INVESTIGAÇÃO DE SINTOMAS VOCAIS EM DOCENTES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

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INVESTIGAÇÃO DE SINTOMAS VOCAIS EM DOCENTES DA REDE Resumo PÚBLICA DE ENSINO Cecília Regina Galdino Soares 1 - IFMA Iara Sandra Felix Carvalho 2 - IFMA Lourhana dos Santos Oliveira 3 - IFMA Eixo Saúde e Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento A saúde vocal do professor é uma ferramenta indispensável para a explanação de conteúdos aos seus alunos. Contudo, ainda é inexpressivo o número de docentes que conhecem os hábitos que colaboram para uma boa saúde vocal. Os hábitos causados pelo mal uso de voz contribui para o aparecimento de nódulos, pólipos, edemas, dentre outras lesões de pregas vocais, patologias prejudiciais a uma boa fonação e que podem manter o professor afastado da sala de aula. Atualmente, as alterações laríngeas estão entre as três patologias que justificam o pedido de licença para tratamento de saúde de professores. O seguinte trabalho é o resultado de uma investigação científica com objetivou identificar professores que apresentaram sintomas relacionados a alterações vocais ocasionadas pelo ao uso intensivo da voz e maus hábitos vocais. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário de saúde vocal aplicado aos docentes que estão em sala de aula há pelo menos cinco anos. Participaram da pesquisa 144 docentes do ensino fundamental de escolas municipais da cidade de Aldeias Altas, Maranhão. Constatou-se que cerca de 95,1% dos professores apresentaram sintomas sugestivos de alterações vocais, como consequência de maus hábitos no uso da voz, sendo que as alterações mais autor referidas foram garganta seca (82,4 %), cansaço ao falar (43,7%) e voz rouca 44,5%). Acredita-se que os achados evidenciam a importância da elaboração de oficinas voltadas para a promoção da saúde vocal docente como ferramenta de informação ao professor sobre os cuidados essenciais para se ter uma voz saudável, evitando, assim, o aparecimento e ou agravamento de alterações no trato vocal. 1 Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente: Universidade Estadual do Ceará. Docente do Instituto Federal do Maranhão IFMA/ Campus Caxias. E-mail: cecilia.soares@ifma.edu.br. 2 Graduanda do curso de Ciências Biológicas do Instituto Federal do Maranhão-IFMA/Campus Caxias. Extensionista do projeto Saúde vocal docente. 3 Graduanda do curso de Ciências Biológicas do Instituto Federal do Maranhão-IFMA/Campus Caxias. Extensionista do projeto Saúde vocal docente. ISSN 2176-1396

19944 Palavras-chaves: Docente. Alteração vocal. Maus hábitos vocais. Introdução A voz humana é produzida pela vibração das pregas vocais durante a passagem do ar fornecido pelos pulmões, e quando a corrente de ar passa pela região de estreitamento das pregas vocais em posição fonatória, há vibração das mesmas e a produção sonora. A origem da voz se dá por meio da laringe, que é localizada na região cervical do corpo humano, entre a traqueia e base da língua. A laringe possui características fibromusculares e várias cartilagens, dentre elas a tiroide, cicloide e a epiglote, todas revestidas com as membranas mucosas, que são impulsionadas pelos músculos da laringe, onde as dobras das membranas mucosas geram as pregas vocais, localizas na parte interna da laringe, que promove através dos seus movimentos, o som (voz) que usamos para efetivar a comunicação (VIEIRA et al, 2007). O professor é um profissional facilitador e promissor do conhecimento formal, sendo seu maior instrumento de trabalho a voz. O uso inadequado da voz pode ocasionar alterações que coloca em risco a saúde e sua vida docente. É importante que o professor conheça as estruturas e funcionamento da produção vocal para efetivar uma boa comunicação e ter hábitos saudáveis rlacionados à produção vocal. Pak e Behlau (2009) explicam que apesar de alguns professores já terem conhecimento desse instrumento de trabalho, não têm bons hábitos vocais e acabam por frequentarem consultórios de fonoaudióloga com sérios problemas nas pregas vocais A fonoaudiologia estuda a comunicação humana, seja por linguagem oral, escrita, voz ou audição. Nesta área, busca desenvolver ações prevenção primária, principalmente com grupos profissionais chamados de risco para obtenção de problemas relacionados à saúde ocasionados pela profissão. Neste rol de profissionais está o professor, que faz uso frequente da voz sem os devidos cuidados e acaba desenvolvendo alterações laríngeas. Esses problemas identificados na voz, além de comprometer a saúde do profissional, são responsáveis pela transmissão de mal ruídos no processo de produção de informações, apresentando uma voz auditivamente desagradável, que pode interferir no processo de comunicação com outras pessoas (CARRASCO, 2001). Segundo Behlau et al. (2001a) se a voz produzida possui boa qualidade para os ouvintes e é produzida sem dificuldade ou desconforto para o falante ela é uma eufonia, quando apresenta uma voz ruidosa ou desconfortável, que não é possível a interação efetiva com o público é uma disfonia. O conceito de uma boa qualidade vocal, não sendo tão simples, vem do termo

19945 socialmente aceitável, que não interfere na inteligibilidade, intensidade, frequência, modulação ou projeção apropriadas ao sexo e idade do falante e transmite a mensagem do discurso. Uma boa qualidade vocal para o professor é atribuída aos bons hábitos, conhecido como aquecimento vocal antes e depois de ministrar aula, ingestão de água quando leciona, e principalmente em ambientes com ar condicionado, evitar comidas condimentadas e uso de pastilhas e sprays que prometem aliviar sintomas vocais, como ardência laríngea. Estes hábitos simples podem prevenir patologias de pregas vocais preservar uma voz saudável. Segundo Santos et al (2012) uma parcela significativa de docentes comete excessos na voz, utilizando-a desnecessariamente dentro e fora do ambiente escolar, de forma intensa e sem ater-se aos cuidados necessários para evitar o adoecimento gradativo de sua voz. Este mesmo autor também enfatiza que os professores praticam outros abusos como gritar, falar mais alto do que sua capacidade vocal, provocando desconforto nas regiões envolvidas no processo de produção da voz. Adicionalmente, os docentes ingerem pouco quantidade de água, que é considerada fator de grande importância na hidratação das pregas vocais, uma vez que é água o elemento primordial para evitar o ressecamento do trato vocal, principalmente durante o processo de fonação intensiva e contínua, como ocorre todos os dias em salas de aula, onde o professor utiliza a voz em média por seis horas, pois a maioria destes profissionais trabalham dois turnos diariamente, com intervalos médios de duas horas entre os turnos. A junção destes fatores (ausência de ingestão de água, carga horaria excessiva, abusos vocais) terminada ocasionando problemas com o maior instrumento de trabalho docente: a voz. Os fatores acima mencionados são de cunho interno, ou seja: ocasionados pelo professor consciente ou inconscientemente. No entanto, existem outros fatores, os externos, não controlados pelos professores e que podem ocasionar alterações no trato vocal. As condições de trabalhado e materiais utilizados podem favorecer o surgimento das patologias vocais, tais como: o uso de giz frequentemente, grande demanda de aluno por professor, uma estrutura de sala comprometida, carga horária excessiva, ar condicionado sem manutenção, dentre outros. GONÇALVES et al, 2005 percebeu que os fatores externos colaboram para o adoecimento vocal tanto quanto os fatores ocasionados pelo próprio professor. Em suas pesquisas sobre saúde ocupacional, desenvolvida longitudinalmente, verificou que tais fatores comprometem a frequência e permanência do professor em sala de aula, demonstrando que muitos docentes, apesar de terem desenvolvido hábitos vocais saudáveis, após orientação de profissionais de saúde, como o fonoaudiólogo e otorrinolaringolista, continuaram a apresentar alterações no trato vocal, como rouquidão, falha vocal, e garganta seca após o dia de aula. Também há

19946 registros de agravamento de doenças respiratórias nos docentes, como renite, sinusite e asma ocasionadas agentes externos, como mofo, quadro de giz, ausência de reverberação das salas de aula, divisórias inadequadas para separação de salas de aula, fala de manutenção de ar condicionados e ventiladores e distribuição de carga horário sem intervalos sem intervalos a cada duas horas de aula, visando favorecer o repouso vocal. A disfonia, conhecida como toda alteração que comprometa a qualidade vocal, tem como características frequentes sensações de garganta seca, fadiga e rouquidão, que pode ser classificada em: disfonia funcional, orgânica e orgânicofuncional (VIEIRA et al 2007). Muitos problemas observados em sala de aula por Ghirardi e Ferreira ( 2008), como a disfonia, alteram o processo oral de ensino dos alunos, trazendo comprometimento da aprendizagem do educando. O problema de saúde da voz do professor implica também em saúde pública, que necessita do investimento em prevenções com acompanhamento fonoaudiológico, pois a realidade observada no âmbito escolar é que existem poucas ações dirigidas à saúde e vida do professor, que atendam suas especificidades. (GONÇALVES et al, 2005.). No seu artigo sobre a saúde do professor Santos et al. (2012) observou que os distúrbios psíquicos e vocais são os maiores responsáveis pelo o afastamento do docente do trabalho, e que apenas (25,4%) destes procuraram atendimento médico. Uma pesquisa desenvolvida em São Paulo por Van, Claeys e Van (2010) envolvendo servidores municipais que deram entrada em pedidos de licença médica verificou que 62% das licenças são concentradas em profissões relacionadas ao ensino, como professor, educador de creche e coordenador pedagógico, e que 97% das readaptações de funções estão relacionadas aos problemas de distúrbios vocais. Desenvolvimento A pesquisa é quantitativa. Foi desenvolvida no período de março a maio de 2017 no Município de Aldeias Altas. Participaram da pesquisa 144 professores do ensino fundamental das escolas públicas municipais de ensino da zona urbana e rural do município de Aldeias Altas, Maranhão. Os docentes receberam o TCL, sendo informados sobre a pesquisa e solicitando a autorização para a participação da mesma. Foram inclusos na pesquisa somente os docentes que atuavam em sala de aula há mais cinco anos e que não tinham sido submetidos a processos cirúrgicos laríngeos. Os docentes responderam um questionário contendo 16 perguntas relacionadas ao tempo de trabalho, hábitos inadequados dentro e fora da sala de aula e aspectos

19947 estruturais do ambiente de trabalho. A coleta de dados foi realizada na escola de atuação dos professores com o objetivo de facilitar a participação do docente e garantir um maior número de investigados. Após a análise dos dados, os docentes foram divididos em dois grupos: professores que apresentaram mais de três alterações vocais, apresentaram menos de três alterações e os que não apresentam sintomas de problemas laríngeos. Resultados e discussões A idade dos participantes estava entre 25 a 50 anos, sendo que a grande maioria é de mulheres (85%), com tempo de trabalho em torno de 5 a 30 anos e carga horária semanal média de 40 horas, distribuídos nos turnos matutino, vespertino e noturno. Dos 144 docentes que responderam ao questionário 137 apresentaram sintomas sugestivos de alterações vocais. Os sintomas vocais mais frequentes estão descritos nas tabelas 1 e 2. Tabela 1 Porcentagem de professores que apresentaram mais de três sintomas vocais Sintomas apresentados pelos professores N % Dor de garganta frequente 33 70,2 Sensação de garganta seca 44 93,6 Cansaço ao falar 38 80,8 Tosse frequente 12 26.6 Voz rouca com frequência 21 44,6 Pigarro com frequência 32 68,0 Fonte: Dados organizados pelos autores. Tabela 2- Porcentagem de professores que apresentaram menos de três sintomas vocais Sintomas apresentados pelos professores N % Dor de garganta frequente 9 9,27 Sensação de garganta seca 59 60,8 Cansaço ao falar 22 22,6 Tosse frequente 3 3 Voz rouca com frequência 40 10,3 Pigarro com frequência 15 15,4 Nenhum sintoma 7 7,2 Fonte: Dados organizados pelos autores. Na Tabela 1 estão os professores (47) que apresentaram mais de três sintomas vocais, como sensação de garganta seca (93,6 %), cansaço ao falar (80,8%), dor de garganta (70,2%), voz rouca com frequência (68,0%). Os Achados são consonantes com os encontrados por Valente; Botelho; Silva 2015, que encontraram resultados semelhantes em pesquisa também

19948 realizada com docente da rede pública de ensino. Os sintomas listados pelos educadores podem estar relacionados ao uso intensivo da voz na sala de aula de forma incorreta, associado a carga horária excessiva e falta de higiene vocal (GONÇALVES et al., 2005), o que ocasiona o aparecimento e ou agravamento de doenças do trato vocal. Na tabela 2 foram alocados os professores (90) que apresentaram de um a dois sintomas vocais. Dos seis sintomas apresentados no questionário, os mais relatados pelos professores foram sensação de garganta seca (60,8%), cansaço ao falar (22,6%) e voz rouca com frequência (10,3%). Pesquisa realizada com professores da rede pública do município de Cuiabá (MT), apontaram que 81% dos professores autorreferiram alterações no trato vocal, sendo que 57,7% relatam como possível causa o uso intensivo da voz. Os sintomas autorreferidos mais prevalentes foram rouquidão (72,3%), garganta seca (74,6%), esforço ao falar (64,5%) e cansaço ao falar (60,6%) (VALENTE; BOTELLO; SILVA, 2015). Os achados evidenciam que a grande maioria dos professores apresentam sintomas de adoecimento vocal, sendo que a maior parte destes encontra-se no grupo com mais de três sintomas. Os achados ratificam as situações vocais de uma parcela considerável de professores do ensino fundamental. Cielo; Ribeiro (2015) realizaram uma investigação sobre qualidade vocal em 114 docentes da educação infantil e séries iniciais da educação básica da cidade de Santa Maria. Averiguaram que 72,8% apresentavam queixas vocais. O estudo também revelou que os docentes que estão há mais tempo em sala de aula apresentam um número maior de sintomas de adoecimento vocal. As investigações em torno da saúde vocal docente evidenciam a importância de um planejamento efetivo para minimizar as alterações no trato vocal dos docentes que se encontram em sala de aula, por meio de programas que desenvolvam estratégias voltadas para a saúde vocal e qualidade de vida e voz destes profissionais da educação. Os cursos de curta duração em saúde vocal docente é uma alternativa viável, uma vez que proporcionam informações que conduzem os professores a perceber os problemas que atingem sua voz; campanhas periódicas de medidas preventivas vocal voltadas para uso correto da voz, bem como orientações de como desenvolver bons hábitos vocais. Estudos realizados por Fabrício, Kasama e Martinez (2009) apontam que 22,23% dos professores acreditam ser importante a prevenção e conscientização por meio de programas que abordam a temática sobre voz profissional e que detectem possíveis sintomas (fadiga vocal, tosse seca, e alteração do pitch vocal). Neste mesmo estudo, os docentes

19949 também enfatizaram que as escolas precisam abrir espaços de diálogos sobre os bons hábitos de higiene vocal, visando oferecer aos educadores informações imprescindíveis para a permanência de uma voz saudável ao longo dos anos de profissão. É notório, tanto na pesquisa foco deste trabalho como em outras investigações mencionadas, que a maioria dos docentes desconhece o que fazer para manter uma qualidade vocal, sendo este um dos principais motivos que os levam ao adoecimento após os cinco primeiros anos de profissão. No entanto é salutar destacar que outros fatores relacionados ao ambiente de trabalho, como jornada duplicada, acúmulo de funções não inerentes ao cargo de professor, jornada de trabalho diária superior a quatro seis horas em sala de aula associado às condições ambientais de trabalho (iluminação, ventilação, condições de paredes de sala de aula) também estão associados a estas alterações, levando-os a piorar o quadro de saúde vocal (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016). Considerações Finais A presente pesquisa concluiu que mais de 90% dos professores apresentaram sintomas vocais sugestivos de alterações laríngeas, sendo que grande parte desses sintomas decorre de maus hábitos e abuso vocal, que põe em risco a voz do professor e aumenta as estatísticas de doença ocupacional. Um fator preocupante é que a maioria dos docentes não sabe como lidar com essa situação, por serem desprovidos de informação, e quando as tem apresentam dificuldade de colocar em prática bons hábitos vocais. Outro fator que se torna motivo de atenção é que, mesmo sendo conscientes do problema a maioria destes profissionais não procuram um fonoaudiólogo ou otorrinolaringolista para averiguar a causa desses sintomas. Diante desse contexto, entende-se que há uma necessidade de ações em saúde pública voltadas para os professores, sobretudo os que atuam na educação básica, onde há uma maior demanda de uso da voz, com a finalidade de oferecer informações sobre qualidade de vida e voz docente. Há também que se pensar em campanhas de conscientização sobre a voz para disseminação dos hábitos favoráveis à preservação do trato vocal e de uma boa saúde vocal como forma de favorecimento do repasse de conteúdos em sala de aula.

19950 REFERÊNCIAS BEHLAU, M. et al. Avaliação de voz. In: BEHLAU, M. Voz: o livro do especialista. Rio de Janeiro: Revinter. 2001.p. 85-180. CARRASCO, M. C. O. Fonoaudiologia empresarial: Perspectivas de consultoria, assessoria e treinamento. São Paulo: Lovise, 2001. CIELO, C. A.; RIBEIRO,V. V Autoavaliação vocal de professores de Santa Maria/RS. Rev. CEFAC. 2015 Jul-Ago; 17(4):1152-1160. FABRÍCIO, M. Z, KASAMA, S.T, MARTINEZ, E. Z. Qualidade de vida relacionada à voz de professores universitários.rev. CEFAC, São Paulo, 2009. GONÇALVES, C. G. O, et al. Fonoaudiologia e Saúde do Trabalhador: a questão da saúde vocal do professor. Saúde em Revista. Piracicaba, 7(15): 45-51, 2005. Disponível em: http://www.ufpel.edu.br/fae/caduc/downloads/n28/artigo11.pdf. Acesso em: 12 de Maio de 2017 GONÇALVES, G. B.; OLIVEIRA, D. A. Saúde vocal e condições de trabalho na percepção dos docentes de educação básica, Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade. Salvador, v. 25, n. 46, p. 89-104, maio/ago. 2016. GHIRARDI, C. A. M.; FERREIRA, L. P. A influência da voz do professor disfônico no processamento da linguagem oral de alunos. Rev. Distúrbios da Comunicaçao. São Paulo, 20(1): 136a-136b, abril, 2008. PARK, K.; BEHLAU, Mara. Perda da voz em professores e não professores. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol. [online]. 2009, vol.14, n.4, pp. 463-469. ISSN 1982-0232. SANTOS, A, S et al. Comunicador eficaz: a voz do professor e saúde preventiva. Rev. RENEFARA, v. 2 n. 2. 2012. VALENTE, A. M. S. L; BOTELHO, C; SILVA, A, M. C. Distúrbio de voz e fatores associados em professores da rede pública. Rev. Bras. Saúde Ocup. São Paulo, 40 (132): 183-195, 2015. VAN, H, E; CLAEYS, F, VAN, L, K. The impacto f voice disorders among teachers: complaits, treatment- seeking behavior, knowledge of vocal care, and voice- related absenteeism. J Voice. 2010. VIEIRA, A. B. C., et al. Fatores causais e profilaxia da disfonia na prática docente. Cadernos de Educação, Pelotas, v. 28, p. 255-270, 2007.