OS DETERMINANTES DA PENDULARIDADE E SUA RELAÇÃO COM A MIGRAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA ENTRE 2000 E 2010.

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1 OS DETERMINANTES DA PENDULARIDADE E SUA RELAÇÃO COM A MIGRAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA ENTRE 2000 E Resumo: O objetivo do trabalho é identificar os principais determinantes da pendularidade na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) entre 2000 e 2010, observando-se a relação entre migração e pendularidade. As transformações ocorridas nos aglomerados urbanos e a configuração das regiões metropolitanas permitem a separação entre o local de residência e o local de trabalho, evidenciando a pendularidade. Junto a isso, observa-se que existe uma relação entre a migração e a pendularidade nas regiões metropolitanas e que essas relações são determinadas pela estrutura urbana e mercado de trabalho. Para a execução dos objetivos são utilizados os microdados dos censos demográficos de 2000 e 2010 que permitem uma análise descritiva e exploratória da evolução da migração e da pendularidade intrametropolitana, bem como observar de forma preliminar a relação entre migração e pendularidade. Isso é obtido com os dados dos pendulares que não são nativos do município e também com as informações dos pendulares de saída que são imigrantes de data fixa, além dos imigrantes de data fixa que são pendulares. Outro método utilizado para compreender os determinantes da pendularidade e sua relação com a migração é o modelo probit com seleção amostral de Heckman, em que seus resultados corroboram com a literatura e outros trabalhos que tratam da pendularidade e reforçam a importância da estrutura urbana como determinante, além de indicar que morar no entorno aumenta a probabilidade predita de pendular. Por sua vez, também mostra que ser migrante aumenta a probabilidade predita de pendular.

2 OS DETERMINANTES DA PENDULARIDADE E SUA RELAÇÃO COM A MIGRAÇÃO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA ENTRE 2000 E Introdução A recente história tem mostrado que existe uma relação entre a urbanização, metropolização e a trajetória da distribuição espacial da população e uma das características mais determinantes desse cenário é a concentração da população nos aglomerados urbanos, especialmente os metropolitanos, aliada às suas condições de crescimento e desenvolvimento. A configuração das metrópoles permite a separação entre o local de trabalho e o local de residência, o que é fundamental para a consolidação e a intensificação da mobilidade pendular nas regiões metropolitanas. Nas Regiões Metropolitanas (RMs), a migração e a pendularidade da população são características muito importantes e são fatores cruciais para seu estudo. Em países como o Brasil, a pendularidade da população também é tida como referência para caracterizar o processo de metropolização e chega até mesmo ser usada como critério para identificar a integração entre os municípios (Moura, 2010; Silva, 2012; Ojima, 2007). Assim como as demais regiões metropolitanas brasileiras, a Região Metropolitana de Curitiba passou por transformações e Deschamps e Cintra (2008) reiteram que o movimento pendular em todo o estado do Paraná se constitui como um importante fenômeno e está profundamente ligado à evolução dos fluxos migratórios. A partir da década de 1990, um fenômeno bastante observado nas grandes metrópoles é a tendência de maior crescimento dos municípios periféricos, ocorrendo uma evasão populacional das capitais (núcleo) para as periferias metropolitanas, aqui denominadas como entorno metropolitano. Está ocorrendo uma maior dispersão populacional, associada às mudanças na estrutura urbana e mercado de trabalho (Brito, 2007; Silva, 2012). Aliado a isso, há um grande fluxo de pendulares do entorno para o núcleo, mas com algumas mudanças e um maior volume do núcleo para o entorno e entre os municípios do entorno. Assim, observa-se uma relação entre migração e pendularidade e um dos elementos fundamentais para compreender essa dinâmica da mobilidade urbana é a estrutura urbana, que tem como principais componentes a distribuição da moradia, a distribuição de serviços (públicos e privados), as condições de deslocamento e mobilidade (transportes), além do mercado de trabalho. Além disso, Cunha (1995)

3 afirma que para melhor compreender os movimentos pendulares, é preciso compreender a migração intrametropolitana. Segundo ele, muitos dos determinantes da mobilidade pendular podem ser identificados a partir da compreensão dos condicionantes da migração interna da RM. Com isso, o objetivo do trabalho é identificar os principais determinantes da pendularidade na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) em 2000 e 2010, observando-se a relação entre migração e pendularidade. 2 Método Para a execução dos objetivos serão apresentados dados da evolução da migração e pendularidade intrametropolitana na RMC, por meio da utilização dos microdados dos censos demográficos de 2000 e Com esses dados é possível identificar os municípios de origem e destino dos fluxos pendulares e migratórios, observando os fluxos e como se distribuem entre os municípios. Para identificar a relação entre a migração e a pendularidade, também serão utilizados dados dos censos demográficos de 2000 e 2010 que permitem observar se os pendulares são naturais do município onde vivem. Também serão apresentadas tabelas e análises com dados de pendulares de saída que são imigrantes e imigrantes que se tornaram pendulares de saída. Deve-se ressaltar que o censo de 2000 permite observar apenas os migrantes de data fixa desagregados por município e em 2010 é possível também a informação de última etapa. A revisão de literatura aponta que migração e a pendularidade, bem como a relação entre elas, são condicionadas pelos determinantes individuais, familiares, do mercado de trabalho e de estrutura urbana. Assim, deve-se aplicar um método empírico que permita representar essas relações. O modelo escolhido é o modelo probit com seleção amostral de Heckman. Heckman propõe um método no qual o processo de modelagem estatística vem acompanhado de uma equação de seleção, que objetiva entender se uma determinada variável realiza um viés na amostra, o que faz com que esta não seja aleatória. Uma vez constatado, o modelo deve ser ajustado tendo em vista essa seletividade (HOFFMANN e KASSOUF, 2005). A variável de seleção da amostra é a condição de ocupação dos indivíduos, caracterizados como ocupados, pois os pendulares para o trabalho se restringem a pessoas que estão trabalhando ou procurando emprego.

4 O modelo apresenta como variável dependente a pendularidade, que é binária e apresenta valor 1 se o trabalhador executar o movimento de pendularidade e 0 se não o faz. Todos os dados utilizados também são dos microdados dos censos de 2000 e As variáveis independentes utilizadas no modelo são: idade; idade 2 ; sexo; logaritmo natural da renda individual; nível de instrução; condição de ocupação do domicílio; densidade morador/cômodo; existência de lixo coletado; esgotamento sanitário; água canalizada; propriedade de motocicleta; propriedade de veículo; variável de indicação espacial (se morar no entorno ou no núcleo tem influência na pendularidade); ser migrante de data fixa ou não. 3 Resultados e discussão Os dados relativos à migração intrametropolitana mostram que houve uma redução de 13,68% no fluxo de migrantes intrametropolitanos entre 2000 a Além disso, Curitiba é o município que apresenta o maior volume de emigrantes, representando 61,85% do total em 2000 e 59,95% em 2010, ou seja, a migração do núcleo para o entorno é preponderante. Ao contrário da migração, observa-se um significativo aumento na pendularidade entre o período de 2000 e 2010 e esse aumento corresponde a 76,54%. Além disso, a pendularidade para o trabalho corresponde a 79,95% em 2000 e 81,99% em 2010, com um pequeno incremento no período e é muito superior à pendularidade para o estudo. Em 2000, o movimento pendular para Curitiba correspondia a 79,49% do total da região e em 2010 passa a ser de 69,78% do total, com uma redução de quase 10 por cento. Todos os outros municípios aumentaram sua participação em relação à entrada de pendulares, especialmente Araucária e São José dos Pinhais. Os municípios que tem maior importância no movimento de saída de pendulares são Almirante Tamandaré, Colombo, Curitiba, Pinhais e São José dos Pinhais. Houve um aumento da participação do movimento pendular do núcleo para o entorno, passando de 10,26% do total da pendularidade em 2000 para 16,24% em A pendularidade entre os municípios do entorno também obteve aumento em sua participação de 10,24% em 2000 para 13,98% em Os resultados também mostram que em todos os municípios, os pendulares de saída, em sua maioria, não nasceram no município onde estão residindo. Também é

5 possível observar que existe uma relação entre migração e pendularidade quando se observa se os pendulares de saída de determinado município são também imigrantes de data fixa. Neste caso, por exemplo, 18,52% dos pendulares de saída de São José dos Pinhais são imigrantes de data-fixa em 2000 e 15,23% em Quando se trata dos imigrantes de data fixa que são pendulares de saída, os resultados são mais expressivos e reforçam a indicação de relação entre a migração e pendularidade. Os resultados obtidos com o modelo probit com seleção amostral de Heckman, corroboram com a literatura e indicam que um aumento na idade, diminui a probabilidade predita de pendular. Além disso, ser homem, ter maior nível de instrução e de renda também aumenta a probabilidade predita de pendular. Quando o imóvel é alugado ou cedido, e quando aumenta a densidade morador/cômodo, diminui a probabilidade predita de pendular. Ter coleta de lixo, esgoto, água canalizada, motocicleta e automóvel no domicílio também aumenta a probabilidade predita de pendular. Outra informação importante é que morar no entorno aumenta significativamente a probabilidade de pendular e o fato de ser migrante de data fixa também aumenta a probabilidade predita de pendular. 4 Referências Bibliográficas BRITO, F. Urbanização, metropolização e mobilidade espacial da população: um breve ensaio além dos números. In: 5º ENCONTRO NACIONAL SOBRE MIGRAÇÕES, 2007, Campinas. Anais... Campinas. CUNHA, J. M. P. da. Migração intrametropolitana: movimento dos pobres. Revista Brasileira de Estudos populacionais, v. 12, n. ½, DESCHAMPS, M.V.;CINTRA, A. Movimento pendular para trabalho na região metropolitana de Curitiba: uma análise das características de quem vai e quem fica. Anais... XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Casambú, HOFFMANN, R.; KASSOUF, A. L. Deriving conditional and unconditional marginal effects in log earnings equations estimated by Heckman s procedure. Applied Economics. Fev MOURA, R; (2010) Movimento pendular da população do Paraná: uma evidência da desconexão moradia/trabalho. Caderno Metropolitano, São Paulo, v. 12, n.23, p 43-64, jan/jun, OJIMA, R. (2007). Análise comparativa da dispersão urbana nas aglomerações urbanas brasileiras: elementos teóricos e metodológicos para o planejamento urbano e ambiental. Tese doutorado. Unicamp: Campinas, SILVA, E. T. Estrutura urbana e mobilidade especial nas metrópoles. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2012.