TERCEIRA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL N º 42.390-7/2009, DE VITÓRIA DA CONQUISTA. APELANTE: UNIBANCO AIG SEGUROS S/A. APELADO: GERALDO BASTOS GUIMARÃES E OUTRO. RELATOR: JUIZ JOSEVANDO SOUZA ANDRADE SUBSTITUINDO O DES. CARLOS ALBERTO DULTRA CINTRA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. SEGURO. MUDANÇA DE PERFIL. AGRAVAMENTO DO RISCO. FRAUDE NÃO CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE PROVAS. ÔNUS A SER DEMONSTRADO PELA SEGURADORA. COBERTURA SECURITÁRIA DEVIDA. APELO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. RECURSO ADESIVO DA AUTORA IMPROVIDO. O fato de o condutor do veículo não ser aquele indicado como condutor principal não exime a seguradora de pagar a indenização securitária prevista na apólice. A demandada não se desonerou em comprovar, de forma suficiente, mudança de perfil que acarretasse agravamento do risco, o que elidiria seu dever de indenizar. Fraude não verificada. Presente a alegação de agravamento do risco pelo segurado, o ônus da prova é da seguradora que pretende eximir-se do pagamento da indenização, sob pena de, não se desincumbindo, arcar com o dever indenizatório, segundo inteligência do art. 333, II, do Código de Processo Civil.
A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de, da Comarca de Vitória da Conquista, em que figuram como Apelante Unibanco Aig Seguros S/A e Apelado Geraldo Bastos Guimarães e outro. Acordam os Desembargadores componentes da Turma Julgadora da Terceira Câmara Cível, do Tribunal de Justiça da Bahia, por votação unânime, em negar provimento ao apelo, pelas seguintes razões: Consoante exposto no relatório, cuida-se de ação de obrigação de fazer c/c indenização por danos morais e materiais, ajuizada por Geraldo Bastos Guimarães e outro., em desfavor Unibanco Aig Seguros S/A, cuja sentença julgou parcialmente procedente a ação, condenando a seguradora ao pagamento de indenização correspondente ao valor do veículo segurado, conforme Tabela FIPE à época do sinistro, acrescido de juros de mora de 1% a.m, a contar da citação e correção monetária desde a data do acidente. A Apelante, em sua peça recursal, busca exonerar-se da obrigação de indenizar, sob o pálio de que houve violação de cláusula relativa ao perfil do condutor mais freqüente, vez que, no momento do acidente quem dirigia o veículo não era o Sr. Geraldo Bastos Guimarães e sim Geraldo Ferreira Guimarães, descumprindo o Autor o contrato ao omitir a alteração pertinente ao condutor mais freqüente. Em que pese o zelo de seu patrono, infere-se que inassiste razão à Recorrente, devendo ser prestigiada a respeitável sentença vergastada. A demandada busca elidir sua obrigação contratual asseverando que houve má-fé por parte dos autores quando da
celebração do contrato, vez que, não fizeram declarações verdadeiras, o que enseja violação da cláusula contratual e, conseqüentemente, desonera a seguradora de cumprir com o pacto. Todavia, não merecem prosperar as alegações da requerida, pois não comprovada ausência de boa-fé dos autores quando da celebração do contrato. Conforme se percebe dos documentos acostados aos autos, o Autor, ao responder o questionário apresentado pela Apelante, indicou que o veículo era utilizado, também, pelo seu filho, Geraldo Ferreira Guimarães. A prestação dessa informação, corolário lógico, autorizava que o filho do autor utilizasse o veículo, permanecendo referido bem ainda tutelado pelo seguro pactuado. Afinal, a seguradora tinha ciência de que o mesmo poderia ser utilizado por terceiro, levando tal dado em consideração quando do cálculo do prêmio a ser pago pelos contratantes. Afora isso, o contrato de seguro em tela tutela, em princípio, o bem e não a pessoa do segurado. Ou seja, não é o fato de o veículo ser conduzido eventualmente por um terceiro que afasta a responsabilidade da seguradora em cumprir com o contrato entabulado. Portanto, o só fato de o sinistro ter ocorrido quando o veículo estava sendo conduzido pelo filho do autor, não se apresenta causa bastante a justificar a negativa do pagamento do seguro. Aduza-se que agravamento do risco é toda e qualquer situação que provoque aumento tão considerável do risco que o segurador, ciente dessa circunstância, deixasse de aceitar a proposta de seguro, o que não se verifica no caso em tela. Sem o agravamento do risco, não há falar em negativa do pagamento do seguro. A propósito, colaciono o seguinte julgado: SEGURO. CONDUTOR DO VEÍCULO QUANDO DO ACIDENTE NÃO INDICADO
COMO SENDO O HABITUAL. MUDANÇA DE PERFIL. AGRAVAMENTO DO RISCO. INCORRÊNCIA. FRAUDE. AUSÊNCIA DE PROVAS. COBERTURA SECURITÁRIA DEVIDA. O simples fato de o condutor do veículo, quando do acidente, não ser aquele indicado como sendo o habitual, não exime a ré do dever da cobertura securitária. Hipótese em que o fato não ensejou agravamento do risco. Mudança no perfil do condutor que poderia, em tese, ter elevado o valor do prêmio. Ausência de pedido nesse sentido. Hipótese de fraude levantada pela seguradora que não encontra amparo na prova coligida aos autos. Cobertura dos prejuízos decorrentes da perda total do veículo devida. Apelo desprovido. (Apelação Cível Nº 70012908042, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 25/01/2006). Apelação cível. Seguros. Ação ordinária de cobrança. Seguro de veículo automotor. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de seguro. Legalidade da cláusula de perfil para a determinação do preço do prêmio, não podendo ser invocada como recusa para o pagamento da indenização. A indicação de condutor do veículo, quando do preenchimento da cláusula perfil, não elide a responsabilidade da seguradora em relação ao fato de bem segurado estar sendo conduzido por outra pessoa quando da ocorrência do sinistro. Locomoção diária é termo amplo, não podendo ser restrito e definido unilateralmente e ao bel prazer da seguradora. No caso concreto, o veículo foi roubado em assalto a mão armada. Não houve agravamento do risco por parte do segurado. Apelo desprovido.
(Apelação Cível Nº 70009163007, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em 02/03/2005). Salienta-se que a boa-fé do autor é patente, tanto que, quando do preenchimento do questionário de avaliação de riscos, informou que possuía um filho de 25 anos. Ora, se a intenção fosse fraudar o contrato de seguro, por qual razão teria sido o autor tão fidedigno nas respostas do questionário, à medida que a omissão desse dado quiçá garantiria a ele pagamento de prêmio em menor valor? Assim, o fato de o veículo ter sido utilizado de forma compartilhada com o filho do autor como de conhecimento pelo recorrente -, não desnatura o fato de ser o Sr. Geraldo Bastos Guimarães condutor principal e não eventual do bem. Com relação ao agravamento do risco, temos que na concepção de DE PLÁCIDO E SILVA, Agravar é aumentar a gravidade (agravação) de qualquer acontecimento com a prática de atos ou circunstâncias que modifique a normalidade do fato ou do ato. Impor maiores ônus ou maiores responsabilidades. Risco, na concepção de CALDAS AULETE, é a probabilidade do perigo, inconveniente ou fatalidade muito possível de realizar-se. Da intelecção desses dispositivos, constata-se que o segurado perde o direito à indenização em caso de agravamento dos riscos apenas quando agir com culpa grave ou dolo. Incontinenti, à seguradora impõe-se a prova de que houve esse agravamento do risco por iniciativa do segurado, na medida em que fato tendente a elidir a obrigação indenizatória, ex vi do art. 333, II, do Código de Processo Civil, verbis: Art. 333. O ônus da prova incumbe:
I omissis; II ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. De modo que, ante a não observância do disposto no art. 333, II, do CPC, improcede a irresignação da ré no que tange ao não-pagamento do seguro por quebra do perfil. Inolvidável, ademais, que a exclusão do direito à indenização deve ser buscada em condições que não violem o princípio da equidade. Assim, inexistindo prova contundente e robusta da voluntariedade do segurado ao agravamento do risco, como é a hipótese ventilada, deve a seguradora honrar o contrato e pagar a indenização ao segurado. À luz desse quadro, nega-se provimento ao apelo, confirmando-se o edito monocrático, por seus próprios e jurídicos fundamentos. Salvador Presidente Relator mc/ Procurador de Justiça