INTERAÇÃO ENTRE A COMPOSIÇÃO LIPÍDICA DE PEIXE E A MARGARINA INTERESTERIFICADA DURANTE O PROCESSO DE REFOGAR

Documentos relacionados
Análise rápida de 37 FAMEs com o Cromatógrafo a Gás Agilent 8860

ÔMEGA 3 PÓ. EPA e DHA suplementados na forma de pó

Aprimorando a análise de 37 ésteres metílicos de ácidos graxos

AVALIAÇÃO DO PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DE SEMENTES OLEAGINOSAS Jatropha gossypifolia L. E Jatropha curcas L. DO CERRADO POR GC-FID

Lipids E N V I R O. Hypertension. Obesity. Diabetes. Diet. Vascular disease Age E T I C. Smoking E N. Gender Family history T A L. Sedentary lifestyle

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO MESTRADO EM NUTRIÇÃO

ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS (PCA) E QUANTIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS EM FÓRMULAS INFANTIS PARA LACTENTES

AVALIAÇÃO DA FRAÇÃO LIPÍDICA EM GRÃOS DE ARROZ VIA CROMATOGRAFIA GASOSA 1. INTRODUÇÃO

Ingredientes: Óleo de cártamo. Cápsula: gelatina (gelificante) e glicerina (umectante).

PERFIL LIPÍDICO DA CARNE DE NOVILHOS DE GERAÇÕES AVANÇADAS DO CRUZAMENTO ROTATIVO CHAROLÊS X NELORE

ESTUDO COMPARATIVO DO PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS PRESENTES NO ÓLEO EXTRAÍDO DAS SEMENTES DE GOIABA (Psidium guajava L.)

DETERMINAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS EM ALIMENTOS POR CROMATOGRAFIA GASOSA

SUPLEMENTAÇÃO DE RAÇÃO PARA TILÁPIAS DO NILO (Oreochromis niloticus) COM CHIA (Salvia hispânica L.)

Qualidade dos alimentos: novas desafios. Braganc;:a, Setembro ISBN

AVALIAÇÃO DO PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DE QUEIJO TIPO CHEVRONTIN SIMBIOTICO

Bromatologia Mônica Cristine P Santos (Doutoranda) PPGAN - UNIRIO

Composição centesimal de azeitonas e perfil de ácidos graxos de azeite de oliva de quatro cultivares de oliveira

COMPOSIÇÃO EM ÁCIDOS GRAXOS DE ÓLEO DE CAFÉ: COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE ESTERIFICAÇÃO*

As gorduras são triglicerídeos de cadeia média a longa contendo mais ácidos graxos saturados que os óleos.

Autores: Giselle de S. Araújo, Ricardo H. R. de Carvalho e Elisa M. B. D. de Sousa. São Paulo, Maio de 2009

Equilíbrio entre baixo teor de saturados e baixo trans nas gorduras vegetais

ARRASTE FECAL DE LIPÍDIOS EM RATOS ALIMENTADOS COM DIFERENTES FONTES DE GORDURA.

PERFIL LIPÍDICO DO TECIDO ADIPOSO DE RATOS APÓS CONSUMO DE FARINHA DE ALGA GRACILARIA BIRDIAE1

VARIAÇÃO DO VALOR NUTRICIONAL E PERFIL LIPIDICO DE CAPRINOS SERRANOS ECÓTIPO JARMELISTA EM FUNÇÃO DA MATURIDADE

COMPOSIÇÃO EM ÁCIDOS GRAXOS DE FILÉS DE TILÁPIA E SEPARAÇÃO EM CLASSES DE LIPÍDIOS

Anais do 14º Encontro Científico Cultural Interinstitucional ISSN

ESTUDO DO TEOR E COMPOSIÇÃO DO ÓLEO DE ALGUMAS VARIEDADES DE CAFÉ

CONSUMO DE ÔMEGA 3 EM HIPERTENSOS DE MACEIÓ-AL

QBQ Lipídeos e Membranas

CONEXÃO ENTRE ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS, VITAMINAS E MINERAIS PALESTRANTE. Vanessa Rodrigues Lauar

DISICIPLINA TECNOLOGIA DE PÓS-COLHEITA E INDUSTRIALIZAÇÃO DE ARROZ. Industrialização de óleo de arroz

Profa. Alessandra Barone.

O OVO NA ALIMENTAÇÃO Prof. Eduardo Purgatto Faculdade de Saúde Pública USP 2016

COMPOSIÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS EM POLPA DE FRUTAS NATIVAS DO CERRADO 1

APLICAÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS DE RELEVÂNCIA NUTRICIONAL EM PRODUTOS DE PANIFICAÇÃO. da Silva e Elisa Makiyama Kim FEA-UNICAMP

Lipídios em Alimentos

Perfil de ácidos graxos de híbridos de girassol cultivados em Londrina

AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E DE ÁCIDOS GRAXOS EM FILÉS DE SALMÃO (Salmo salar L.) IN NATURA E GRELHADO

Disciplina HNT Composição dos alimentos. Gabarito Lista de exercícios Lipídeos

O OVO NA ALIMENTAÇÃO. Profa. Assoc. Elizabeth A F S Torres Faculdade de Saúde Pública USP 2015

COMPOSIÇÃO EM ÁCIDOS GRAXOS DO ÓLEO DE COBERTURA DE SARDINHAS EM CONSERVA ARMAZENADAS EM TEMPERATURA AMBIENTE

Biodisponibilidade de Lipídios. Prof. Dra. Léa Silvia Sant Ana UNESP - Botucatu Faculdade de Ciências Agronômicas

LIPÍDEOS DE ALIMENTOS E SAÚDE AULA 02

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1588

Lipídios simples (gorduras neutras)

os lipídeos não são polímeros, isto é, não são repetições de uma unidade básica

Que tipo de gordura estou consumindo?

DISLIPIDEMIAS PROF. RENATA TORRES ABIB BERTACCO FACULDADE DE NUTRIÇÃO - UFPEL

Controle de qualidade físico-químico de alimentos fontes de lipídeos

ANAIS do XXX Congresso Brasileiro de Espeleologia Montes Claros MG, de julho de Sociedade Brasileira de Espeleologia

Lipídios e Membranas

ULTRA COLLAGHEM Óleo de cártamo + Colágeno hidrolisado

ANÁLISE COMPARATIVA DO TEOR LIPÍDICO E PERFIL DE ÁCIDO GRAXOS DE FRUTOS COMESTÍVEIS DE TRÊS ESPÉCIES NATIVAS DE SYAGROS

Perfil de lipídios, composição de ácidos graxos e teor de colesterol em camarões

Metabolismo de Lipídios. Prof. Raul Franzolin Neto FZEA/USP Campus de Pirassununga

ANÁLISE QUANTITATIVA E QUALITATIVA DE ÁCIDOS GRAXOS DO ÓLEO DAS SEMENTES DE ACESSOS DE MARACUJÁS DO CERRADO

De onde vem essa energia?? Como a célula obtém essa energia??

SEMENTE DE CHIA. Ficha técnica. REGISTRO: Isento de Registro no M.S. conforme Resolução RDC n 27/10. CÓDIGO DE BARRAS N :

PERFIL LIPÍDICO DO LEITE CAPRINO DO MINICÍPIO DE SENHOR DO BOMFIM BA

RELAÇÃO ENTRE ÁCIDOS GRAXOS POLI-INSATURADOS ÔMEGA-3 NA DIETA DE GALINHAS POEDEIRAS E A COMPOSIÇÃO DE OVOS REVISÃO DE LITERATURA

XVIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 19 a 23 de outubro de 2009

Conceito. São um grupo heterogêneo de substâncias, amplamente distribuídas em animais e vegetais, cuja característica comum:

AVALIAÇÃO QUÍMICA DE CORTES DE CARNE BOVINA ORIUNDA DE DIFERENTES SISTEMAS PRODUTIVOS

PRODUÇÃO DE LIPÍDIOS ATRAVÉS DA BIOCONVERSÃO DA GLICERINA PELA MICROALGA SKELETONEMA COSTATUM

PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DO ÓLEO DE SEMENTE DE ABÓBORAS CRIOULAS (Cucurbita máxima L.)

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Departamento de Tecnologia de Alimentos 3

COMPOSIÇÃO Ε PROPRIEDADES DA FRAÇÃO LIPÍDICA DE GRÃOS DE CAFÉS DE BEBIDAS MOLE, DURA, RIADA Ε RIO*

AVALIAÇÃO DO IMPACTO CAUSADO PELO MÉTODO DE COCÇÃO POR SOUS VIDE NO PERFIL LIPÍDICO DA CARNE CAPRINA

AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL, COLESTEROL E PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DE CORTES CÁRNEOS COMERCIAIS DE AVESTRUZ, SUÍNO, BOVINO E FRANGO*

TÍTULO: ANÁLISE DO CONSUMO DE ALIMENTOS FONTE DE GORDURAS E FATORES QUE INFLUENCIAM SUAS ESCOLHAS

Rev Inst Adolfo Lutz ARTIGO ORIGINAL/ Composição centesimal, colesterol e perfil de ácidos graxos dos peixes tainha ( Mugil cephalus

INFLUÊNCIA DA DIETA DE TERMINAÇÃO NO PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DE CARNE OVINA

Perfil nutricional de alimentos com alegação de zero gordura trans

COMPOSIÇÃO EM ÁCIDOS GRAXOS DE ÓLEOS VEGETAIS Ε GORDURAS ANIMAIS*

Rev Inst Adolfo Lutz, 65(2):94-99, 2006

A química dos lipídios. Ácidos Graxos e Fosfolipídios

APLICAÇÃO DA EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO NA NEUTRALIZAÇÃO DE ÓLEO BRUTO DE SOJA COM FOCO NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Perfil de Ácidos Graxos do Óleo Bruto Extraído das Sementes de Niger após a Secagem e Durante o Armazenamento

Os superalimentos. Rubrica Nutricional. densidade nutricional, considerados. Os consumidores do mundo. industrializado estão a tornar-se cada vez

EFEITO DA PASTEURIZAÇÃO SOB O TEOR DE ÁCIDO LINOLÉICO CONJUGADO (CLA) EM LEITE BOVINO

Prof. Thiago Kastell LIPÍDEOS. Substâncias biológicas insolúveis em água Também conhecida como gordura

Fatty Acids Profile in Chips Potato Marketed in the City of São José do Rio Preto, SP, Brazil

RIALA6/1035 Sabria AUED-PIMENTEL 1*, Miriam Solange Fernandes CARUSO 1, Edna Emy KUMAGAI 1, Valter RUVIERI 2, Odair ZENEBON 3

AVALIAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA FRAÇÃO LIPÍDICA DE MANTEIGAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

LIPÍDIOS ESTRUTURADOS OBTIDOS A PARTIR DA MISTURA DE GORDURA DE FRANGO, SUA ESTEARINA E TRIACILGLICERÓIS DE CADEIA MÉDIA

ESTUDO COMPARATIVO DA EXTRAÇÃO DO ÓLEO DA BORRA DE CAFÉ

TEORES DE GORDURA DE LANCHES COMERCIALIZADOS NA CIDADE DE PALMEIRA DAS MISSÕES- RS

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 50

LIPÍDEOS, LIPÍDIOS OU LÍPEDOS AULA 3

Fontes e Requerimentos de Gordura. Importância dos Lipídeos como Constituintes da Dieta. Importância dos Lipídeos como Constituintes da Dieta

COMPOSIÇÃO DO LIPÍDIO PRESENTE NA BIOMASSA PRODUZIDA PELOS COGUMELOS COMESTÍVEIS

Roberto G. Costa & A.V. Cordova-Torres. Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia UFPB/UFRPE/UFC

Composição de ácidos graxos de margarinas à base de gordura hidrogenada ou interesterificada

ANÁLISES DE ÓLEOS VEGETAIS E ÓLEO RESIDUAL BRUTO POR CROMATOGRAFIA GASOSA VISANDO À PRODUÇÃO DO BIODIESEL

MSc. Bolsista CNPq/Embrapa Clima Temperado. 2. Acadêmica de Engenharia Química FURG.

COMPARAÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS EXTRATIVOS DE LIPÍDEOS A PARTIR DA BIOMASSA DE Trichormus sp. CENA77 VISANDO APLICAÇÃO NA SÍNTESE DE BIODIESEL

LIPÍDEOS ESTRUTURAS QUÍMICAS BIOQUÍMICA. Profa. Dra. Celene Fernandes Bernardes

ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS EM ÓLEO DE CAFÉ (COFFEA ARABICA) ARMAZENADO DURANTE SEIS MESES

Perfil de ácidos graxos, composição centesimal e valor calórico de moluscos crus e cozidos com leite de coco da cidade de Maceió-Al

Transcrição:

INTERAÇÃO ENTRE A COMPOSIÇÃO LIPÍDICA DE PEIXE E A MARGARINA INTERESTERIFICADA DURANTE O PROCESSO DE REFOGAR G. M. Lira 1 ; S.R. Baggio 2 ; B.M. de Brito 3 ; I.L. Amaral 4 ; C.M.A.S. Santana 4 ; 1- Laboratório de Bromatologia Universidade Federal de Alagoas, Faculdade de Nutrição CEP: 57072-900 Maceió AL Brasil, Telefone: 55 (82) 3214-1160 Fax: 55 (82) 3214-1161 e-mail: (gmlira@superig.com.br) 2- Centro de Ciência e Qualidade de Alimentos Instituto de Tecnologia de Alimentos CEP 13070-178 Campinas SP Brasil, Telefone: 55 (82) 3743-1783 e-mail: (sueli@ital.sp.gov.br) 3- Mestrado em Nutrição - Faculdade de Nutrição, UFAL 4- Bolsistas de Iniciação Científica, FAPEAL, CNPq - Faculdade de Nutrição, UFAL RESUMO Com o objetivo de avaliar a influência do tratamento térmico na composição química de peixe refogado com margarina interesterificada determinaram-se na pescada branca (Cynoscion leiarchus), nas formas in natura e refogada com margarina interesterificada o seu perfil de ácidos graxos e teor de colesterol, pois essas informações são inexistentes na literatura científica. Os resultados obtidos detectaram alterações significativas neste perfil de ácidos graxos, após a cocção da pescada devido à incorporação da margarina interesterificada utilizada no meio de cocção e baixos teores de colesterol. ABSTRACT In order to obtain information concerning the effect of heat treatment about the chemical composition of fish braised with interesterified margarine, it was determined in hake (Cynoscion leiarchus), in natura and submitted to the cooking process with interesterified margarine, the fatty acids profile and cholesterol content, considering the lack of information in the scientific literature. The results obtained showed significant changes in this fatty acids profile, after this cooking method of hake due the incorporation of interesterified margarine utilized in the means of cooking and low cholesterol values. PALAVRAS-CHAVE: Cocção, interesterificação, ácidos graxos poli-insaturados, colesterol. KEYWORDS: cooking, interesterified fat, polyunsaturated fatty acids, cholesterol 1. INTRODUÇÃO A pescada branca (Cynoscion leiarchus) gera importante receita no estado de Alagoas, sendo o refogado uma de suas formas de preparo, um processo que utiliza a gordura adicionada e a água interna do alimento como meio de cozimento. Diversos estudos tem relatado a importância dos lipídios presentes nos peixes, por serem fonte de ácidos graxos poli-insaturados da série ômega-3, como o EPA e DHA, que tem sido relacionados à minimização de processos inflamatórios (BARBALHO et al., 2011), redução do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares (SANTOS; BORTOLOZO, 2008), asma, hipertensão, lúpus, doenças de pele e oculares, depressão (GUINÉ; HENRIQUES, 2011) e Alzheimer (DOMÍNGUEZ, 2008). As características físicas e a composição química dos alimentos in natura podem ser alteradas de acordo com o método de cocção, o tempo e a temperatura empregados no processo e o meio de cocção utilizado (ROSA et al, 2006;

RAATZ et al., 2013). Por serem inexistentes, são necessárias pesquisas sobre o método de cocção refogar utilizando a margarina interesterificada. Uma alternativa para as gorduras hidrogenadas, porém existe a preocupação em relação ao aumento no consumo de ácidos graxos saturados. Este estudo teve como objetivo avaliar as modificações do perfil de ácidos graxos em pescada (Cynoscion leiarchus) refogada com margarina interesterificada. 2. MATERIAL E MÉTODOS Analisaram-se 10 amostras de pescada branca (Cynoscion leiarchus), procedentes da costa marítima de Maceió-Alagoas, cada amostra constituída de 500g e dividida em duas partes de 250g: uma analisada in natura e a outra refogada em 12,5g de margarina interesterificada, por 14 minutos a 81,5ºC. Também foi analisada a margarina interesterificada. A extração lipídica foi realizada pelo método de Folch et al. (1957). Posteriormente, foram tomados 25 mg de lipídeos e efetuada uma metilação dos ácidos graxos, segundo Hartman e Lago (1973), visando à determinação da composição dos ácidos graxos por cromatografia gasosa. Para a identificação dos ácidos graxos, foram utilizados padrões de ésteres metílicos de ácidos graxos puros, comparando-se o tempo de retenção dos ésteres metílicos das amostras e dos padrões. Os extratos lipídicos esterificados foram injetados em Cromatógrafo gasoso da marca Agilent Technologies, modelo 7890A com coluna de modelo CP-Sil 88, 100 m, 0,25 mm d.i., 0,20 µm de filme. Forno com temperatura de 140ºC/2 min aquecimento de 140 o C a 230 ºC (4,5ºC/min), permanecendo a 230 0 C por 28 minutos. Injetor tipo Split, razão do split: 1:75, temperatura: 260 ºC, fluxo: 0,6 ml/min e pressão constante. Detector com temperatura de 260 ºC, Make up (Nitrogênio): 30 ml/min, hidrogênio: 30 ml/min e ar sintético: 300 ml/min. Análises Estatísticas - Análise de variância com a significância sendo avaliada por intermédio do teste F, considerando-se o nível de significância 5%, programa SAEG Sistema para Análises Estatísticas, versão 9.1 (2007). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram separados, identificados e quantificados trinta e um ácidos graxos, dos quais onze são saturados, sete são monoinsaturados, dez poli-insaturados e três na configuração trans. O perfil de ácidos graxos predominantes encontrados nas amostras de pescada branca na forma in natura e refogada com margarina interesterificada, está exposto na Tabela 1. Após refogada, houve modificações no perfil de ácidos graxos da pescada em relação as amostras in natura. Estas alterações devem-se a concentração dos ácidos graxos, após a redução do teor de umidade da pescada, decorrente do processo de cocção e também devido a incorporação de ácidos graxos presentes em elevadas concentrações na margarina interesterificada, cujos ácidos graxos de maior predominância, foram: Linoleico 33381,5 mg/100g; Oleico 18302,62 mg/100g; Palmítico 10051,96 mg/100g; Esteárico 7050,88 mg/100g; Linolênico 2789,34 mg/100g e Láurico 2702,17 mg/100g (Tabela 2). Nas amostras de pescada branca refogadas, os ácidos graxos saturados mais predominantes (Palmítico, Esteárico e Láurico) apresentaram elevação significativa (p<0,05), cerca de 2, 4 e 16 vezes, respectivamente, em relação às amostras in natura. Os ácidos graxos poli-insaturados predominantes Linoleico e Linolênico tiveram um aumento de 100 vezes e 11 vezes, respectivamente, em relação a pescada in natura. Essas elevações são devido a incorporação do meio de cocção.

Tabela 1 Ácidos graxos predominantes (mg 100 g-1) da pescada branca in natura e refogada em margarina interesterificada ÁCIDOS GRAXOS In natura Margarina interesterificada SATURADOS Láurico (C12:0) 9,56 ±7,92a 156,74 ±21,61b Mirístico (C14:0) 44,44 ±11,23b 105,09 ±5,58a Palmítico (C16:0) 457,98 ±57,9a 987,39 ±86,1b Esteárico (C18:0) 120,82 ±12,03a 469,43 ±45,2b MONOINSATURADOS Palmitoléico (C16:1n-7) 202,88 ±24,89a 262,26 ±8,2a Oleico (C18:1n-9) 316,97 ±32,38a 1274,44 ±80,09b POLI-INSATURADOS Linoleico (C18:2n-6) 16,57 ±2,9a 1707,4 ±110,81b Linolênico(C18:3n-3) 15,67 ±3,66a 169,99 ±12,86b Araquidônico (C20:4n-6) 56,16 ±8,1a 71,51 ±4,94a Eicosapentaenóico (EPA) (C20:5n-3) 61,36 ±10,28a 78,25 ±12,67ab Docosapentaenóico (C22:5n- 3) 43,36 ±12,47a 55,93 ±5,09a Docosahexaenóico (DHA) (C22:6n3) 152,56 ±33,72a 155,66 ±12,61a TRANS Elaídico (C18:1n-9t) 4,61 ±1,55a 4,69 ±0,83a Linolelaídico (C18:2n-6t) 3,94 ±0,76a 19,15 ±0,65b Linolenelaidico (C18:3n-3t) 18,26 ±6,26a 43,33 ±2,73b Relação n-6/n-3 1:3,43ª 3,87:1b Média de 10 amostras analisadas em duplicata. Na mesma linha, médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste F ao nível de 5% de significância. Fonte: autoria própria O total de EPA + DHA na amostra in natura foi de 213,93 mg/100g e nas refogadas foi 233,91 mg/100g. Segundo Oliveira et al. (2012), doses de 500 a 1800 mg de EPA+DHA, provenientes de suplementos ou consumo de peixe, reduzem a mortalidade em geral e por eventos cardiovasculares. Para indivíduos com doença cardiovascular documentada, são recomendados aproximadamente 1000 mg de EPA+DHA, preferencialmente derivados do consumo de peixes ricos em gordura. O perfil de ácidos graxos encontrado na margarina interesterificada está exposto na tabela 2. Os cinco ácidos graxos de maior predominância foram: Linoleico, Oleico, Palmítico, Esteárico e Linolênico. A margarina interesterificada apresentou 2105 mg/100g de ácidos graxos trans. No entanto, de acordo com a informação nutricional que consta no rótulo da margarina analisada, a mesma não apresenta ácidos graxos trans (0 g/10g). Cavendish et al. (2010) encontraram quantidade inferior na margarina interesterificada com 65% de lipídios, 1290 mg/100g.

Tabela 2 - Ácidos graxos (mg 100 g-1) da margarina interesterificada ÁCIDOS GRAXOS Margarina interesterificada SATURADOS Ácido caprílico (C 8:0) 50,97 (±11,09) Ácido cáprico (C 10:0) 184,65 (±38,99) Láurico (C12:0) 2702,17 (±180,87) Mirístico (C14:0) 1033,80 (±11,14) Palmítico (C16:0) 10051,96 (±44,39) Heptadecanóico (C17:0) 72,72 (±2,77) Esteárico (C18:0) 7050,88 (±25,08) Araquídico (C20:0) 277,16 (±2,78) Behênico (C22:0) 279,11 (±5,57) Lignocérico (C24:0) 77,00 (±35,65) MONOINSATURADOS Palmitoléico (C16:1n-7) 84,51 (±2,78) Oleico (C18:1n-9) 18302,62 (±119,58) Acido cetoleico (20:1n-11) 131,71 (±2,78) POLIINSATURADOS Linoleico (C18:2n-6) 33381,5(±133,68) Ácido gama-linolênico (C18:3 n 6) 23,64 (±0) Linolênico (C18:3n-3) 2789,34 (±19,45) Eicosapentaenóico (C20:5n-3) - TRANS Elaídico (C18:1n-9t) 554,31 (±5,56) Linolelaídico (C18:2n-6t) 676,20 (±5,57) Acido linolenelaidico (C18:3n-3t) 874,72 (±8,33) Média de 4 amostras analisadas em duplicata Com o objetivo de verificar o efeito do tratamento térmico os resultados foram calculados na base seca, eliminando desta forma a influência da água. Verificou-se na pescada refogada os maiores percentuais de elevações nos ácidos graxos saturados láurico e esteárico, no monoinsaturado oleico e nos poli-insaturados linoleico e linolênico e no ácido graxo trans linolelaídico. Foram detectadas perdas nos ácidos graxos poli-insaturados araquidônico, EPA e DHA (Tabela 3).

Tabela 3 Ácidos graxos predominantes ((mg 100 g-1) da Pescada branca in natura e refogada em margarina interesterificada, em base seca ÁCIDOS GRAXOS Margarina In natura interesterificada % Perdas e elevações SATURADOS Láurico (C12:0) 53,95 ±59,91 422,79 ±65,89 683,67 Mirístico (C14:0) 180,63 ±56,33 246,46 ±13,58 36,44 Palmítico (C16:0) 1392 ±196,2 2019,43 ±99,18 45,07 Esteárico (C18:0) 401,33 ±32,59 1156,55 ±61,47 188,17 MONOINSATURADOS Palmitoléico (C16:1n-7) 493,39 ±64 261,49 ±16,6 47,01 Oléico (C18:1n-9) 827,71 ±68,08 2899,71 ±203,91 250,32 POLIINSATURADOS Linoleico (C18:2n-6) 69,3 ±14,81 4760,16 ±381,41 6768,91 Linolênico(C18:3n-3) 23,37 ±11,99 446,18 ±41,33 1809,2 Araquidônico (C20:4n-6) 232,14 ±38,56 155,47 ±12,00 33,03 Eicosapentaenóico (EPA)(C20:5n-3) 239,47 ±45,12 158,65 ±11,73 33,75 Docosapentaenóico (C22:5n-3) 179,8 ±64,21 123,81 ±11,23 31,15 Docosahexaenóico (DHA)(C22:6n3) 730,33 ±176,9 379,79 ±34,47 48 TRANS Elaídico (C18:1n-9t) 5,65 ±4,71 3,99 ±0,94 29,39 Linolelaídico (C18:2n-6t) 1,9 ±1,7 39,61 ±1,57 1984,73 Linolenelaidico (C18:3n-3t) 39,02 ±35,03 53,95 ±4,41 38,26 Média de 10 amostras analisadas em duplicata, com desvio-padrão entre parênteses. Na mesma linha, médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste F ao nível de 5% de significância. Fonte: autoria própria. É importante manter um equilíbrio adequado de ômega 3 e ômega 6, pois um balanceamento inadequado poderia acentuar um estado de deficiência de ômega 3. As razões 2:1 a 4:1 tem sido recomendada, por possibilitar uma maior conversão do ácido linolênico em DHA. Em contrapartida, razões inferiores a 1:1 não são recomendadas, por inibirem a transformação do ácido linoléico em ácido araquidônico (ALMEIDA; FRANCO, 2006; NOVELLO et al., 2008). A relação ômega 3/ômega 6 apresentou-se favorável na pescada refogada. Foram detectados baixos teores de colesterol nas amostras da pescada branca in natura (64,58 mg/100g) e refogada em margarina interesterificada (99,95 mg/100g). A pescada refogada teve um aumento significativo (p<0,05) em relação a in natura, demonstrando que a cocção provocou elevação de seu valor, decorrente da perda de água, promovendo a concentração desse componente. Os teores de colesterol detectados nas amostras in natura e refogada não atingem o limite de 300mg/dia, que auxilia no controle de colesterolemia (SANTOS, 2013), e não é ultrapassado após o consumo de cerca de 100g deste alimento. 4. CONCLUSÕES A pescada in natura pode ser considerada fonte de ácidos graxos oleico, docosahexaenoico, eicosapentaenoico, araquidônico e esteárico. O processo de refogar proporcionou mudanças no perfil de ácidos graxos com elevação expressiva dos ácidos graxos poli-insaturados linoleico (ômega 6),

oleico (ômega 9), linolênico (ômega 3). No entanto, houve elevação na concentração de ácidos graxos saturados. Portanto, deve ser consumida com moderação por indivíduos saudáveis. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida. N. M. de; Franco, M. R. Influência da dieta alimentar na composição de ácidos graxos em pescado: aspectos nutricionais e benefícios à saúde humana. Rev Inst Adolfo Lutz. v. 65, n. 1, p. 7-14, 2006. Barbalho, S. M.; Bechara, M. D. Quesada, K. R. et al. Papel dos ácidos graxos ômega 3 na resolução dos processos inflamatórios. Medicina (Ribeirão Preto). v. 44, n. 3, p. 234-40, 2011. Domínguez, Y. L. La dieta en la enfermedad de Alzheimer. Revista Cubana de Salud Pública. V. 35, n. 4, p. 55-64, 2008. Folch, J.; lees, M.; Sloanne Stanley, G. H. A simple method for the isolation and purification of total lipide from animal tissues. J. Biol. Chem., Baltimore, v.226, n.1, p.497-509, 1957. Guiné, R. F.; Henriques, F. O papel dos ácidos gordos na nutrição humana e desenvolvimentos sobre o modo como influenciam a saúde. Millenium. V. 40, p. 7 21, 2011. Hartman, L.; Lago, R.C.A. Rapid preparation of fatty acid methyl esters from lipids. Lab. Pract., v.22, n.8, p.475-76, 1973. Oliveira, J. M. De; Luzia, L. A.; Rondó, P. H, de C. Ácidos Graxos Poli-insaturados Ômega-3: saúde cardiovascular e sustentabilidade ambiental. Segurança Alimentar e Nutricional. v. 19, n. 1, p. 89-96, 2012. Novello, D; Franceschini, P.; Quintiliano, D. A. A importância dos ácidos graxos ω-3 e ω-6 para a prevenção de doenças e na saúde humana. Revista Salus. v. 2, n. 1, p. 77-87, 2008. Raatz, S. K. et al. Issues of Fish Consumption for Cardiovascular Disease Risk Reduction. Nutrients. v. 5, 1081-1097, 2013. Rosa, F. C. et al. Efeito de médodos de cocção sobre a composição química e colesterol em peito e coxa de frangos de corte. Ciênc. agrotec. v. 30, n. 4, p. 707-714, 2006. Santos, L. E. S.; Bortolozo, E. A. F. Q. Ingestão de ômega 3: considerações sobre Potenciais benefícios no metabolismo lipídico. Publ. UEPG Ci. Exatas Terra, Ci. Agr. Eng. v.14, n. 2, p. 161-170, 2008.