SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE FURG UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UAB A epistemologia genética de Jean Piaget Resumo Quem foi Piaget? - Nasceu na Suíça em 1896. - Aos dez anos de idade, publicou um artigo sobre observações acerca de um pardal albino. - Aos 13 anos, publicou um pequeno artigo sobre moluscos. - Em 1916, aos 20 anos: Biologia primeiras noções sobre equilíbrio e desequilíbrio. - Em 1918: tese de doutorado sobre moluscos. - De 1919 a 1921: psicologia trabalha com Binet em testes de inteligência. - Em 1921: professor em Genebra. - No ano de 1924, casa-se com a colaboradora Valentine Châtenay, com a quem tem três filhos. - De 1925 a 1929: professor de Psicologia, História da Ciência e Sociologia em sua cidade natal, mas residindo em Paris. - De 1929 a 1939: leciona História do Pensamento Científico em Genebra. - Até 1967: diretor do Gabinete Internacional de Educação em Genebra. - De 1936 a 1951: professor de Psicologia Experimental e Sociologia em Lausanne. - De 1940 a 1943: presidente da Sociedade Suíça de Psicologia. - Em 1945: assume a presidência da UNESCO. - Em 1952: professor na Sorbonne. - De 1953 a 1954: Universidade de Princeton - Em 1955: cria o Centro Internacional de Epistemologia Genética de Genebra; - Durante a década de 60: faz estudos sobre representação e imagem mental e sobre o desenvolvimento da memória. - Em 1967: publica sua obra mais importante: Biologia e conhecimento. - Em 1971: aposenta-se, mas passa a proferir conferências e segue participando de debates. - Em 1980: falece em Genebra, com 84 anos. Principais concepções Objetivo: desvendar o ato de conhecer - Mostrava-se insatisfeito com concepções quantitativas sobre a inteligência e com a ideia de que adultos eram mais inteligentes do que crianças. - Proposta: a criança não resolve certos problemas em função da ausência de certas estruturas cognitivas que o adulto já adquiriu.
Conclusões: - adultos e crianças com diferenças de natureza qualitativa; - inteligência diferente a cada estágio; - inteligência é um caso particular de adaptação biológica. Funções invariantes do desenvolvimento cognitivo Adaptação: o organismo se transforma em função do meio. Refere-se ao equilíbrio entre assimilação e acomodação (processos responsáveis pelas mudanças nos esquemas). Esquemas: são as estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio. Estas se adaptam e se modificam com o desenvolvimento mental. Assimilação: incorporação de novos conhecimentos a uma estrutura cognitiva. Acomodação: processo de reajuste do novo conhecimento aos esquemas de ação. Organização: aspecto interno da aquisição de conhecimento, enquanto a adaptação se refere ao aspecto externo. Relações que se estabelecem entre as partes e o todo. Relação entre adaptação e organização: indissociáveis, é adaptando-se às coisas que o pensamento se organiza e é se organizando que estrutura as coisas. Fatores do desenvolvimento cognitivo Maturação e hereditariedade: hereditariedade sozinha não pode responder pelo desenvolvimento intelectual. Restrições mudam à medida que a maturação progride. Experiência ativa: experiências que provocam assimilação e acomodação, resultando em mudança cognitiva. Interação social: intercâmbio entre ideias e pessoas. Leva ao conflito, ao desequilíbrio e à busca de equilibração. Equilibração: é o regulador, o qual permite que novas experiências sejam incorporadas. Componentes do desenvolvimento cognitivo Conteúdo: o que a criança conhece. Comportamentos observáveis que refletem a atividade intelectual. O conteúdo da inteligência varia de idade para idade e de criança para criança. Função: características da atividade intelectual = assimilação e acomodação. São estáveis e contínuas no decorrer do desenvolvimento cognitivo.
Estrutura: propriedades organizacionais da inteligência (esquemas) que explicam a ocorrência de determinados comportamentos. Muda com a idade, assim como o conteúdo. Visão interacionista do desenvolvimento O conhecimento não está no sujeito, no objeto e nem no somatório dos dois: entre um sujeito e um objeto existe a ação e esta permite ao sujeito construir o conhecimento (movimentação no espaço, manipulação de objetos, observação, etc.). Ações: comportamentos que estimulam o aparato intelectual da criança, podendo ou não ser observáveis. Permitem o desequilíbrio e permitem a ocorrência da assimilação e da acomodação. Experiência: sozinha não assegura o desenvolvimento, mas o desenvolvimento não ocorre sem a experiência. Conhecimento Físico: descoberta * conhecimento das propriedades físicas de objetos e eventos Conhecimento Lógico-Matemático: invenção *conhecimento construído a partir do pensar sobre a experiência com os objetos e eventos Ex: conceito de número Conhecimento Social: *conhecimento sobre o qual, por convenção, grupos sociais ou culturais chegam a um acordo. Ex: Regras, leis valores, linguagem, etc.. Construído a partir das interações que a criança estabelece Implicações educacionais das concepções de Piaget Principal obra sobre as implicações educacionais da epistemologia genética: para onde vai a educação?...falar em educação é, em primeiro lugar, reconhecer o papel indispensável dos fatores sociais na própria formação do indivíduo (PIAGET, 1974). Formar indivíduos capazes de ter autonomia intelectual e moral, além de respeitadores da autonomia de outrem, em função da regra de reciprocidade. Direito à educação = direito de encontrar na escola aquilo que lhe possibilite a construção do raciocínio e de uma consciência moral. O verdadeiro conhecimento (físico ou lógico-matemático) não é transmitido pela escola, mas construído pelo sujeito através das ações exercidas sobre os objetos. Esse conhecimento (endógeno) jamais será esquecido. O conhecimento exógeno (escola tradicional) é rapidamente esquecido.
Objetivo da educação: autonomia moral. Possibilitar ao aluno que aprenda por si próprio, que conquiste as verdades, que descubra pessoalmente as correlações e noções, recriando-as até o momento em que experimentará satisfação ao ser guiado e informado. Opõe-se à ideia de transmitir verdades ou informações. Pleno desenvolvimento da personalidade: inseparável do conjunto dos relacionamentos afetivos, sociais e morais que constituem a vida da escola. Autonomia moral: ser ativo intelectualmente Autonomia intelectual: ambiente no qual não ocorra submissão à autoridade adulta e em que os relacionamentos não se restrinjam aos que ligam cada aluno individualmente a um mestre detentor de todos os poderes. Moral: na escola, se identificam dois processos complementares pressão do adulto e a cooperação das crianças entre si. Respeito ao adulto: importante para a obediência natural da criança e a constituição de regras imperativas nos estágios iniciais do desenvolvimento. O adulto pode representar fonte de toda a moralidade e verdade, bem como pode levar a criança a aceitar como completamente acabadas as afirmações que emanam do professor, sem qualquer consciência crítica. Papel da escola: substituir a disciplina imposta de fora por uma disciplina interior, baseada na vida social das próprias crianças (jogos coletivos e outras atividades sociais dentro e fora de classe crianças se impõem regras e as aceitam mais do que quando estas são impostas pelos adultos). Cooperação entre crianças: moral em ação. Produz resultados tão elevados quanto aqueles que resultam da ação dos adultos. Escola na visão de Piaget: ser ativo não significa fazer tudo o que queira, mas querer tudo o que faz. Estruturas morais e intelectuais da criança são diferentes em relação ao adulto. A escola deve se esforçar para apresentar aos alunos de diferentes idades conteúdos assimiláveis a sua estrutura cognitiva e aos diferentes estágios do desenvolvimento. Jogo: atende à metodologia da atividade; desenvolve as percepções da criança, sua inteligência e sua tendência à experimentação. Na leitura, cálculo ou ortografia: crianças mais envolvidas, além de apreender mais facilmente conteúdos formais. Professor: apresentação de material adequado para que as crianças assimilem as realidades intelectuais que, de outra forma, seriam exógenas. Trabalho em grupo: trocas de natureza social que possibilitam o desenvolvimento em direção à autonomia moral;
trocas de natureza intelectual: compartilhamento de ideias e informações que culminam em processos de equilibração rumo à autonomia intelectual; condição para a superação do egocentrismo natural do comportamento humano e que só ocorre quando há conflitos provenientes de interesses diferentes do indivíduo. Motivação: tradicionalmente interpretada em termos de estimulação externa (seria o papel do professor motivar ). Piaget: motivação no contexto do processo adaptativo próprio do desenvolvimento intelectual do sujeito (quando há desafio, há necessidade de restabelecer o equilíbrio) motivação consiste em necessidade interna que origina o esforço a ser empregado numa atividade que permite a estrutura de conhecimento funcionar. Interesses espontâneos refletem um desequilíbrio e podem constituir fontes de motivação. O que e quando ensinar? Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo acontece de forma progressiva e em uma sequência invariável. Aquisição de conhecimentos = integração de estruturas antigas a estruturas conceituais mais completas, abrangentes e integradas. Currículo: deve considerar o estágio do desenvolvimento cognitivo alcançado pela criança, bem como a seqüência necessária de construção ou evolução dos conceitos na criança. Deve respeitar a estrutura cognitiva do sujeito (aluno) e a estrutura da matéria. Aprender: assimilar o objeto a esquemas mentais. A partir da descoberta (abstração empírica) ou invenção (abstração reflexiva). O conceito de aprendizagem envolve atividade inteligente, nunca interpretado como mera influência dos estímulos do meio (behavioristas). Professor que se baseia na teoria de Piaget: procura desafiar o aluno com problemas significativos ao nível de desenvolvimento alcançado em um clima de reciprocidade intelectual e moral. Propor problemas = desequilibrar. Isto é diferente de fazer exercícios e depois dar a resposta correta. As soluções são encontradas pelo aluno e não ensinadas pelo professor. Avaliação: não chega a ser amplamente discutida por Piaget. Relevante avaliar constantemente o desenvolvimento alcançado pelo sujeito ao longo do processo progressivo de construção do conhecimento.
REFERÊNCIAS: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO II La Taille, Y. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias Psicogenéticas.São Paulo: Editora Summus, 1992. PIAGET, J. Seis estudos de Psicologia. 24.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. SALVADOR, C. C. (org.). Psicologia da Educação. Traduzido por C. M. Oliveira. Porto Alegre: Artmed, 1999. VYGOTSKY, L.; LURIA, A.; LEONTIEV, A. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10.ed. São Paulo: Ícone, 2006.