Características da carcaça e da carne de tourinhos terminados em confinamento com dietas contendo grão de milheto e inclusão de glicerina bruta Bruna Gomes Pereira 1 ; João Restle 2 1 Aluno do Curso de Zootecnia; Campus de Araguaína; e-mail: brugomez14@gmail.com PIBIC/CNPq 2 Orientador(a) do Curso de Zootecnia; Campus de Araguaína; e-mail: jorestle@terra.com.br RESUMO: Este trabalho teve como objetivo avaliar as características da carne e da carcaça de tourinhos nelore alimentados com dietas contendo grão de milheto e inclusão de glicerina bruta de 0, 6, 12 e 24% com base na matéria seca da dieta. Foram utilizados 28 tourinhos da raça Nelore, com idade média de 18 meses e peso médio inicial de 320 kg, distribuídos ao acaso nos quatro tratamentos em delineamento experimental inteiramente casualizado, com sete repetições. A inclusão de glicerina bruta nas dietas não alterou o peso de abate dos animais. Os pesos de carcaça quente integral, carcaça quente, carcaça fria e o rendimento de carcaça fria, apresentaram comportamento quadrático frente aos níveis de inclusão de glicerina bruta, com melhores resultados observados no nível de inclusão de 12%. A espessura de gordura subcutânea e a quebra de peso durante o processo de resfriamento não foram influenciados pela inclusão de glicerina bruta na dieta e as carcaças apresentaram adequada espessura de gordura. Palavras-chave: Alimentos alternativos, Confinamento, Peso de carcaça INTRODUÇÃO A terminação de bovinos a pasto é limitada pela sazonalidade da produção das forrageiras, as quais sofrem oscilações constantes na qualidade nutricional ao longo do ano, gerando prejuízos aos produtores, já que o nível de nutrientes disponíveis aos animais nas pastagens cai acentuadamente no período seco do ano. Uma das alternativas para amenizar esta situação é a terminação dos animais em confinamento. No entanto, os elevados custos com a alimentação, limitam o uso desta tecnologia, sendo o concentrado o componente mais oneroso da dieta (RESTLE et al., 2007). Portanto, é importante buscar alimentos alternativos de custo mais baixo para substituir o milho e o farelo de soja visando reduzir os custos da terminação, sem alterar o desempenho dos animais. Página 1
Objetivou-se com o trabalho avaliar os efeitos da inclusão da glicerina bruta em dietas contendo grão de milheto sobre as características quantitativas e qualitativas da carcaça e da carne de tourinhos confinados. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado nas instalações da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Tocantins, campus de Araguaína - TO. Foram utilizados 28 tourinhos da raça Nelore, com idade média de 18 meses e peso médio inicial de 320 kg, os animais foram distribuídos ao acaso nos quatro tratamentos em delineamento experimental inteiramente casualizado, com sete repetições. Foram avaliados níveis de inclusão de glicerina bruta de 0, 6, 12 e 24% com base na matéria seca da dieta, contendo como principal fonte energética o grão de milheto moído na terminação de bovinos confinados. Ao final do confinamento de 84 dias, os animais foram pesados após jejum alimentar de 12 horas, obtendo-se o peso vivo ao abate. Logo após, foram transportados para frigorífico comercial com Serviço de Inspeção Federal (SIF), localizado na cidade de Araguaína-TO. Os dados foram submetidos à análise de variância e contrastes ortogonais, considerando α = 5%. A soma de quadrados de tratamentos, na análise de contraste, foi decomposta em três contrastes ortogonais: dietas com ausência da inclusão de glicerina bruta (0) vs dietas com glicerina bruta e, efeito linear (0-1 0 1) e quadrático (0-1 2-1) da inclusão de glicerina bruta na dieta. RESULTADOS E DISCUSSÃO A inclusão de glicerina bruta nas dietas não alterou (P>0,05) o peso de abate dos animais (Tabela 2). Os pesos de carcaça quente integral, carcaça quente, carcaça fria e o rendimento de carcaça fria, apresentaram comportamento quadrático (P<0,05) frente aos níveis de inclusão de glicerina bruta, com melhores resultados observados no nível de inclusão de 12%. Comparando através da análise de contraste, o peso das carcaças dos animais alimentados com glicerina bruta na dieta verifica-se que estes foram superiores (P<0,05) em relação aos pesos das carcaças dos animais que receberam a dieta padrão, sem inclusão de glicerina bruta. Comportamento similar foi verificado para o rendimento de carcaça fria. A espessura de gordura subcutânea não foi influenciada (P>0,05) pela inclusão de glicerina bruta na dieta. As carcaças apresentaram adequada espessura de gordura, estando dentro do limite recomendado de 3 a 6 mm. A área do Longissimus dorsi (ALD) expressa em cm² apresentou (P<0,05) comportamento Página 2
quadrático com a inclusão da glicerina bruta na dieta (Tabela 2). Entretanto, quando expresso em percentual do peso de carcaça fria não foi alterado (P>0,05). A ALD está relacionada à expressão muscular da carcaça e, é importante por estar associada diretamente com a porção comestível e rendimento dos cortes secundários da carcaça (PASCOAL et al. 2009). Tabela 2. Variáveis relacionadas com as características quantitativas da carcaça de tourinhos alimentados em confinamento com milheto e níveis de glicerina bruta (GB) na dieta Níveis de GB na dieta (% na MS) Contrastes ortogonais 1 CV(%) 0 6 12 24 L Q 0 vs. G PA, kg 451,0 451,2 445,0 464,3 6,10 0,356 0,780 0,847 PCQI, kg 226,69 257,09 261,31 250,81 5,87 0,241 0,017 0,013 PCQ, kg 217,50 245,75 248,62 239,50 5,85 0,274 0,028 0,020 PCF, kg 211,13 238,10 243,10 232,93 5,87 0,246 0,020 0,016 RCQ, % 53,01 54,23 54,27 53,99 1,89 0,393 0152 0,107 RCF, % 51,45 52,55 53,06 52,52 1,28 0,192 0,024 0,023 EGS, mm 4,50 4,00 4,75 3,33 18,84 0,302 0,437 0,536 ALD, cm 2 52,54 55,48 58,56 52,82 6,52 0,986 0,038 0,250 ALD, % 24,97 23,33 24,11 22,66 3,19 0,167 0,903 0,164 PA = Peso de abate; PCQI = peso de carcaça quente integral (Y = 89,143 + 3,852GB 0,127GB 2 + 0,411PF, R 2 = 0,67); PCQ = peso de carcaça quente (Y = 59,548 + 3,606GB 0,119GB 2 + 0,469PF, R 2 = 0,72); PCF = peso de carcaça fria (Y = 89,794 + 3,523GB 0,116GB 2 + 0,362PF, R 2 = 0,63); RCQ = rendimento de carcaça quente; RCF = rendimento de carcaça fria (Y = 51,46 + 0,2252GB - 0,00755GB 2, R 2 = 0,49); EGS = espessura de gordura subcutânea; ALD = área do Longissimus dorsi (Y, cm 2 = 52,107 + 0,931GB - 0,0373GB 2, R 2 = 0,37); CV = coeficiente de variação; 1 Probabilidade para os contrastes: dietas com ausência da inclusão de glicerina bruta (0) vs dietas com inclusão de glicerina bruta e, efeito linear (0-1 0 1) e quadrático (0-1 2-1) da inclusão de glicerina bruta na dieta. O corte primário dianteiro (DIA) expresso em kg e em percentagem apresentou comportamento quadrático em função dos níveis de glicerina bruta na dieta, obtendo a maior proporção de DIA quando se incluiu 8,35% (Tabela 3). Os demais cortes não foram alterados em função da inclusão de glicerina bruta na dieta (P>0,05). Página 3
Tabela 3. Variáveis relacionadas com os cortes comerciais da carcaça de tourinhos alimentados em confinamento com milheto e níveis de glicerina bruta (GB) na dieta Níveis de GB na dieta (% na MS) Contrastes ortogonais 1 CV(%) 0 6 12 24 L Q 0 vs. GB DIA, kg 42,03 49,10 49,65 45,73 8,39 0,017 0,133 0,953 DIA, % 39,77 41,23 40,79 39,26 3,14 0,045 0,591 0,795 PA, kg 11,37 12,30 13,30 12,60 9,18 0,419 0,143 0,825 PA, % 10,73 10,34 10,92 10,84 5,47 0,471 0,652 0,433 TE, kg 52,16 57,65 58,60 58,13 4,55 0,128 0,053 0,748 TE, % 49,49 48,43 48,29 49,90 3,47 0,574 0,579 0,991 DIA = dianteiro (Y, kg = 42,546 + 1,1865GB - 0,0442GB 2, R 2 = 0,45; Y, % = 39,953 + 0,2155GB - 0,01029GB 2, R 2 = 0,40); PA = ponta de agulha; TE = traseiro especial; CV = coeficiente de variação; 1 Probabilidade para os contrastes: dietas com ausência da inclusão de glicerina bruta (0) vs dietas com de glicerina bruta e, efeito linear (0-1 0 1) e quadrático (0-1 2-1) da inclusão de glicerina bruta na dieta. A composição tecidual das carcaças dos tourinhos não foi alterada (P>0,05) com a inclusão da glicerina bruta na dieta (Tabela 4). Quanto às características quantitativas da carne, a inclusão da glicerina bruta não modificou (P>0,05) a força de cisalhamento com média de 7,28 kgf -1 cm 2. As características qualitativas da carne não foram influenciadas (P>0,05) pelos tratamentos. A cor da carne foi classificada entre vermelha escura e vermelha. A textura foi classificada entre levemente grosseira e fina. O marmoreio foi classificada entre traços e leve (MULLER, 1987). Página 4
Tabela 4. Variáveis relacionadas com a proporção dos tecidos e as características da carne de tourinhos alimentados em confinamento com níveis de glicerina bruta (GB) na dieta Níveis de GB na dieta (% na MS) CV(%) Contrastes ortogonais 1 0 6 12 24 L Q 0 vs. GB M, % 63,68 65,01 64,71 62,66 2,48 0,412 0,550 0,128 G, % 20,26 19,70 19,59 21,71 11,63 0,577 0,482 0,814 O, % 16,40 15,93 16,22 16,15 5,81 0,859 0,119 0,371 FC, kgf -1 cm 2 7,25 7,71 7,41 6,76 15,57 0,439 0,287 0,925 Cor, pontos 2,68 3,67 3,16 3,23 22,14 0,588 0,105 0,335 TEX, pontos 3,11 3,36 2,83 3,08 18,26 0,587 0,980 0,971 MAR, pontos 2,66 3,62 4,37 3,66 24,51 0,958 0,131 0,140 M = músculo; G = gordura; O = osso; FC = força ao cisalhamento; TEX = textura; MAR = marmoreio; CV = coeficiente de variação; 1 Probabilidade para os contrastes: dietas com ausência da inclusão de glicerina bruta (0) vs dietas com de glicerina bruta e, efeito linear (0-1 0 1) e quadrático (0-1 2-1) da inclusão de glicerina bruta na dieta. LITERATURA CITADA MÜLLER, L. Normas para avaliação de carcaça e concurso de carcaças de tourinhos. 2.ed. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria,1987,31p. PASCOAL, L.L.; LOBATO, J.F.P.; RESTLE, J.; VAZ, R.Z.; VAZ, F.N. Meat yield of culled cow and steer carcasses. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.11, p.2230-2237, 2009. RESTLE, J.; PACHECO, P.S.; COSTA, E.C.; FREITAS, A. K.; VAZ, F. N.; BRONDANI, I. L.; FERNANDES, J. J. R. Apreciação econômica da terminação em confinamento de novilhos Red Angus superjovens abatidos com diferentes pesos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.4, p.978-986, 2007. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil Página 5