GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM ESTABELECIMENTOS UNIVERSITÁRIOS NO BRASIL O CASO DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

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Transcrição:

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS EM ESTABELECIMENTOS UNIVERSITÁRIOS NO BRASIL O CASO DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC Ariane Kuhnen (1) Psicóloga pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, em 1986. Mestre em Sociologia Política pela UFSC, em 1994. Doutoranda no Programa de Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas - Sociedade e Meio Ambiente - UFSC, a partir de 1995. Professora Assistente I do FOTO Departamento de Psicologia - UFSC. Armando Borges de Castilhos Jr. Engenheiro Sanitarista pela UFSC, em 1983. Doutor em Gestão e Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos e Industriais pelo Institut National des Sciences Appliquées de Lyon-INSA (França), em 1988. Professor Adjunto III do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC. Pesquisador nível II-A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. Sebastião Roberto Soares Engenheiro Sanitarista pela UFSC, em 1986. Doutor em Gestão e Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos e Industriais pelo Institut National des Sciences Appliquées de Lyon-INSA (França), em 1994. Professor visitante do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Endereço (1) : Departamento de Psicologia/UFSC Campus Universitário - Bairro Trindade - Florianópolis - SC - CEP: 88010-970 - Brasil - Tel (048) 231-9283 - Fax: (048) 231-9751 - e-mail ariane@cfh.ufsc.br. RESUMO Problemas como acondicionamento inadequado, coleta irregular, acúmulo dos materiais e destino final não apropriado de resíduos sólidos são comuns no Campus da UFSC. O objetivo deste trabalho é diagnosticar a problemática, entender a percepção da comunidade universitária em relação a estas questões e, finalmente, buscar soluções para tais problemas. A metodologia consistiu no levantamento quantitativo dos resíduos Campus e do Hospital Universitário e no levantamento das representações sociais do lixo. Os resultados quantitativos e qualitativos apontam principalmente para a recomendação de triagem dos resíduos e de campanhas de educação ambiental. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos, Gestão, Diagnóstico, Educação Ambiental. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1778

INTRODUÇÃO E OBJETIVOS A Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC foi criada em 18/12/60 pela Lei N o. 3.849. A UFSC, nos seus mais de 33 anos de existência, cresceu muito e sua comunidade universitária aumenta a cada ano, porém, como a maioria das cidades brasileiras, a questão dos resíduos se apresenta igualmente problemática no Campus universitário. Estes materiais, gerados em grandes quantidades e de composição variada, necessitam ser gerenciados corretamente para não produzirem efeitos indesejáveis, tanto esteticamente, quanto do ponto de vista da saúde pública e da qualidade ambiental. Problemas como acondicionamento inadequado, coleta irregular, acúmulo dos materiais e destino final não apropriado de resíduos sólidos são comuns no Campus. Por outro lado, a recuperação e valorização destes resíduos constituem-se, hoje, em alternativas tecnológicas que devem ser buscadas afim de se evitar a poluição do meio ambiente e, igualmente, o desperdício de matéria prima e de energia. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é diagnosticar a problemática, entender a percepção da comunidade universitária em relação a estas questões e, finalm ente, buscar soluções para tais problemas. Estas são as contribuições que se pretende apresentar no decorrer deste trabalho. METODOLOGIA DE ESTUDO A metodologia consistiu na definição de atividades que são descritas a seguir : Levantamento Quantitativo dos Resíduos no Campus da UFSC/HU A metodologia utilizada para o desenvolvimento do presente trabalho consistiu, inicialmente, no levantamento populacional e no estudo da área física do Campus da UFSC. Posteriormente, foram efetuadas análises quanto a organização dos serviços de limpeza interna (prédios) e externa (áreas publicas) do Campus, com o mapeamento dos pontos de coleta, armazenamento e trajetos dos resíduos sólidos, assim como, o levantamento e identificação das áreas de geração de resíduos sólidos potencialmente recicláveis. Após esta primeira etapa da metodologia de levantamento de dados básicos, iniciou-se os levantamentos quantitativos dos resíduos recicláveis produzidos no Campus da UFSC. O objetivo principal foi localizar aproximadamente no espaço do Campus a quantidade e a qualidade dos resíduos sólidos produzidos na UFSC. Inicialmente, foi analisada a quantidade de materiais potencialmente recicláveis que a Universidade Federal de Santa Catarina adquire e consome mensalmente. Por outro lado, as lixeiras que servem no Campus como um local de armazenamento temporário para os resíduos sólidos foram objeto de uma campanha de amostragem durante 3 semanas. Todo o material que estava dentro destas foi pesado diariamente. Acompanhou-se, igualmente a produção de resíduos orgânicos, papel-papelão e plásticos gerados na UFSC no mesmo período. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1779

Levantamento Quantitativo dos Resíduos de Serviços de Saúde Após várias visitas as instalações do hospital universitário da UFSC para conhecimento dos setores que o compõem, bem como visita as salas de expurgos, local de armazenamentos internos e externos, ciclo de coleta e circuito de coleta, estabeleceu-se um circuito de medições, onde foram separados os diversos setores por andar. As medições constaram da pesagem dos materiais e determinação do volume. Para a separação dos resíduos, utilizou-se a especificação da NBR 12809, onde determina que o resíduo contaminado seja depositado em sacos lixo brancos (leitosos) - ABNT- NBR - 9191 com a indicação da cruz vermelha. Para os resíduos comuns foram utilizado sacos de lixo preto. Os materiais perfuro-cortantes foram acondicionados em recipientes rígidos como previsto na NBR12809. Foram, ainda, levantados os seguintes dados : número de leitos do estabelecimento, número de leitos por especialidade, número de servidores técnicos, média da taxa de ocupação dos leitos, média de atendimentos de pacientes externos, média de refeições servidas pela cozinha diariamente, organização funcional da limpeza (horário da coleta, forma de coleta, disposição dos resíduos, circuito dos resíduos), etc.. Levantamento das Representações Socais de Lixo na UFSC A pesquisa foi desenvolvida com a colaboração de alunos da disciplina Psicologia Comunitária durante o segundo semestre de 1996. Foram aplicados no total 370 questionários, sendo 80 com professores, 200 com alunos, 60 com servidores e 30 com os comerciantes locais. O questionário foi organizado com perguntas fechadas e abertas, afim de que pudesse expressar mais fielmente o pensamento do entrevistado. Os entrevistadores seguiram critérios de representatividade quanto ao local das entrevistas, idade, sexo e escolaridade dos entrevistados. A pesquisa buscou o entendimento desta amostra sobre o lixo que produzem e sobre a disposição em participar da coleta seletiva triando seus resíduos. As bases teórico-metodológicas da pesquisa enquadram-se na perspectiva de repensar os processos educativos que sustentam a ética predominante na sociedade em que vivemos - a depredação. Entende-se que, antes de tudo, esta é uma questão pertinente à educação pois, indica a necessidade de democratização de saberes que responderiam por um certo nível cultural da população que a possibilitasse compreender e utilizar, por exemplo, os recursos de pesquisas técnico-científicas a fim de ampliar a compreensão da relação homem-natureza, assim como possibilitar o incremento de melhorias em aspectos de suas vidas cotidianas. Nesse sentido cabe perguntar se a UNIVERSIDADE, como locus privilegiado de produção de saber e de conhecimento, poderia auxiliar na reelaboração de representações sociais valorativas de meio ambiente, almejando uma sociedade mais democrática, onde se possa garantir os direitos das futuras gerações? Ou ainda, que comportamentos ou ações devem ser desenvolvidos, no interior desta, a fim de buscar a compreensão das questões ambientais além de suas dimensões biológicas, químicas e físicas, ou seja enquanto questão sócio-política? 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1780

RESULTADOS O Campus da UFSC, incluindo o Hospital Universitário, é freqüentado diariamente por 22.857 pessoas, membros da comunidade universitária e externa. Este elevado numero de pessoas que transitam diariamente pelo Campus produzem volumes consideráveis de resíduos, objeto dos resultados a seguir apresentados.? Os resíduos sólidos convencionais no Campus da UFSC e Hospital Universitário A quantidade total de resíduos gerados no Campus da UFSC/HU é de aproximadamente 3.400 Kg/dia (equivalente a 75.000 Kg/mês). A produção per capita é de 3,3 Kg/mês. Deste total, a produção de papel/papelão é de aproximadamente 4.000 Kg/mês. As matérias plásticas (copos plásticos, em geral) perfazem um total aproximado de 300 Kg/mês. A produção de matéria orgânica é de 1.130 Kg/dia (restos de alimentos).? A produção de resíduos de serviç os de saúde no Hospital Universitário De acordo com os dados obtidos, observa-se que são produzidos diariamente 888,71 kg de resíduos no HU, que correspondem a 27% de resíduos contaminados e 73% de resíduos comuns. Dos 73% de resíduos comuns, a maior parte provém da cozinha onde 68% são orgânicos. A produção de resíduos por leito, a forma mais representativa dos resíduos hospitalares, ficou em 4,46 kg/leito/dia. Finalmente, foi constatado que quase a metade dos resíduos contaminados provenientes do hospital, são oriundos da cozinha. Isto se deve ao fato destes resíduos serem orgânicos, e portanto de grande massa.? O que a UFSC pensa dos resíduos que produz Entre os alunos, 42,5 % da amostra relaciona lixo com sujeira, 53,5 % com algo que possa ser aproveitado. Em torno de 70,5% reclamam da pouca quantidade de lixeiras no Campus, 80,0% demonstram ter conhecimento sobre reciclagem e 72,0% estariam dispostos a participar de um programa de coleta seletiva no Campus. Na categoria dos docentes encontramos que 43,5% vêem lixo como sujeira, ao passo que 32,0% entendem que são materiais que podem ser recuperados de alguma maneira, já em torno de 90,0% dos entrevistados apresentam disposição em separar o lixo que produzem no Campus. Para 24,4% dos servidores entrevistados lixo é sinônimo de sujeira mas 70,0% deles se dispõem a triá-los tendo em vista um futuro programa de aproveitamento destes. Na opinião do comércio local, entre eles bares, fotocopiadoras, bancos, bancas de revistas etc, temos que 21,4% tem uma representação social do lixo ainda a ser modificada, pois encaram-no como sujeira, mas já tem-se 71,0% que o valoriza como algo que possa ser aproveitado e 78,0% apresenta-se preparado para participar de um programa que vise a reciclagem do lixo produzido. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1781

Estes resultados qualitativos e quantitativos iniciais apresentam um diagnóstico da problemática de resíduos num estabelecimento de ensino universitário e, sobretudo, indicam alternativas para a questão ambiental, a fim de buscar outra relação homem-meio. Caminho que poderá ser trilhado ao se buscar uma educação ambiental que consista, antes de tudo, numa perspectiva que vise mudanças no comportamento social e oriente para uma nova dimensão da cidadania, que possa alcançar novos valores que visem qualidade de vida alicerçada em solidariedade, cooperação, respeito e ampliação dos direitos. Os dados levantados permitiram a elaboração das seguintes recomendações :? reorganização dos procedimentos de coleta/armazenamento dos resíduos convencionais,? Localização no Campus da Central de Triagem e Tratamento de Resíduos do Campus da UFSC,? implementação da coleta seletiva na UFSC,? compostagem da matéria orgânica e reciclagem do papel/papelão,? realização de campanhas de educação sanitária e ambiental. Finalmente, a triagem dos resíduos sólidos na própria fonte geradora tem se apresentado como uma rica possibilidade, quanto à ações localizadas, visando a elaboração de novas representações sociais de meio ambiente. Infelizmente, muitas vezes, as Universidades continuam herdeiras de padrões de relações sociais baseadas em reprodução de conhecimento atomizado onde não há lugar para criação. Mas há que se buscar novas formas de superar esta visão dicotomizada entre sociedade e natureza, fragmentada entre cultura, conhecimento, tecnologia, ciência e cotidiano, através de propostas que integrem as alternativas técnicocientíficos com reflexões no campo dos valores e ações à nível do cotidiano. REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS Não relacionadas pelo Autor. 19 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1782