AS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS ENTRE 1992 E 2012: A CAMINHO DA REPRIMARIZAÇÃO?



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0 UNIJUÍ UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DACEC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ECONOMIA AS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS ENTRE 1992 E 2012: A CAMINHO DA REPRIMARIZAÇÃO? GABRIELI JULIANE HERZOG Ijuí RS 2013

1 GABRIELI JULIANE HERZOG AS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS ENTRE 1992 E 2012: A CAMINHO DA REPRIMARIZAÇÃO? Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Graduação em Economia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Economia. Orientador: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum Ijuí RS 2013

2 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus que iluminou o meu caminho, me dando força e coragem durante esta caminhada. Agradeço também toda a minha família, em especial meus pais, Rene e Doris, que de forma especial me deram força e coragem, me apoiando nos momentos de dificuldade, pelo incentivo, colaboração e principalmente pelo carinho. Agradeço também a todos os professores que me acompanharam durante a graduação, em especial ao Prof. Dr. Argemiro Luís Brum, pelo conhecimento, e tempo cedido que tornou possível a elaboração desse trabalho. Enfim, obrigada a todos os amigos, colegas, familiares, que de alguma maneira participaram e me ajudaram durante esta caminhada.

3 RESUMO Este trabalho analisa o comportamento das exportações dos produtos básicos brasileiros, com o objetivo de compreender o desempenho exportador da economia brasileira entre 1992 e 2012. O mesmo buscou verificar a presença de um processo de reprimarização da pauta exportadora brasileira, bem como a caracterização de uma dependência estrutural de commodities. Para isso, foram coletados dados disponíveis em sites oficiais. Foi feita primeiramente uma revisão bibliográfica sobre as teorias clássicas e modernas do comércio internacional. Posteriormente, verificou-se o comportamento das exportações brasileiras no período considerado, assim como a evolução dos mercados de destino das exportações brasileiras. Por fim, foi realizado um estudo sobre o comportamento dos preços das commodities. Os resultados obtidos no trabalho não são conclusivos no sentido de confirmar se o Brasil estaria passando por um processo de reprimarização. Assim, não foi possível identificar se houve realmente uma inversão na estrutura exportadora nacional já que o estudo demonstra que a crescente participação dos produtos básicos nesse processo pode estar muito ligada aos altos preços mundiais das commodities, particularmente entre 2001 e 2012. Palavras-chave: Pauta de Exportações. Produtos Básicos. Preços. Reprimarização.

4 ABSTRACT This paper analyzes the behavior of Brazilian exports of commodities, in order to understand the export performance of the Brazilian economy between 1992 and 2012. The same tried to verify the presence of a process of reprimarization of Brazilian exports, as well as the characterization of a structural dependence of commodities. For this, we collected data available on official websites. It was first made a literature review on the classical and modern theories of international trade. Later, it was the behavior of Brazilian exports in the period considered, as well as the evolution of markets for Brazilian exports. Finally, a study on the behavior of commodity prices. The obtained results are not conclusive in order to confirm whether Brazil would be going through a process of reprimarization. Thus, it was not possible to identify whether there was actually a reversal in national export structure since the study demonstrates that the growing participation of commodities in this process can be closely linked to the high world commodity prices, particularly between 2001 and 2012. Keywords: Export Basket. Commodities. Prices. Reprimarization.

5 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Saldo da balança comercial brasileira em US$ milhões (1992 a 2012)... 20 Gráfico 2 Comportamento das exportações brasileiras (1992 a 2012) em US$ FOB... 22 Gráfico 3 Evolução das exportações por fator agregado (1992 a 2012) em US$ milhões... 25 Gráfico 4 Participação das exportações brasileiras por bloco econômico e por fator agregado em porcentagem (2012)... 28 Gráfico 5 Índice internacional de preços das commodities: geral (1992 a 2012)... 32

6 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Exportação, importação e saldo da BC (Brasil) em US$ milhões (1992 a 2012)... 21 Tabela 2 Exportação brasileira por fator agregado valores em US$ milhões FOB (1964 a jan./abr. 2012)... 23 Tabela 3 Exportação por fator agregado em milhões de toneladas (1995 a 2012)... 25 Tabela 4 Países de destino das exportações brasileiras em porcentagem... 27

7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 8 1 TEORIA ECONÔMICA INTERNACIONAL... 11 1.1 O COMÉRCIO EXTERIOR E A TEORIA... 11 1.2 TEORIA DAS VANTAGENS ABSOLUTAS... 11 1.3 TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS... 12 1.4 MODELO NEOCLÁSSICO... 14 1.5 ABORDAGEM SOBRE EXPORTAÇÃO... 16 2 UMA ANÁLISE NA EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS... 18 2.1 O BRASIL E O COMÉRCIO INTERNACIONAL... 18 2.2 O SETOR EXPORTADOR BRASILEIRO... 19 2.3 A BALANÇA COMERCIAL E A PAUTA EXPORTADORA BRASILEIRA ENTRE 1992 e 2012... 20 2.4 DESTINO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS... 26 2.5 O FENÔMENO DA REPRIMARIZAÇÃO... 29 3 REPRIMARIZAÇÃO OU EFEITO DOS PREÇOS MUNDIAIS?... 31 3.1 A INFLUÊNCIA DOS PREÇOS... 31 3.2 O PAPEL DAS COMMODITIES NA PAUTA EXPORTADORA... 32 3.3 MUDANÇAS NA ESTRUTURA PRODUTIVA E A DEPENDÊNCIA POR COMMODITIES... 34 3.4 OS RISCOS DAS REPRIMARIZAÇÃO... 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 38 REFERÊNCIAS... 40

8 INTRODUÇÃO A análise do processo de desenvolvimento econômico do Brasil nos mostra que, por cerca de quase quatro séculos, a economia esteve diretamente ligada ao poder agrário, com produção voltada para a exportação. Por todo o período colonial, por exemplo, a base econômica esteve assentada na exploração agrícola ou na exploração mineral com uso de mão de obra escrava. É somente a partir do século XIX que se pode falar em industrialização no Brasil. Até então, essa atividade era muito restrita. A partir de 1930, no governo Getúlio Vargas, o Brasil iniciou um processo mais consistente de industrialização. O mesmo esteve, contudo, particularmente no modelo Cepalino de substituição de importações. Esse modelo vigorou até os anos de 1980, impulsionando a agroindustrialização. No final da década de 1980 se desenvolveu um consenso sobre a necessidade de abrir a economia. Mas as grandes mudanças nesse sentido ocorreram a partir da década de 1990, quando foi promovido o processo de abertura comercial que seria continuado pelos governos seguintes. Como consequências dessa abertura, observou-se o crescimento de alguns setores e a redução de outros. Atualmente (início do século XXI) o Brasil tem aumentado sua participação nas exportações mundiais, sugerindo um estreitamento com os mercados internacionais, resultado de uma integração ao processo de industrialização. A exportação e importação de bens são fatores importantes para o crescimento econômico de um país, as exportações são somadas ao consumo, investimentos, gastos do governo e as importações são deduzidas na composição da demanda agregada do país. Quando há aumento de exportações significa que o mercado interno foi atendido sobrando produção para ser consumido pelos

9 estrangeiros, elevando assim a renda nacional, o emprego e contribuindo para o ingresso de divisas estrangeiras. As importações apesar de diminuírem a renda nacional, pois estimulam o emprego e a renda em outros países, permitem o consumo doméstico de produtos não produzidos internamente, quer seja por falta de insumos ou tecnologia adequada. Este Trabalho de Conclusão de Curso procura analisar o comportamento das exportações dos produtos básicos no Brasil, com o objetivo de compreender o desempenho exportador da economia brasileira nas duas últimas décadas. Para tanto, o trabalho está estruturado em três capítulos, além desta introdução. O primeiro discorre sobre as teorias de comércio internacional, comércio exterior e abordagem sobre exportações, que auxiliam no entendimento dos objetivos do trabalho. No segundo discorre sobre o Brasil, o comércio internacional e o setor exportador brasileiro. Verifica-se o comportamento da balança comercial e realiza-se um estudo por segmentos, nesse caso, os básicos (alimentos, matériasprimas minerais e combustíveis), analisando o comportamento deles em relação ao total exportado. Procura-se identificar se houve aumento no período de tempo estudado e se o país está agregando mais valor às exportações. Analisando o comportamento recente da produção e exportação dos bens primários, verificam-se os principais importadores dos produtos brasileiros frente ao desenvolvimento industrial. Estudar-se-á se houve uma redução na participação de exportações de bens industriais e um aumento nos bens primários. Esse fenômeno é conhecido como reprimarização da pauta exportadora ou desindustrialização. O terceiro capítulo por sua vez, analisa a evolução dos preços dos produtos básicos e seus efeitos sobre o processo de industrialização e/ou reprimarização das exportações, ou seja, o retorno ao setor primário nos índices de exportação. Desta forma, o problema central do trabalho que aqui se introduz é o de verificar se houve ou não reprimarização das exportações brasileiras nas duas décadas analisadas. Assim, o objetivo geral do trabalho consiste em mostrar se houve um processo relativo de inversão da estrutura produtiva nacional, indústria por produção primária, denotando assim, uma dependência estrutural das referidas exportações por commodities e produtos de baixa tecnologia. Em outras palavras, ao estudar como as exportações se comportaram ao longo dos últimos 20 anos, pela análise da

10 balança comercial, busca-se verificar se de fato existe uma dependência estrutural de commodities nos últimos anos. Enfim, a metodologia adotada para o presente estudo é baseada em pesquisa bibliográfica junto a livros, artigos científicos, sites oficiais, tais como Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio (MIDIC) e do Instituto de Pesquisa em Economia Aplicada (IPEA). Também foram coletados dados do sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (ALICE), o qual dispõe de informações das exportações brasileiras de mercadorias. Os dados foram organizados de forma a possibilitar uma análise gráfica da evolução das exportações brasileiras por fator agregado. Buscou-se informações também em algumas contas do Balanço de Pagamento brasileiro.

11 1 TEORIA ECONÔMICA INTERNACIONAL O comércio exterior não é uma prática recente no mundo, pois existe desde a Idade Média. No Brasil esta atividade teve início ainda na época colonial e vem se desenvolvendo ao longo do tempo. Neste sentido este trabalho se propõe a estudar a evolução das exportações brasileiras ao longo de vinte anos (1992 a 2012). 1.1 O COMÉRCIO EXTERIOR E A TEORIA Comércio exterior pode ser definido como a prática comercial entre dois países conforme analisa Soares (2004): Uma operação de compra e venda internacional é aquela em que dois ou mais agentes econômicos sediados ou residentes em países diferentes negociam uma mercadoria que sofrerá uma operação de câmbio. Diante deste conceito podemos observar que o comércio internacional possui uma natureza multidisciplinar, pois contempla legislações diferentes, diversidade cultural e moedas diferentes. Para analisar o comércio internacional é essencial observar o que determina o próprio comércio. O comércio internacional ocorre entre os países porque são diferentes uns dos outros, produzem mercadorias diferentes, o que possibilita tirar vantagens dessas diferenças, cada qual produzindo aquilo que faz melhor, podendo obter lucros, pois é tido como uma forma vantajosa para os países que se envolvam neste tipo de operação. Nesse sentido várias teorias se desenvolvem sobre o assunto como a Teoria das Vantagens Absolutas de Adam Smith e das Vantagens Comparativas de David Ricardo. 1.2 TEORIA DAS VANTAGENS ABSOLUTAS Adam Smith publicou o livro Riqueza das Nações, em 1776. No mesmo afirmava que cada país poderia produzir determinada mercadoria com custos menores que outros. Isso gera especialização na divisão internacional do trabalho e produção em escala. Assim são proporcionadas vantagens, fazendo com que uma nação tenha proveito com a produção e exportação de um bem e importação de outro bem. Nesse caso, todos os países têm vantagens, pois comprarão produtos mais baratos.

12 Smith considera que o comércio internacional tem ganhos positivos para os países que realizam trocas, contando que se especializem nos produtos que têm vantagens absolutas em termos de custos e produtividade. Em sua obra a ideia da divisão do trabalho é essencial para o aumento da produtividade do trabalho na economia. A teoria da vantagem absoluta considerou que os preços eram determinados principalmente pela quantidade de horas utilizadas durante a produção. Considerou ainda, que cada nação tinha uma vantagem absoluta em algum produto. Essas considerações foram alvo de críticas, pois o custo da mercadoria é determinado não apenas pelo fator trabalho, mas também pela matéria-prima e pelo capital. As ideias básicas de Smith: a especialização das produções, motivada pela divisão do trabalho na área internacional e as trocas efetuadas no comércio internacional que contribuiu para o aumento do bem-estar das populações. A partir daí, Smith (1985), formulou a Teoria das Vantagens Absolutas, que lega: Cada país deve concentrar seus esforços no que pode produzir a custo mais baixo e trocar o excedente dessa produção por produtos que custem menos em outros países. 1.3 TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS A análise Ricardiana começa com uma crítica ao princípio das vantagens absolutas de Adam Smith, ou seja, de que o comércio internacional seja determinado por diferenças absolutas na produtividade do trabalho. A Teoria das Vantagens Comparativas é mais abrangente que a de Smith, abandona a ideia dos custos absolutos, partindo para os custos comparativos, sendo que incluem, nos custos, fatores como transporte e matéria-prima. Contudo, na lógica de Smith, coloca como custo principal o fator trabalho, além de mostrar que a especialização da produção estimula o comércio internacional e beneficia o consumidor. David Ricardo tentou mostrar que, mesmo que um determinado país não tivesse vantagem absoluta na produção de algum produto, ele deveria continuar participando do comércio internacional, produzindo e exportando bens sobre os quais tivesse mais eficiência.

13 Algumas ideias básicas da Teoria das Vantagens Comparativas são: o comércio internacional será vantajoso até mesmo quando uma nação possa produzir internamente a custos mais baixos do que outra nação, desde que, em termos relativos, as produtividades de cada uma fossem diferentes. Assim, a especialização internacional seria vantajosa em todos os casos em que as nações parceiras canalizassem os seus recursos para a produção daqueles bens em que sua eficiência fosse relativamente maior. Ao conduzir a especialização e a divisão internacional do trabalho, seja por desiguais reservas produtivas, por diferenças de solo e de clima ou por desigualdades estruturais de capital e trabalho, o comércio exterior aumenta a eficiência com que os recursos disponíveis em todos os pais podem ser empregados. E este aumento de eficiência, sempre que observam vantagens comparativas, eleva a produção e a renda nos países envolvidos nas trocas. O modelo Ricardiano é o mais simples dos modelos que explicam como as diferenças entre os países acarretam as trocas e ganhos no comércio internacional, pois, neste modelo, o trabalho é o único fator de produção e os países diferem apenas na produtividade do trabalho nas diferentes indústrias. Os países exportarão os bens produzidos com o trabalho interno de modo relativamente eficiente e importarão bens produzidos pelo trabalho interno de modo relativamente ineficiente, ou seja, o padrão de produção de um país é determinado pelas vantagens comparativas. John Stuart Mill (1859), em seguida, formulou a teoria da demanda recíproca, não se tomando mais medidas por unidade de produtos, mas, sim, o que em horas dois países diferentes são capazes de produzir. Desta forma, Mill procurou evidenciar a eficiência comparativa. Portanto, na Teoria das Vantagens Absolutas, Adam Smith expõe as vantagens do comércio internacional quando um país produz um produto a custo mais baixo que os outros. Na Teoria das Vantagens Comparativas, David Ricardo, demonstra a possibilidade de haver comércio internacional, mesmo que um país não possa produzir a custo mais baixo que outros. Ricardo não determina a relação quantitativa de troca. John Stuart Mill apresenta uma tese onde esse problema é equacionado. É a Teoria da Demanda Recíproca.

14 As teorias de Smith, Ricardo e Mill foram aceitas por um longo período, devendo ser destacadas também teorias modernas sobre comércio internacional, teorias as quais dão maior ênfase em fatores de produção como matéria-prima, investimentos, etc., não considerando o trabalho como fator único de produção. Assim, a relação de troca entre as nações deve ser estabelecida de forma diferente a determinada pela teoria do valor-trabalho, base fundamental das teorias clássicas. 1.4 MODELO NEOCLÁSSICO A conclusão de que os custos comparativos, em alguns casos, variam de um país a outro porque a oferta e a demanda relativa de fatores são diferentes nasce dos economistas suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin. Novas abordagens passam a ser necessárias tais como as economias em escala, de aprendizagem, mudança tecnológica, diferenciação de produto, política governamental, etc. É com base nessas novas proposições que modelos teóricos mais recentes são desenvolvidos. O modelo de Heckscher e Ohlin, também chamado de modelo HO, ficou conhecido como teoria das proporções dos fatores, significando que um país deve se especializar e exportar bens nos quais utiliza seus fatores produtivos mais abundantes. Logo, se determinada economia for abundante em capital, a teoria determina que a economia deve se especializar na exportação de produtos que exijam mais capital na sua produção. O modelo original de Ricardo tem grande diferença em relação ao número de fatores de produção: lá se tinha apenas trabalho, sendo que as vantagens comparativas ocorriam apenas em razão desta variável. No modelo HO, a fonte de comércio decorre da razão das diferenças de recursos disponíveis em cada país. Esse modelo leva em consideração a abundância relativa de cada fator de produção e as tecnologias existentes quanto à intensidade de utilização dos fatores de produção. Esta teoria parte do princípio de que os fabricantes dos bens podem produzir uma unidade de um produto e uma de outro utilizando intensidades diferentes dos insumos, não se falando, portanto, em quantidades dos fatores necessários a produção de um bem.

15 As teorias modernas e clássicas podem parecer bastante semelhantes, entretanto algumas diferenças devem ser apontadas. Por exemplo, conforme Maia (2008, p. 403): As teorias modernas consideram simultaneamente todos os fatores de produção (natureza, trabalho e capital), enquanto que as clássicas consideram apenas o trabalho. Abandonando-se a ideia de valor-trabalho, não se fala mais em custo do trabalho, mas em custo de oportunidade. Com o estudo das curvas de indiferença, de possibilidade de produção e do custo de oportunidade, podem-se quantificar melhor as condições de comércio internacional. São, portanto, mais abrangentes que as teorias clássicas. Em suma, Adam Smith, através da Teoria das Vantagens Absolutas, expõe as vantagens do comércio internacional quando um país produz algum produto a custo mais baixo que outros. David Ricardo, conforme a Teoria das Vantagens Comparativas demonstra a possibilidade de haver comércio internacional mesmo que um país não possa produzir a custo mais baixo que os outros. John Stuart Mill, pela Teoria da Demanda Recíproca, apresenta uma tese onde esse problema é equacionado. Por sua vez, a teoria moderna sobre comércio internacional deixa de lado a teoria do valor-trabalho e coloca como determinantes do custo outros fatores de produção, como capital e matéria-prima. O comércio de produtos primários é explicado pelo modelo de Heckscher e Ohlin, enquanto que a estrutura de demanda é determinante do padrão de comércio dos países industrializados. O principal determinante de demanda seria, portanto, o nível de renda per capita (os países com um nível de renda mais alto teriam um padrão de consumo mais sofisticado). Segundo Maia (2008) o custo comparativo é o ponto onde se assentam as teorias do comércio internacional. E as teorias clássicas se apoiam no custo comparativo-trabalho; as teorias modernas no custo comparativo-oportunidades. Heckscher e Ohlin procuraram explicar porque o custo comparativooportunidade é diferente de um país para outro. Segundo eles, as diferenças de custos e preços são decorrentes das diferentes abundâncias dos fatores de produção que cada nação dispõe: natureza (matéria-prima), trabalho (mão de obra) e capital. Diante disso, vimos que o comércio exterior é uma troca de fatores abundantes por fatores raros (SANDRONI, 1994). Portanto, segundo Maia (2008), o comércio exterior, através de importação e da exportação permite:

16 - aos países de capitais abundantes: investir no exterior e importar. É o caso das grandes multinacionais; - aos países de naturezas abundantes: exportam seus excedentes e importam o que lhes é raro; - a todos os países: através da importação e exportação, o comércio exterior permite trocar fatores abundantes, por outros, escassos. Enfim, nesse contexto, importante se faz destacar a contribuição de Marx (1867) ao debate. Em meados do século XIX, Marx sem negar a importância e as certezas das teorias de Smith e Ricardo, alertou para o fato de que, mesmo os dois países ganhando com o comércio internacional, a partir da especialização, aquele país que usar fatores de produção mais barato, como terra e mão de obra, terá que dar muito mais unidades de sua produção para comprar uma unidade de um país que usa fator caro, como capital. Ou seja, mesmo os dois ganhando, um irá acumular mais riqueza do que o outro com o comércio internacional. 1.5 ABORDAGEM SOBRE EXPORTAÇÃO A exportação e importação de bens são fatores importantes para o crescimento econômico de um país. As exportações são somadas ao consumo, investimentos, gastos do governo. As importações são deduzidas na composição da demanda agregada do país. Quando há aumento de exportações significa que o mercado interno foi atendido sobrando produção para ser consumido pelos estrangeiros, elevando assim a renda nacional, o emprego e contribuindo para o ingresso de divisas estrangeiras. As importações, apesar de diminuir a renda nacional, pois estimulam o emprego e a renda em outros países, permite o consumo doméstico de produtos não produzidos internamente, quer seja por falta de insumos ou tecnologia adequada. As transações econômicas com o exterior são importantíssimas para a manutenção de uma economia em níveis satisfatórios de desenvolvimento, isto é, para a manutenção da estabilidade dos níveis de emprego, de preços e de crescimento. A atividade de exportação pode ser vista como o ato de trocar mercadorias e serviços entre os países, a fim de que essas trocas supram as necessidades das

17 partes envolvidas e da mesma forma geram divisas para os países que participam dessa atividade. De 1930 até hoje, a política do governo brasileiro com relação ao comércio exterior teve dois períodos distintos: Substituições de importações (1930 a 1990) O Brasil procurou industrializar-se adotando o modelo Cepalino que consiste em fabricarmos no próprio país o que antes importava. A política marcante desse período foi o protecionismo, isto é, taxar produtos importados para que não competissem com os bens produzidos pela indústria nacional. Por outro lado, essa política favorecia a balança comercial, reduzindo as importações. Os maiores gargalos da mesma forma: a falta de poupança interna para realizar investimentos suficientes para que a industrialização local suprisse a demanda interna; o encarecimento aos cidadãos dos produtos localmente produzidos, pois não havia concorrência externa; o baixo teor tecnológico dos produtos gerados no país, pois o protecionismo impedia o acesso a melhores tecnologias, assim como não instigava as indústrias locais ao aperfeiçoamento tecnológico, aumentando custos de produção. Liberalização do comércio (1990 a 2010) Em 1990, o governo brasileiro introduziu um programa de liberalização financeira externa e de eliminação das barreiras protecionistas na importação, cujos principais pontos foram: abolir barreiras não tarifárias, como reserva de mercado, cotas e proibições; reduzir a média das tarifas de exportação. O Brasil entrava na lógica mundial de que se alienou de neoliberalismo. Todavia, nesses últimos 20 anos (até 2012) o Brasil não se consolidou como uma economia aberta, pois sua taxa de abertura (corrente comercial/pib) jamais atingiu a 30%. Por outro lado, apesar dos esforços pela industrialização, nessas últimas duas décadas o país, nas suas exportações, teria voltado a privilegiar os produtos primários, com muito pouco valor agregado. Essa tendência a reprimarização de nossas exportações é que será o objeto de estudo na sequência deste trabalho.

18 2 UMA ANÁLISE NA EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS Este capítulo busca analisar a participação do Brasil no comércio internacional através do comportamento de sua balança comercial. 2.1 O BRASIL E O COMÉRCIO INTERNACIONAL Por muito tempo após a independência, o Brasil foi governado por uma elite que considerava a exportação o principal objetivo econômico do país e a importação a única fonte de produtos industriais. Somente no século XIX essa sociedade agroexportadora permitiu o surgimento da industrialização brasileira. Mas, o Brasil, na época era pouco dinâmico, com uma estrutura financeira que não estimulava o desenvolvimento industrial, um pequeno mercado interno e um mercado de trabalho perturbado por séculos de escravidão. Segundo Gonçalves et al. (1998), a proteção à produção industrial que existiu em alguns períodos foi consequência de desequilíbrio fiscal do Estado ou do estrangulamento cambial e não de uma política protecionista. Mas, alguns segmentos mais organizados, conseguiram defender seus interesses. Esse foi o caso da então maior indústria brasileira, a têxtil. Mesmo assim, 32% da demanda era atendida por importações e as exportações por produtos manufaturados ainda eram inexistentes. Na década de 1930, quando algumas medidas de apoio à indústria foram tomadas, o principal fator de proteção à produção interna foi a política cambial. O valor das exportações brasileiras entre 1929 e 1933 caiu a menos da metade, em consequência da crise internacional. Durante a Segunda Guerra Mundial o crescimento industrial foi limitado pelas restrições criadas pela dificuldade de importar bens de capital e matérias-primas essenciais. Somente a partir de 1957, já durante o governo de Juscelino Kubitschek, foi implantada uma política protecionista com objetivo explícito de estimular a industrialização do país. Portanto, a partir de meados de 1950 o desenvolvimento industrial passou a ser promovido por política governamental. Depois do período de crescimento acelerado da industrialização brasileira durante o governo JK, sob a política de substituição de importações, a crise do início da década de 1960 viria marcar novas alterações na política cambial e, a partir de 1964, haveria uma relativa

19 liberalização da política comercial. A política cambial do período acarretava dois problemas que teriam de ser superados para o avanço da industrialização. O primeiro era que a constante sobrevalorização da moeda brasileira desestimulava a exportação e o segundo problema era o atraso na substituição de importações de bens de capital e insumos básicos. A forma como se deu a proteção à industrialização contribuiu para a ausência de produtos manufaturados na pauta exportadora brasileira. Esse movimento durou até o final dos anos 1980. Foi a partir de 1990, após a posse de Collor de Mello que a liberalização da política comercial foi fortemente acelerada, criadas com medidas para aceleração do crescimento. Depois do impeachment de Collor, o governo Itamar continuou a política de liberalização progressiva do comércio exterior. Isso passou a ser possível especialmente graças à queda da taxa de juros e a retomada do fluxo de capitais privados. Todavia, o Plano Real, implantado em 1994, trouxe algumas alterações para a política comercial, devido à valorização do real entre 1994 e 1998. Isso acelerou as importações e inibiu as exportações. Paralelamente, o Brasil reduziu a proteção à indústria doméstica. 2.2 O SETOR EXPORTADOR BRASILEIRO Historicamente o Brasil é tido como um país agroexportador. Quando o país ainda era colônia, exportava pau-brasil, borracha e cana de açúcar. Durante o Império, ganharam importância o café, o algodão e a carne. Somente na segunda metade do século XX é que as vendas de produtos industriais nacionais ganharam importância relativa. O Brasil é um país abundante em mão de obra e extensão de terras, tendo jazidas de minérios, reversa de petróleo, etc. A utilização desses fatores nos quais o Brasil tem vantagens em relação aos demais e o crescimento dos setores que utilizam esses fatores era uma necessidade para a manutenção do Brasil no comércio internacional. Tal fato levaria a uma redução na participação das exportações de bens industriais e a um aumento nas de bens primários.

20 2.3 A BALANÇA COMERCIAL E A PAUTA EXPORTADORA BRASILEIRA ENTRE 1992 e 2012 Por balança comercial entendemos a relação entre o que o país exporta e o que ele importa. Quando o total das exportações é superior ao total das importações o saldo é positivo. Dizemos então, que há um superávit comercial. Quando as importações superam as exportações o saldo é negativo, ocorrendo então um déficit comercial. Portanto, a balança comercial favorável ou desfavorável indicará a diferença entre as importações e exportações de uma nação. A balança comercial brasileira apresenta um comportamento variado nas últimas duas décadas. Superavitária no começo dos anos 1990 e deficitária entre 1995 e 2000. A partir daí se observa um superávit e crescimento considerável do saldo comercial. O mesmo chegou a um pico de US$ 46,5 milhões, em 2006, diminuindo o ritmo depois disso (gráfico 1). Gráfico 1 Saldo da balança comercial brasileira em US$ milhões (1992 a 2012) Fonte: IPEADATA/MDIC. Na tabela 1 podemos observar a evolução das exportações e importações dos anos 1992 a 2012, concluindo que as exportações em vários períodos crescem em um ritmo mais acelerado que as importações.

21 Tabela 1 Exportação, importação e saldo da BC (Brasil) em US$ milhões (1992 a 2012) Ano Exportação Importação Saldo Comercial 1992 35.792.985.844 20.554.091.051 15.238.894.793 1993 38.554.769.047 25.256.000.927 13.298.768.120 1994 43.545.148.862 33.078.690.132 10.466.458.730 1995 46.506.282.414 49.971.896.207-3.465.613.793 1996 47.746.728.158 53.345.767.156-5.599.038.998 1997 52.982.725.829 59.747.227.088-6.764.501.259 1998 51.139.861.545 57.763.475.974-6.623.614.429 1999 48.012.789.947 49.301.557.692-1.288.767.745 2000 55.118.919.865 55.850.663.138-731.743.273 2001 58.286.593.021 55.601.758.416 2.684.834.605 2002 60.438.653.035 47.242.654.199 13.195.998.836 2003 73.203.222.075 48.325.566.630 24.877.655.445 2004 96.677.498.766 62.835.615.629 33.841.883.137 2005 118.529.184.899 73.600.375.672 44.928.809.227 2006 137.807.469.531 91.350.840.805 46.456.628.726 2007 160.649.072.830 120.617.446.250 40.031.626.580 2008 197.942.442.909 172.984.767.614 24.957.675.295 2009 152.994.742.805 127.722.342.988 25.272.399.817 2010 201.915.285.335 181.768.427.438 20.146.857.897 2011 256.039.574.768 226.246.755.801 29.792.818.967 2012 242.579.775.763 223.173.180.307 19.406.595.456 Fonte: MIDIC. Entre 2001 e 2011 observa-se elevação constante no valor exportado brasileiro. Entre 1999 e 2009 o crescimento absoluto é acima de US$ 100 bilhões, quando se triplica o total exportado. Na década de 2000, o valor em dólar das exportações foi crescente, tendo decrescido apenas no ano de 2009 em razão da crise financeira mundial, conforme mostra o gráfico 2. Esse aumento não se deve apenas ao aumento da quantidade de produtos exportados, mas também em razão dos valores dos produtos exportados, em especial dos produtos básicos.

22 Gráfico 2 Comportamento das exportações brasileiras (1992 a 2012) em US$ FOB Fonte: IPEADATA. A análise da tabela 2 nos permite distinguir alguns importantes elementos da trajetória macroeconômica brasileira das últimas décadas, no contexto das exportações brasileiras por fator agregado. Segundo definição do MDIC, os produtos básicos correspondem aos produtos de baixo valor agregado, normalmente intensivos em recursos naturais e mão de obra, cuja cadeia produtiva é simples e sofre poucas transformações (ex.: minério de ferro, grãos, agricultura, petróleo, etc.). Os semimanufaturados envolvem os produtos que passaram por alguma transformação (ex.: suco de laranja congelado, couro, etc.). Os manufaturados compreendem os produtos de maior tecnologia, com alto valor agregado (ex.: televisão, computador, etc.).

23 Tabela 2 Exportação brasileira por fator agregado valores em US$ milhões FOB (1964 a jan./abr. 2012) ANO BÁSICOS SEMIMANUFATURADOS MANUFATURADOS TOTAL GERAL (**) Part. % s/ Total Geral Valor Var. % (*) Valor Var. % (*) Valor Var. % (*) Valor Var. % (*) Básicos Semimaf. Manuf. 1964 1.221-115 - 89-1.430-85,4 8,0 6,2 1965 1.301 6,6 154 33,9 130 46,1 1.595 11,5 81,6 9,7 8,2 1966 1.444 11,0 141-8,4 152 16,9 1.741 9,2 82,9 8,1 8,7 1967 1.302-9,8 147 4,3 196 28,9 1.654-5,0 78,7 8,9 11,9 1968 1.492 14,6 178 21,1 202 3,1 1.881 13,7 79,3 9,5 10,7 1969 1.796 20,4 211 18,5 284 40,6 2.311 22,9 77,7 9,1 12,3 1970 2.049 14,1 249 18,0 416 46,5 2.738 18,5 74,8 9,1 15,2 1971 1.988-3,0 241-3,2 581 39,7 2.904 6,1 68,5 8,3 20,0 1972 2.649 33,2 399 65,6 898 54,6 3.991 37,4 66,4 10,0 22,5 1973 4.030 52,1 574 43,9 1.434 59,7 6.199 55,3 65,0 9,3 23,1 1974 4.577 13,6 917 59,8 2.147 49,7 7.951 28,3 57,6 11,5 27,0 1975 5.027 9,8 849-7,4 2.585 20,4 8.670 9,0 58,0 9,8 29,8 1976 6.129 21,9 842-0,8 2.776 7,4 10.128 16,8 60,5 8,3 27,4 1977 6.959 13,5 1.044 24,0 3.840 38,3 12.120 19,7 57,4 8,6 31,7 1978 5.978-14,1 1.421 36,1 5.083 32,4 12.659 4,4 47,2 11,2 40,2 1979 6.553 9,6 1.887 32,8 6.645 30,7 15.244 20,4 43,0 12,4 43,6 1980 8.488 29,5 2.349 24,5 9.028 35,9 20.132 32,1 42,2 11,7 44,8 1981 8.920 5,1 2.116-9,9 11.884 31,6 23.293 15,7 38,3 9,1 51,0 1982 8.238-7,6 1.433-32,3 10.253-13,7 20.175-13,4 40,8 7,1 50,8 1983 8.535 3,6 1.782 24,4 11.276 10,0 21.899 8,5 39,0 8,1 51,5 1984 8.706 2,0 2.872 61,2 15.132 34,2 27.005 23,3 32,2 10,6 56,0 1985 8.538-1,9 2.758-4,0 14.063-7,1 25.639-5,1 33,3 10,8 54,9 1986 7.280-14,7 2.491-9,7 12.404-11,8 22.349-12,8 32,6 11,1 55,5 1987 8.022 10,2 3.175 27,5 14.839 19,6 26.224 17,3 30,6 12,1 56,6 1988 9.411 17,3 4.892 54,1 19.187 29,3 33.789 28,8 27,9 14,5 56,8 1989 9.549 1,5 5.807 18,7 18.634-2,9 34.383 1,8 27,8 16,9 54,2 1990 8.746-8,4 5.108-12,0 17.011-8,7 31.414-8,6 27,8 16,3 54,2 1991 8.737-0,1 4.691-8,2 17.757 4,4 31.620 0,7 27,6 14,8 56,2 1992 8.830 1,1 5.750 22,6 20.754 16,9 35.793 13,2 24,7 16,1 58,0 1993 9.366 6,1 5.445-5,3 23.437 12,9 38.555 7,7 24,3 14,1 60,8 1994 11.058 18,1 6.893 26,6 24.959 6,5 43.545 12,9 25,4 15,8 57,3 1995 10.969-0,8 9.146 32,7 25.565 2,4 46.506 6,8 23,6 19,7 55,0 1996 11.900 8,5 8.613-5,8 26.413 3,3 47.747 2,7 24,9 18,0 55,3 1997 14.474 21,6 8.478-1,6 29.194 10,5 52.994 11,0 27,3 16,0 55,1 1998 12.977-10,3 8.120-4,2 29.387 0,7 51.140-3,5 25,4 15,9 57,5 1999 11.828-8,9 7.982-1,7 27.329-7,0 48.011-6,1 24,6 16,6 56,9 2000 12.562 6,2 8.499 6,5 32.528 19,0 55.086 14,7 22,8 15,4 59,0 2001 15.342 22,1 8.244-3,0 32.901 1,1 58.223 5,7 26,4 14,2 56,5 2002 16.952 10,5 8.964 8,7 33.001 0,3 60.362 3,7 28,1 14,9 54,7 2003 21.179 24,9 10.943 22,1 39.654 20,2 73.084 21,1 29,0 15,0 54,3 2004 28.518 34,7 13.431 22,7 52.948 33,5 96.475 32,0 29,6 13,9 54,9 2005 34.721 21,8 15.961 18,8 65.144 23,0 118.308 22,6 29,3 13,5 55,1 2006 40.285 16,0 19.523 22,3 75.018 15,2 137.807 16,5 29,2 14,2 54,4 2007 51.596 28,1 21.800 11,7 83.943 11,9 160.649 16,6 32,1 13,6 52,3 2008 73.028 41,5 27.073 24,2 92.682 10,4 197.942 23,2 36,9 13,7 46,8 2009 61.957-15,2 20.499-24,3 67.349-27,3 152.995-22,7 40,5 13,4 44,0 2010 90.005 45,3 28.207 37,6 79.563 18,1 201.915 32,0 44,6 14,0 39,4 2011 122.457 36,1 36.026 27,7 92.929 16,8 256.040 26,8 47,8 14,1 36,3 2012 Jan-Abr 34.623 4,5 9.811-1,0 28.379 6,0 74.646 31,6 46,4 13,1 38,0 Fonte: MDIC. Como podemos observar em relação à tabela, a participação dos produtos básicos no total exportado ao longo dos anos teve seus altos e baixos. Em 1964, os produtos básicos representavam 85,4% do total exportado. Ao longo dos anos essa porcentagem foi diminuindo chegando a 22,8% em 2000. A partir de 2001 esse

24 quadro teve mudanças e os produtos básicos novamente começaram a crescer na pauta exportadora brasileira, chegando em 2011 a 47,8% do total exportado pelo Brasil. Em contrapartida os produtos manufaturados que em 1964 ocupava apenas 6,2% do total exportado, tiveram um aumento significativo, alcançando a 59% em 2000. A partir de então recuaram para 36,3% em 2011. Vale frisar que na primeira década do século XXI, o grau de abertura saltou de 18% para 26% em média, com as exportações e importações, entre 1999 e 2009, mais do que triplicando. Vale ainda destacar que, a partir da primeira metade da década de 1990 o Brasil faz a transição do modelo de substituição de importações para o chamado neoliberalismo, reduzindo assim papel do Estado na economia. O quadro comercial externo, porém, se agravou com as políticas de apreciação cambial entre 1994 e 1998, que tinham por objetivo o uso das importações como mecanismo de trava a inflação. Isso que determinou a geração de déficits comerciais entre 1995 e 2000. A partir de 2001 observa-se a manutenção de um grau de abertura da economia brasileira, elevado para os padrões nacionais com elevação no valor exportado. Todavia, conforme MDIC, desde 2001 a participação de produtos básicos crescem comparativamente a participação de produtos industrializados. Ou seja, as exportações dos bens manufaturados foram bem mais altas em décadas anteriores. Seria esse processo fruto de uma reprimarização? Ou trata-se de um aumento nos preços dos produtos primários no mercado mundial? Por meio do gráfico 3 é possível perceber um aumento em valor nas exportações de produtos básicos e manufaturados, havendo um aumento mais significativo em relação às matérias-primas, especialmente a partir da crise mundial de 2007/08.

25 Gráfico 3 Evolução das exportações por fator agregado (1992 a 2012) em US$ milhões Fonte: IPEADATA. A seguir, na tabela 3, com vistas a uma visão global, analisamos as exportações brasileiras separadas por fator agregado em milhões de toneladas. O que nos permite fazer uma análise quantitativa no dado período de tempo. Tabela 3 Exportação por fator agregado em milhões de toneladas (1995 a 2012) Anos Básicos Semimanufaturados Manufaturados Total 1995 159 17 20 201 1996 156 19 21 199 1997 164 19 21 209 1998 181 21 24 230 1999 172 25 27 229 2000 192 22 25 244 2001 209 27 32 273 2002 225 29 36 295 2003 242 32 42 321 2004 293 35 50 383 2005 301 38 52 397 2006 325 38 55 424 2007 362 37 56 461 2008 373 39 51 469 2009 363 39 47 455 2010 424 43 47 520 2011 447 45 46 544 2012 420 43 46 515 Fonte: MDIC/SECEX.

26 Os dados mostram que os produtos básicos, no período de 1995 a 2012, se mantiveram responsáveis por cerca de 80% do volume quantitativo exportado em milhões de toneladas. Ao mesmo tempo as quantidades exportadas de produtos básicos cresceram 133%, de semimanufaturados aumentaram 104% e a de manufaturados expandiram 84%. Os dados apresentam também que as exportações de bens manufaturados permanecem estáveis nos últimos quatro anos. Enquanto isso, as exportações de produtos básicos, compostas integralmente por commodities, mantiveram seu contínuo ritmo de crescimento durante todo o período, apenas com leve queda em 2009, decorrente da crise financeira mundial. O cenário atual sinaliza que o Brasil pode estar passando por um processo de reprimarização, exatamente o oposto dos objetivos que vigoravam na década de 1970 (que era ampliar a participação de produtos manufaturados na pauta de exportação), exatamente em um momento em que a economia se torna mais aberta. Todavia, se a evolução das exportações brasileiras deixa transparecer um processo de reprimarização da pauta exportadora, esse processo pode também ser atribuído à valorização internacional e a alta de preços de alguns produtos básicos, o que será discutido mais a fundo no próximo capítulo. 2.4 DESTINO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS Quanto à importância da demanda externa para o desempenho exportador brasileiro de produtos intensivos em recursos naturais, cabe avaliar a dinâmica dos principais mercados consumidores dos produtos básicos brasileiros. Neste âmbito os mercados consumidores foram analisados por principais países conforme a relevância de suas participações nas exportações brasileiras. Tivemos na última década alterações importantes nos destinos das exportações brasileiras conforme podemos observar na tabela 4.

27 Tabela 4 Países de destino das exportações brasileiras em porcentagem Países 1990 2000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 China 1,2 2 4,2 6,2 5,6 5,8 6,1 6,7 8,4 13,7 15,2 17,3 EUA 24,2 23,9 25,4 22,8 20,8 19 17,8 15,6 13,8 10,2 9,6 10,1 Argentina 2,1 11,3 3,9 6,2 7,6 8,4 8,5 9 8,9 8,4 9,2 8,9 Holanda 7,9 5,1 5,3 5,8 6,1 4,5 4,2 5,5 5,3 5,3 5,1 5,3 Japão 7,5 4,5 3,5 3,2 2,9 2,9 2,8 2,7 3,1 2,8 3,5 3,7 Alemanha 5,9 4,6 4,2 4,3 4,2 4,3 4,1 4,5 4,5 4 4 3,5 Itália 5,1 3,9 3 3 3 2,7 2,8 2,8 2,4 2 2,1 2,1 Chile 1,5 2,3 2,4 2,6 2,6 3,1 2,8 2,7 2,4 1,7 2,1 2,1 Reino Unido Coréia Sul 3 2,7 2,9 2,6 2,2 2,2 2,1 2,1 1,9 2,4 2,3 2 1,7 1,1 1,4 1,7 1,5 1,6 1,4 1,3 1,6 1,7 1,9 1,8 Venezuela 0,8 1,4 1,3 0,8 1,5 1,9 2,6 2,9 2,6 2,4 1,9 1,8 Espanha 2,2 1,8 1,8 2,1 2,1 1,8 1,7 2,1 2 1,7 1,9 1,8 França 2,9 3,1 2,5 2,4 2,3 2,1 1,9 2,2 2,1 1,9 1,8 1,7 Bélgica 3,1 3,2 3,1 2,5 2 1,8 2,2 2,4 2,2 2,1 1,7 1,6 México 1,6 3,1 3,9 3,8 4,1 3,4 3,2 2,7 2,2 1,8 1,8 1,5 Arábia Saudita 0,9 0,8 0,9 0,9 0,9 1 1,1 0,9 1,3 1,3 1,5 1,4 Índia 0,5 0,4 1,1 0,8 0,7 1 0,7 0,6 0,6 2,2 1,7 1,3 Paraguai 1,2 1,5 0,9 1 0,9 0,8 0,9 1 1,3 1,1 1,3 1,2 Fonte: OMC. Verifica-se que o principal mercado consumidor das exportações do Brasil no período 1990 a 2008 foi os EUA. No entanto, este país perdeu importância relativa ao longo da década, com efeitos mais significativos durante a crise internacional. De outro lado, a China passou a ser um parceiro comercial importante para a economia brasileira, ganhando participação relevante no comércio brasileiro de produtos básicos, o que fez com que, a partir de 2009, a China se tornasse o principal destino (em %) das exportações do Brasil. No gráfico 4 podemos observar mais detalhadamente, por blocos econômicos, para quem o Brasil exporta, por fator agregado. Nota-se que atualmente o bloco econômico da Ásia tem a maior fatia dos produtos básicos exportados pelo Brasil.

28 Gráfico 4 Participação das exportações brasileiras por bloco econômico e por fator agregado em porcentagem (2012) Fonte: SECEX/MDIC. Em termos gerais, pode-se concluir que os produtos básicos produzidos pelo Brasil ganharam maior inserção no conjunto das importações dos blocos econômicos, principalmente no caso da China, que atualmente é o maior importador do Brasil, o que contribuiu para ressaltar a relevância das vendas de produtos intensivos em recursos naturais. Pode-se observar também, que grande parte dos importadores de produtos básicos são países classificados como desenvolvidos, que os submetem a processos industriais para transformá-los em produtos finais e, possivelmente, concorrerem com produtos manufaturados brasileiros no exterior e até mesmo no Brasil. Analisando o efeito China, pode-se dizer, com uma visão de longo prazo, que além do aumento do volume exportado, também houve uma expressiva elevação de preços de commodities. O que, de fato, pode gerar um efeito negativo na economia brasileira, pois dependerá dos preços elevados das commodities para um bom resultado no saldo do comércio exterior, dada a dependência crescente da exportação de bens primários para o país asiático devido a sua participação no total exportado.

29 O Brasil tem se tornado cada vez mais dependente das exportações destinadas à China. Atualmente a China absorve mais de 17% do total exportado pelo Brasil. Na categoria de bens básicos, há um constante aumento no período recente. E a necessidade de bens de baixo valor agregado, como, minério de ferro, petróleo e soja torna a China uma demandante crescente dessa categoria. Portanto, analisar especificamente a participação da China nas exportações brasileiras nos ajuda a entender a reprimarização da nossa pauta exportadora. 2.5 O FENÔMENO DA REPRIMARIZAÇÃO Alguns estudos destacam que as características estruturais de economias concentradas nos setores primários, em meio a um contexto de elevação dos preços dos chamados produtos básicos e de apreciação cambial, podem resultar em um processo de especialização das exportações em produtos intensivos em recursos naturais. Este fato pode implicar em prejuízo para os setores produtores de bens manufaturados. A possível reprimarização pode ser vista por dois aspectos. O primeiro reflete a perda de competitividade internacional dos produtos manufaturados e o ganho dos produtos agrícolas exportados pelo Brasil. O segundo expressa a mudança da estrutura de exportações com a maior participação relativa dos produtos agrícolas e a menor participação dos manufaturados. Há muitas discussões a cerca de o Brasil estar se reprimarizando. Segundo o economista Gonçalves (2010): Há nítido processo de reprimarização da economia brasileira com o avanço da agropecuária e da mineração em detrimento da indústria de transformação. Já, Gonçalves (2011), em Instituto de Economia Agrícola, confirma que na economia brasileira como um todo, há crescimento das exportações de todos os perfis de agregação de valor no período 1992 a 2012. Os produtos com transformação industrial, de bens semimanufaturados e manufaturados, também mostram exportações crescentes ao longo do período, mas em ritmo mais lento e/ou estável, entre altos e baixos, porém, configura crescimento das vendas externas industriais, o que de fato descaracteriza a ocorrência de eventual processo de desindustrialização.

30 Segundo ainda, Gonçalves (2011), o aumento das exportações de produtos básicos é tanto absoluto quanto proporcional, gerando o que se pode denominar reprimarização das exportações brasileiras. Desde logo, na agricultura essa reprimarização atende num primeiro momento à desvalorização da moeda nacional posterior à mudança do regime cambial de câmbio fixo para flutuante executada em janeiro de 1999, em um segundo momento, quando a moeda nacional se valoriza. Em linhas gerais, os maiores preços internacionais de commodities ao compensar a valorização cambial, em especial derivados da demanda chinesa e demais países emergentes, estimularam as exportações de produtos básicos, sendo que os produtos com transformação industrial, independente do setor da economia, são mais sensíveis à valorização cambial, crescendo menos em termos de exportação.

31 3 REPRIMARIZAÇÃO OU EFEITO DOS PREÇOS MUNDIAIS? Segundo Pereira (2008) o fenômeno da reprimarização ou doença holandesa é definido pela existência de recursos naturais abundantes que geram vantagens comparativas ao país que os possui, levando-o a se especializar na produção destes bens e não se industrializar ou terminar se desindustrializando. Assim, este problema se manifesta em países com vantagens Ricardianas em bens intensivos em recursos naturais através de um movimento de apreciação da taxa de câmbio real em decorrência da entrada de divisas derivadas das exportações de commodities, o que prejudica a competitividade das exportações de bens manufaturados intensivos em tecnologia. Assim, fazer a análise dos preços das commodities é fundamental para se entender o avanço de economias que têm sua pauta de exportação concentrada neste grupo. A análise da hipótese da reprimarização para o Brasil deve ser relacionada à discussão sobre o comportamento dos preços internacionais das commodities, em que o melhor desempenho exportador do país em commodities está vinculado ao movimento de alta de preços destes bens, acarretando um efeito direto de aumento do valor exportado. Sendo assim, os preços mais altos das commodities estariam estimulando uma especialização da pauta exportadora na direção destes produtos, elevando a receita de exportações com commodities e implicando a manutenção da taxa de câmbio real corrente em níveis inferiores aos que tornariam competitivas as exportações de bens manufaturados intensivos em tecnologia, o que poderia conduzir a uma menor participação da indústria no total exportado pelo país (PEREIRA, 2008). 3.1 A INFLUÊNCIA DOS PREÇOS A tendência de alta nos preços internacionais das commodities agropecuárias iniciou-se em meados de 2001. A evolução dos preços ao longo da década foi influenciada pela aceleração da atividade econômica em importantes economias do mundo, com ênfase no impacto do crescimento da renda nos mercados emergentes, sobretudo nos asiáticos, onde o aumento da demanda por

32 produtos primários evidenciou o modelo de crescimento intensivo em commodities básicas. Vale ressaltar, no entanto, que movimentos pontuais exercem impacto relevante sobre a demanda e a oferta das commodities básicas, condicionando a trajetória desses preços no curto prazo. No gráfico 5 se observa a evolução, nos últimos 20 anos, do Índice Internacional de Preços das Commodities. Gráfico 5 Índice internacional de preços das commodities: geral (1992 a 2012) Fonte: IPEADATA. Nota-se que entre 1992 e 2001 os preços agrícolas se mantiveram relativamente estáveis. A partir de 2001 os mesmos iniciaram um processo de elevação quase constante, com apenas um recuo em 2008 em função do início da crise econômico-financeira mundial. Todavia, em seguida os mesmos retomaram sua tendência altista, fechando o período entre 2001 e 2012 com um aumento ao redor de 200%. 3.2 O PAPEL DAS COMMODITIES NA PAUTA EXPORTADORA Mesmo com a valorização do real frente ao dólar em boa parte do período compreendido entre 2001 e 2012 as exportações brasileiras de produtos básicos