes fenômenos (saúde, assistência social, convivência familiar e comunitária, acesso a habitação, educação, cultura etc), o que exigirá a intervenção de equipes multidisciplinares. É fundamental perceber que é vedado a assistentes sociais participar de ações de caráter repressivo contra direitos da população, pois entre os deveres previstos em nosso código de ética profissional encontra-se o abster-se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes. (Artigo 3º, alínea c). Também é vedado a assistentes sociais exercer sua autoridade de maneira a limitar ou cercear o direito do usuário de participar e decidir livremente sobre seus interesses (Artigo 6º, alínea a). É, ainda, vedado a assistentes sociais acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes de seu Código de Ética (Artigo 4, alínea c). Mesmo que a instituição empregadora imponha normativas contrárias aos princípios de seu Código de Ética é um dever de assistente social denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da instituição em que trabalha (Art. 8º, alínea b). Quando necessário, tais denúncias podem ser feitas anonimamente a instâncias do poder público, nacionais e internacionais, e ao próprio Conselho Regional de Serviço Social. Ressaltamos que o Código de Ética Profissional prevê como nossos direitos: a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados no Código de Ética Profissional do Assistente Social; b) o livre exercício das atividades inerentes à profissão, com autonomia em seu exercício, o que implica não sendo obrigado a prestar serviços profissionais incompatíveis com suas atribuições, cargos ou funções. Em consequência, este Conselho, órgão de normatização, orientação e fiscalização do exercício profissional de assistentes sociais, conforme a Lei Federal nº 8662/93, conclui ser uma violação do Código de Ética profissional a participação de assistentes sociais em abordagens de rua que promovam repressão aos direitos de usuários ou que caracterizem higienização urbana, que visa apenas a remoção de pessoas dos espaços
5 públicos ou de vias de grande circulação. Notadamente, não apresentam propostas efetivas na garantia de direitos humanos além de colocar os mesmos em grave risco de inúmeras violações. Soma-se ainda o fato de que tais abordagens não encontram sustentação na Lei de Regulamentação da Profissão, onde estão definidas as competências e atribuições profissionais. Além disso, ferem conquistas de movimentos sociais como os princípios da luta antimanicomial, reproduzem visões discriminatórias de determinados segmentos sociais e fortalecem as ações públicas de crescentes remoções e aprisionamentos indiscriminados de pessoas. Para efeito deste Termo de Orientação, dentre outras possíveis situações, encontram-se incluídas a adoção de internação compulsória de pessoas em uso nocivo de álcool e/ou outras drogas, como adotado por diferentes órgãos públicos pelo país e no estado do Rio de Janeiro inclusive em sua capital bem como operações de recolhimento compulsório de pessoas que se encontram, por qualquer razão, nas ruas. Por fim, destacamos que: a) a abordagem social nas ruas não dispensa assistentes sociais do cuidado com o estabelecimento de níveis de confiança entre profissional e população atendida. Os procedimentos que envolvem o conjunto do atendimento a essa população não se esgotam na abordagem na rua. É fundamental observar o zelo por informações eventualmente sigilosas obtidas ao longo da abordagem e de demais encaminhamentos realizados, respeitando as condições éticas e técnicas do trabalho profissional, na perspectiva da garantia de uma melhor qualidade do atendimento prestado à população; b) o presente Termo de Orientação não dispensa de seu cumprimento assistentes sociais que eventualmente exerçam cargos de chefia e/ou de gestão nas instituições em que atuam. Eventuais dúvidas quanto ao conteúdo deste Termo podem ser elucidadas pelos canais de comunicação entre a categoria e este Conselho. Rio de Janeiro, 31 de janeiro de Charles Toniolo de Sousa Conselho Regional de Serviço Social 7ªRegião Presidente
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