Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica

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Transcrição:

Dificuldades no diagnóstico diferencial entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático para pleura patológica pneumologia Beltrão Paiva Castello Branco Médico pneumologista do Complexo Hospitalar Clementino Fraga João Pessoa, PB. Fernando Antonio Carvalho Médico cirurgião torácico do Hospital Napoleão Laureano João Pessoa, PB. Francisco de Assis Paiva Médico infectologista do Complexo Hospitalar Clementino Fraga João Pessoa, PB. Igor Torres Castello Branco Técnico em Radiologia do Complexo Hospitalar Clementino Fraga João Pessoa, PB. Resumo As dificuldades diagnósticas entre mesotelioma pleural e adenocarcinoma metastático na pleura exigem estudo amplo. Os autores ilustram um caso clínico cujo diagnóstico só foi estabelecido após realização de toracotomia, com retirada de material para análise imuno-histoquímica. A diferenciação diagnóstica é de fundamental importância, uma vez que envolvem conduta terapêutica e prognóstico distintos. O estudo adequado deve utilizar material obtido através de toracoscopia ou toracotomia e empregar coloração imuno-histoquímica, estudos com anticorpos monoclonais, microscopia eletrônica e pesquisa de marcadores tumorais. Summary The diagnosis difficulties distinguishing mesothelioma from pleural metastatic adenocarcinoma request wide study. The authors illustrate a clinical case whose diagnosis was only established after thoracotomy removing material for immune-histochemical analysis. The diagnosis differentiating is very important, because involves distinct treatment and prognosis. The appropriate study should use material obtained through thoracoscopy or thoracotomy and submitted to immune-histochemical coloration, studies with monoclonal antibodies, electronic microscopy and research of tumor makers. Introdução A dificuldade de se diferenciar o mesotelioma de pleura do adenocarcinoma metastático para pleura é histórica. Antes de 1931 não existia o termo mesotelioma. Nesse período, Klempere e Rabim propuseram essa denominação para algumas das neoplasias pleurais. Em 1942, Stout e Murray documentaram a origem dos mesoteliomas relacionados às células mesoteliais da pleura. Mccaughey, em 1958, foi quem primeiro classificou os mesoteliomas da pleura. Sua correlação com o asbesto foi feita finalmente por Wagner, em 1960. O adenocarcinoma metastático pleural pode-se originar de diferentes sítios primários. Dentre eles, o adenocarcinoma de pulmão é o mais frequente, seguido do carcinoma de mama; os carcinomas de ovário e estômago também podem estar relacionados, e menos frequentemente o carcinoma de endométrio ou do colo uterino, carcinoma de cólon, tumor de pâncreas e tumor de bexiga. O tumor primário não é encontrado em aproximadamente 6% dos pacientes com derrame pleural neoplásico metastático. O adenocarcinoma é considerado atualmente o tipo histológico de câncer pulmonar mais comum, mais frequente em mulheres e menos relacionado ao tabagismo, tendo localização periférica em 75% dos casos. No momento do diagnóstico, em torno de 15% dos pacientes apresentam derrame pleural, aumentando para 50% durante a evolução da doença. Unitermos: Mesotelioma; adenocarcinoma metastático pleural; diagnóstico; imuno-histoquímica. Keywords: Mesothelioma; pleural metastatic adenocarcinoma; diagnosis; immunohistochemical. 21

Pontos-chave: > O quadro clínico do mesotelioma é o mesmo do derrame pleural; > Inclui dor torácica ventilatório-dependente, dispneia, tosse seca; > Posteriormente, perda de peso ou sinais de invasão de estruturas vizinhas, como diafragma, traqueia, esôfago, veia cava superior e nervo laríngeo recorrente. Segundo fontes do U.S. National Cancer Institute Statistic Branch, a incidência dos mesoteliomas em 1973 era de 0,5 caso/100 mil habitantes, saltando atualmente para 1,9 caso/100 mil habitantes; isto se deve à expansão explosiva da indústria e ao uso crescente de asbesto nas décadas de 60 e 70. Altman, em 1981, refere que o mesotelioma acomete mais os homens (na proporção de 3:1) com idades entre 50 e 70 anos. Os alvos de maior risco são os trabalhadores expostos ao asbesto, como os da construção de navios, refrigeradores de ar e aquecedores. Relata também o que ele chama de exposição paraocupacional pessoas que moram na mesma casa ou vizinhança dos trabalhadores expostos ao asbesto. Outros possíveis fatores associados ao desenvolvimento do mesotelioma são: infecção viral (simian vírus-40), radioterapia, pleurodese com determinados talcos e inalação de outras fibras orgânicas (p. ex.: erionita). O quadro clínico do mesotelioma é o mesmo do derrame pleural: dor torácica ventilatório-dependente, dispneia, tosse seca; posteriormente, perda de peso ou sinais de invasão de estruturas vizinhas, como diafragma, traqueia, esôfago, veia cava superior e nervo laríngeo recorrente. No adenocarcinoma metastático pleural o quadro clínico também consiste de derrame pleural, além de manifestações específicas do seu sítio primário tumoral. Com relação aos exames, no mesotelioma pleural a radiografia de tórax lembra a de um derrame pleural septado. A tomografia computadorizada de tórax é um exame de excelente sensibilidade (88%) e de moderada especificidade (69%). Como achados mais frequentes são descritos: espessamento pleural irregular, às vezes nodular; espessamento da cissura interlobar; decréscimo do volume do hemitórax acometido; fixação precoce do mediastino; nódulos ou massas pleurais. A ressonância magnética é muito útil no estadiamento, no que se refere à invasão de mediastino, parede torácica ou diafragma. Um exame considerado excelente na diferenciação de lesões benignas e malignas, principalmente quando negativo, é o PET- -SCAM. Sua sensibilidade pode alcançar 91% e a especificidade, 100%. Por conta da dificuldade diagnóstica, uma série de exames laboratoriais vem sendo utilizada para esse fim. Embora o diagnóstico de malignidade possa ser obtido por esfregaço citológico ou biopsia por agulha da pleura, esses procedimentos, em geral, não podem distinguir entre adenocarcinoma metastático e mesotelioma, sendo necessários processos mais invasivos para fornecer maior amostra de tecido. A toracoscopia é o procedimento de escolha, porque a exibição diagnóstica é semelhante à da toracotomia aberta, mas o processo é menos invasivo. Relato do caso Identificação G.P.S., 65 anos de idade, sexo masculino, casado, brasileiro, pedreiro. Natural de João Pessoa (PB) e morador de Santa Rita há 30 anos. Paciente melanodérmico, tabagista, e tossígono crônico. Relato O paciente, tabagista, consumidor de 25 maços/ano, com diagnóstico de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), apresentou, quatro meses antes, dor do tipo fisgada em região mamária direita, acompanhada do aparecimento de massa tumoral local. Admitido em setembro de 2002, para investigação diagnóstica. Ao exame físico encontrava-se lúcido, orientado no tempo e no espaço, em bom estado geral, taquipneico (FR: 26ipm), normotenso (PA: 130 x 80mmHg), com frequência cardíaca de 90bpm, afebril (T ax : 36ºC), hipocorado 2+/4+; ausência de adenomegalias periféricas e de baqueteamento digital; tórax com massa palpável e de consistência pétrea, aderida aos planos profundos, sem sinais flogísticos, medindo aproximadamente 6cm no seu maior diâmetro, localizada na região mamária direita; aparelho respiratório: expansibilidade, mobilidade e frêmito toracovocal diminuídos na base do pulmão direito, maciez à percussão e murmúrio vesicular diminuído na região mamária direita. Restante do exame sem alteração. Na investigação do caso clínico foram realizados: 1. Telerradiografia do tórax: Presença de lesão lítica de 4 o e 5 o arcos costais anteriores, hiperinsuflação pulmonar, imagem de hipotransparência homogênea de bordos bem definidos, justapleural, medindo aproximadamente 6cm no seu maior diâmetro, localizada predominantemente no terço médio do hemitórax direito (Figuras 1a e 1b). 22

5. Tomografia computadorizada do tórax: Tumor de parede costal à direita invadindo o 5 o arco costal (destruindo-o); pleura e pulmão adjacentes de aproximadamente 6,5cm de diâmetro (Figuras 2a, 2b e 2c). Figura 2a: Tomografia do tórax, visão panorâmica: tumor de aproximadamente 6,5cm de diâmetro, no terço médio do hemitórax direito. Figuras 1a e 1b: Radiografias do tórax em PA e perfil, respectivamente: hipotransparência justapleural localizada no terço médio do hemitórax direito. Figura 2b: Tomografia do tórax, janela de mediastino: tumor invadindo o 5 o arco costal, pleura e pulmão adjacentes. 2. Hemograma: Anemia hipocrômica e microcítica. Hematócrito: 32%; hemoglobina: 10,5g/dl; ferro sérico: 50mg/dl; capacidade de combinação de transferrina: 172mg/dl; leucograma e coagulograma normais. 3. Eletrocardiograma: Ritmo sinusal, SÂQRS entre 0º e 30º e ausência de bloqueios ou arritmias. 4. Provas de função respiratória: A espirometria revelou obstrução pura de grau acentuado (VEF 1 /CVF: 46% do teórico previsto) com prova broncodilatadora negativa, e gasometria arterial em ar ambiente com hipoxemia moderada (PaO 2 : 63mmHg). Figura 2c: Tomografia do tórax, janela para pulmão: tumor invadindo o 5 o arco costal, pleura e pulmão adjacentes. 6. Aspirado de massa tumoral: Neoplasia maligna sugerindo mesotelioma, não sendo possível afastar adenocarcinoma ou sarcoma. A citologia não lembra plasmocitoma. 23

Pontos-chave: > O adenocarcinoma brônquico não exige estudo imuno-histoquímico; > Exceto nos casos em que é necessário diferenciá-lo do adenocarcinoma metastático e do mesotelioma pleural; > Os adenocarcinomas geralmente apresentam citoqueratinas de alto e baixo peso molecular, porém de baixo valor para diferenciação de mesotelioma. 7. Broncofibroscopia: Sem lesão intracanalicular visível. Lavado broncoalveolar negativo para tuberculose, actinomicose, fungos e células malignas. 8. Biopsia de massa tumoral: Mesotelioma bifásico. 9. Antígeno carcinoembriônico sérico (CEA): 32ng (normal: 0-25ng). Após a biopsia houve drenagem de material serossanguinolento em grande quantidade, com sinais inflamatórios exuberantes. Fez uso de antibioticoterapia (cefalotina durante 14 dias), evoluindo com melhora dos sinais inflamatórios, porém com persistência da drenagem espontânea. Foi colhida amostra desse material para estudo, que evidenciou a presença de raras células neoplásicas malignas. Em virtude dos resultados encontrados, optou-se por toracotomia diagnóstica e terapêutica (com finalidade higiênica). Descrição da intervenção cirúrgica: presença de tumoração de parede torácica com invasão do músculo peitoral menor e de parte do músculo peitoral maior; aderência do tumor ao pulmão (lobo médio), porém o mesmo se encontrava contido pela pleura; aderência em ápice; presença de nódulo em lobo inferior, de aproximadamente 1,5cm de diâmetro. Foram realizadas toracotomia anterior (reconstrução com tela de Marlex) e exérese do nódulo do lobo inferior direito. Evoluiu no pós-operatório com pneumotórax hipertensivo e parada cardiorrespiratória, não responsiva às manobras clássicas de reanimação. O estudo histopatológico das peças cirúrgicas (nódulos de pulmão, tumor de parede torácica, costelas, músculos, tecido celular subcutâneo e pele) revelou adenocarcinoma moderadamente diferenciado. Foi realizado estudo imuno-histoquímico com CEA, que foi positivo. Discussão Este relato de caso corrobora a literatura a respeito da eventual dificuldade diagnóstica entre mesotelioma e adenocarcinoma metastático pleural. A confirmação diagnóstica deve empregar coloração imuno-histoquímica, estudos com anticorpos monoclonais, microscopia eletrônica e a pesquisa de marcadores tumorais. No estudo do fluido pleural a concentração elevada de hialuronato sugere fortemente mesotelioma. Embora o estudo citológico não possa assegurar a distinção entre os dois tipos patológicos, alguns aspectos são sugestivos: agregação papilar, multinuclear, com atipia e aposição célula a célula no mesotelioma; estruturas acinoides e vacuolização em balão no adenocarcinoma. O corante ácido periódico de Schiff é o método histoquímico mais confiável. Através dele, a presença de vacúolo fortemente positivo estabelece eficazmente o diagnóstico de adenocarcinoma, embora nem todos os adenocarcinomas assumam essa coloração. Normalmente, o adenocarcinoma brônquico não exige estudo imuno-histoquímico, exceto nos casos em que é necessário diferenciá-lo do adenocarcinoma metastático e do mesotelioma pleural. Os adenocarcinomas geralmente apresentam citoqueratinas de alto e baixo peso molecular, porém de baixo valor para diferenciação de mesotelioma; são positivos também para EMA (antígeno de membrana epitelial), CEA (antígeno carcinoembrionário) e B72.3. Aproximadamente um quarto dos adenocarcinomas brônquicos apresenta vimentina, e dois terços são positivos para componente secretório. A análise imuno-histoquímica do fluido pleural inclui os marcadores tumorais CEA, Leu-M1 e CYFRA 21-1. Se o CEA e o Leu-M1 forem positivos, indicam adenocarcinoma; caso contrário, sugerem mesotelioma. Altos níveis de CYFRA 21-1 com baixos níveis de CEA sugerem mesotelioma. A pesquisa de marcadores tumorais no sangue periférico ajuda a elucidar o diagnóstico. A presença de CEA sérico elevado é sugestiva de adenocarcinoma; já a existência de CA-125 sugere adenocarcinoma seroso do ovário; e a presença de CA 15-3 é indicativa de adenocarcinoma intraductal da mama. A microscopia eletrônica é também eficaz para diferenciar os mesoteliomas e adenocarcinomas metastáticos. Os mesoteliomas apresentam características quase diagnósticas: ausência de radículas centrais nas microvilosidades, de corpúsculos glicocaliceais e grânulos secretórios, presença de desmossomos intracelulares, de complexos juncionais abundantes, de lumes intracitoplasmáticos e de numerosas microvilosidades características. O aspecto das microvilosidades é fator importante para diferenciar os tipos histológicos em questão. No meso- 24

telioma essas são numerosas, finas e longas, enquanto no adenocarcinoma são menos frequentes, curtas e grossas. Apesar de todo o avanço na imuno-histoquímica e na microscopia eletrônica, cerca de 5% a 10% dos casos de mesotelioma só são esclarecidos em autópsia. Esta permite amostra de tecido pulmonar suficiente e distante das margens do tumor para evidenciar exposição ao asbesto, visando demonstrar tipos e extensão das fibras. Essa diferenciação diagnóstica é de fundamental importância para se definir a conduta terapêutica e estabelecer o prognóstico. O adenocarcinoma metastático é sinal de estágio avançado da doença, sendo o tratamento, portanto, paliativo. No entanto, apresenta melhor sobrevida, quando comparado ao mesotelioma. O mesotelioma parece ter no tratamento cirúrgico a tentativa de cura, através de ressecções amplas. Estudos têm sido realizados com a associação de quimioterapia ou radioterapia, porém a sobrevida média no mesotelioma é entre seis e 18 meses, e não é influenciada pelas intervenções terapêuticas. Conclusão O trabalho relata um típico caso de dificuldade diagnóstica, no qual o aspirado da massa tumoral sugeriu mesotelioma pleural, porém o estudo histopatológico e imuno-histoquímico revelou adenocarcinoma em pulmão e pleura. De acordo com Light (3), a pesquisa citológica não pode assegurar a distinção entre os dois tipos patológicos, e a confirmação diagnóstica deve empregar imuno-histoquímica, estudos com anticorpos monoclonais, microscopia eletrônica e pesquisa de marcadores tumorais em adequada amostra de tecido, obtida por toracotomia aberta ou toracoscopia. Apesar do emprego de tais técnicas, 5% a 10% dos casos de mesotelioma são esclarecidos apenas em autópsia. Referências 1. SILVA, L.C.C. Condutas em Pneumologia. Rio de Janeiro, Revinter, 2001. 2. TARANTINO, A.B. Doenças pulmonares. 5. ed., Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2002. 3. LIGHT, R. Mesoteliomas malignos e benignos. In: Light, R. Doenças da pleura. 3. ed., Rio de Janeiro, Revinter, 2001. p. 158-71. 4. HIERHOLZER, J.; LUO, L. & BITTNER, R.C. MRI and CT in the differential diagnosis of pleural disease. Chest, 3(118): 604-9, 2000. 5. BOYLAN, A.M. Mesothelioma: New concepts in diagnosis and management. Curr. Opin. Pulm. Med., 2(6): 157-63, 2000. 6. GARCIA-PACHON, E. & PAGANUZZI, M. Tumor markers for diagnosing malignant pleural effusion. Chest, 1(121): 302-3, 2002. 7. STERMAN, D.H.; KAISER, L. & ALBELDA, S.M. Advances in the treatment of malignant pleural mesothelioma. Chest, 116: 504-20, 1999. 8. STERMAN, D.H.; LITZKY, L.A. et al. Clinical presentation and staging of malignant mesothelioma. Up To Date, 2003. 9. STERMAN, D.H.; LITZKY, L.A. et al. Epidemiology and pathology of malignant mesothelioma. Up To Date, 2003. 10. PINHEIRO, B.V. & OLIVEIRA J.R., J.C.A.A. Doenças da pleura. 11. COLBY, T.V.; KOSS, M.N. & TRAVIS, W.D. Tumors of the lower respiratory tract. In: Atlas of tumor pathology. 3. ed., Armed Registry of Pathology, 1995. 12. BATTIFORA, H. & MACCAUGHEY, W.T. Tumors of the serosal membranes. In: Atlas of tumor pathology. 3. ed., Washington D.C., Armed Forces Institute of Pathology, 1995. Endereço para correspondência: Beltrão Paiva Castello Branco Av. Maranhão, 200/Apto. 103 58030-260 João Pessoa-PB 25