Coletânea Amana- Key AS BASES DA ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA Entendendo e Aplicando os Princípios da Ecologia 1. Interdependência Todos os membros de um ecossistema estão interconectados numa rede de relacionamentos nos quais todos os processos de vida interdependem uns dos outros. O sucesso de um sistema vivo como um todo depende do sucesso de seus membros individuais, enquanto que o sucesso de cada membro depende do sucesso do sistema como um todo. Uma clara manifestação desse princípio em organizações é a forte interligação existente entre líderes e colaboradores. Todos os níveis de liderança e todos os colaboradores receptivos a essa liderança formam uma rede de relacionamentos dedicada a facilitar a concretização dos princípios e valores do propósito/razão de ser da empresa. O sucesso do empreendimento coletivo e a auto- realização dos indivíduos participantes (inter)dependem da conscientização e concretização desse propósito/razão de ser em todos os níveis da organização. Não há sucesso sustentável onde há ignorância da razão de ser. Um conhecimento refinado do propósito/razão de ser a nível pessoal e organizacional motiva líderes e colaboradores a criar o que quer que seja necessário para tornar a visão empresarial uma realidade palpável. Interdependência é o resultado de relacionamentos conscientes e significativos que, por sua vez, necessitam de uma motivação vibrante e essencial que só pode ser criada por meio de um propósito/razão de ser claro: Por que eu existo? Por que a minha empresa existe? Qual é minha razão de ser?. 2. Sustentabilidade Num ecossistema a qualidade e a sustentabilidade de cada espécie dependem de uma base de recursos ciclicamente limitada. Por razões de sustentabilidade, os sistemas orgânicos atuam de modo a usar e reciclar as mesmas moléculas de minerais, água e ar. É como se cada espécie estivesse intrínseca e globalmente consciente do impacto que causa às demais pelo modo como atua no ambiente que compartilha.
Uma das principais manifestações do princípio da sustentabilidade em organizações é uma mudança no nível de consciência dos próprios líderes. Ao buscarem a sustentabilidade, líderes lançam- se em um esforço contínuo de aprofundar seu autoconhecimento para perceber o efeito que seus exemplos e suas decisões têm sobre os colaboradores, sobre a organização e sobre seu ambiente global de atuação, no presente e no futuro. A conscientização quanto à importância da sustentabilidade também significa uma sincronização cada vez maior entre discurso e ação dentro da empresa. Essa maior sincronização é fruto de uma percepção correta da multidimensionalidade do tempo, essencial para compreender a função e a aplicabilidade das ondas de mudanças na grande maré da transformação global que afeta o todo. Desse modo, curto e longo prazo se harmonizam. A organização liderada por uma visão orgânica de sustentabilidade leva simultaneamente em consideração sua extensão máxima no tempo e o significado de sua influência imediata no meio ambiente em que existe. 3. Ciclos Ecológicos A interdependência entre os membros de um ecossistema envolve o intercâm- bio de matéria e energia em ciclos contínuos, que atuam como elos de feed- back. Esses ciclos são caracterizados por flutuações contínuas em suas variáveis. Quando condições ambientais mutantes perturbam um determinado elo da cadeia, o ciclo inteiro atua de modo auto- regulador para trazer todo o sistema de volta a um equilíbrio. Como essas perturbações acontecem ritmicamente, todas as variáveis num ciclo ecológico flutuam continuamente. Uma das manifestações mais claras dos ciclos ecológicos em organizações é a existência de um intercâmbio cíclico de informações em todas as direções. Reconhecendo esse fato, a liderança ecológica não é vertical e busca equilibrar horizontalmente polaridades como liderar e ser liderado, ensinar e aprender, treinar e educar. Líderes sistêmicos seguem seus princípios mais elevados e sua intuição. Quando o bem do todo é priorizado, há uma elevação de consciência que faz com que o grupo libere suas capacidades de autogestão e auto- organização. O foco se volta para a aprendizagem coletiva e cada um que participa da vida do sistema se dispõe a ser simultaneamente instrutor e aprendiz, adaptando- se às necessidades de mudança.
A conscientização de que tudo é cíclico transforma a rigidez da posse (da posição hierárquica, de um certo papel na empresa, de uma certa imagem) na experiência de ser guardião de. Isso facilita mudanças e transformações, uma vez que tudo é inexoravelmente impermanente. 4. Fluxo de Energia A energia solar, transformada em energia química pela fotossíntese de plantas verdes, permeia todos os ciclos ecológicos. A energia solar se converte em energia química, que atua em substâncias orgânicas, enquanto o oxigênio é liberado para renovar o ar. Esse fluxo constante de energia busca, gera e mantém o equilíbrio dinâmico de toda a biosfera. Uma manifestação clara desse princípio ecológico é a emergência das learning organizations (organizações de aprendizagem). Essas organizações são como comunidades abertas em que as pessoas circulam para encontrar os seus verdadeiros lugares. A energia solar dentro do sistema organizacional é o fluxo qualitativo e quantitativo das interações entre as pessoas. Isso dá origem a diversas questões básicas: com que qualidade de consciência as pessoas interagem na organização?; como elas interagem com os recursos de todos os níveis materiais, orgânicos e até financeiros?; como é a distribuição de energia no nível das interações humanas, do meio ambiente e da circulação monetária?; como converter a energia humana vivificada pelo cuidado amoroso, a atenção plena, o respeito mútuo, a solidariedade e o impulso para evoluir em serviços e produtos imbuídos dessas mesmas qualidades? Lideranças e organizações que buscam responder a essas indagações em seu dia- a- dia estão criando o oxigênio vital para sua sobrevivência. As pessoas e sua qualidade de conscientização são a energia solar transformada em energia química pela interdependência de suas ações, atitudes e valores que dirigem todos os ciclos e ritmos dentro de uma organização. 5. Parceria Todos os membros vivos de um ecossistema estão engajados em formas in- contáveis de parceria. Essa tendência a se associar, a estabelecer ligações, a viver em espaços compartilhados e cooperar é uma característica essencial de todos os organismos vivos. O equilíbrio dinâmico que se estabelece entre a competição e a
cooperação gera, em um terceiro momento, o estado de co- criação, onde tudo passa a evoluir conscientemente. Uma manifestação profunda do princípio da parceria é a conscientização das organizações quanto ao seu verdadeiro papel no ambiente em que atuam. Cada vez mais empresas se transformam em comunidades de aprendizagem onde líderes e seus colaboradores, clientes, fornecedores, membros da comunidade em geral e do ambiente ecossocial circundante se interligam em uma rede de relacionamentos cooperativos que visam a facilitar a aprendizagem e a criar bem- estar por meio de seus produtos e serviços. Todos os membros de uma learning organization colaboram tomando atitudes que ponham em prática o que é conscientizado por meio do pensamento reflexivo, crítico e criativo do grupo em um ambiente que espelha e realça a comunidade maior. Ao conscientizarem- se de sua interdependência com o meio ambiente e com todos os elementos que compõem sua rede significativa de relacionamentos, as empresas e suas lideranças passam a criar o fluxo de parcerias que nutrem e sustentam os processos organizacionais. 6. Flexibilidade Como elos de feedback, os ciclos ecológicos tendem a manter- se em um estado de flexibilidade, caracterizado pelas flutuações interdependentes de suas variáveis. No entanto, todas as flutuações ecológicas acontecem entre limites de tolerância. Sempre há o perigo de todo o sistema entrar em colapso quando uma flutuação vai além dos limites que o sistema não pode compensar. As flutuações dos ciclos ecológicos representam a flexibilidade do ecossistema. Falta de flexibilidade significa falta de saúde. Esse princípio manifesta- se no dia- a- dia de uma organização sistêmica em que a realidade é dinâmica e há fluidez nas interações internas e externas. As rotinas e procedimentos não estão aprisionados na forma, mas respondem às necessidades de cada situação, a partir do que essencialmente significam. Cada vez que algo muda, o ambiente de aprendizagem é recriado. Dentro do ecomanagement a flexibilidade está apoiada muito mais na necessidade constante de rever premissas e crenças que possam estar superadas, do que na flexibilização por falta de clareza ou do correto compromisso com a realidade organizacional onde se está inserido.
Quando assumidos e conscientizados, os limites de tolerância estabelecem com exatidão as flutuações que a organização pode suportar. Esses limites são únicos e singulares para cada empresa e ajudam a dar contorno à sua identidade no mercado/meio ambiente. Stress faz parte de todo processo criativo. Somente quando perdura e ultrapassa os limites de tolerância é que pode embotar ou anular a aprendizagem coletiva. 7. Diversidade A estabilidade de um ecossistema depende essencialmente do grau de com- plexidade de sua rede de relacionamentos. Em outras palavras, de sua di- versidade. Em um ecossistema diversificado coexistem muitas espécies com funções ecológicas que se sobrepõem e que podem parcialmente substituir e abrigar umas às outras. Quanto mais diversificado o sistema, maior é o número de relacionamentos alternativos disponíveis quando se rompe uma ligação em particular na rede. Existem muitas formas de manifestação de diversidade em organizações. Encarada de forma sistêmica, essa diversidade é um fator básico para a expansão da consciência e o enriquecimento do potencial humano individual e coletivo. Por exemplo, o uso de diferentes métodos e estratégias de aprendizagem pelos colaboradores de uma organização é essencial para criar unidade grupal. As pessoas só desenvolvem um sentimento de unidade com alguma ideia ou projeto quando não são forçadas a se comportar uniformemente. Unidade e uniformi- dade não são sinônimos. A primeira é experimentada a partir da conscientização da diversidade; potencializa- se a partir de um contato com a essência. A segunda implica em aderir a um padrão preestabelecido de fora para dentro e, em alguns casos, de forma imposta. A uniformização está mais motivada pela forma. A diversidade é simples e intuitiva quando encarada a partir da essência, e se torna complexa quando vista a partir da forma. 8. Co- evolução A maior parte das espécies num ecossistema co- evolui por meio de um in- tercâmbio de criação e adaptação mútua. A ação criativa que se exterioriza para criar o novo é uma propriedade básica da vida, que também se manifesta nos processos de desenvolvimento e aprendizagem. No nível das espécies, essa
aprendizagem se manifesta como o desdobramento criativo da vida no processo de evolução. Ao se adaptarem, organismos e meio ambiente co- evoluem em uma dança e uma conversação contínuas. A manifestação do princípio da co- evolução em organizações está ligada às parcerias. Quando as pessoas numa organização estão cooperando para criar e implantar ideias, elas intuitivamente sabem que estão co- evoluindo em direção à aprendizagem compartilhada. À medida que líderes e colaboradores trabalham em equipe, passam a compreender melhor as verdadeiras necessidades das áreas e pessoas envolvidas. Adaptabilidade, impermanência, flutuação, diver- sidade e equilíbrio dinâmico são conceitos compreendidos e usados nos diálogos dentro da empresa. A organização que se considera um sistema vivo e dinâmico percebe que sua evolução interdepende no seu universo interior e exterior. Ela começa a perceber quem são seus parceiros externos (clientes, fornecedores etc.), quem são e como se relacionam as pessoas da própria empresa e como é dinâmico o processo que conecta esses elementos. Os pontos mais importantes num processo de co- evolução são aprendizagem coletiva e integração no todo por meio de métodos de conscientização que considerem a natureza diversificada do todo.