Unidade: Cognitivismo. Unidade I:

Transcrição

1 Unidade I: 0

2 Unidade: Cognitivismo COGNITIVISMO: A PSICOLOGIA DE JEAN PIAGET 1 Epistemologia Genética. Jean Piaget (Suíça, ), desenvolveu intensa atividade de pesquisa, sendo considerado o precursor da escola psicológica cognitivista. Suas pesquisas sobre a psicogênese do conhecimento tiveram grande repercussão em todo o mundo, com grande influência na Educação. Sua teoria é uma importante referência para pesquisadores em Psicologia da Educação. Os métodos educacionais construtivistas, de ampla difusão em países como Espanha, Inglaterra e Brasil, são fundamentados na teoria de Piaget, conhecida como Epistemologia Genética. A Epistemologia Genética estuda a gênese do conhecimento e da inteligência na estrutura psicológica do sujeito. A palavra epistemologia significa estudo do conhecimento (do grego episteme, conhecimento) e a palavra genética refere-se à gênese, que significa origem. 1

3 Piaget achava que as duas grandes correntes psicológicas da sua época o inatismo e o behaviorismo eram insuficientes para explicar a psique humana, e formulou uma nova teoria psicológica, a Psicologia Genética, fundamentada na sua Epistemologia Genética. Piaget e o inatismo Por um lado, criticou a corrente inatista, que considera que as características psicológicas humanas já estariam dadas no momento do nascimento, determinadas biológica e hereditariamente. Piaget, ao contrário, considerava que a inteligência só pode se desenvolver se a criança viver experiências de intenso relacionamento com objetos e pessoas, sendo essencialmente ativa na construção da sua inteligência. Para ele, a estrutura reflexa inicial é inata, mas o desenvolvimento da inteligência depende da ação do sujeito, em interação com o meio ambiente. 2

4 Piaget e o behaviorismo Por outro lado, também não concordava com a escola behaviorista, que afirmava que os estímulos e consequências determinam as características do sujeito. Piaget considerava o modelo estímulo-resposta insuficiente para explicar o complexo comportamento humano. Além disso, Piaget não aceita a idéia de passividade do sujeito como objeto da ação do meio ambiente sobre ele. Para Piaget, assim como o meio ambiente e seus elementos agem sobre o sujeito, também o sujeito age sobre o ambiente e os objetos. E é nessa interação que se constitui a estrutura psíquica do sujeito, que constrói ativamente seu pensamento. 2 Cognitivismo. O desenvolvimento do sujeito é, para Piaget, fundamentalmente, o desenvolvimento do seu conhecimento e de sua inteligência. Inteligência é o modo pelo qual o sujeito realiza sua adaptação ao mundo, estruturando o universo em sua mente e estabelecendo o equilíbrio em situações novas. A função psicológica que envolve conhecimento e inteligência é chamada, em 3

5 Psicologia, de cognição. Daí a expressão cognitivismo, utilizada para designar a escola psicológica iniciada por Piaget. A inteligência é uma estrutura adaptativa humana. Através da inteligência o homem pode modificar o mundo em que vive e também modificar a si mesmo, modificando suas estruturas cognitivas, isto é, seu conhecimento sobre o mundo. O conhecimento resulta da interação entre o sujeito que conhece, de um lado, e, de outro, o mundo que propicia o desenvolvimento do sujeito. Nessa interação, o sujeito é ativo. É a ação do sujeito que sustenta o processo de desenvolvimento, propiciando o aprendizado. 4

6 O pensamento se organiza em esquemas, ou seja, estruturas mentais que representam objetos e eventos na mente do sujeito através de significados, relações e generalizações. Os esquemas são simples nos bebês e altamente complexos nos adultos, quando podem compreender operações de lógica formal. A ação física da criança organiza os primeiros esquemas de ação que, por sua vez, dão origem aos esquemas mentais que vão se desenvolver em uma sucessão de fases (chamadas de estágios de desenvolvimento cognitivo), até a construção do raciocínio lógico-formal. Piaget acredita que o pensamento lógico-formal, organizado em premissas e conclusões logicamente relacionadas, é o tipo de pensamento mais avançado, superior a todas as demais formas de pensar. 5

7 O desenvolvimento psicológico, para Piaget, é, em linhas gerais, a trajetória que se inicia com os esquemas de ação mais simples (construídos na atividade direta com objetos) e se conclui com o domínio do pensamento lógico formal, em um processo em que se sucedem estágios (fases), nas quais os esquemas tornam-se cada vez mais complexos. Em cada um dos estágios o sujeito apresenta um tipo de pensamento, o qual determina as demais características psicológicas. 3 Conceitos Fundamentais. Para compreender a teoria de Jean Piaget, você deve prestar muita atenção nos conceitos de adaptação, organização, esquemas, assimilação, acomodação e equilibração! Adaptação É um dos princípios e fundamentos da própria vida do organismo, seja ele qual for. Todo o organismo precisa, para sobreviver, suprir suas necessidades e superar os obstáculo e perigos impostos pelo meio ambiente. Para isso, os organismos modificam suas ações sobre o meio e também sua estrutura interna, no processo chamado por Piaget de adaptação. A inteligência é um tipo de adaptação biológica, é o principal instrumento de adaptação utilizado pelo ser humano. 6

8 Organização É o aspecto interno da adaptação, pelo qual os diferentes elementos do meio ambiente são organizados em alguma estrutura, tornando o organismo capaz de agir sobre o meio. No ser humano, conforme a teoria cognitivista de Piaget, a principal organização adaptativa é a organização cognitiva, ou seja, a estruturação do pensamento e do conhecimento. Esquemas Como vimos anteriormente, os esquemas são processos ou estruturas mentais. Através dos esquemas mentais, os indivíduos organizam o meio ambiente em sua mente, atribuindo significados aos diferentes objetos e estabelecendo relações entre eles. Através dos esquemas, os objetos e situações do meio ambiente são organizados pelo pensamento. Os esquemas organizam conceitos, situações ou processos. As relações entre conceitos também são esquemas. Por exemplo, o reconhecimento de um objeto que já foi viso anteriormente utiliza um tipo esquema mental conhecido como identidade (ou capacidade de identificação, ou seja, perceber o que é idêntico, igual), pelo qual o pensamento estabelece a igualdade entre o objeto que ele está 7

9 vendo num determinado momento e o objeto visto anteriormente, de modo que o sujeito atribui ao objeto que está vendo as mesmas características e significados do objeto visto em uma situação anterior. Isso permite uma ação imediata do sujeito sobre esse objeto, se isso for necessário. Desse modo, o esquema de identificação (estabelecer identidade com base na igualdade de certas características percebidas), facilita a ação do sujeito sobre o objeto e a adaptação à situação. Como surgem os esquemas? Desde que nasce, o bebê estabelece relações com os objetos do meio ambiente a partir das ações reflexas (inatas, de origem biológica, involuntárias, determinadas pelo sistema nervoso). Essas ações reflexas determinam as primeiras interações com os objetos e nessas interações começa a agir o processo de adaptação. As ações reflexas trazem características dos objetos para o bebê, impondo adaptações às diferentes situações. Nessa interação, algumas ações são repetidas e modificadas. Por exemplo, o reflexo da preensão (todo bebê recém-nascido segura com toda força o que toca a sua mão, em um gesto reflexo), torna-se o gesto de segurar objetos como a mamadeira e o chocalho. Cada um desses objetos tem seu peso e formato, exigindo uma adaptação do gesto de segurar. 8

10 O gesto de segurar é um esquema de ação, que é uma ação que tem alguns aspectos generalizados (todo gesto de segurar se parece com outro gesto de segurar), mesmo que tenha certas características que são específicas de cada situação (segurar esse objeto é diferente de segurar outro objeto, pois peso, formato e textura são diferentes). Esse esquema de ação é interiorizado e passa a se realizar na mente do bebê (por exemplo, quando antecipa mentalmente o que vai fazer). Assim, se torna um esquema mental (ou, simplesmente, esquema)! Resumindo o surgimento (ou gênese) do pensamento: ações reflexas se transformam em esquemas de ação que se transformam em esquemas mentais! Um conceito pode ser um esquema. Mas também um conjunto de conceitos ou a relação entre eles pode ser considerado um esquema. Por exemplo: a idéia (ou conceito) de um animal (como um carneiro) pode ser considerada um esquema simples. A idéia de mamíferos, que inclui carneiros e outros animais pode ser considerado um esquema mais abrangente! E também a noção de que, por exemplo, certos cães cuidam de carneiros junto com seus donos também pode ser considerado um esquema. É um esquema que relaciona de modo mais complexo os três elementos (cão, carneiros e seu dono), referindo-se a uma determinada situação! O pensamento se processa através de esquemas e de relacionamento entre esquemas! 9

11 Assimilação É o processo pelo qual os objetos e situações do meio ambiente são incorporados pelo sujeito, que lhe atribui significados. Para isso, os elementos percebidos no mundo exterior são relacionados aos esquemas que o sujeito já possui e, assim, são assimilados por sua estrutura cognitiva com base naquilo que o sujeito já conhece. A assimilação ocorre o tempo todo, em tudo o que fazemos. Cada gesto intencional utiliza nossos conhecimentos anteriores sobre as coisas que estão ao nosso redor, isto é, utiliza esquemas mentais já existentes! Acomodação As situações e objetos do meio ambiente não podem ser assimilados apenas com aquilo que o sujeito já sabe. Lendo, por exemplo, um texto sobre um assunto novo, reconhecemos as palavras (elas são assimiladas), mas o significado geral do texto é novo! O sujeito, nesse caso, precisa reorganizar sua estrutura cognitiva, isto é, constituir novos esquemas mentais, para que os novos significados, conceitos e relações possam ser compreendidos. novo texto é um novo elemento do meio ambiente que não pode ser assimilado através dos esquemas já existentes. Só a constituição de novos esquemas permite que esse novo elemento seja compreendido. 10

12 A construção de novos esquemas mentais implica em uma reorganização cognitiva, uma modificação no pensamento. Esse processo é chamado de acomodação. Na prática, estamos o tempo todo assimilando e acomodando nossas estruturas cognitivas, mas em graus diferentes. Existem situações em que predomina a assimilação e outras em que predomina a acomodação. Equilibração A noção de equilibração é, talvez, a idéia mais abrangente da teoria de Piaget, pois envolve todos os demais conceitos. A idéia de equilíbrio integra a noção de adaptação. O organismo adaptado é aquele que supera os desequilíbrios que ocorrem na relação com o meio ambiente, isto é, que supera os obstáculos e dificuldades que se apresentam à sua sobrevivência e reprodução. A adaptação pressupõe a superação dos obstáculos e o reestabelecimento do equilíbrio nas relações com o meio. 11

13 A adaptação humana ao meio ambiente é uma adaptação cognitiva. É o conhecimento que deve organizar o universo em nossa mente. O sujeito, de modo continuo e permanente, deve ter conhecimento do ambiente ao seu redor. Um grande número de situações e objetos devem ser continuamente assimilados e organizados na estrutura cognitiva do sujeito. Além disso, deve haver um contínuo processo de acomodação, para que as novas situações e objetos possam ser assimilados. Todo esquema mental mobilizado no processo de assimilação é obrigado a se acomodar aos elementos que assimila, isto é, a se modificar em função de suas particularidades (Piaget, apud TAFNER). É por isso que, conforme mencionado anteriormente, os processos de assimilação e acomodação são paralelos. Quando há assimilação de um objeto ou situação percebida pelo sujeito, há também acomodação, porque a situação não é a mesma vivida anteriormente e, mesmo que o objeto seja o mesmo, a situação e o momento são outros! É necessária, para que os processos cognitivos sejam coerentes e organizados, a equilibração entre a assimilação dos objetos pelos esquemas cognitivos e a acomodação desses esquemas aos objetos e situações assimilados. 12

14 Há, assim, uma equilibração entre assimilação e acomodação! Há, também, uma equilibração entre os diferentes esquemas mentais, que devem se articular entre si de diversos modos. E há, finalmente, uma equilibração entre a totalidade da estrutura psíquica com os diferentes esquemas, integrando-os de modo coerente. Conforme a teoria de Piaget, há uma multiplicidade de processos cognitivos continuamente mobilizados para que o sujeito possa ter conhecimento das situações em que se encontra e decidir o que fazer. Há um aprendizado permanente, garantindo a assimilação de novos objetos e novas situações. E tudo isso proporciona uma maior capacidade de adaptação ao meio ambiente. Não há retrocesso, mas, sim, a construção contínua de novos conhecimentos, que se somam e se relacionam com os conhecimentos anteriores, tornando o sujeito capaz de resolver problemas cada vez mais difíceis e complexos. A equilibração dos processos cognitivos é sempre uma equilibração majorante, isto é, uma elevação da capacidade adaptativa a 13

15 níveis superiores! 4 Operações. Para que você compreenda os nomes dados por Piaget aos estágios do desenvolvimento cognitivo, você precisa compreender o que são operações. É chamado de pensamento lógico o pensamento que realiza operações. Operações são esquemas lógicos, ou seja, pensamentos lógicos. São pensamentos que relacionam elementos através de uma relação causal, onde certo tipo de relacionamento entre conceitos leva, obrigatoriamente, a uma certa conseqüência. São premissas levando à uma conclusão, através de um nexo causal (relação de causa e efeito). Esse tipo de pensamento também é chamado de raciocínio, referindo-se à utilização que faz da razão lógica. Pensamento operatório é o pensamento que realiza operações, que se organiza de modo lógico. Uma das características do pensamento lógico é que ele é reversível, isto é, ele pode reconstituir a situação anterior, como na Matemática: se = 8, então 8 3 = 5! Pela reversibilidade, o pensamento é capaz de retornar à situação anterior. Esse tipo de pensamento ainda não se apresenta na criança que se encontra no estágio pré-operatório, dos 2 até cerca de 6 ou 7 anos de idade. Pré-operatório significa, portanto, anterior à realização de operações. Por exemplo, na atividade de modelagem com massa plástica, reversibilidade do 14

16 pensamento é a capacidade de reconhecer que a quantidade de massinha não se altera com os diferentes formatos capacidade esta que crianças pequenas não têm. A teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget trabalha com dois tipos de operações: as operações concretas e as operações formais. Operações concretas são esquemas mentais lógicos que precisam ter uma referência na realidade concreta e caracterizam as crianças no estágio operatório-concreto, que vai de cerca de 7 anos até mais ou menos 11 anos de idade. Operações formais são esquemas lógicos que não precisam referir-se à realidade, que podem referir-se apenas a hipóteses ou mesmo a afirmações sabidamente falsas. São lógicas apenas pela sua forma lógica. Esse tipo de pensamento é chamado de pensamento hipotético-dedutivo e se desenvolve no estágio operatório-formal, a partir de cerca de 12 anos, até formar-se 15

17 completamente aos 15 ou 16 anos e permanecer como característica do pensamento tipicamente adulto por toda a vida. 5 Estágios do Desenvolvimento Cognitivo. Agora que você já conhece os fundamentos da epistemologia genética de Piaget e já sabe o que são operações, é hora de você conhecer os estágios do desenvolvimento cognitivo propostos por Piaget. Como você vai perceber, com exceção ao primeiro estágio (sensório-motor), todos os estágios fazem referência à palavra operação, designando a ausência de operações (no estágio pré-operatório), a predominância de operações concretas (estágio operatório-concreto) e o domínio crescente de operações formais, hipotéticodedutivas (estágio operatório formal). Piaget assinala que o desenvolvimento cognitivo do sujeito passa por quatro estágios de desenvolvimento. Em cada um deles há um certo tipo de pensamento e um desenvolvimento específico. Veja agora as características dos Estágios do Desenvolvimento Cognitivo, conforme a teoria de Jean Piaget. Acesse pelo link: 16

18 Referências BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias. São Paulo: Saraiva, DAVIS, Cláudia. OLIVEIRA, Zilma de. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, FONTANA, Roseli. CRUZ, Nazaré. Psicologia e Trabalho Pedagógico. São Paulo: Atual, MATOS, Auxiliadora Aparecida de. Fundamentos da Teoria Piagetiana: Esboço de Um Modelo. Revista Ciências Humanas. Universidade de Taubaté (UNITAU). Brasil. Vol. 1, N Link: PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza (Org.)... et al. Psicologia & Educação: revendo contribuições. São Paulo: Educ, TAFNER, Malcon Anderson. A Construção do Conhecimento Segundo Piaget. Brain & Mind Electronic Magazine on Neuroscience Link: TERRA, Márcia Regina. O Desenvolvimento Humano na Teoria de Piaget. Link: Imagens. Todas as imagens são do site 17

19 18 Responsável pelo Conteúdo: Prof Ms Carlos Fuser Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, São Paulo SP Brasil Tel: (55 11)