1. Objetivos. Ataque Terrorista de 11 de Setembro USA Lições de Uma Crise Nacional Este estudo de caso trata da análise dos fatores relacionados aos atentados terroristas de 11 de setembro, nos EUA. De acordo com os conceitos que fazem parte da metodologia Decisões Operacionais Efetivas e Seguras - DOE, os fatores foram selecionados tomando-se por base os cinco critérios da metodologia e cobrindo períodos pré-, durante- e pós-eventos. O estudo do caso 11 de setembro tem como meta principal avaliar as lições decorrentes do trágico evento que marcou a história recente da humanidade com o objetivo de ensinar e treinar quadros dirigentes e operativos para pensar e traçar cenários efetivos e realísticos, ao mesmo tempo, tendo como elemento a classificação e gestão das informações obtidas pela metodologia adotada, proporcionando a formação de uma cultura de segurança efetiva, capaz de aperfeiçoar sistemas de defesa, inteligência, contra-terrorismo e governança. O efeito principal do estudo de caso será gerar experiência real da análise dos fatores sobre os erros cometidos, à luz de critérios estruturados para proporcionar este aprendizado prático. O estudo foi subdividido nas seguintes etapas: Levantamento de 689 fatores extraídos do relatório THE 9/11 COMMISSION REPORT, documento oficial do Governo Norte-Americano, sobre os atentados de 11 de setembro. Classificação dos fatores segundo os critérios da metodologia. Para realizar a classificação, os participantes deverão ler primeiramente todos os fatos, de forma a poder capturar informações que ajudem a formar o julgamento correto, levando-se em consideração o conjunto das informações. Serão oferecidas classificações definidas pela equipe da ABIDES, como forma de dar partida à discussão da classificação de cada item. As experiências anteriores demonstram que este procedimento ajuda a coordenação dos trabalhos e economiza tempo Levantamento das freqüências dos fatores. Analise das freqüências e resultados.. 1
2. Metodologia. A análise foi elaborada utilizando-se a metodologia Decisões Operacionais Efetivas - DOE, desenvolvida pela ABIDES (Associação Brasileira de Integração e Desenvolvimento Sustentável) baseado nos conceitos desenvolvidos pela WANO (World Association of Nuclear Operators) e que trata as falhas operacionais de sistemas que envolvem alto grau de risco operacional. Os papeis e responsabilidades dos principais atores, que em principio influenciaram os fatos ou foram influenciado por estes, são os elementos utilizados para o enquadramento dos dados coletados nos critérios da metodologia Os principais atores envolvidos no acidente são: Operadores: Sistema de Inteligência e Segurança dos EUA O Governo dos EUA e seus órgãos de proteção ao tráfego aéreo Os políticos envolvidos nos processos decisórios; Os dados levantados através da pesquisa do relatório da comissão de investigação são analisados individualmente sob a ótica dos 5 princípios abaixo apresentados, não só pela base do conteúdo dos princípios, mas também tomando por referência um conjunto muito específico e bem definido de atributos de cada um dos princípios. Desta forma, eliminaram-se ao máximo as interpretações imediatistas e classificações de dados e informações sem uma relação concreta com as bases da metodologia utilizada. Princípios de segurança operacional. P1. Condições que potencialmente ameaçam a operação segura e confiável são reconhecidas e prontamente comunicadas para a obtenção de soluções. P2. Papéis e responsabilidades são estabelecidos para a tomada e implementação de decisões e são inteiramente compreendidas pelo pessoal da instalação. P3. As conseqüências potenciais dos desafios operacionais são claramente definidas e soluções alternativas rigorosamente avaliadas. P4. As decisões são baseadas no total entendimento dos riscos de curto e longo prazo, considerando os impactos combinados das várias opções. P5. Planos de implementação são desenvolvidos para a comunicação efetiva de ações, responsabilidades, medidas compensatórias e planos alternativos, visando assegurar o sucesso dos resultados. 2
3. Compilação e Análise dos Resultados. 3.1 Resultados Gerais. Freqência dos Fatos x Critérios Freqüência 250 200 150 100 50 0 1 2 3 4 5 Critérios A classificação global dos fatos aponta para uma concentração maior dos erros e falhas na violação dos critérios 3 (Conseqüência Potenciais de Desafios Operacionais) e 2 (Papéis e Responsabilidades). Estes dois indicadores demonstram que os diversos sistemas de defesa, inteligência, instituições governamentais e agências de controle aéreo, embora dispusessem de estruturas, quadros e recursos, não atuaram de forma efetiva e articulada na prevenção dos ataques terroristas de 11 de setembro. Os fatos classificados nestes dois critérios representam 65% do total dos fatores causadores das falhas, demonstrando que os esforços de correção das falhas operacionais para evitar futuros atentados devem se concentrar neste nicho. Pela análise dos fatos podemos concluir que as falhas de comunicação, disponibilidade de informações validadas e diversificadas, oportunidade das ações e conhecimento de papéis e responsabilidades, foram fatores fundamentais nos erros operacionais. 3
3.2 Análise da Governança e Inteligência. Quando observamos a distribuição de freqüência dos fatos relacionados às decisões de Governo (Figura abaixo) e aspectos da inteligência, notamos que há uma maior concentração no critério 1 (Condições que Potencialmente Desafiam a Segurança), demonstrando que Governo e Sistema de Inteligência e Segurança não tiveram a capacidade de reconhecer e comunicar corretamente as ameaças, embora evidências diversas, algumas apoiadas por fortes indicadores das intenções dos terroristas, estivessem disponíveis. Num segundo plano, novamente as falhas ligadas à falta de conhecimento e na definição de papeis e responsabilidades foi fator importante nestes segmentos do sistema decisório. As respostas em nível de governo e suas repercussões no sistema de inteligência evidenciaram uma concentração de falhas muito acentuada no Critério 1 (reconhecimento e comunicação de ameaças). A concentração de fatores neste princípio é conseqüência direta da incapacidade dos organismos de governo de classificar corretamente os sinais de ameaças em termos do seu potencial de resultar em conseqüências para a segurança do país (ataques terroristas). O alto escalão do Governo recebeu relatórios e diversas outras formas de comunicação sobre indícios da presença dos autores dos atentados e de suas intenções, porém foi incapaz de organizar estas informações e distribuí-las com eficiência para os organismos que poderiam dar as respostas necessárias. A segunda maior concentração de fato no Princípio 2, complementa o ambiente de desarticulação Governo Sistema de Inteligência, condição esta que foi aproveitada, mesmo que sem um planejamento totalmente perfeito, pelos autores do atentado. Freqüência: Governo e Inteligência Freqüência 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 Critérios 4
3.3 Controle Aéreo. Ao observarmos as freqüências dos fatos relacionados ao sistema de controle aéreo e sua interação com o sistema de defesa aéreo, observamos que as falhas se concentraram na falta de conhecimento e na definição de papéis e responsabilidades (Critério 2). Por outro lado, a falta de ação na identificação dos desafios operacionais (Critério 3), foi parte importante do conjunto de fatores que levaram aos erros operacionais. Freqüência:Contrôle Aéreo x Defesa 60 50 Freqüência 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 Critérios Duas tendências gerais indicam que os fatos relacionados à análise de riscos (Critério 4) e desenvolvimento de planos alternativos (Critério 5), foram de significado menor. Quanto à avaliação de riscos, não podemos considerar um fator desprezível, e esta baixa freqüência deve ser vista com cautela, pois expectativas quanto a ataques internos foram minimizadas e qualitativamente tiveram influência decisiva nas decisões errôneas de médio prazo. Como no curto prazo (dias antes dos ataques) os eventos ocorreram de forma muito rápida, não houve nem tempo para que análises de risco fossem realizadas, pois as decisões foram de caráter reativo. Quanto aos planos alternativos, muitos foram elaborados, porem o controle de sua aplicação apresentou divergências e falta de comunicação efetiva. 5
4. Conclusões Finais. A utilização da metodologia Decisões Operacionais Efetivas - DOE demonstrou-se ser uma ferramenta adequada para a análise das falhas operacionais dos sistemas de defesa dos EUA no caso dos atentados de 11 de setembro. Do ponto de vista estratégico, o sucesso (parcial) dos terroristas foi um teste decisivo para os sistemas de inteligência, defesa, controle de tráfego aéreo e governança dos EUA. Desafiados, estes sistemas apresentaram falhas tanto nos aspectos organizacionais (comunicação, papeis e responsabilidades, cadeia de comando) como operacionais (planos de contingência, identificação e respostas a ameaças e análise de risco). Os resultados indicam forte concentração de fatores de falhas relativos ao Princípio 3 (As conseqüências potenciais dos desafios operacionais são claramente definidas e soluções alternativas rigorosamente avaliadas) e Princípio 2 (Papéis e responsabilidades são estabelecidos para a tomada e implementação de decisões e são inteiramente compreendidas pelo pessoal da instalação), indicando claramente que os organismos envolvidos não tiveram a capacidade de identificar, organizar, analisar e comunicar os indicadores das ameaças potenciais. Regras burocráticas ineficazes serviram como elementos de dificuldade na comunicação eficaz entre estes organismos que tiveram como conseqüência o retardamento de medidas de contra-inteligência e impediram a correta tomada de decisões pelo alto escalão de governo. Complementando estes dois focos de problemas, as falhas incidentes no Princípio 1, foram conseqüências desta desarticulação em termos de Governança, que levaram a idas e vindas de decisões, que passaram insegurança para os operadores dos sistemas de segurança, retardando ações vitais para o sucesso de possíveis ações de contenção dos terroristas. A seguinte frase extraída do relatório da comissão de investigação atesta esta conclusão: The government s ability to collect intelligence inside the United States, and the sharing of such information between the intelligence and law enforcement communities, was not a priority before 9/11. Finalmente, antes de 11 de setembro, havia uma subestimação (conseqüência da falta de análises de risco confiáveis) da capacidade dos autores dos atentados em realizar um ataque daquela dimensão, o que levou a certo afrouxamento em relação aos sinais de alerta existentes. Referências. /1/ THE 9/11 COMMISSION REPORT: Final Report of the National Commission on Terrorist Attacks Upon the United States. /2/ ABIDES - Decisões Operacionais Efetivas - DOE 6