Identidade e trabalho do coordenador pedagógico no cotidiano escolar
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- Regina Festas Sacramento
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1 9 Considerações finais A partir da análise dos dados coletados nessa pesquisa algumas considerações finais se fazem pertinentes em relação às questões iniciais levantadas nesta pesquisa. 9.1 Identidade e trabalho do coordenador pedagógico no cotidiano escolar Quanto à identidade, os dados revelaram que os entrevistados ainda estão construindo sua própria identidade enquanto coordenadores pedagógicos. Na construção desta identidade há certa ambiguidade, pois o coordenador pedagógico que trabalha na escola é oriundo do corpo docente, enquanto professor da rede pública municipal. Porém, ao assumir a função de coordenador pedagógico, ele perde a identificação com seus colegas docentes para ser o porta-voz e agente da implantação das políticas da Secretaria Municipal de Educação na escola. A mediação aparece como uma categoria básica entre os diversos segmentos da comunidade escolar: coordenador/professor, coordenador/direção da escola, coordenador/sme, coordenador/responsável e coordenador/aluno. Junto com o termo mediação, surge também o articulador, com definição dada pelos entrevistados como o promotor do fazer pedagógico da escola. A estrutura organizacional das escolas, geralmente bastante precária, não permite que o coordenador pedagógico tenha clareza do papel que desempenha no exercício da sua função fazendo com que ele assuma diversas tarefas que não
2 170 deveriam estar sob a sua responsabilidade (como por exemplo, substituir um professor que falta). Devido às urgências que surgem na escola, a rotina do coordenador se modifica a todo momento, afetando diretamente o desempenho do seu trabalho. Assim a falta de rotina emergiu dos dados. A maioria dos coordenadores entrevistados disse que o seu trabalho não tem rotina em vista das solicitações constantes que o coordenador enfrenta no seu cotidiano, interferindo diretamente no planejamento de suas atividades diárias dando uma sensação de incapacidade de cumprir suas tarefas. A afetividade marca as relações sociais desenvolvidas entre o coordenador pedagógico e os diversos segmentos da comunidade escolar. Todo o seu trabalho está baseado em relações pessoais, principalmente com os professores e a direção da escola. As relações de poder entre o coordenador pedagógico e os professores, entre coordenador pedagógico e direção da escola, também foram consideradas pelos entrevistados. Eles revelaram que se sentem solitários. Essa solidão é proveniente dele se sentir-se excluído do grupo de professores por passar a exercer uma função de autoridade. Os dados da pesquisa também revelaram a autonomia relativa do coordenador em relação ao seu trabalho de promotor das atividades pedagógicas da escola. Os coordenadores afirmaram que a relação com a direção é caracterizada pela parceria, indicando troca e cumplicidade à primeira vista. Mas, essa parceria tem limites. Sua autonomia é relativizada, pois, os entrevistados disseram que, na maioria dos casos, a palavra final sobre as decisões a serem tomadas na escola fica sob a responsabilidade do diretor. Assim, aspectos da organização da escola e o desenvolvimento de projetos pedagógicos dependem, em última análise, da opinião da direção.
3 O coordenador pedagógico como sujeito em formação A respeito da formação continuada do coordenador pedagógico, a pesquisa mostrou que há uma iniciativa própria do coordenador na busca do seu aperfeiçoamento profissional através de cursos, leituras e outras formas de aperfeiçoamento docente. As oportunidades de formação continuada proporcionadas pela SME também são aproveitadas pelos sujeitos entrevistados. O coordenador pedagógico tem consciência da necessidade de estar lendo e estudando continuamente. Quanto ao Curso para Docentes do Ensino Fundamental Coordenador Pedagógico promovido pela SME, voltado especialmente para a formação continuada do coordenador pedagógico, os dados revelaram que o curso, à medida que os anos foram passando, tornou-se repetitivo, desestimulando a participação dos coordenadores mais antigos na função. Os coordenadores acham que o curso ainda cumpre seu papel, mas fizeram algumas sugestões para o seu aperfeiçoamento, como por exemplo, em relação aos temas abordados. Alguns deles devem ser apresentados apenas aos coordenadores que estão iniciando na função. Devem ser inseridos novos temas com maior aprofundamento para os coordenadores mais antigos. Os coordenadores pedagógicos consideraram que alguns dos temas estudados durante o curso deveriam ser revisitados como, por exemplo, o projeto político-pedagógico devido à dificuldade de se vivenciar na escola a execução das atividades oriundas do projeto. Outro tema mencionado foi avaliação que foi considerado como tema polêmico devido às mudanças ocorridas no sistema municipal de ensino e que não foram devidamente assimiladas pelos profissionais da escola. Os entrevistados também apontaram para a necessidade de que a teoria passada no curso deva estar relacionada com atividades práticas bem sucedidas na escola. Mencionaram também a necessidade de fazer mudanças no formato de apresentação dos assuntos teóricos debatidos. Neste contexto, eles apresentaram
4 172 como relevante as trocas de experiências entre eles. Não só como trocas de conhecimento, mas também, como construção de relações afetivas entre os pares. Para os sujeitos entrevistados, o espaço de trocas deve ser promovido pela SME como a oportunidade de compartilhamento de experiências desenvolvidas na escola assim como a de estabelecer relações sócio-afetivas entre os coordenadores. 9.3 O coordenador pedagógico como formador docente no espaço dos centros de estudos O coordenador pedagógico é o dinamizador dos encontros dos docentes nos centros de estudos realizados na escola. Os coordenadores pedagógicos entrevistados apontaram a necessidade dos centros de estudos serem espaços para não só mediar os estudos e conhecimentos teóricos, mas também, como fortalecimento das relações afetivas e sociais entre os docentes. O tempo dedicado aos encontros foi considerado pequeno, devido às demandas de planejamento e execução das diversas atividades pedagógicas a serem desenvolvidas nas escolas. As necessidades específicas de cada escola foi o tema predominante nos relatos das entrevistas onde a discussão dos problemas emergentes supera as atividades de planejamento ou sobre outros assuntos. Outra categoria que surgiu das entrevistas refere-se à liberdade de escolha dos professores sobre os temas a serem estudados nos centros de estudos. É necessário o acolhimento, por parte do coordenador, dos temas de interesse dos professores. A função dos textos trabalhados deve ser predominantemente sensibilizadora e de reflexão crítica, voltada para os problemas existentes na escola e para o fortalecimento das relações afetivas no grupo de professores, assim como as trocas de experiências entre os docentes.
5 173 O projeto político-pedagógico, o currículo escolar e o reagrupamento flexível, são temas sugeridos pela SME, também considerados nos centros de estudos, demonstrando que o espaço é flexível, democrático demandando a participação de todos os docentes, com a mediação do coordenador pedagógico. Os informantes apontaram para duas posições em relação à participação dos professores nos centros de estudos: a primeira para uma participação positiva onde realmente discutem os temas propostos para o encontro e a segunda para a falta de participação revelando a resistência docente em participar dos encontros. Em relação à leitura dos textos, os entrevistados argumentaram que há uma resistência à leitura de textos longos, por isso, proporcionam aos professores textos curtos. O tempo pequeno para os debates também foi considerado como um dos fatores que dificultam a realização dos centros de estudos. Foi percebido que há pouca interferência do diretor da escola junto aos assuntos trabalhados nos espaços de formação continuada dos docentes, exceto no momento de divulgação de informações provenientes da CRE/SME. Em síntese, podemos resumir os achados da pesquisa: 1- O papel de mediador que o coordenador desempenha entre direção, professores, responsáveis pelos alunos e, finalmente entre a prática da escola e as políticas da Secretaria Municipal de Educação. 2- Suas funções vão muito além do pedagógico, dada a precariedade de recursos materiais e humanos na maioria das escolas e aos problemas (de origem variada) apresentados pelos alunos. Isso prejudica sua dedicação integral às tarefas de sua exclusiva responsabilidade. 3- No desempenho de sua função os coordenadores revelaram ter uma autonomia relativa, pois, apesar de se sentirem parceiros da direção ressaltaram que o diretor tem maior poder de decisão, sendo sempre dele a última palavra.
6 A afetividade marca o seu trabalho com os professores, mas, ele se sente solitário, pois, no momento que assume a coordenação passa a fazer parte da gestão da escola. 5- Em relação à formação continuada recebida pela SME os coordenadores revelam que os temas trabalhados são adequados, mas que a teoria deve sempre estar relacionada à prática para que faça sentido para o seu trabalho na escola junto aos professores. 6- As trocas de experiências realizadas entre aqueles que desempenham a função de coordenação revelou-se um aspecto altamente relevante nos espaços de formação continuada proporcionados pela SME. Assim, ele se sente menos sozinho e mais amparado pelos colegas. 7- Os centros de estudos organizados pelo coordenador pedagógico revelaramse como espaços privilegiados de formação continuada dos professores na escola, mas que ainda necessitam de aperfeiçoamento. Os entrevistados apontaram a resistência dos docentes em dedicar tempo para a leitura de textos e falta de interesse como fatores que dificultam a realização de um estudo mais aprofundado. 9.4 Concluindo Esta pesquisa apresenta uma grande quantidade de dados sobre o coordenador pedagógico da rede de escolas públicas municipais da cidade do Rio de Janeiro, na visão dos próprios coordenadores. Os dados trazem revelações importantes a serem consideradas pelas políticas educacionais, pois, os coordenadores exercem o importante papel de mediadores e implementadores das políticas delineadas pela Secretaria Municipal de Educação. Seu papel de
7 175 formador dos professores é de importância vital para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas. Os dados revelaram também questões a serem consideradas na formação continuada dos próprios coordenadores no tocante aos temas estudados e a abordagem dos cursos promovidos pela SME. Outras pesquisas se fazem necessárias no que diz respeito ao papel dos centros de estudos e aos desafios da formação continuada dos professores tendo como locus a própria escola. Acredita-se que esse estudo pode trazer importantes subsídios para outros pesquisadores.
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