Palavras-chaves: identidade profissional; docência universitária; desenvolvimento docente.

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Transcrição:

1 DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: COMO OS PROFESSORES SE (RE)CONHECEM i Dalma Pérsia Nelly Alves Nunes UFU - dalmanelly@yahoo.com.br Geovana Ferreira Melo - UFU - geovana@faced.ufu.br Ketiuce Ferreira Silva Pitágoras/UFTM/UFU ketiuce@yahoo.com.br Apoio: CNPq FAPEMIG Resumo Temos como objetivo analisar e promover discussões sobre a formação do professor de educação superior no contexto da Universidade pública. O estudo apresenta considerações sobre a construção da docência na Universidade e foi balizado pelos seguintes questionamentos: Quais as principais lacunas formativas dos docentes que atuam na educação superior? Quais os fatores contribuem para a construção dos saberes da docência e para o desenvolvimento da identidade docente? A pesquisa compreende uma análise qualitativa de dados quantitativos extraídos de um instrumento com questões relativas à formação inicial, profissão, saberes e práticas, entre outras. O presente texto aborda discussões realizadas sobre as respostas dos professores frente a essas questões. As análises revelam como se dá o processo de construção da identidade profissional entre os professores que atuam no ensino superior, e permite aprofundar a reflexão sobre conceitos referentes ao exercício do magistério superior, considerando para tanto, a produção acadêmica na área. Dessa maneira, a dinâmica do estudo contribui significativamente para o enriquecimento e amplitude da discussão sobre a concepção da produção da identidade profissional do professor, relacionada aos aspectos, valores crenças e competências, como elementos constitutivos no processo de construção de sua professoralidade e de seu desenvolvimento profissional. A análise dos dados apresenta como principais lacunas formativas dos professores universitários os seguintes aspectos relacionados à dimensão didático-pedagógica: planejamento, avaliação da aprendizagem, relação professor-aluno, novas tecnologias da educação e comunicação. Diante dessa realidade é importante que as universidades consolidem programas de formação e desenvolvimento profissional que oportunizem aos docentes a elaboração de saberes específicos da docência aliados ao desenvolvimento da identidade profissional. Palavras-chaves: identidade profissional; docência universitária; desenvolvimento docente. 1. Para iniciar: lacunas na formação profissional para a docência universitária A respeito da formação do formação do professor universitário para o exercício da docência, vários estudos (Pimenta e Anastasiou, 2002; Masetto, 2000; Cunha, 2002; Anastasiou, 2002; Morosini, 2001, dentre outros), denunciam as fragilidades no que se refere à dimensão didático-pedagógica. No Brasil os docentes são formados pelos cursos de Pós-graduação stricto sensu que se constituem em espaços privilegiados de 02596

2 atividades de pesquisa. Os docentes, em sua formação, tornam-se especialistas em suas áreas específicas de conhecimento. Segundo Tardif (2002) a formação docente supõe um continuum, no qual, durante a trajetória docente, as etapas do trabalho do professor devem alternar com fases de formação contínua. Essa formação é anterior ao ingresso na própria Universidade e perpassa pela formação inicial desdobrando-se ao longo de toda carreira profissional. Nesta dinâmica os professores reelaboram os seus saberes iniciais em um diálogo constante com suas experiências práticas, cotidianamente vivenciadas em seu contexto de trabalho. É neste dialogo e num processo coletivo de troca de experiências e práticas que estes docentes vão construindo seus saberes. Com relação a estes aspectos, perguntamos aos professores sobre a consistência da sua formação para o exercício da docência na pós-graduação, e os professores destacaram que Obtive uma boa base teórico-prática na graduação em letras que me possibilitou boa adaptação no magistério. Mas na pós-graduação, como é característico dos cursos de pós-graduação, não há exigência na formação pratica, mas sim teórica. (sujeito 01) O preparo se deu através dos bons exemplos deixados por professores cujo trabalho acadêmico me supervisionavam favoravelmente, seja em aula ou fora dela. (sujeito 02). Quando questionamos sobre as principais habilidades enquanto professor, alguns enumeraram que seria preparação das aulas e exposição do assunto a ser abordado ou o que alguns denominaram de clareza nas explicações. Uma professora ainda afirma: O professor universitário tem que ter uma boa formação, tem que conhecer o que ele vai lecionar... Ser uma pessoa que vai transitar bem entre sua posição acadêmica e de professor, de trazer a informação para os alunos. Está implícita nos depoimentos uma concepção de educação que pode reproduzir as práticas tradicionais de transmissão do conteúdo de alguém que sabe muito, que tem o domínio da disciplina a ser ensinada para alguém que nada sabe. Apesar de haver um comprometimento com a atividade docente, observamos ainda que de forma subentendida, as concepções de que ser professor é transmitir bem os conteúdos, numa perspectiva tradicional. Desta forma, configura-se como um desafio à docência no ensino superior o desenvolvimento de estratégias formativas as quais envolvem esforços pessoais e institucionais concretamente desenvolvidos, orientados para a construção de conhecimentos, saberes e fazeres próprios da área de atuação do professor que atua no 02597

3 ensino superior, tendo em vista que, estes professores apresentam dificuldades de natureza didático-pedagógica, conforme relato a seguir: Não temos necessariamente esse preparo para entrar numa sala de aula e conduzir adequadamente. Essa é uma cobrança muito grande que temos da coordenação, da direção para manter o aluno, para poder conduzir uma boa aula. Então eu acho que o mínimo que deveria haver é uma preparação adequada para isso. Talvez muitos pensem que algum professor que vem de outras universidades já tenham uma experiência, ou saibam sobre isso, mas muitos não sabem como o meu caso, por exemplo. (sujeito 01). Esta professora pondera que Em alguns momentos temos uma distância muito grande entre o que imaginamos e planejamos e o que o aluno está preparado para receber (entrevista sujeito 03). Os relatos demonstram que há, por parte dos professores de modo geral, a compreensão das lacunas formativas com relação às questões próprias da docência universitária, que é entendida como uma profissão complexa, num contexto que implica movimento que é a Universidade. A docência constitui-se como uma profissão que exige a elaboração de saberes bastante específicos para o seu exercício profissional. A construção permanente dos saberes da docência contribui para o desenvolvimento da identidade profissional do professor. 2. Desenvolvimento da identidade e saberes docentes: percursos formativos O professor é antes de tudo uma pessoa, um sujeito histórico, vivido, que tem anseios, preocupações alegrias, interesses diversos e que escolheu ser professor motivado por algo. Os elementos constituintes da identidade docente fazem parte da vivência do professor enquanto sujeito histórico, pois como nos diz Pimenta (2002, p.59) a identidade não é um dado imutável, nem externo, que se possa adquirir como uma vestimenta. É um processo de construção do sujeito historicamente situado. O espaço de aprendizagem da docência tem como objetivo o desenvolvimento de uma estrutura tanto ideológica como pedagógica que sustenta a construção da identidade profissional. De acordo com um professor, As minhas referências, na verdade, são os professores que me guiaram para esse caminho (da docência) (sujeito 01). A trajetória de vida pessoal e acadêmica, além da experiência com os antigos professores influenciam não somente a escolha da carreira docente, mas também na maneira de ensinar do professor. Dessa forma, existe uma identificação direta das práticas dos professores na formação dos seus alunos, sobretudo, no que se refere à construção da identidade profissional, isso significa que, a maneira como o aprendizado da docência é 02598

4 fundamentado teoricamente corrobora para a construção das práticas cotidianas e o desenvolvimento da identidade profissional destes docentes. A identidade docente, conforme alguns professores é também a forma como o professor se relaciona com os alunos. Quando perguntamos sobre suas concepções acerca da execução das aulas, de quatro sujeitos, três professores responderam que a sala de aula é o lugar de interações entre professor-aluno-conhecimento, revelando, assim que a identidade pode caracterizar-se como um processo de mudança e alteridade, em que os papéis sociais assumidos vão sendo tecidos de acordo com os contextos sociais. Esses papéis podem ser negociados entre os atores envolvidos no processo de interação, mas não é uma característica estática ou acabada. Desta forma, pode-se perceber que a construção da identidade não se dá apenas no campo individual, mas também no coletivo. Para a construção da identidade, portanto, concorrem dois processos que se cruzam, tais quais: um processo autobiográfico: a identidade do eu, e um processo relacional: a identidade para o outro (DUBAR, 1999). Os professores através de uma teia de relações estabelecem seus saberes e concepções acerca da profissão docente, por meio das significações que são constituídas consigo e com o outro, construindo e reconstruindo sua identidade profissional. 3. Considerações finais Esta investigação nos possibilitou compreender a existência de diversos fatores que contribuem para o processo de desenvolvimento da identidade e saberes docentes, dentre os quais consideramos as vivências dos professores, suas experiências pessoais e/ou profissionais, e os saberes que são mobilizados à medida que desenvolve seu trabalho, uma vez que a história de vida é um fator constituinte dessa identidade. Neste sentido, conhecemos as experiências que marcaram e tornaram-se processos formativos da pessoa e do profissional docente. Neste amplo contexto, as experiências construídas em diferentes lugares e momentos da vida pessoal e profissional influenciaram de forma significativa a relação que cada professor tem com a docência. Nesta medida, tais aspectos vivenciados e incorporados de diferentes modos por estes docentes, acabaram por constituir-se num processo de constante formação do eu pessoal e do eu profissional do professor. A partir da análise dos dados foi possível compreender que o processo formativo inicia-se muito antes do ingresso na carreira do magistério superior, na medida em que, os professores consideraram em suas práticas cotidianas na Universidade a influência das experiências anteriores ao acesso na profissão escolares, familiares, profissionais e 02599

5 sociais. Podemos observar que a experiência que estes professores tiveram anterior à carreira do magistério superior foi o principal elemento que contribuiu no desenvolvimento do trabalho docente. Consideramos assim, que os saberes da experiência contribuíram para o fortalecimento da formação e profissionalização do professor. Contudo, consideramos que tais experiências não são suficientes para o exercício docente, tendo em vista que a profissão docente requer saberes outros tais como, saberes pedagógicos, saberes curriculares, saberes do conhecimento, dentre outros. Estas considerações apontam para lacunas na formação deste profissional, para uma carência de formação pedagógica específica para o exercício da docência no ensino superior por parte dos cursos de pós-graduação strictu-sensu. É nessa ótica que, acreditamos na necessidade de investimento em uma formação pedagógica sólida e permanente, e não apenas em eventuais programas de integração, de forma que as práticas e experiências sejam articuladas às teorias educacionais, por meio de metodologias que considerem as necessidades formativas dos docentes, o trabalho coletivo e a valorização da carreira no magistério superior. 4. Referências ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; PIMENTA, Selma Garrido. Docência no ensino superior. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2010, 279 p. CUNHA, M. I. da. O bom professor e sua prática. 18. ed. Campinas: Papirus, 2002. DUBAR, Claude. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes, 1999. MASETTO, Marcos Tarciso. Competência Pedagógica do Professor Universitário. São Paulo: Summus, 2000. MOROSINI, Marília. Docência universitária e o futuro: desafios e possibilidades. In: FERNANDES, Cleoni Barboza; GRILLO, Marlene. Educação superior: travessias e atravessamentos. Canoas (RS): ULBRA, 2001. PIMENTA, Selma Garrido. A profissão do professor universitário: processo de construção da identidade docente. In:. CUNHA, Maria Isabel; SOARES, Sandra Regina; RIBEIRO, Marinalva Lopes. (Orgs.). Docência universitária: profissionalização e práticas educativas. Feira de Santana: UEFS, 2009, p. 33-55. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. 02600

6 i O presente estudo é parte integrante da pesquisa "Socialização profissional de professores e o desenvolvimento da identidade docente no Ensino Superior", coordenada pela Profa. Dra. Geovana Ferreira Melo, com financiamento do CNPq e FAPEMIG. 02601