SEMINÁRIO NACIONAL AS METRÓPOLES E AS TRANSFORMAÇÕES URBANAS: DESIGUALDADES, COESÃO SOCIAL E GOVERNANÇA DEMOCRÁTICA QUATRO DÉCADAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM, UMA VARIANTE DO PROCESSO DE METROPOLIZAÇÃO BRASILEIRO Ana Cláudia Duarte Cardoso, Arq. MSc. PhD José Júlio Ferreira Lima, Arq. ME MA PhD Danilo Araújo Fernandes, Econ. MSc Dr. Rio de Janeiro, 9, 10 e 11 DE DEZEMBRO DE 2015
RMBelém: uma variante do processo metropolitano brasileiro Protagonismo de atores / fases: Elite mercantil [iniciativas de industrialização, capital investido em patrimônio] / período colonial até 1960 Governo Federal [desenvolvimentismo] / entre 1960 e 1988 Setor Público [pós-constituição] / de 1988 até 2000 Setor Privado [políticas a serviço do privado] / a partir de 2000 Belém e a formação de duas matrizes durante o século XX: Urbanização formal de terras altas com modernas redes técnicas; Território comandado pela dinâmica capitalista industrial - ação seletiva Urbanização informal nas terras baixas (alagáveis) baseada em padrões tradicionais Território influenciado pela cidade primaz na região Amazônica, apropriado pelo reverso da dinâmica capitalista periferia próxima precária
RMBelém: uma variante do processo metropolitano brasileiro A inserção secular de Belém como metrópole regional na Amazônia: condição fortalecida pelo projeto de integração nacional, através da indução da RMB nos anos 1970, mas não criada por ela. A dinâmica extrativista voltada para a exportação em larga escala, antecedeu o processo de industrialização do país, e foi obscurecida pelo fato de a Amazônia ter sido tomada como fronteira nacional de expansão do capital a partir dos anos 1950, tonando-se periferia da periferia, dada a condição do país na economia mundial capitalista.
REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM + MUNICÍPIOS PARAENSES AO LONGO DA FERROVIA BELÉM-BRAGANÇA [1884-1964] e RODOVIAS PRINCIPAIS [atuais]
A Amazônia, outrora fronteira mundi, disputada por diversas nações, onde o extrativismo foi comandado por elites regionais cosmopolitas e internacionalizantes, passou a ser vista como atrasada, vazia, como patrimônio a ser explorado a benefício do desenvolvimento nacional.
Municípios da Região Metropolitana de Belém, 1973-2015
Região Metropolitana de Belém, mancha urbana 2015
Região Metropolitana de Santarém (Lei 79, de 17/01/2012) Belterra - 38km Mojuí dos Campos -33,3km Alter do Chão - 38km Região Metropolitana de Marabá (PL 167/2012) Articulação entre novos processos de metropolização com o fortalecimento de capitais regionais tendo em vista a divisão política do Pará [plebiscito em 2012]. Em todos os casos há ocupação descontínua e influência de grandes projetos públicos e privados nas cidades propostas como núcleos metropolitanos. Nova Ipixuna 72,3km Itupiranga 48,2km Bom jesus do Tocantins 80,3km São João do Araguaia 59,4km São Domingos do Araguaia 56,7
Hipótese 1 Evolução da homogeneidade espacial do padrão de ocupação da Primeira Légua Patrimonial de Belém para a fragmentação territorial da expansão metropolitana caracterizando padrões distintos de segregação sócio-espacial; 1980-1990 Centro Urbano do Município de Belém: estrutura marcada pela homogeneidade espacial, das baixadas, e a flexibilidade espacial [manifesta na possibilidade de inserção nos miolos de quadras, na diversidade tipológica das edificações e na disponibilidade de vazios] criou uma segregação fortemente ligada à degradação ambiental criando solo. 1990-2010 Centro metropolitano em enclaves cada vez mais desarticulados entre si, e associados a uma produção da cidade através de empreendimentos imobiliários.
Hipótese 2 A conurbação (e a metropolização) que foi incipiente até a década de 1980, aconteceu em ondas sucessivas abarcando municípios periféricos, em condições de precariedade infraestrutural e de ausência de mecanismos efetivos de gestão metropolitana; % de residentes no município há menos de 10 anos na data de referência do censo do IBGE A RMB tem um bônus demográfico, na medida em que a população adulta continua crescendo, possivelmente graças à migração e maior fecundidade nos municípios periféricos, mas conta com progressivo aumento da população idosa.
Eixo de deslocamento mais intenso é: Belém-Ananindeua, com tendência de consolidação até Marituba, com sentido de fluxo predominante para Belém [trabalho] Rendimento médio do trabalho principal (em R$) Nível de instrução
1988 a 2000: o período exigiu providências de gestão nas áreas de transporte e saneamento que quando executadas limitaram-se a evitar o colapso, indicando descompassos entre o tempo da gestão e do investimento e o tempo das transformações da metrópole. 2000 em diante: crescimento da produção imobiliária e do setor da construção civil [apesar da falta de base industrial] tende a intensificar a conurbação entre os municípios de Belém, Ananindeua e Marituba, sob duas formas: verticalização e espraiamento da ocupação Av. Doca de Souza Franco, Belém Lançamentos imobiliário na Av. Augusto Montenegro, área de expansão de Belém
O suporte econômico da transformação espacial e demográfica deve-se a expansão do setor terciário e a conexão com setores industriais de outras regiões do Pará (Nordeste, Sudeste, Sul), e de outras regiões brasileiras mantendo as relações mercantis históricas com o entorno ribeirinho metropolitano. Fortalecimento do mercado dos produtos regionais (tradicionalmente informal e de origem ribeirinha), graças ao aumento de consumo de produtos relacionados às cadeiras produtivas agroextrativistas na RMB. Transformações no terciário impulsionadas pelo crescimento dos setores público, financeiro e da construção civil ampliaram o consumo de produtos industriais e indicam o vazamento de rendas produzidas em outras regiões do estado para a RMB Ao final dos anos 2000, a RMB tornou-se complexa, com um mercado interno crescente, movido em grande parte pelo crescimento do setor de serviços e com alto nível de informalidade na ocupação da mão de obra; originada de processo distinto das demais RMs, que perderam postos de trabalho [reestruturação produtiva clássico da década de 1980-1990]
Hipótese 3 A organização social do território da RMB confirma sua função de prestadora de serviços ao restante do estado, seja por meio de ocupações médias, predominantes em 1991, 2000 e 2010, voltadas às atividades de apoio, tanto para o setor público quanto para o privado, resultado de processos demográficos e de sua inserção regional.
Predominância de função terciária da RMB foi detectada em 1980 e mantida em 2010, caracterizada pela concentração da residência de indivíduos ocupados em tais segmentos no núcleo central de Belém em conjunto com dirigentes e empregadores; ao longo do tempo, os primeiros saíram, enquanto se mantiveram os dirigentes e empregadores. Concentração das camadas superiores em poucos espaços, não tão densos, em decorrência das ocupações médias que caracterizam sua organização social.
As desigualdades são potencializadas pela nova estruturação do território no acesso ao trabalho, oportunidades educacionais e à renda.
SANEAMENTO MOBILIDADE HABITAÇÃO Grandes investimentos em saneamento são desarticulados tanto entre os municípios quanto entre o saneamento e as demais políticas urbanas, desperdiçaram a oportunidade de melhoria das condições de mobilidade e criação de novas centralidades. [áreas beneficiadas por ações de macrodrenagem no centro metropolitano são aquelas com interesse direto do setor imobiliário] Projeto Ação Metrópole, [integração funcional e tarifária do transporte público] precisa de avanço para operação efetiva, e depende de grandes intervenções em sistema viário e negociação econômica com os agentes do sistema [pontos de tensão com as elites econômicas envolvidas na exploração do serviço de transporte público, dada sua alta liquidez e baixa transparência das planilhas de cálculo de tarifas] Importância da primeira geração do PAC na requalificação de áreas de ocupação informal, com boa localização relativa, mas há dificuldade de implementação e de finalização de suas ações, e pequeno alcance diante da magnitude da demanda por requalificação de assentamentos precários [conversão de áreas rurais em urbanas, comandado pelo preço da terra, oferecendo habitação desarticulada do contexto urbano]
Fragilidade de gestão e comprometimento das funções metropolitanas Apesar da expansão e crescimento efetivos, as condições de operação metropolitanas sofreram tantas modificações de 1980 a 2010 que podem ser consideradas erráticas [órgãos e instâncias de gestão foram criados e dissolvidos, sempre sujeitos às influências partidárias, do setor privado ou às carências institucionais] A extensão da RMB foi ampliada, com ingresso de municípios com perfis sócio-econômicos, técnicos e políticos diversos, potencializando divergências quanto ao trato de políticas setoriais clássicas e total carência de visão sistêmica dos processos metropolitanos \ [mobilidade, saneamento, moradia, espaços públicos] Por trás da forte expansão da produção imobiliária e atuação do ramo da construção civil que estão efetivamente acelerando a conurbação entre municípios de Belém, Ananindeua e Marituba, e o adensamento das áreas infraestruturadas, formando ilhas verticalizadas bem servidas e periferias fragmentadas [terra cada vez mais cara] x [metas de políticas públicas e ações oficiais viabilizadas com recursos federais ou de empréstimos externos]
CONSIDERAÇÕES FINAIS Há uma forte relação entre as funções desempenhadas pela RMB e sua inserção regional [conexões entre modais fluvial e rodoviário criaram novos níveis de rede urbana] Crescimento da metrópole e também da máquina administrativa após 1988, viabilizou a formação de um mercado que ampliou oportunidades para produtores do entorno e se constituiu em vantagem para alguns arranjos produtivos, mas também em desafio para as atividades incapazes de oferecer remuneração e condições de vida satisfatórias e que perdem trabalhadores para a metrópole. Os fluxos migratórios agora são dirigidos para os municípios da periferia metropolitana e a educação tornou-se um atrator tão forte quanto o trabalho [aumento da concentração de instituições de nível superior na RMB] Grande transformação no perfil das famílias nos últimos 20 anos [ampliação do acesso à educação, a queda de natalidade, e a taxa de crescimento do número de domicílios > taxa de crescimento da população] e tendência de envelhecimento da população necessitam de atenção dos formuladores de políticas públicas. Os dados para Belém se aproximam muito às médias do Brasil, enquanto os da periferia metropolitana se aproximam das médias do Pará, realçando o quanto a dimensão de ponto de controle do grande capital, típica da metrópole é forte em Belém.