Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa...

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Jennefer Nicholson Secretary General IFLA. Universidade de Évora, Teatro Garcia de Resende e Biblioteca Pública de Évora outubro 2015, Portugal

Transcrição:

Educação e Saúde

Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa... Quando eu rejeito a língua, eu rejeito a pessoa porque a língua é parte de nós mesmos... Quando eu aceito a Língua de Sinais, eu aceito o surdo, e é importante ter sempre em mente que o surdo tem o direito de ser surdo. Nós não devemos mudá-los..., temos que permitirlhes ser surdo. Terje Basilier (Psiquiatra surdo sueco)

Nos países em desenvolvimento 4:1000 crianças desenvolvem surdez no período pré-linguístico: 20% de causas genéticas 80% de causas ambientais

A grande maioria de surdos tem pais ouvintes que usam a Língua Portuguesa na modalidade oral, à qual o surdo não tem acesso, assim o espaço escolar - Escola de Surdo -, adquire grande importância, pois se trata da possibilidade de encontrar com seus iguais, se identificar e se construir como sujeito da linguagem pois está em um ambiente lingüístico que promove a aquisição da sua primeira língua, a Língua de Sinais.

Refletir sobre a Educação de surdos, pressupõe: concebermos a surdez como uma diferença e o sujeito surdo como pertencente à uma comunidade minoritária com língua e cultura próprias, baseadas na forma visual de estar no mundo; reconhecimento político da surdez como diferença linguística; um projeto Bilingue no qual a L1 é a L.S. e a L2 a L.P., na modalidade escrita; a língua de sinais como língua de interação e de educação em uma proposta bilingue, significa que esta será a língua usada no ensino dos conteúdos escolares;

que a Língua de Sinais deverá fazer parte do currículo escolar, como disciplina; que o currículo contemple a cultura e a história das comunidades surdas nacionais e mundiais, atribuindo às duas línguas e às duas culturas a mesma importância; abrir espaço para os pais conviverem com Surdos adultos usuários da LS e oferecer cursos aos professores para aprofundamento; a presença de professores Surdos para possibilitar a construção de múltiplas identidades, acesso à cultura da Comunidade Surda e a interação e identificação com modelos positivos de Surdo adulto;

Inclusão Escolar: bom para quem? Todas as ações do MEC garantem a possibilidade de pessoas deficientes visuais, intelectuais, motores, com transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades, terem garantidas sua acessibilidade e serem incluídas em melhores condições na escola regular, pois compartilham da mesma língua usada na escola e em todos os espaços sociais Ainda assim, a opção de frequentar a escola regular ou especial deve ser opção da família e não imposição.

Diferentemente dos deficientes mencionados, o surdo, pela falta de audição, tem uma diferença fundamental na forma de acessar o mundo, diferença esta que será superada com o uso da língua visual espacial, a primeira língua das comunidades surdas, a Língua de Sinas.

Programa de Acessibilidade DERDIC/PUCSP M. Inês Vieira F 5908 7986 librasderdic@pucsp.br www.derdic.org.br

Neste sentido, é necessário que haja uma mudança na forma de o Poder Público conceber a surdez e o sujeito surdo, não como deficiente a ser curado mas como alguém diferente, que pertence a uma comunidade lingüística minoritária, que compartilha aspectos culturais advindos da forma visual com que está no mundo. Que o Poder Público pergunte ao surdo o que é melhor para sua educação e pare de escolher por ele.

O bilingüismo propõe que o surdo seja exposto a duas línguas, sendo a primeira a Língua de Sinais, e a segunda, a língua majoritária da comunidade ouvinte. Autores como Felipe (1992) e Quadros (1997) se referem à primeira língua como L1 e à segunda como L2.

A elaboração de um projeto bilingüe para o surdo inclui a Língua de Sinais Brasileira, anula a deficiência lingüística e permite que os surdos se constituam como uma comunidade lingüística minoritária e diferente, não como um desvio da normalidade.

O Surdo têm uma diferença fundamental na forma de estar o mundo, em razão da sua modalidade de linguagem. O Surdo está visualmente no mundo.

Garantidos estes aspectos A inclusão do surdo na escola regular e seu acesso aos conteúdos ministrados na língua portuguesa oral, poderá ocorrer por meio da presença do Tradutor- Intérprete de LIBRAS/Língua Portuguesa.

É no meio de seus iguais que a língua vai se configurando como elemento constituinte da subjetividade. É, desta forma, que o Surdo funda sua identidade. Pois receber uma identidade implica na atribuição de um lugar específico no mundo

O processo de aprendizagem da linguagem escrita, só ocorre se tiver como base um conhecimento prévio de linguagem, ou seja, esta aprendizagem se baseia no desenvolvimento anterior de uma primeira língua

O HOMEM SAIU DE CASA. O CAMINHÃO BATEU NO POSTE. VOCÊ QUER TOMAR CAFÉ? EU FUI PASSEAR COM MEU AMIGO. VOCÊ PODE ME AJUDAR?

CHEFE ÁGUA TRISTE FELIZ LAP TOP MESA PAPEL DOENTE SUCO DIGITAR CONTABILIDADE IMPRIMIR E MAIL CACHORRO

RECLAMAR FÉRIAS REUNIÃO PROIBIDO RESTAURANTE CONVERSAR INTERNET VALE REFEIÇÃO CANETA RELATÓRIO FRETADO REFRIGERANTE

QUANTOS FILHOS VOCÊ TEM? VOCÊ QUER UM BISCOITO? PORQUE VOCÊ CHEGOU ATRASADO? COMO VOCÊ ESTÁ? AMANHÃ É FERIADO!

HOJE MEU COMPUTADOR QUEBROU! POR FAVOR, APAGUE A LUZ. VAMOS ALMOÇAR AS 13H? A QUE HORAS VOCÊ VAI EMBORA? AGORA VOCÊ PODE IR AO MÉDICO.

ONTEM MEU AMIGO FOI MANDADO EMBORA. MEU CHEFE ME DISSE NO MÊS QUE VEM SEREI PROMOVIDO! COMO VOCÊ VEM TRABALHAR, DE ÔNIBUS OU DE CARRO?

VOCÊ GOSTA DE CAPUCCINO? ESPERE UM POUCO, EU VOU AO BANHEIRO. EU PERDI MEU PEN DRIVE.

Programa de Acessibilidade DERDIC/PUCSP Daniel Choi M. Inês Vieira Ricardo Nakasato Simone Soares Fontes F 5908 7981 librasderdic@pucsp.br www.derdic.org.br

Todas as pessoas surdas possuem um sinal pessoal, que e atribuído com base na cultura visual. Da mesma forma que o nome é importante e é uma marca pessoal, o sinal também é para a Comunidade Surda e como o nome próprio, atribuído a nós por nossos pais no nascimento nos acompanha por toda a vida, o sinal também.

O sinal pessoal pode ser atribuído: às pessoas que partilham ou têm contato com pessoas surdas, por uma marca física, um comportamento costumeiro uma mania ou pelo uso constante de objetos. O sinal pessoal é atribuído apenas pelos membros da Comunidade Surda e não deve ter como base a letra inicial do nome, que é da cultura ouvinte.