Turma e Ano: Master A 2015 Matéria / Aula: Direito Tributário Professor: Vanessa Siqueira Monitor: Natália Sant'Anna de Figueiredo Aula 16 Continuação da aula: Imunidades. Seguimos analisando as imunidades: 1. Imunidade das entidades de assistência social e de educação sem fins lucrativos que cumpram os quesitos legais. Está previsto no art. 150, VI, alínea c da Constituição que diz: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; relembrando que na alínea c temos agasalhadas três imunidades. 1.1. Fundamentos: Chamada de imunidade das entidades filantrópicas tem como fundamento as condições mínimas da liberdade apelidada de imunidade do mínimo existencial, integrando o princípio da dignidade da pessoa humana. Essa imunidade garante proteção ao patrimônio, a renda e aos serviços das entidades de educação e de assistência social sem fins lucrativos que cumpram os requisitos legais. 1.2. Conceitos: 1.2.1. Entidades de educação: Expressão ampla que abarca não só de Ensino formal, como as escolas de nível fundamental, médio, superior, pós-graduação strictu sensu, cursos de idiomas, de aperfeiçoamento, cursos preparatórios para concurso. Para que a entidade receba a imunidade ela deve cumprir os requisitos legais, além de não ter fins lucrativos. Instituições culturais como museus, bibliotecas, centros de pesquisa, no entanto, temos que retirar desse rol as entidades que prestam serviços de lazer e recreação, clubes e sociedades carnavalescas. 1.2.2. Entidades de assistência social: São entidades destinadas também a saúde e a previdência, não somente a assistência social. As entidades da assistência social para os fins das imunidades não se limitam as entidades que se encaixam somente no rol do Art. 203 da Constituição. O Supremo exige somente a generalidade e a gratuidade.
1.3 Requisitos: Tradicionalmente se considerou que os requisitos estavam previstos no CTN em seu art. 14. Entretanto, em 1997 adveio a Lei 9532, uma lei ordinária, que em seu art. 12 dispôs sobre novos requisitos das imunidades. Surgiu diante disso um questionamento sobre qual lei seria aplicável para a definição dos requisitos. O Supremo firmou posição no sentido de que o art. 150, VI alínea c remete a lei ordinária somente para os requisitos atinentes ao funcionamento das entidades imunes, de sorte que, qualquer limitação, poderia ser vinculada por meio de lei complementar. O art. 14 ao estabelecer os requisitos foi tomado como a palavra final. Como a polemica continuou o Supremo refinou o entendimento afirmando que seria preciso que uma lei complementar estabelecesse requisitos objetivos (requisitos necessários ao gozo da imunidade) mas também é preciso que uma lei ordinária, estipule requisitos subjetivos (requisitos necessários a constituição e ao funcionamento dessas entidades imunes). No que tange os requisitos subjetivos, eles possibilitam o enquadramento da entidade como entidade filantrópica, de acordo com o art. 12 da Lei 9532/97. Fazer remissão do art. 150, VI, alínea c para os artigos: Art. 14 do CTN e art. 12 da Lei 9532/97. O art. 14 foi modificado pela lei Complementar 101 e traz os seguintes requisitos: a. A entidade não pode distribuir qualquer parcela de suas parcelas ou patrimônio, a qualquer título. b. As entidades devem aplicar integralmente seus recursos para a manutenção dos seus respectivos objetivos institucionais. c. As entidades devem manter escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades, obviamente, capazes de assegurar sua exatidão. A entidade pode produzir lucros desde que o lucro seja vertido para seus objetivos institucionais. Temos o verbete 730 do STF que trata do tema: súmula 730 a imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, vi, "c", da constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se não houver contribuição dos beneficiários. Na hipótese de a entidade da previdência privada não cobrar nenhuma contribuição dos beneficiários, quando for inteiramente custeada pela patrocinadora, ela irá se comparar as entidades de assistência social. Essa posição se consolidou no RE. 259.756. As entidades de previdência privada podem ser mantidas pelo patrocinador ou pelas contribuições do empregado, basta que se exija qualquer contribuição do empregado para que se descaracterize a entidade filantrópica, é necessária a gratuidade. Existem casos raros em que somente a patrocinadora verte valores para a entidade, fazendo jus a isenção da entidade filantrópica, alguns exemplos: ComShell e Icolub. O Art. 202, pu 3º da Constituição: Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado
de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei complementar. 3º É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de patrocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição normal poderá exceder a do segurado. Esse entendimento infringiu uma derrota as estatais quanto aos seus fundos de pensão. Retomamos a análise da Sumula 724 do STF que fala da extensão da imunidade: Sumula 724: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, vi, "c", da constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades. A professor retoma a crítica realizada na aula anterior no qual afirma que a extensão da imunidade aos templos de qualquer culto aos partidos políticos é um erro, estas sendo imunidades liberdade e não liberdade fomento. A imunidade para as entidades de assistência tem natureza de imunidade fomento, sendo entendimento solidificado na sumula 724 do STF. 2. Imunidade de livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. Está prevista no Art. 150, VI, aliena d: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. 2. 1. Fundamento: O objetivo é a proteção da liberdade de expressão, prevista no art. 5º, IV CRFB. (Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;). A proteção da liberdade de manifestação da atividade intelectual, artística e científica e também da comunicação prevista no art. 5º, IX da CRFB (Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;) e a proteção do acesso a informação previsto no art. 5º, XIV CRFB (Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XIV - é assegurado a todos o acesso
à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;). Essa imunidade é objetiva ao contrário das outras listadas até aqui, ela se vincula ao objeto e não ao contribuinte. É imune todas as operações de produção, importação e circulação relacionadas aos livros, jornais e periódicos, papeis destinados à sua impressão. Não é imune a livraria, editora, a imprensa jornalística até porque a imunidade em questão é objetiva, está afastada a incidência de IPI e ICMS...Temos o RE 170.007. A imunidade protege de impostos incident4es de mercadorias, ou seja, ICMS e IPI, a editora paga COFINS e IR, mas a empresa que de saída ao livro não paga o ICMS. Essa imunidade foi introduzida no Brasil na Constituição de 1946 que tratava exclusivamente do papel destinado a impressão de jornais periódicos e livros. Alguns autores não hesitam em vincular a imunidade em questão com a difusão da cultura, objetivo este consubstanciado com o barateamento das publicações. Na verdade, se objetivava a proteção a liberdade de imprensa escrita, num período recentíssimo de nossa história ela foi ameaçada pela ditadura do estado novo, por intermédio da censura explicita, mas também pelo contingenciamento da importação de papel. O estimulo a cultura pelo barateamento das publicações é objetivo assessório dessa imunidade. 2.2: Decisões RE 230.782: Não abrange o serviço de confecção gráfica de modo que sobre esse serviço vai incidir o ISS, que é de competência dos municípios. RE 87.049: O Supremo reconheceu que a imunidade atinge a imprensa jornalista na veiculação de anúncios e de propaganda, desde que, os anúncios e as propagandas estejam expressos no corpo do jornal ou do periódico. RE 213.094: Não são imunes os encartes e os folhetos de propaganda comercial veiculados separadamente, apesar de distribuídos juntamente com o jornal. Re 392.221: O supremo reconheceu a imunidade a películas de polímero de proprileno usadas para imprimir maior resistência a livros sem capa dura. O Supremo enquadrou a película de polímero propileno como material assimilável ao papel. Esse entendimento, num primeiro momento, imprimiria um conflito com decisões anteriores do Supremo que afirmavam que não estariam englobadas pela imunidade os insumos utilizados na produção de livros, exceto o papel e materiais que possam ser tomados da mesma natureza que o papel. Esse entendimento foi importante pois reconheceu que a tinta do papel não estaria abarcada pela imunidade. Importante destacar a súmula 657 do STF: a imunidade prevista no art. 150, vi, "d", da constituição federal abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos.
RE 199183: O Supremo incluiu as listas telefônicas como incluídas na imunidade prevista no art. 150, VI alínea d. Estão excluídas as páginas amarelas por seu intuito comercial. O supremo estendeu aos álbuns de figurinhas sob o argumento de que os álbuns visam estimular o público a se familiarizar com os meios de comunicação impressa, atingindo assim a finalidade prevista pela norma, de acesso à cultura e a educação. Qualquer software que não veicule livro, jornal e periódico não está abarcado pela imunidade. RE 330.817: Os aparelhos que se destinem exclusivamente a leitura de livros e os tablets não estão abarcados por esta imunidade. O ministro Toffoli entendeu que essa imunidade não se estendeu aos livros eletrônicos. Na justiça federal tem jurisprudência em sentido contrário. O conteúdo da publicação não restringe a imunidade, ainda que não se esteja a publicação a atingir objetivos considerados legítimos pela cultura dominante, são imunes publicações de conteúdo pornográfico, livros que defendem ideias antidemocráticas, racistas, fascistas, ainda que a publicações sejam consideradas criminosas, temos a Lei 7.786/89, lei que criminaliza o racismo, esta não afasta a imunidade pois seria tributar ato ilícito. 3. Imunidade tributária dos CD s e DVD s. Está prevista no art. 150, VI, alínea e CRBF. (Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.) Foi uma tentativa de evitar a pirataria com a chamada PEC da Música. Como essa imunidade é recente não se tem muito o que dizer sobre ela.