Recessão brasileira: origens, determinantes e condições de saída

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Transcrição:

Recessão brasileira: origens, determinantes e condições de saída Fernando Ferrari Filho Professor Titular da UFRGS e Pesquisador do CNPq http://www.ppge.ufrgs.br/ferrari e ferrari@ufrgs.br e fernandoferrarifilho@gmail.com FCE/UFRGS Porto Alegre/RS, 30/5/2017 1

Origens Lado da oferta: Desindustrialização (câmbio e juros desajustados entre 2014 e 2016 a Selic, média anual, foi de 12,8%, e a taxa de câmbio real efetiva TCRE, apesar da desvalorização nominal de quase 50,0% em 2015, se apreciou), baixas produtividades do capital e da mão de obra e precária infraestrutura. Lado da demanda: Volatilidade e pragmatismo da política econômica, crescimento baseado em consumo, baixo investimento público e deterioração do cenário internacional (desaceleração da China, crescimento instável dos EUA e da Zona do euro e queda dos preços das commodities). 2

Recessão: Determinantes PIB Entre 2014 e 2016 a taxa acumulada do PIB foi - 7,2%, sendo que relação FBCK/PIB foi de 17,3%, média anual; Elevação da Taxa média de desemprego 4,8% (2014), 6,8% (2015) e 11,5% (2016). Desequilíbrio fiscal, crescimento da dívida pública e queda das exportações: Déficit fiscal primário = f(queda das receitas correntes devido à recessão e à desoneração fiscal e elevação dos gastos com a previdência, uma vez que a razão nº aposentados/nº trabalhadores ); Dívida pública bruta = f(déficits financeiros ) = g(elevação da Selic e desvalorização cambial); Exportações US$ 225,1 bilhões (2014), US$ 191,1 bilhões (2015) e US$ 185,2 bilhões (2016) = f(desaceleração econômica internacional e P commodities ). 3

Taxa de Crescimento do PIB (%) 10 8 6 4 2 0 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016-2 -4-6 Fonte: Banco Central do Brasil. 4

Taxa Média de Desemprego (%) 14 12 10 8 6 4 2 0 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Fonte: Banco Central do Brasil. 5

Resultados Fiscais/PIB (%) 4 2 0 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016-2 -4-6 -8 Resultado Primário/PIB (%) Resultado Financeiro/PIB (%) Fonte: Banco Central do Brasil. 6

Dívida Pública Bruta/PIB (%) 75 70 65 60 55 50 45 40 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Fonte: Tesouro Nacional. 7

Balança Comercial, US$ bilhões 300 250 200 150 100 50 0 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Fonte: Banco Central do Brasil. Exportações (US$ bilhões) Importações (US$ bilhões) 8

Lógica da política econômica em curso? Banco Central: Objetivo? Controlar a inflação! Restauração do Regime de Metas de Inflação (RMI): taxa de juros = f(diferencial entre a taxa de inflação esperada e o target e hiato do produto ) e taxa de câmbio flexível, mas com viés de apreciação; Ministério da Fazenda: Objetivo? Equilíbrio fiscal e Estado Mínimo e reformas para dinamizar a Produtividade Total dos Fatores de Produção (PTFP)! Como? Ajuste Fiscal/Novo Regime Fiscal (Meta nominal de gastos públicos correntes para os próximos 20 anos, corrigida pela inflação passada); Reforma previdenciária; Reformas trabalhista e sindical; Aumento de impostos (indiretos). 9

Fundo do poço : E agora? PIB estagnado e recuperação lenta: Por quê? Expectativas/grau de confiança = f(demanda agregada não tem condições de dinamizar o PIB, cenário internacional incerto e crise politico-institucional). Mais especificamente: (i) taxa média de desemprego elevada, queda do rendimento médio e contração do crédito bancário limitam o consumo privado; (ii) elevada capacidade ociosa, endividamento das empresas e cenário políticoinstitucional limitam o investimento; (iii) crise fiscal (União e Estados) impede que a política fiscal seja contracíclica; (iv) dúvidas sobre o cenário internacional (política econômica do governo Donald Trump, desaceleração da China etc.) limitam as exportações, apesar de elas serem a solução para a retomada do crescimento no curto prazo. 10

Há saída? Depende da escolha do modelo Novo Consenso Macroeconômico (NCM) vis-à-vis Modelo Pós-Keynesiano (MPK): NCM RMI afetando (?) a inflação no cp e a atividade econômica no lp; política fiscal neutra para assegurar a estabilidade dos preços e a solvência da dívida pública; flexibilidade dos salários e do mercado de trabalho para dinamizar a PTFP; e mobilidade de capitais e câmbio flexível. MPK Política monetária discricionária e Banco Central como prestamista de última instância; política fiscal contracíclica; distribuição de renda; e controle de capitais e câmbio flexível, mas administrado. 11

Condição de saída via MPK Estabilização (inflação sob controle, crescimento sustentável e equilíbrios fiscal e externo) = f(estado eficiente na estabilidade econômica, Mercado eficiente na alocação dos recursos e Instituições eficientes para assegurar/articular o funcionamento da sociedade). Política macroeconômica: Monetária Taxa de juros ( neutra ) para dinamizar consumo e investimento (níveis de emprego e renda) e controlar a inflação, quando DA > OA; Fiscal Gastos correntes indexados ao PIB (média móvel dos últimos 3 anos) e políticas contacíclicas (períodos de crise e prosperidade, respectivamente, expansão e contração fiscal); Cambial Câmbio flexível, mas administrado, e controle de capitais (IOF). 12

Políticas setoriais: Política industrial e abertura comercial Crédito, P&D, inovação tecnológica, redução de tarifas de importação etc.; Política de rendas Desindexação de W e P e do sistema financeiro: ΔW e ΔP = f(ganhos de produtividade da economia e dinâmica concorrencial e/ou regulação) e extinção da LFT; Investimentos públicos Saúde, educação etc. Reformas estrutural-institucionais: Previdenciária = f(perda do bônus demográfico); Reforma patrimonial Concessões e PPPs; Reforma política; 13

Reforma Tributária Eficiência (racionalização tributária) e equidade (fim da isenção de impostos sobre dividendos e lucros, progressividade das alíquotas de imposto de renda e herança e maior e menor incidências tributárias, respectivamente, sobre impostos direto e indireto). Em suma, a Agenda MPK objetiva recuperar a capacidade reguladora e estabilizadora do Estado, implementar reformas estrutural-institucionais e coordenar/articular as políticas fiscal, monetária e cambial. 14