LITERATURA E FORMAÇÃO HUMANA: O LUGAR DA LITERATURA NA ESCOLA SEGUNDO O DOCUMENTO PRELIMINAR À BNCC 1. Elisa Isabel Schäffel 2, Taíse Neves Possani 3.

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Transcrição:

LITERATURA E FORMAÇÃO HUMANA: O LUGAR DA LITERATURA NA ESCOLA SEGUNDO O DOCUMENTO PRELIMINAR À BNCC 1 Elisa Isabel Schäffel 2, Taíse Neves Possani 3. 1 Pesquisa realizada por meio do projeto Leitura Literária e Vivências Interdisciplinares, o qual é financiado pelo Fundo Institucional de Pesquisa da UNIJUÍ e coordenado pela Profª. Me. Taíse Neves Possani. 2 Acadêmica do Curso de Graduação em Letras Português-Inglês (UNIJUÍ), bolsista de Iniciação Científica - PIBIC/UNIJUÍ - junto ao projeto Leitura Literária e Vivências Interdisciplinares. elisaschaffel@hotmail.com 3 Docente do Curso de Letras Português-Inglês (UNIJUÍ), Mestre em História da Literatura (FURG 2009), coordenadora do Projeto Leitura Literária e Vivências Interdisciplinares, orientadora do trabalho. taise.possani@unijui.edu.br Introdução A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que irá nortear a construção curricular nas escolas, definindo os conhecimentos essenciais que todo aluno tem direito de aprender durante a educação básica. Orientados por esse documento os professores poderão escolher os melhores caminhos de como ensinar. A BNCC é um documento de relevância que auxiliará na compreensão daquilo que realmente se considera importante no desenvolvimento da educação brasileira. Cada disciplina que compõe as diversas áreas do conhecimento tem espaço especial na Base, sendo descrita e detalhada, em sua relevância, em seus objetivos de aprendizagem, nos conteúdos a serem ensinados, etc. O presente estudo ocupar-se-á especificamente da análise da Literatura, da percepção que a BNCC traz sobre ela, uma vez que seu ensino e seu lugar na escola são problematizados a bastante tempo. Este estudo desenvolveu-se a partir do projeto Leitura Literária e Vivências Interdisciplinares e reúne alguns dos estudos feitos bem como os resultados obtidos. O projeto é financiado pela UNIJUÍ e está inserido na área da educação. Preocupa-se em contribuir com pesquisas educacionais no âmbito das Letras, refletindo sobre o lugar da Literatura e da leitura literária no Ensino Médio. Desde 1980 o ensino da literatura vem sendo discutido e os problemas centrais dizem respeito à falta de formação e preparo dos professores e do desinteresse crescente dos alunos (LUFT,2014). De maneira geral, há a falta de um ensino contextualizado, integrador e significativo. A Literatura enfrenta problemas que vão além das fronteiras da escola. O cânone é desvalorizado e os clássicos, na maioria das vezes, perdem a competição com outros meios de comunicação, como computador, celular e televisão. Considerada por muitos como dispensável, a Literatura gradativamente perde seu lugar nos espaços sociais e consequentemente na escola, onde a perda se agrava. Muitas vezes o ensino da Literatura é reduzido, deixado de lado ou então substituído pelo estudo de fragmentos literários nas aulas de português. Diante desse contexto, o presente estudo busca refletir, a partir da percepção contida na BNCC, sobre o trabalho com o texto literário na escola, bem como esclarecer sobre a necessidade de aí estar inserido e assegurar a importância de sua permanência na formação básica, ao possibilitar e instigar a formação humana.

Metodologia Para o desenvolvimento da presente pesquisa fez-se uso de pesquisa bibliográfica, com leitura de obras de autores renomados e que estudam as temáticas propostas, tais como Antonio Candido, Edgar Morin, Paulo Freire e Regina Zilberman. Também foram lidas publicações acerca do assunto, como artigos, teses e dissertações. Além disso, a partir do método hipotético-dedutivo foram analisados documentos oficiais e também documentos ainda em consolidação, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Resultados e discussão A Literatura se constitui através de valores culturais. A obra literária, por sua vez, é produto de um contexto maior, influenciada por práticas culturais, ideologias e visões de mundo e também as influenciando. Literatura é prática social, é conhecimento e instrução, mas é também arte. Arte que traz sensibilidade, que rompe com o materialismo e alienação do cotidiano. Mesmo que muitas pessoas ainda resistam à Literatura o futuro desta está garantido por sua capacidade de ficcionalização. O ser humano precisa de meios para representar seus anseios, seus desejos, as mais variadas emoções e sentimentos, e a Literatura proporciona este escape do mundo regrado, permitindo o devaneio, a sensibilidade e a fruição dos prazeres. Defendemos a literatura e a prática da leitura literária como uma forma de vivência pessoal, humana, única e intrínseca à formação do jovem. Essa necessidade é explicada por Antonio Candido, que nos diz que A literatura compreende a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto, nos humaniza. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade. (CANDIDO, 1995, p. 186). A leitura literária, portanto, nos capacita a construir significações para melhor compreender o que acontece ao nosso redor e também conosco, ela nos chama a tomar consciência sobre nossa realidade, podendo ser também um instrumento de desmascaramento social. O potencial humanizador da Literatura tem sido frequentemente desvalorizado, esquecido e ignorado nas práticas escolares da disciplina. Falta domínio por parte dos professores, sobra desinteresse por parte dos alunos. Na escola, Literatura torna-se sinônimo de períodos literários, de decorar autores e suas respectivas obras, torna-se uma disciplina unicamente limitada ao espaço escolar, não se considera sua independência e existência fora da sala de aula, não se percebe sequer sua relação fundamental com as demais áreas e disciplinas ministradas. O documento preliminar à Base Nacional Comum Curricular busca orientar a Educação Básica e definir objetivos de aprendizagem, trazendo, portanto, novas percepções sobre as áreas de conhecimento e sobre as disciplinas, inclusive sobre a Literatura. Quando se fala sobre Literatura na escola, fala-se também sobre formação de sujeitos leitores, fruição, conhecimento e domínio de obras literárias, estas competências até pouco tempo estavam a cargo da disciplina de Literatura. Contudo, a partir da leitura e interpretação da BNCC concluiu-se que a Literatura não se estabelece mais como disciplina única, passando então a ser vinculada à disciplina de Língua Portuguesa, constituindo um dos campos de atuação desta.

Os campos de atuação podem ser compreendidos como os contextos nos quais se desenvolvem as práticas da linguagem, eles assinalam a importância da contextualização do conhecimento, revelando uma nova percepção do uso da linguagem em diversos contextos, considerando as inúmeras situações de comunicação. Partindo da nova percepção do uso das linguagens, a linguagem literária passa a ser vista como expressão do homem, de suas relações e de seu mundo, essa linguagem, portanto, nos constitui. Observa-se então, que os objetivos estabelecidos para as práticas literárias incentivam a articulação entre os conhecimentos das áreas e entre os conhecimentos e a vida, articulação imprescindível, segundo Paulo Freire, para o qual a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 2008, p.11). Por fim, destacam-se os seguintes resultados a partir da presente pesquisa e estudo: 1) A leitura literária ganha centralidade na prática de sala de aula; 2) Propõe-se um diálogo entre as produções tradicionais e canônicas com as produções da contemporaneidade; 3) Ressalta-se o aspecto formativo da literatura, do homem e do mundo humano; 4) O multiculturalismo presente nos textos literários ganha evidência e mostra-se como caminho para abordagens interdisciplinares dentro e fora da área de linguagens; 5) Os fundamentos teóricos da literatura passam a ser reconhecidos nas práticas literárias e para elas. Logo, o aluno forma-se, construtor, produtor e receptor do texto literário. A Literatura perdeu seu lugar como disciplina escolar e integrou-se à Língua Portuguesa, contudo permanece imprescindível e insubstituível como modo de humanização do homem, garantindo, portanto, sua permanência e relevância na formação escolar. O texto literário representa o texto por excelência e compreende os mais complexos e elaborados usos da língua. Língua esta que o homem usa para expressar-se e interagir com o mundo, para comunicar-se. Através da língua constroem-se identidades, formam-se culturas. O estudo da linguagem humana possibilita a compreensão do mundo e dos sujeitos. Além disso, o domínio da língua é garantia primeira de bom desenvolvimento do conhecimento das demais áreas, além de ampliar e melhorar a capacidade de comunicação em suas diversas ocorrências. Não mais uma disciplina escolar a ser ministrada e forçadamente ensinada aos alunos, a Literatura, em sua nova concepção escolar, dependerá em grande parte de um novo posicionamento dos docentes, que precisam ter consciência da influência que exercem na formação de alunos leitores e interessados pela leitura literária. Para que o professor seja capaz de cativar seus alunos, é preciso que antes de tudo ele mesmo seja um exímio leitor, e que perceba a leitura como um instrumento para despertar o senso crítico e reflexivo dos alunos, pois, como afirma Regina Zilberman: Quando o professor possibilita a fruição dos seus alunos, ele está dando reais condições para que estas crianças possam se desenvolver, baseados na liberdade de expressão, independentemente do livro que lhes foi apresentado, pois a justificativa que legitima o uso do livro na escola nasce, de um lado, da relação que estabelece com seu leitor, convertendo-o num ser crítico perante sua circunstância; e, de outro, do papel transformador que pode exercer dentro do ensino, trazendo-o para a realidade do estudante e não submetendo este último a um ambiente rarefeito do qual foi suprida toda a referência concreta. (ZILBERMAN, Regina, 2003, p. 18). O professor deve buscar ressignificar a Literatura e a forma como durante muito tempo ela foi trabalhada na escola, conferindo mais liberdade e vivacidade. A vivência da leitura literária em sala

de aula deveria ser uma constante partilha de saberes e prazeres, de vivência literária. Além de meio de adquirir conhecimento e de se expressar, entendemos a Literatura e a prática da leitura literária como oportunidade de formação pessoal e, principalmente, humana. Conclusão A nova perspectiva da Literatura implica um novo posicionamento dos professores, pois não sendo mais uma disciplina ela precisará ser trabalhada juntamente com a Língua Portuguesa. É preciso atentar para o fato de que este ensino conjunto deve ser contextualizado e não ora trabalhado apenas o texto literário ora trabalhada apenas a gramática. A contextualização da leitura, assim como a de todos os conhecimentos forma sujeitos críticos, capazes de refletir sobre a realidade e ter autonomia em sua percepção de mundo, trata-se, enfim, de demonstrar que em toda grande obra, de literatura, de cinema, de poesia, de música, de pintura, de escultura, há um pensamento profundo sobre a condição humana. (MORIN, 2004, p.45). Defende-se a leitura literária como experiência pessoal que contribuirá para a formação do aluno enquanto pessoa humana, ou seja, para sua humanização, que implica em reconhecer a si mesmo e aos semelhantes, as relações entre si as relações com o mundo. A importância da Literatura não é somente para o sucesso das práticas escolares, mas é também para a vida pessoal. Se reconhece que a sociedade está carente de valores humanos e vê-se na Literatura, através da leitura literária, a possibilidade de resgatar e analisar as questões humanas, os confrontos sociais, o marasmo cotidiano, as relações afetivas, etc. Por fim, enfatiza-se que além do conhecimento, a Literatura proporciona o prazer despertado pelo texto literário e possibilita a construção de sentidos para a interação com o mundo. Palavras-chave: Escola. Literatura. BNCC. Formação humana. Agradecimentos Agradeço a professora Me. Taise Neves Possani, orientadora do projeto de pesquisa Leitura Literária e Vivências Interdisciplinares, no qual atuo como bolsista. Agraço a atenção e a dedicação com a pesquisa e com o projeto e as orientações prestadas, imprescindíveis para a realização deste trabalho. Agradeço a UNIJUÍ, que financia o tempo destinado à pesquisa institucional através do PIBIC-UNIJUÍ. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Documento preliminar. MEC. Brasília, DF, 2015. CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 49.ed. São Pauloo, Cortez, 2008. LUFT, Gabriela. Retrato de uma disciplina ameaçada: A literatura nos documentos oficiais e no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Tese (Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras, Porto Alegre, BR-RS, 2014.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 9º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.