Gestão de Empresas Seguradoras



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Transcrição:

Instituto Superior de Economia e Gestão Universidade Técnica de Lisboa Mestrado em Ciências Actuariais Gestão de Empresas Seguradoras Recursos Financeiros Carlos Manuel Pereira da Silva Professor Catedrático Ano lectivo 2005/2006

1.TRANSFORMAÇÃO NEGATIVA PRATICADA PELAS EMPRESAS DE SEGUROS 3 1.1. As determinantes do equílibrio financeiro das empresas 4 1.1.1 O Fundo Maneio (F.M.) 5 1.1.2 A Necessidade de Financiamento (N.F.) 5 1.1.3. A noção de Tesouraria 7 1.1.4. O quadro de financiamento 9 1.2. O quadro de financiamento nos seguros 10 DEFINIÇÃO 10 1.2.1.Interesse do quadro de financiamento 10 1.2.2. Particularidades do quadro de financiamento nas empresas de seguros 11 1.2.3. Existência de um excedente estrutural de tesouraria 11 1.2.4. Dificuldades de interpretação da noção da necessidade de fundo de maneio 11 1.2.5 Interesse da conciliação entre as aplicações e provisões técnicas 12 2 - A LIQUIDEZ DOS ACTIVOS DAS EMPRESAS DE SEGUROS 14 2.1. As principais classes do activo 14 2.2 A decomposição da conta de investimentos 17 2.3 A decomposição da conta Devedores 17 3 - A EXIGIBILIDADE DOS PASSIVOS DAS EMPRESAS DE SEGUROS 18 3.1. As principais classes do passivo 19 3.2.- A decomposição da conta de Provisões técnicas 21 3.3 - A decomposição da conta Credores 22 3.4 Significado de algumas contas 23

1.Transformação negativa praticada pelas empresas de seguros1 O fenómeno da transformação consiste em tolerar um desfazamento mais ou menos forte de maturidades entre as aplicações e os recursos financeiros de uma mesma empresa. A liquidez dos activos por um lado, e a exigibilidade dos passivos por outro lado, satisfazem a estrutura particular de cada tipo de empresa, e a sua homogeneidade não é sempre perfeita. O termo de transformação é normalmente utilizado nas empresa bancárias para explicar o processo de cobertura de responsabilidades exigíveis a curto prazo por activos de liquidez fraca (créditos). A transformação é positiva porque se passa de maturidades curtas no passivo para maturidades longas no activo. No caso dos seguros o mecanismo está invertido. As companhias Vida e Riscos Diversos recolhem uma poupança de longo prazo; a exigibilidade desta poupança medese pela taxa de rotação das provisões técnicas que é particularmente elevado no ramo vida (mais de 5 anos em média) e variável de acordo com os riscos diversos (em responsabilidade civil de 3 a 4 anos). As aplicações pelo contrário, satisfazem frequentemente critérios de liquidez certos, nomeadamente quando se trate de obrigações cotadas. É certo que existem outros activos, tais como empréstimos, os imóveis ou a tesouraria, e é conveniente mostrar em que medida o financiamento das empresas de seguros, graças à poupança de longo prazo, conduza uma transformação negativa, através da aplicação de fundos sob a forma de activos imediatamente realizáveis. A ausência de transformação conduz a um fundo maneio permanente nulo, uma vez que os investimentos de longo prazo são cobertos pelos capitais próprios ou pelas dívidas de longo prazo. Esta regra essencial da gestão financeira, historicamente concebida e imposta pelos banqueiros, corresponde à estrutura clássica do financiamento das empresas comerciais e industriais. É paradoxal constatar que os bancos não obedeçam a um tal rigor, uma vez que a transformação positiva conduz à constatação de um fundo circulante negativo. Em qualquer altura, o balanço de um banco de depósitos pode, a 1 Valin, G. La gestion des enterprises d assurances -Dunod 1983

este respeito, parecer desequilibrado, uma vez que os reembolsos dos seus passivos de curto prazo não podem ser assegurados pela realização dos seus activos de longo prazo. A aplicação de uma poupança de longo prazo em activos de curto prazo parece paradoxal. No plano macroeconómico este paradoxo é atenuado uma vez que os utilizadores dos empréstimos obrigacionistas são supostos utilizar os fundos assim recolhidos, sob forma de investimentos. Os capitais de empréstimos obrigacionistas registados no passivo, em dívida superior a um ano, são com efeito utilizados para cobrir os activos mobilizados sob forma de investimentos. Este raciocínio aplica-se igualmente à dívida do Estado. Em termos orçamentais, isso traduz-se pela cobertura das despesas de capital sob a forma de financiamento monetário 2. No plano microeconómico, constata-se que a poupança de longo prazo é investida em activos líquidos, uma vez que mesmo no caso das obrigações, a existência de um mercado secundário é uma garantia de liquidez. Para analisar melhor esta questão vamos debruçar-nos sobre o quadro de financiamento. 1.1. As determinantes do equílibrio financeiro das empresas 3 O equílibrio financeiro é a expressão da restrição de solvabilidade. Existem numerosas possibilidades de transformação de moeda em activos e de dívidas em moeda que podem alterar as previsões realizadas a partir dos pagamentos e recebimentos de exploração. A actividade corrente da empresa está na base do ciclo de exploração, caracterizado pela regularidade dos fluxos de compras e vendas. No entanto, paralelamente, existem outros fluxos monetários ligados quer ao ciclo de investimento quer às operações de financiamento. O equílibrio financeiro resulta do ajustamento da totalidade dos fluxos monetários no interior da empresa. Para conseguir tal ajustamento, a situação financeira da empresa 2 Empréstimos de longo prazo líquidos de reembolsos, etc. 3 Texto adaptado de P. Baranger, J. Helfer, H. de la Bruslerie, J. Orsoni, J.Peretti.(1985). Gestion, les fonctions de l entreprise. Vuibert. Paris

deve ser estruturada no seu conjunto, de maneira a gerar liquidez suficiente para assegurara a solvabilidade. Isto conduz a uma análise conjunta da estrutura dos elementos do activo e do passivo, uma vez que: - a liquidez do activo determina os fluxos de receitas futuras - a exigibilidade do passivo está na base dos fluxos de despesas futuras Distinguem-se, tradicionalmente, duas determinantes do equílibrio financeiro: - o Fundo de Maneio (F.M.) - a Necessidade de Financiamento (N.F.) 1.1.1 O Fundo Maneio (F.M.) O F. M. é definido como o excedente de capitais permanentes financeiros (isto é capitais próprios e dívidas financeiras) sobre o activo imobilizado. F.M.= Capitais permanentes - Activos imobilizados Ao assegurar um laço que une a totalidade dos elementos envolvidos no ciclo de investimento e dos elementos das operações de financiamento, O F. M. põe em evidência um saldo, não residual, mas dísponível para outras operações. O F. M. adquire assim um dinamismo pois aparece como a fracção dos capitais permanentes financeiros postos à disposição do financiamento do ciclo de exploração da empresa. 1.1.2 A Necessidade de Financiamento (N.F.)

Por vezes também se chama a esta N.F. a necessidade de fundo de maneio. O aparecimento de uma necessidade de financiamento autónoma, específica da actividade económica da empresa, está ligada ao desenvolvimento do seu ciclo de exploração. O funcionamento do ciclo de exploração implica a detenção de activos físicos (stocks etc.) e financeiros (créditos sobre a clientela). A detenção destes activos é uma necessidade, antes da empresa receber o resultado final destas operações sobre a forma de moeda. No caso dos seguros não existem stocks de produtos em armazém, pelo que o valor dos activos circulantes é quase todo ligado à actividade de seguros (prémios a cobrar) Ora, a renovação contínua das operações de exploração impõe à empresa a obtenção de financiamentos adaptados à detenção destes activos. É neste nível que é preciso tomar em consideração a ajuda prestada pelo crédito de fornecedores. A existência de uma N.F. está fundamentalmente ligada à existência de desfazamentos temporais entre os fluxos de receitas e os custos de exploração, por um lado, e os fluxos de pagamentos e de recebimentos por outro lado. Estes desfazamentos são estruturais pelo que a necessidade de financiamento de exploração é permanente. A origem destes desfazamentos deve-se a vários factores: - O processo de produção utilizado, ou seja o tempo que separa a saída das matérias primas e a entrada dos produtos finais. - O tempo de armazenamento ou seja o tempo que decorre entre o fim do ciclo de produção e a sua venda. - A duração do crédito concedido a clientes - A duração do crédito obtido de fornecedores A necessidade de financiamento é dada pela expressão N.F.= Stocks+créditos a clientes-dívidas a fornecedores

Os stocks incluem as matérias primas e os produtos finais utilizados no ciclo de exploração. Os clientes incluem as dívidas, as letras, as contas de regularização do activo e os adiantamentos de clientes(a deduzir). Os fornecedores incluem as dívidas a pagar, as contas de regularização do passivo e os adiantamentos a fornecedores (a deduzir). 1.1.3. A noção de Tesouraria A tesouraria deduz-se fundamentalmente do equílibrio financeiro uma vez que é a combinação das duas determinantes, F. M. e N. F.. Activo Imobilizado Capitais Permanentes Fundo de Maneio.>0 stocks+clientes+diversos Necessidade de Fundo de Maneio>0. Fornecedores+diversos A necessidade de financiamento (N.F.)opõe-se ao fundo de maneio (F.M.): isso explica porque se lhe chama frequentemente necessidade de fundo de maneio. O F. M. é com efeito um recurso que vem naturalmente imputar-se à N.F. global. É raro no entanto que exista equílibrio entre estas duas noções, uma vez que nem todas as rubricas contabilísticas são consideradas. Trata-se das rubricas seguintes: - no activo: disponível, valores mobiliários de aplicação (eventualmente stocks especulativos); define-se o total destes montantes como Liquidez. - no passivo: empréstimos bancário correntes, desconto (ou seja dívidas bancárias transitórias). A Tesouraria da empresa define-se portanto como Liquidez- dívidas bancárias transitórias. Como se tem sempre N.F.+ Liquidez = F.M. + Dívidas bancárias retira-se a noção de Tesouraria como um saldo Tesouraria = Fundo de Maneio - Necessidade de Financiamento relação esta que constitui a igualdade fundamental do equílibrio financeiro Pode ter-se também uma situação em que o activo imobilizado é superior aos capitais permanentes:

Activo Imobilizado Fundo Maneio<0 stocks+clientes+diversos Capitais Permanentes Necessidade fundo maneio<0 Fornecedores+diversos A necessidade de financiamento é neste caso negativa, uma vez que a empresa financia o seu investimento longo com créditos de fornecedores. 1.1.4. O quadro de financiamento A análise da situação financeira impõe o estudo da evolução do equílibrio financeiro ao longo do tempo, ou seja, como é que se realizou a igualdade fundamental do equilibrio financeiro entre dois exercícios F.M. t = Tesouraria t - N.F. t A análise detalhada do equílibrio financeiro é feita através do quadro de financiamento. O princípio deste quadro é simples. Basta pôr em evidência o conjunto de aplicações e recursos do exercício e afectá-los de forma a encontrar as aoplicações e os recursos que estão na génese da variação do fumdo de maneio. A construção do quadro de financiamento é conseguida através da comparação de duas situações de balanço sucessivas (balanço diferencial) (já com a afectação dos resultados às reservas e aos dividendos). Em seguida evidenciam-se as aplicações e os recursos permanentes com a ajuda do quadro seguinte: Aplicações Aumento do activo Diminuição do passivo Variação do fundo de maneio Recursos Diminuição do activo Aumento do passivo Variação do fundo de maneio Uma variação do fundo de maneio em recursos significa uma diminuição no fundo de maneio do exercício. Uma variação do fundo de maneio em empregos, significa um aumento do fundo de maneio do exercício

1.2. O quadro de financiamento nos seguros 4 Definição O quadro de financiamento descreve a forma como a empresa fez, num dado período, face às suas necessidades de investimento através dos recursos que obteve da sua actividade técnica e financeira. Trata-se de um quadro retrospectivo que analisa as evoluções passadas da tesouraria da empresa. No caso de uma sociedade de seguros permite, nomeadamente, avaliar os resultados da sua actividade de exploração e analisar as possibilidades de aplicação. 1.2.1.Interesse do quadro de financiamento A construção do quadro de financiamento tem interesse não só no que respeita ao equilibrio financeiro da empresa e à avaliação da tesouraria, mas também para a análise da estrutura do balanço. Mostra como os recursos disponíveis permitiram satisfazer, no decurso de um período, o conjunto das necessidades financeiras. Indica os meios que permitiram ajustar os movimentos de fundos e, de forma mais geral, a maneira como se transformaram os equilíbrios financeiros. Avalia a variação da tesouraria proveniente das operações de exploração das operações de investimento das operações de financiamento Representa de certa maneira, a actividade da empresa. A tesouraria é, com efeito, a resultante de numerosos fluxos e está sujeita ao impacte das modificações de uma ou de outra das componentes da actividade. Apresenta uma análise da evolução da estrutura do balanço devido aos efeitos dos fluxos financeiros e de exploração. 4 Texto baseado em Gestion et Analyse Financière. L Argus Editions. Paris. 1994. Autores vários

1.2.2. Particularidades do quadro de financiamento nas empresas de seguros A elaboração do quadro de financiamento nos seguros permite relevar os pontos seguintes: existência de um excedente estrutural de tesouraria dificuldades de interpretação da noção de necessidade de fundo de maneio. interesse de uma aproximação entre a evolução das aplicações e a variação das provisões técnicas, identificando uma variação líquida aplicações e provisões técnicas. 1.2.3. Existência de um excedente estrutural de tesouraria Uma das características principais do sector de seguros é a inversão do ciclo de produção5: com efeito, a empresa recebe o prémio antes de pagar o sinistro. Deste processo resulta um excedente estrutural de tesouraria. 1.2.4. Dificuldades de interpretação da noção da necessidade de fundo de maneio A noção de necessidade de um fundo de maneio aplica-se com dificuldade às companhias de seguros: os ciclos de produção são, com efeito muito desfazados no tempo e relativamente complexos. O recurso às operações de resseguro modifica sensívelmente os fluxos de exploração. Em termos de gestão, nas sociedades de seguros, a necessidade em fundo de maneio corresponde ao conjunto de activos não aplicados. É portanto o saldo (activo-passivo) das contas de terceiros (nomeadamente prémios emitidos mas não cobrados) e das imobilizações corpóreas e incorpóreas não financeiras (excluídos os imóveis de exploração). 5 No sentido em que a utilidade da prestação ( a indemnização), é sempre posterior ao pagamento do prémio, que normalmente é feito no início do período.

1.2.5 Interesse da conciliação entre as aplicações e provisões técnicas As provisões técnicas podem ser analisadas: ou como encargos calculados e são tratadas como as outras provisões para o cálculo da capacidade de autofinanciamento ou assimiladas a dívidas de exploração a médio e longo prazo e são consideradas como elementos do fundo de maneio. Os investimentos podem, por sua vez, serem tratados da seguinte forma: Numa óptica global As operações de investimento reagrupam o conjunto de movimentos relativos às imobilizações incorpóreas, às imobilizações de exploração e às aplicações mobiliárias e financeiras (incluindo os activos afectos). Numa óptica diferenciada As aplicações imobiliárias e financeiras directamente ligadas à actividade de seguros são separadas das outras operações de investimento. Quando aproximadas ao montante das provisões técnicas (assimilidas neste caso a dívidas de exploração) permitem destacar uma variação líquida aplicações e provisões técnicas. Esta forma de apresentação permite mostrar, em que medidas as provisões técnicas estão na base do financiamento das imobilizações de exploração e das tomadas de posição estratégica que são realizadas no prolongamento da actividade.

1.2.5.1. Quadro de Provisões Técnicas e Investimento Temos assim o seguinte quadro resumo: 1. Quadro de Provisões Técnicas e Investimentos Provisões técnicas Investimentos Optica global As provisões técncicas são cargas calculadas. Não existe uma rubrica individualizada no quadro de financiamento. Elas são integradas (aditivamente) no quadro de financiamento as operações de investimento reagrupam o conjunto de movimentos relativos às imobilizações incorpóreas ou de exploração e as aplicações financeiras e imóveis incluindo as directamente ligadas à actividade de seguros Optica diferenciada Variação líquida aplicações e provisões técnicas As provisões técnicas são consideradas como dívidas de exploração: elas constituem um dos elementos da variação do fundo de maneio As aplicações imobiliárias e financeiras directamente ligadas às operações de seguros são tratadas de forma diferenciada. Uma aproximação é feita ao montante das provisões técnicas (dívidas de exploração) para evidenciar uma variação líquida aplicações e provisões técnicas

2 - A liquidez dos activos das Empresas de Seguros 2.1. As principais classes do activo Os activos dos seguradores são classificados de acordo com a maior ou menor imobilização no seio da empresa. Engloba contas da classe 2 (Investimentos e Imobilizações), contas da classe 3 (Provisões Técnicas), contas da classe 4 (Terceiros) e contas da classe 5 (Disponibilidades) A - Investimentos e Imobilizações incorpóreas Nesta classe estão incluídos os bens e valores destinados a permanecer na empresa de forma duradoura incluindo as imobilizações em regime de locação financeira, bem como todos os investimentos independentemente da intenção de aquisição e dos respectivos prazos de realização ou alienação. Temos as seguintes contas: - Investimentos afectos às Provisões Técnicas do Ramo Vida (20) - Investimentos relativos a seguros de vida em que o risco de investimento é suportado pelo tomador do seguro (21). - Investimentos afectos às Provisões Técnicas Não Vida (22) - Investimentos não Afectos (23) - Depósitos junto de empresas cedentes (24) - Imobilizações incorpóreas (25) - Imobilizações em curso (27) - Amortizações acumuladas (29) B- Provisões Técnicas de Resseguro Cedido O activo apresenta ainda em contrapartida de provisões técnicas das operações de seguro directo (classe 3) as responsabilidades a cargo do ressegurador - Provisões Técnicas do Resseguro Cedido: - Provisões Técnicas de resseguro cedido Vida (conta 34)

- Provisões Técnicas de resseguro cedido Não Vida (conta 35) C - Terceiros - Devedores As contas desta classe registam as operações relativas às operações com terceiros, não incluindo as provisões técnicas previstas na classe 3, e, por extensão, as contas de regularização dos custos e dos proveitos. Embora as contas de terceiros sejam consideradas, na generalidade, nesta classe, existem também contas onde se registam operações com terceiros, para além da classe 3, na classe 2, nomeadamente a conta 27 (Imobilizações em curso). Têm-se as seguintes contas: - Por operações de seguro directo Tomadores de seguro (conta 40) Mediadores de seguro (conta 41) Co-Seguradoras (conta 42) -Por operações de resseguro Resseguradores (conta 43) Ressegurados (conta 44) De pósitos recebidos de resseguradores - Por outras operações Estado e entes públicos (conta 46) Outros devedores e credores (conta 47) D -Outros elementos do activo e disponibilidades Nesta classe incluem-se as seguintes classes: - Caixa (conta 50) - Depósitos à ordem (conta 51) - Imobilizações corpóreas e existências (26) - Outro elementos do Activo (28) - Acréscimos e diferimentos (conta 48)

O Activo do balanço apresenta-se com a seguinte composição - Imobilizações incorpóreas - Investimentos Terrenos e edificios Investimentos em empresas do grupo e associadas Outros investimentos financeiros Depósitos junto de empresas cedentes -Investimentos relativos a seguros de vida em que o risco de investimento é suportado pelo tomador do seguro. - Provisões Técnicas de resseguro cedido Provisão para prémios não adquiridos Provisão matemática do ramo vida Provisão para sinistros Provisão para participação nos resultados Provisões técnicas relativas a seguros de vida em que o risco de investimento é suportado pelo tomador do seguro. Outras provisões técnicas - Devedores por operações de seguro directo por operações de resseguro por outras operações subscritores de capital - Outros elementos do activo imobilizações corpóreas e existências depósitos bancários e caixa outros - Acréscimos e diferimentos juros e rendas adquiridos outros acréscimos e diferimentos

2.2 A decomposição da conta de investimentos Esta conta reparte-se nas seguintes categorias - Terrenos e edifícios de serviço próprio de rendimento imobilizações em curso e adiantamentos por conta - Investimentos em empresas do grupo e associadas partes de capital em empresas do grupo obrigações e outros empréstimos em empresas do grupo partes de capital em empresas associadas obrigações e outros empréstimos a empresas associadas - Outros investimentos financeiros acções, outro títulos de rendimento variavel e unidades de participação fundos de investimento. obrigações e outros títulos de rendimento fixo empréstimos hipotecários outros empréstimos depósitos em instituições de crédito outros - Depósitos junto de empresas cedentes em 2.3 A decomposição da conta Devedores - Por operações de seguro directo empresas do grupo empresas participadas e participantes outros devedores - Por operações de resseguro empresas do grupo empresas participadas e participantes

outros devedores - Por outras operações empresas do grupo empresas participadas e participantes outros devedores - Subscritores de capital 3 - A exigibilidade dos passivos das Empresas de Seguros A repartição das Provisões Técnicas em dívidas de curto prazo e dívidas de longo prazo coloca problemas diferentes às sociedades Não Vida e às sociedades Vida. Nos ramos Não Vida constituem-se três tipos principais de provisões: As Provisões para Prémios não Adquiridos, representando a parte dos prémios pagos antecipadamente pelos seguradores em 31 de Dezembro. Pode-se, por razões de simplificação, reter a hipótese de um vencimento médio dos prémios em 30 de Junho do ano seguinte. O montante desta provisão pode assim ser assimilada ao saldo de uma conta de regularização do passivo que regista as receitas recebidas em 6 meses de antecipação. As Provisões para Sinistros e para desvios de sinistralidade devem ser consideradas uma dívida de curto prazo para a parte dos sinistros a liquidar no decurso do ano seguinte à data do inventário. É importante sublinhar a componente de sinistros IBNR6 ou sinistros tardios não conhecidos à data de encerramento das contas e que só serão conhecidos no exercício ou exercícios seguintes. As Provisões para Riscos em Curso que correspondem a excessos de sinistralidade relativamente às Provisões para Prémios não Adquiridos, a excessos de despesas gerais e a excessos de cedência de prémios. A estrutura das Provisões Técnicas apresenta-se de maneira diferente no ramo Vida. As Provisões Matemáticas têm um peso considerável. Estas resultam da colocação em 6 Incurred but not reported

reserva de uma parte do prémio total: o prémio de poupança e o prémio de risco. Com efeito, o prémio total é em princípio constante (sob reserva de indexação) enquanto o risco evolui de forma crescente em caso de seguro de morte, e de forma decrescente em caso de seguro de vida. O equilíbrio financeiro da sociedade exige que seja posta em reserva a diferença entre o prémio total e o custo actual do risco. A parte de curto prazo das provisões matemáticas representa o montante dos pagamentos de provisões efectuado ao custo do ano que segue a data do balanço. Estes pagamento resultam de causas diversas: vencimentos, resgates, sinistros, extinções, reduções, resoluções, etc. 3.1. As principais classes do passivo Os passivos das seguradoras são classificados de acordo com a maior ou menor imobilização no seio da empresa. Engloba contas da classe 1 (Capitais próprios e equiparados), contas da classe 3 (Provisões Técnicas) e contas da classe 4 (Terceiros). A - Capitais Próprios e Equiparados Nesta classe estão incluídos os recursos postos à disposição pelos accionistas, os prémios de emissão as reservas, os passivos subordinados, os Fundos para dotações futuras e os resultados transitados. Temos as seguintes contas: - Capital (10) - Prémios de emissão (11) - Reservas(12) - Passivos subordinados (14) - Fundos para dotações futuras (16) - Resultados transitados (19) B)- Provisões Técnicas Incluem-se nesta classe os recursos correspondentes às responsabilidades técnicas assumidas pelas seguradoras em resultado das suas operações de seguros: - Provisões Técnicas de seguro directo vida (30)

- - Provisões Técnicas de seguro directo vida (31) - Provisões Técnicas de resseguro aceite vida (32) - Provisões Técnicas de resseguro aceite não vida (33) - - Provisões Técnicas de resseguro cedido vida (34) - Provisões Técnicas de resseguro cedido não vida (33) C - Terceiros - Credores As contas desta classe registam as operações relativas às operações com terceiros, não incluindo as provisões técnicas previstas na classe 3, e, por extensão, as contas de regularização dos custos e dos proveitos. Têm-se as seguintes contas: - Por operações de seguro directo Tomadores de seguro (conta 40) Mediadores de seguro (conta 41) Co-Seguradoras (conta 42) -Por operações de resseguro Resseguradores (conta 43) Ressegurados (conta 44) Depósitos recebidos de resseguradores (conta 45) - Por outras operações Estado e entes públicos (conta 46) Outros devedores e credores (conta 47) Acréscimos e diferimentos (conta 48) Provisões (conta 49) O passivo apresenta-se com a seguinte composição Capital Próprio Capital Prémios de emissão

Reservas de Reavaliação Reservas Resultados transitados Resultados do exercício - Passivos subordinados - Fundo para dotações futuras - Provisões Técnicas Provisão para Prémios não adquiridos Provisão matemática do ramo vida Provisão para sinistros Provisão para participação nos resultados Provisão para desvios de sinistralidade Outras provisões técnicas - Provisões Técnicas relativas a seguros de vida em que o risco de investimento é suportado pelo tomador do seguro. - Provisões para outros riscos e encargos - Depósitos recebidos de resseguradores - Credores por operações de seguro directo por operações de resseguro empréstimos bancários estado e outros entes públicos credores diversos - Acréscimos e diferimentos proveitos diferidos e acréscimos de custos 3.2.- A decomposição da conta de Provisões técnicas Esta conta reparte-se nas seguintes categorias - Provisão para prémios não adquiridos de seguro directo não vida de resseguro aceite não vida - Provisão matemática do ramo vida

de seguro directo vida de resseguro aceite vida - Provisão para sinistros de vida de acidentes de trabalho de outros ramos - Provisão para participação nos resultados seguro directo vida seguro directo não vida resseguro aceite vida resseguro aceite não vida - provisão para desvios de sinistralidade seguro directo não vida resseguro aceite não vida - outras provisões técnicas riscos em curso envelhecimento - provisões técnicas relativas a seguros de vida em que o risco de investimento é suportado pelo tomador do seguro 3.3 - A decomposição da conta Credores - Por operações de seguro directo empresas do grupo empresas participadas e participantes outros credores - Por operações de resseguro empresas do grupo empresas participadas e participantes outros credores - Empréstimos bancários empresas do grupo

empresas participadas e participantes outros credores - Estado e outros entes públicos - Credores diversos empresas do grupo empresas participadas e participantes outros credores 3.4 Significado de algumas contas Reservas de Reavaliação São reservas constituidas em resultado de reavaliações efectuadas nos termos da lei ou dos regulamentos em vigor. São as seguintes: reavaliação regulamentar reavaliação legal Passivos subordinados Incluem-se aqui dívidas que só podem ser exercidas após a satisfação de compromissos a outros credores.