Cadernos do CNLF, Vol. XIII, Nº 04

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ESTRATÉGIAS DE CAPTAÇÃO E DE SEDUÇÃO NO DISCURSO PUBLICITÁRIO Rosane Santos Mauro Monnerat (UFF/CIAD-Rio) rosanemonnerat@globo.com CONSIDERAÇÕES INICIAIS Uma boa estratégia para iniciar uma apresentação é partir do resumo enviado para divulgação, na página do evento, pois essa estratégia possibilita ao público leitor/ouvinte ter uma idéia global do que será discutido. Partindo, então, do resumo já conhecido, destaco que, neste trabalho, pretendo analisar estratégias do contrato comunicativo do texto publicitário responsáveis pela ativação de mecanismos de sedução e persuasão que criam uma predisposição para a aquisição do produto oferecido. Considerando que a atualização e a construção dos papéis discursivos nas trocas interativas se dão por meio de estratégias, que visam à credibilidade, e focalizando o texto de publicidade como instância discursiva que se materializa na interseção do verbal com o visual, o estudo, com base na Análise Semiolinguística do Discurso, coloca em evidência atitudes discursivas a serviço do mecanismo de captação, a saber: atitude polêmica, atitude de sedução e atitude de dramatização, como marcas enunciativas do sujeito comunicante, com vistas a assegurar a legitimidade e a credibilidade da palavra publicitária, tudo isso na busca da formação de uma atitude responsiva - por parte do provável consumidor - que leve à adoção de novos hábitos, o que poderá implicar a compra do produto oferecido. Começarei minha exposição tratando do contrato de comunicação e do conceito discursivo de estratégia. CONTRATO DE COMUNICAÇÃO E ESTRATÉGIAS Originário do domínio jurídico, o conceito de contrato de comunicação ocupa posição central na Teoria Semiolinguística de Análise do Discurso. Segundo Charaudeau; Maingueneau (2004, p. 132), o contrato de comunicação define-se como o conjunto das condições nas quais se realiza qualquer ato de comunicação (qualquer que Anais do XIII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009, p. 567

seja a sua forma, oral, escrita, monolocutiva ou interlocutiva). Essas condições permitem prever o reconhecimento mútuo dos parceiros, das finalidades, das circunstâncias e dos propósitos envolvidos em um ato de linguagem. Nesse contrato de comunicação que se instaura entre os sujeitos em interação, há sempre, portanto, uma intencionalidade condicionada não só a um espaço de restrições, dado, por exemplo, pelos rituais linguageiros que regulam as práticas sociais num dado espaço e tempo, como também e, ao mesmo tempo, a um espaço de estratégias, configurado pelas escolhas de que os sujeitos dispõem para dar conta de seu projeto de fala. Em outras palavras, pode-se dizer que o ato de linguagem se desdobra em dois níveis: um interno e outro externo ao enunciado, ambos essenciais e interdependentes em seu processo de significação. A relação contratual entre os parceiros do ato de linguagem não depende apenas do estatuto social dos envolvidos, configura-se também a partir dos elementos do contexto situacional e do jogo de interesses ali construído. Pode-se afirmar, inclusive, que a situação de comunicação é a instância responsável por atualizar os traços identitários pertinentes a um determinado contrato de comunicação. Já o conceito de estratégia, termo derivado da linguagem militar, oriundo da arte de conduzir as operações de um exército sobre um campo de ação, corresponde às possíveis escolhas que os sujeitos podem fazer na mis-en scène comunicativa para alcançar seus objetivos: adaptar os enunciados à situação em que se encontram e conseguir a identificação entre o interpretante e o destinatário. Em relação a essa competência do falante, Adam (1997, p. 97) afirma: A capacidade de produzir uma infinidade de enunciados gramaticalmente corretos não é tão surpreendente quanto a capacidade de adaptar de maneira coerente uma infinidade de enunciados a um número infinito de situações discursivas 108. As estratégias discursivas, portanto, definem-se em relação ao contrato de comunicação. Para o sujeito, trata-se inicialmente de avaliar a margem de manobra de que dispõe no interior do contrato, para jogar com as restrições situacionais e as instruções de organiza- 108 No original: La capacite de produire une infinité d énoncés grammaticalement corrects n est pas aussi surprenante que La capacite d adapter de maniére cohérente une infinité d énoncés à um nombre infini de situations discursives. Anais do XIII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009, p. 568

ção discursiva e formal. Estas estratégias são muitas e dependem dos princípios de influência e de regulação, podendo ser agrupadas em três espaços, cada um correspondendo a um tipo de condição para a mise-en-scène discursiva. São as estratégias de legitimação, de credibilidade e de captação, que não se excluem umas às outras, mas que se distinguem por sua finalidade. O PRINCÍPIO DA INFLUÊNCIA E O PRINCÍPIO DA REGULAÇÃO: A LEGITIMIDADE, A CREDIBILIDADE E A CAPTAÇÃO Todo locutor pretende influenciar, de algum modo, seu interlocutor, para levá-lo à ação, para orientar seus pensamentos, ou, ainda, para emocioná-lo e, nesse processo, entrarão em ação estratégias de persuasão e de sedução, como ocorre, por exemplo, no discurso publicitário. Assim, o sujeito se pergunta: Como devo falar, para influenciar o outro? Paralelamente, de acordo com o princípio da regulação, o locutor precisa controlar o ato interativo e, então, se pergunta: Como devo fazer para manter a troca comunicativa? As estratégias relacionadas a esses princípios vão atuar sobre três campos: o da legitimidade, o da credibilidade e o da captação. A legitimidade determina a posição de autoridade que permite ao sujeito tomar a palavra. Pode ser resultado de um processo que passa pela autoridade institucional, ou pela autoridade pessoal. A legitimidade, portanto, é externa ao sujeito falante, resultando da adequação entre a posição social do falante, a situação e o ato de fala. A credibilidade resulta de um julgamento feito por alguém sobre o que vê ou ouve e, por conseqüência, sobre a pessoa que fala. Consiste, para o sujeito falante em determinar uma posição de verdade de maneira que ele possa ser levado a sério (Charaudeau; Maingueneau, 2004, p. 143) A captação consiste em seduzir ou persuadir o interlocutor, provocando nele certo estado emocional. Com esse objetivo, o sujeito pode escolher três tipos de atitudes discursivas: a atitude polêmica, a atitude de sedução e a atitude de dramatização. Anais do XIII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009, p. 569

A ATITUDE POLÊMICA, A ATITUDE DE SEDUÇÃO E A ATITUDE DE DRAMATIZAÇÃO As estratégias de captação surgem quando o sujeito falante não está para seu interlocutor numa posição de autoridade, porque se assim o fosse, bastaria dar uma ordem para que o outro a cumprisse. A captação, portanto, advém da necessidade, para o sujeito, de assegurar-se de que seu parceiro na troca comunicativa percebe seu projeto de intencionalidade, isto é, compartilha de suas idéias, suas opiniões e/ou está impressionado (tocado em sua afetividade). Deve então responder à questão: como fazer para que o outro possa ser tomado pelo que digo?. De acordo com Charaudeau (2006, p. 347), o sujeito pode escolher entre diferentes atitudes discursivas, dentre as quais destacam-se: - uma atitude polêmica, tentando antecipar, para eliminá-las, as possíveis objeções que outro(s) poderia(m) apresentar, o que levará o sujeito falante a questionar certos valores defendidos pelo interlocutor ou por um terceiro. Trata-se de destruir um adversário questionando suas idéias, e, até mesmo, sua pessoa. - uma atitude de sedução, propondo ao interlocutor um imaginário no qual desempenharia o papel de herói beneficiário. Esta atitude manifestase quase sempre através de um relato no qual as personagens podem funcionar como suporte de identificação ou de rejeição para o interlocutor. - uma atitude de dramatização, que leva o sujeito a descrever fatos que concernem os dramas da vida, em relatos cheios de analogias, comparações, metáforas, etc. A maneira de contar apóia-se largamente em valores afetivos socialmente compartilhados,pois trata-se de fazer sentir certas emoções. UMA PROPOSTA DE ANÁLISE Proponho a análise de uma mensagem publicitária para a a- plicação desse recorte teórico de que estamos tratando. Trata-se de uma peça dos Classificados Globo, publicada no Jornal O Globo, de 19 de julho de 2009, no 1º Caderno, p. 16. Anais do XIII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009, p. 570

A imagem oferecida é a de um corte de uma sala-de-estar, com um sofá ladeado por duas mesinhas. O foco inicial, porém, vai incidir sobre o sofá centralizado - exatamente pelo estranhamento causado por quem é o ocupante desse sofá: um cachorro. Interessante observar o tamanho do cachorro: ele é desproporcional ao tamanho do sofá, ou seja, ele é tão grande que ocupa todo o espaço. Esse detalhe do tamanho se institui como argumento de capital importância, no processo de convencimento do leitor do anúncio, com o objetivo de levá-lo à decisão de compra do produto oferecido. Na parte superior, em caixa alta, vem a frase: Uma palavra no seu anúncio pode fazer toda a diferença pra quem tá procurando. Abaixo da figura, outra frase: Promoção Palavra que vende. Cada palavra custa só R$3,00. Mínimo 15 palavras. Do ponto de vista gráfico, convém destacar que o tamanho das letras varia, nesse fragmento de texto, com ênfase para o número 3, do preço, em tamanho maior e na cor vermelha, simbolicamente, a cor mais emocional, conotando força e vigor (Campos, 2008, p. 108). A cor, nesse caso, é tratada, conforme observa Guimarães (2000), como processo comunicativo, podendo contribuir para aumentar a credibilidade da informação. Anais do XIII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009, p. 571

Mais abaixo a explicação da oferta (o que para nós não tem grande interesse) e, no canto direito os logotipos das marcas O Globo, Extra e ZAP com o enunciado injuntivo (Charaudeau, 2008, p. 87): Anuncie: classificados oglobo.com.br e o telefone 2534-4333. A parte da mensagem verbal que aqui nos interessa, sobretudo, é o recorte de anúncio de classificados, posicionado à esquerda da página, com os dizeres: Área nobre, reformado, impecável, localização privilegiada, 120 m 2, 2 qtos, dependências, garagem, indevassado, cozinha planejada, quintal. Tel: 5551-1287 Observa-se que apenas as duas primeiras referências estão em negrito ( área nobre, reformado ). Os demais elementos que se seguem, para caracterizar o imóvel, vão, simultaneamente, qualificando-o, pois a descrição pelo texto se materializa por meio de atributos positivos em relação ao nomeado. Há, porém, um elemento destacado, em meio aos outros, num processo de singularização, que poderíamos chamar de cromático, já que a referência está circulada por um traço vermelho (atente-se novamente para a força visual do vermelho), o que lhe garante realce em relação aos outros elementos da descrição. Esse elemento é o quintal. E aí se justifica o interesse por esse recorte. Quintal é a palavra, aquela que faz toda a diferença, ou seja, a palavra que certamente vai despertar o interesse do leitor (podendo desencadear o processo de compra do objeto anunciado) que se identificar com a situação descrita pela imagem pessoas que têm cachorros de grande porte e precisam de espaço para eles. Daí a singularização de quintal. O texto verbal, singularizado pela palavra quintal se articula ao texto visual, iconicamente representado pela imagem do cachorro. E, agora, voltamos à essa imagem, que é, então, mobilizada como uma espécie de argumento a serviço da expressão do texto escrito, o que equivale, portanto, a dizer que o texto verbal e o nãoverbal se encontram em relação de complementaridade (Joly, 2008, p. 11). Anais do XIII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009, p. 572

O contrato comunicativo, ancorado nos princípios de influência e de regulação, vai atuar, sobretudo, no nível das estratégias de captação (não se descartam as de credibilidade e legitimidade, já que o jornal O Globo tem legitimidade e credibilidade, como jornal, para patrocinar esses anúncios), por meio das atitudes de sedução, pois se oferece ao interlocutor, pela identificação com o problema que ele tem e tenta resolver, uma solução, transformando-se, portanto, esse interlocutor em herói beneficiário das vantagens a que fará jus, caso aceite a proposta que lhe apresenta o sujeito publicista. PALAVRAS FINAIS A apreensão da significância desta mensagem se faz a partir de um encadeamento entre um enunciado explícito e um espaço deixado no implícito, que cabe ao destinatário reconstituir por meio de suas experiências pessoais e culturais. Explicando melhor, a ligação do texto escrito à imagem (centrada no cachorro) deixa implícitos que é preciso recuperar com base no conhecimento de mundo dos interlocutores. Dessa forma, neste contrato de comunicação, palavra e imagem se colocam a serviço das estratégias de captação e sedução, para provocar, no interlocutor, um sentimento de identificação que o direcione para a aquisição do produto oferecido. REFERÊNCIAS ADAM, J. M.; BONHOMME, M. L argumentation publicitair: rhétorique de l éloge de la persuasion. Paris: Nathan, 1997. CAMPOS, Dinah Martins de Souza. O teste do desenho como instrumento diagnóstico da personalidade. 40ª ed. Petrópolis: Vozes, 2008. CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso modos de organização. São Paulo: Contexto, 2008.. Identité sociale et identité discursive, le fondement de la compètence communicationelle. In: Gragoatá, Niterói, n o. 21, p. 339-354, 2º sem. 2006. Anais do XIII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009, p. 573

CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2004. GUIMARÃES, Eduardo. A cor como informação: a construção biofísica, lingüística e cultural da simbologia das cores. 3 a ed. São Paulo: Annablume, 2000. JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. 12ª ed. Campinas: Papirus, 2008. Anais do XIII CNLF. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2009, p. 574