PN 4179.07-5; Ap: TC Porto, 4ª Vara () Ap.e: Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO: (1) A ap.e discorda da perda de causa, absolvida a do pedido de reconhecimento do direito à concessão das prestações sociais por falecimento do companheiro. (2) Da sentença recorrida: (a) Há uma equiparação da união de facto para efeitos de pensão de sobrevivência à união d e facto para efeitos de alimentos da herança, porém, não há equiparação da união de facto à sociedade conjugal para efeitos de pensão de sobrevivência, na medida em que na sociedade conjugal, ao contrário da união de facto se não exige o requisito da carência de alimentos, nem a possibilidade da satisfação destes quer pelos familiares, quer por força da herança do beneficiário. (b) Deste modo, o requerente [em pretérita união de facto] das prestações por falecimento de beneficiário da segurança social, tem de obter sentença judicial que lhe reconheça o direito a alimentos por força da herança do falecido e será com essa sentença que vai obter a pensão de sobrevivência. (c) Contudo, o direito a alimentos por força da herança pode não existir, por exemplo, quando a herança não tiver bens o u forem insuficientes: é então titular do direito às prestações sociais quem obtiver o 1 Advª: Drª 2 Advª: Drª 1
reconhecimento da qualidade em acção declarativa fundada em ter vivido nas condições análogas às dos cônjuges, com pessoa não casada ou separada de pessoas e bens, há mais de dois anos à data da morte do beneficiário, mas que necessite de alimentos e que os não possa obter dos familiares. (d) Aqui, a A. logrou provar que à data do óbito de, 04.09.25, divorciado, vivia com ele há mais de 25 anos. (e) Contudo, ficou a ignorar-se se tem qualquer ocupação profissional, se recebe qualquer vencimento, enquanto ficou apurado não auferir subsídio de desemprego: não ficou provada, pois, a actual situação económico-social da A. (f) Não está, assim, comprovada a necessidade de alimentos com o significado do artº 2003 CC ( indispensável ao sustento habitação e vestuário. (g) Logo, sem os requisitos legalmente exigidos para ser reconhecido há A. o direito à pensão de sobrevivência improcede o pedido. II. MATÉRIA ASSE NTE: (a) 04.09.25: faleceu, divorciado. (b) Há mais de 25 anos que a A. e o falecido,, viviam em comunhão de mesa, leito e habitação, com morada no. (c) Entre os vizinhos, por todos eram considerados marido e mulher. (d) E a situação mantinha-se no momento do óbito. (e) A a. não aufere subsídio de desemprego. (f) Gasta com a renda da casa a quantia mensal de 11 082, que satisfaz à CM Porto. (g) A única descendente da A. e de,, tem um rendimento mensal líquido de 415. (h) O marido desta filh a da A.,, está desempregado e recebe a título de subsídio de desemprego o montante mensal de 650,00. (i) Este subsídio de cessa em 06.04.26. 2
(j) E o casal / não aufere quaisquer outros rendimentos, além destes. (k) A mãe da A. vive da pensão de reforma: 216, 79. (l) A irmã da ap.e,, aufere um rendimento líquido mensal de 376, 47. (m) Tem esta a seu cargo a filha menor. (n) que é estudante. (o) E que não aufere quaisquer rendimentos. (p) não deixou quaisquer bens, não tinha veículo automóvel, nem valores em depósito nas instituições bancárias. (q) Vivia ele só da reforma: 218/mês. (r) Era o contribuinte nº e o beneficiário da segurança social nº III. JUST IFICAÇÃO DO JULGAMENTO DA MATÉRIA DE FACTO: (1) Foi dada sobretudo resposta negativa a Q4, [a A. está desempregada?] e resposta restritiva a Q5, [a A. não aufere qualquer rendimento ou subsídio], tudo no sentido de ficar apenas assente, isso só, que no momento do julgamento a A. não auferia subsídio de desemprego. (2) O tribunal teve em conta no julgamento, a síntese da A. relativa aos rendimentos que tem auferido, da qual resulta que esteve inscrita no Centro de Desemp rego até 06.05.30, data em que esta inscrição foi anulada por falta de resposta a convocatória e os depoimento das testemunhas e que de forma espontânea e sincera relataram que a A. faz limpezas e que vive com uma irmã de modesta condição económica (e o encargo de uma filha menor), contudo, conjugados com outra documentação3: não lograram convencer da situação de desemprego da ap.e. 3 (1) Declaração ISSS, 06.03.16, teve última remuneração registada nesta instituição em 02.01 e foi-lhe concedido subsídio de desemprego de 02.02.15 a 05.02.14; no presente, não se encontra a receber qualquer subsídio; (2) Direcção Geral dos Impostos - divisão de liquidação dos impostos sobre património e outros contribuinte da de situação fiscal: IRS (2000) rend. bruto: 2841, 30; Seg. Social - 312, 55; anexo G/G1, ref 01: 226, anexo H, ref. 230: 1795, 67; (3) id: IRS (2001) rend. bruto: 3104, 80, Seg. Social - 351, 54; abatimentos e deduções à colecta, ref. 801: 13, 51; ref 806: 1795, 68; 3
IV.CLS/ALEGAÇÕES: (1) A sentença reco rrida, no julgamento da matéria de facto, comporta todos os requisitos necessários à procedência com a excepção da necessidade de alimentos. (2) Considerou, quanto a este item, n ão ter ficado provada qual era a situação económica actual, isto é, parte da base de se ignorar ter a A. qualquer ocupação profissional; se recebe vencimento, sendo certo que na actualidade não percebe subsídio de desemprego. (3) No entanto, é certo que as testemunhas inquiridas revelaram conhecer os factos concretos, não suscitando quaisquer dúvidas relativamente à situação profissional da A. e consequentemente à necessidade que tem de alimentos. (4) Todas afirmaram, aliás, e peremptoriamente, que ajudam a ap.e, uma vez que esta se encontra sob graves dificuldades económicas, sem sequer ter dinheiro suficiente para comer. (5) E, na verdade, a A. não dispõe de rendimentos que lhe permitam custear as mais elementares necessidades de refeições, água, luz, vestuário razão pela qual vive, por favor, em casa da irmã. (6) Deste modo, a reconciliação de toda a prova produzida deve dar lugar à alteração da resposta a Q4, passando de não provado a provado; e logo se encontrará verificada toda a base legal da proced ência do pedido. (7) Deve ser revogada a sentença recorrida e ser substituída por Acórdão que considere reconhecida à A. a qu alidade de titular das pr estaçõ es por morte do beneficiário da segurança social, nos termos do DR 1/94, 14.01. V. CONTRA-ALEGAÇÕE S: não houve. VI. RECURSO: Pronto para julgamento, nos termos do artº 705 CPC. (4) id: IRS (2003) [NIF falecido] rend. bruto, ref 402: 45125, 32; total de outros rendimentos, ano N: prest.1102: 45125,32; ano N1 vendas 1103: 2849, 63; prest. 1104: 21987, 50; ano N2 vendas 1105: 11964, 67; abatimentos e deduções à colecta ref 801: 45, 53; ref 807: 385,67; ref 805: 2000,08; ref 808: 288,10; (5) id: IRS (2004) rend. bruto: 2147, 21. 4
VII. SEQUÊNCIA: (1) A improcedência do pedido derivou de não se ter feito prova, segundo a sentença recorrida, da situação de carência económico-financeira da A. em ordem a poder concluir-se que necessitaria de alimentos por força da herança. (2) Mas o tribunal deu como provado, sem hesitação, que o companheiro falecido não deixou herança relevante, com certeza confiado n a prova testemunhal (3) Ora, a resposta negativa ao quesito sobre o desemprego da recorrente, que se tivesse sido respondido provado, permitiria a inferência da pobreza e abandono, baseia-se em documentos fiscais que (não estabelecendo com clareza o contrário da insuficiência hereditária) são, no entanto, bastantes nos dados sobre carência de rendimentos da contribuinte fiscal. (4) Depois, independentemente de poder passar-se a uma crítica dos depoimentos (transcritos) é certo que os conhecimentos comuns e mobilizáveis para apreciação judicial sobreposta ao quadro sócio-económico do histórico da envolvente da A. na freguesia de Campanhã do Porto4, é compatível com o perfil que pode estabelecer-se, sob mínimo de segurança, dela e da família a que pertence: justificam, sem exageros e com toda a prudência, a presunção judicial de carência de alimentos, já com base na matéria apurada e assente. (5) Por isso mesmo, ao contrário da sentença recorrida, aceita-se como facto provado que a ap.e não aufer e r endimentos a partir dos quais possa satisfazer autonomamente as necessidades básicas da sua vida. (6) Deste modo, está cumprido o programa legal do reconhecimento do direito às prestações sociais por morte do companheiro que a A. pediu em juízo e, nesse sentido é que vai a rev ogação da sentença de 1ª instância, concedendo este despacho a procedência inteira do pedido, vistos os artºs 6º/2 da lei 7/2001, 11.05 e 3/2 DR 1/94, 18.01. VII. CUSTAS: sem custas, por não serem devidas. 4 Segundo os dados estatísticos e os estudos sociais disponíveis sobre a zona periférica urbana de Campanhã no Porto, pode concluir-se a generalizada ocupação por populações de muito modesta condição social, correlacionável, segundo os dados da causa, com os indicadores acerca do património dos pais da A. e os rendimentos e estatuto da irmã e da filha. 5