CEPAL COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE Escritório no Brasil

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Transcrição:

LC/BRS/R.159 F F P fi I H H Maio de 2006 Original: português CEPAL COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE Escritório no Brasil M E R C O S U L : E N T Ã O E A G O R A 900034136 900034136 - BIBLIOTECA CEPAL Documento elaborado por Renato Baumann e Carlos Mussi, do Escritório da Cepal no Brasil. As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, a posição da instituição.

MERCOSUL: ENTÃO E AGORA Renato Baumann* Carlos Mussi I - Introdução Em março de 2006 a assinatura do Tratado de Assunção pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai completou 15 anos. Nesse período, o Mercado Comum do Sul (Mercosul) originado nesse Tratado passou por etapas variadas, que provocaram em alguns momentos expectativas altamente favoráveis quanto ao seu futuro e notável pessimismo em outros momentos. O exercício de integração criado a partir do Tratado de Assunção é único, em diversos sentidos. De imediato, é provável que não exista no planeta outro grupo de países de dimensões tão díspares e com pretensão de constituir uma União Aduaneira. Além disso, nenhum outro exercício no hemisfério ocidental experimentou aumento tão pronunciado de transações intra-regionais (comércio e investimento) como o Mercosul até 1998, do mesmo modo que nenhum outro exercício apresentou retração tão intensa nessas mesmas transações quanto o Mercosul entre 1998 e 2003. O Tratado de Assunção significou ainda uma mudança expressiva no formato negociador entre os países envolvidos. A aproximação entre os países do Cone Sul entre 1986 e 1990 tinha como objetivo explícito a criação de um espaço comum, buscando desenvolver complementaridades produtivas e com negociações de preferências comerciais cautelosas para cada produto afetado. A opção por intensificar ao mesmo tempo o processo de abertura das economias (como parte da política de estabilização de preços) e a formação de um bloco comercial envolveu alteração radical no formato negociador; desde então as negociações de preferências comerciais são lineares, e não por produtos (exceto aqueles com tratamento diferenciado). Ainda outro aspecto que não pode ser esquecido é que o processo de aproximação dos países do Cone Sul coincidiu com a re-democratização de suas sociedades. No tempo decorrido desde então houve tanto episódios em que a atuação conjunta evitou tentativa de golpe de estado, quanto o episódio de sucessão breve de diversos mandatários. Em retrospecto, se por um lado é possível concluir que houve ganho em termos de estabilidade democrática, ao mesmo tempo as turbulências políticas localizadas foram certamente um O s a u t o r e s s ã o f u n c i o n á r i o s d a C E P A L / O N U. A g r a d e c e m o s o s c o m e n t á r i o s d e I n e s B u s t i l l o, R i c a r d o B i e l s c h o w s k y e Á l v a r o D i a z. A s o p i n i õ e s e x p r e s s a s a q u i s ã o d e i n t e i r a r e s p o n s a b i l i d a d e p e s s o a l e p o d e m n ã o c o r r e s p o n d e r à s p o s i ç õ e s d e s s a i n s t i t u i ç ã o.

2 complicador adicional para a convergência desejável, por exemplo, para as políticas macroeconômicas. Quinze anos é um período suficientemente longo para justificar uma análise dos resultados obtidos. No entanto, não é trivial isolar os efeitos do Mercosul sobre as economias dos países-membros. O período desde a assinatura do Tratado de Assunção corresponde a uma aceleração do processo de abertura comercial unilateral em relação a todos os países (em paralelo às concessões entre os parceiros), a momentos de internação de diversas crises no cenário internacional, a desequilíbrios nos preços relativos, a influxos extraordinários de investimento externo direto, à superposição entre as negociações sub-regionais e negociações ao nível hemisférico e multilateral, entre outros tantos determinantes. Igualmente, nesse período ocorreram grandes transformações na política macroeconômica desses países. Programas de estabilização foram implementados a partir de diferentes estratégias, que reduziram drasticamente a taxa de inflação. Várias reformas econômicas foram implementadas. Essas diferentes estratégias de estabilização resultaram em trajetórias variadas de crescimento, com períodos de rápida expansão, e quedas abruptas no produto interno desses países. Não é fácil, portanto, atribuir à existência ou ao formato negociador do Mercosul os resultados observados na estrutura produtiva dos países que o compõem: eles são fruto de uma quantidade expressiva de influências, que transcendem o âmbito do acordo regional. Tampouco é esse o objetivo do presente trabalho. O propósito aqui é apenas comparar as características básicas das quatro economias no momento inicial das negociações e hoje. Se existe a vontade política de seguir com o processo de integração regional, nosso argumento é que as condições econômicas nos quatro países mudaram de forma substantiva, e é necessário levar em conta essas mudanças. Este trabalho está estruturado da seguinte forma. Em seguida a esta Introdução, a segunda seção mostra alguns indicadores agregados e comparação com outros blocos regionais. A terceira seção discute as principais alterações no cenário macroeconômico das quatro economias. A quarta seção traz indicadores comparativos da estrutura produtiva dos quatro países em 1990 e hoje, a quinta seção discute os indicadores para o setor externo e a seção seguinte mostra dados do desenvolvimento social. A última seção traz inferências gerais a partir dos indicadores discutidos, com identificação de algumas implicações para o processo negociador de formação do bloco.

3 Il - Alguns Indicadores Agregados Os primeiros cinco anos do Mercosul coincidiram com um crescimento do PIB superior tanto ao observado na década de 1980 (considerada a década perdida para os países da região, pelo desempenho econômico medíocre) quanto ao registrado nos últimos 10 anos. A única exceção é o Paraguai, com crescimento médio na década de 1990, menor que na década anterior. O Quadro 1 mostra, ainda, que houve diferença de desempenho, nos últimos dez anos, entre os países. Brasil e Argentina com taxas superiores a 2% ao ano, Uruguai e Paraguai com ritmos inferiores: se havia diferenças entre os pares de sócios no momento inicial, elas foram ampliadas por esse diferencial de taxas de crescimento. Quadro 1 - Crescimento Anual do PIB (preços constantes de 1995) 1980-90 1991-95 1996-2005 1991-2005 Argentina -0,7 5,8 2,4 3,6 Brasil 1,6 3,1 2,2 2,4 Paraguai 3,0 2,7 1,2 1,6 Uruguai 0,0 4,1 1,7 2,3 Fonte: C EPA L (2005 a) C EPA L (2005b) Essa diferença de desempenho entre países está refletida no indicador mais trivial de desenvolvimento econômico, o crescimento da renda per capita (Quadro 2), que foi desde o início dos anos 90 baixo no caso do Brasil, decrescente entre a primeira e a segunda metade da década na Argentina e Uruguai, e medíocre, no caso do Paraguai. Quadro 2 - Crescimento Médio Anual (%) do PIB per capita País 1980-1990 1991-1995 1996-2005 1991-2005 Argentina -2,1 4,4 1,4 2,4 Brasil -0,4 1,5 0,7 0,9 Paraguai -0,0 0,0-1,3-1,0 Uruguai -0,6 3,4 1,0 1,6 Fonte: C EPA L (2005a), C EPA L (2005b) * Com esses resultados, não surpreende que a taxa de investimento nos últimos 9 anos tenha deixado bastante a desejar. Baixo crescimento do produto desestimula novos investimentos, ao mesmo tempo em que os investimentos reduzidos limitam a capacidade de crescimento da produção. Apesar de uma recuperação moderada na Argentina, Brasil e Uruguai a partir de 1996, o nível de investimento permanece insuficiente. Se considerarmos que para a região em seu conjunto esse indicador chegou a cerca de 25% em seu ponto de máximo, na década de 70, e que para os países asiáticos são observados níveis superiores aos 30%, é claramente preocupante a defasagem em termos de crescimento potencial que esses indicadores implicam. O Quadro 3 ilustra esse ponto.

f 4 Quadro 3 - Formação Bruta de Capital Fixo / PIB (%) 1990 1995 2005 Média 1996-2005 Argentina 12,1 11,9 17,4 15,6 Brasil 20,6 16,9 18,4 19,3 Paraguai 21,6 20,1 15,4 18,1 Uruguai 10,1 10,0 11,1 12,7 Fonte: C EPA L (2005b) Esses resultados relativos a dois pontos no tempo revelam dois estados de situação, mas desconsideram, uma dimensão fundamental determinante de todo o processo: as distintas trajetórias percorridas por cada economia. A próxima seção mostra que - do ponto de vista da política macroeconômica - se no momento inicial do Mercosul os países-membros se defrontavam com o duplo desafio de alta inflação e baixo crescimento do produto, a diferença nas trajetórias adotadas para lidar com esses desafios foi de fato uma dificuldade adicional para a homogeneidade entre as quatro economias. Ill - As Distintas Trajetórias M acroeconôm icas Os quinze anos do Mercosul representaram para os países-membros um período de grandes transformações e volatilidade macroeconômica, com resultados relativamente decepcionantes face à expectativa de retomada do crescimento, subjacente à opção política pelas reformas. O Mercosul teve início em 1991, quando a maior parte de seus componentes deparava-se com o duplo desafio de combater as altas taxas de inflação e a estagnação econômica que caracterizou a década perdida dos anos 1980. Nas duas maiores economias, Brasil e Argentina, a experiência com planos heterodoxos trouxe resultados limitados no tempo. Ambos países experimentaram hiperinflação em 1989 e 1990. A exaustão dessas tentativas estimulou ambos países a buscarem propostas de estabilização mais radicais. A Argentina em 1989 passou por episódio de hiperinflação aberta, com a taxa anual alcançando quase 5000%. No ano seguinte novamente a inflação acumulou mais de 1300% nos preços ao consumidor. No início de 1991 o Ministro da Fazenda, Domingos Cavallo, propôs a aplicação da convertibilidade, dolarizando plenamente a economia Argentina, na paridade de 1 peso=1 dólar. Essa opção transformou a economia argentina, levando a uma rápida convergência da inflação a taxas de um dígito. Em 1993 a Argentina já apresentava inflação anual de 7,4%. No Brasil, após a inflação alcançar níveis mensais de mais de 70% no início de 1990, o governo Collor reteve a maior parte dos ativos financeiros, buscando

r 5 reestruturar a dívida pública e recuperar o controle da política monetária. O impacto desse forte choque financeiro sobre a inflação mostrou-se limitado. A inflação mensal após 4 meses do Plano Collor já se encontrava em um ritmo superior a 10% e no final do ano aproximava-se novamente dos 30% mensais. Em janeiro de 1991, nova versão de plano heterodoxo foi aplicada, com a reestruturação do mercado financeiro de curto prazo e congelamento de preços, porém o efeito foi reduzido e a inflação mensal voltou a patamares superiores a 20%. Somente em 1994, com um mecanismo de superindexação (ajuste diário da unidade de referencia de valor), foi introduzido um plano de estabilização bem sucedido, o Plano Real que possibilitou redução da taxa de inflação mensal para menos de 2%. Já em 1996 o Brasil registrava inflação acumulada anual de um dígito, atingindo 9,1%. As economias do Paraguai e o Uruguai foram fortemente impactadas pelos resultados da estabilização nos parceiros maiores. O nível de atividade, os fluxos de capitais e as pressões de preços oscilavam segundo o sucesso ou fracasso dos planos nos países vizinhos, refletidos tanto nas variações do poder de compra das exportações, como na evolução da taxa de câmbio bilateral. Em 1990 o Uruguai experimentava uma inflação de três dígitos (129%) e o Paraguai de 44%. Nenhum dos dois países ousou implementar mecanismos heterodoxos, mas ambos optaram em fazer uso de política monetária tradicional e políticas cambiais com diferentes graus de intervenção para orientar os preços nas suas economias. O Paraguai adota desde o início do Mercosul um regime de câmbio flutuante, mas com ampla intervenção do Banco Central (via movimento de reservas internacionais ou pelo uso da taxa de juros doméstica). O Uruguai optou pelo uso de regime de bandas cambiais para orientar a desvalorização da sua moeda e influenciar a formação de preços internos. Nos dois países houve demora em alcançar inflação de um dígito. No caso paraguaio, a inflação oscilou entre 10-20% de 1990 a 1996, quando alcançou 8,2%. O Uruguai registrou uma diminuição lenta e gradual de sua inflação anual, de 129% em 1990 para 8,7% em 1998. Essas diferentes opções para estabilizar a economia trouxeram para cada país visões conflitantes sobre como seria a coordenação de políticas macroeconômicas no Mercosul. Esse tema esteve presente nas negociações dos Tratados de Assunção (1991) e Ouro Preto (1994), que definiram as bases do Mercosul. Foi apenas a partir da crise brasileira de 1999, com a desvalorização do real e seus impactos nos demais países que a coordenação macroeconômica passou a ganhar alguma efetividade. No final de 2000 os presidentes dos quatro países fizeram uma declaração sobre convergência macroeconômica enfatizando a solvência fiscal e a estabilidade monetária. Nela foram estabelecidas metas para inflação anual máxima de 5% para os anos de 2002 a 2005. A partir de 2006, o núcleo inflacionário não deveria ser superior a 3% ao ano. Foi dada igualmente ênfase à situação fiscal, fixando-se a necessidade de financiamento do setor

V 6 p ú b lico (v a ria ç ã o da d ív id a líq u id a ) a um m á xim o de 3% d o P IB. A d ívid a pública não d e veria s u p e ra r 4 0 % d o P IB a p a rtir de 2010. E ssa d e c la ra ç ã o pre via, de fo rm a gera l, p ro c e d im e n to s e re g ra s d e tra n s iç ã o ou co rre çã o de a tivo s. O te m a ca m b ia l era um d e s a fio a e s s a c o n v e rg ê n c ia, em fu n ç ã o do re g im e d e p a rid a d e a rg e n tin o e m b o ra, s e g u n d o o G ru p o de M o n ito ra m e n to do M e rc o s u l {h ttp ://g m m.m e c o n.g o v.a r) h o u v e s s e firm e co n vicçã o de q u e a e x is tê n c ia d e re g im e s ca m b ia is d ife re n te s é c o m p a tív e l com o d e s e n v o lv im e n to d o p ro je to (M e rc o s u l). A e v o lu ç ã o e c o n ô m ic a d o s p a ís e s m e m b ro s do M e rco su l d e s d e 2 0 0 0 e x p ô s o im p a cto d a s a lte ra ç õ e s n os re g im e s cam b ia is so b re as fin a n ç a s p ú b lica s, a taxa de in fla çã o e a p ro d u ç ã o. P o r e xem p lo, as a lte ra ç õ e s no re g im e ca m b ia l na A rg e n tin a e m 2 0 0 2 re s u lta ra m e m um a q u e d a do p ro d u to d e 10,9%, um a ta xa de in fla çã o de 4 1 % (-1,5 % e m 2 0 0 1 ) e um a re la çã o d ív id a p ú b lic a /P IB de 153% (5 0,9 % e m 2 0 0 1 ). N o c a s o u ru g u a io, e m 2 0 0 2, re g is tra ra m -s e um a q u e d a no p ro d u to de 11%, um a ta xa d e in fla çã o de 2 5,9 % (3,6 % e m 2 0 0 1 ), e um a re la çã o d ívid a p ú b lic a /P IB de 7 3,5 % (3 6,9 % em 2001). O Q u a d ro 4 tra z a lg u m a s in fo rm a ç õ e s so b re a e v o lu ç ã o d e a lg u n s in d ica d o re s m a c ro e c o n ô m ic o s no M e rcosul. A p ó s as c ris e s a rg e n tin a e u ru g u a ia e m 2 0 0 2 a tra je tó ria m a c ro e c o n ô m ic a dos p a íses do M e rc o s u l p a s s o u a s e g u ir os b o n s v e n to s d a e c o n o m ia in te rn a cio n a l, fa c ilita n d o o a ju s te e m su a s c o n ta s e xte rn a s. A ta xa d e in fla ç ã o retornou ra p id a m e n te a o s n íveis d e um d íg ito e a e x p a n s ã o da d ív id a p ú b lic a vem sendo co n tro la d a. No e n ta n to, a c o n v e rg ê n c ia m a c ro e c o n ô m ic a, c o m o o u tro s te m a s no M e rco su l, é um a m e ta de lo n g o pra zo. O p e río d o de 1991 a 2 0 0 5 ta m b é m fo i um p e río d o de im p o rta n te s re fo rm a s e c o n ô m ic a s e m to d o s os p a ís e s -m e m b ro s. O gra u de e x e c u ç ã o d e s s a s re fo rm a s é d ife re n c ia d o e m ca d a país, m a s e m to d o s e le s houve re fo rm a s. A ironia é q u e se a tu a lm e n te os p rin c ip a is in s tru m e n to s m a c ro e c o n ô m ic o s e stão s e n d o a p lic a d o s de fo rm a s im ila r nos p a íses m e m b ro s - c o m o ta xa de câ m b io livre, a u s te rid a d e fis c a l b u s c a n d o c o n tro la r o d é fic it e a e v o lu ç ã o da d ív id a pública, ta x a s de ju ro s re a is p o s itiv a s para e s tim u la r a p o u p a n ç a in te rn a e co m p ro m isso com a e s ta b ilid a d e d o s p re ços p o r in te rm é d io d e m e ta s d e in fla çã o - a c o n v e rg ê n c ia m a c ro e c o n ô m ic a é a g o ra m ais d e p e n d e n te d e c o m o fu tu ra s re fo rm a s e c o n ô m ic a s v e n h a m s e r im p le m e n ta d a s n os p a íses. O p ro ce sso de in te g ra ç ã o p o d e c o n trib u ir de fo rm a a tiva p a ra e s s e p ro c e s s o, s e ja c o m o g u ia de p a d rõ e s co m u n s ou pelo in te rcâ m b io de e x p e riê n c ia s no p ro ce sso de im p le m e n ta çã o.

7 Q u a d r o 4 - A C o n v e r g ê n c ia M a c r o e c o n ô m ic a n o M e r c o s u l Argentina Brasil Paraguai Uruguai E sta b iliza çã o (inflação anual inferior a 10%) D e s d e 1993 D e sd e 1996 D e s d e 1996 D e sde 1998 E xceto 2 0 0 2-2 0 0 3 2002 2 0 0 2 e 2005 2 0 0 2-2 0 0 3 S iste m a C a m b ia l R e g im e fle x ív e l A té 1990 A té 1994 P a rid a d e /b a n d a 1991-2001 1 9 9 4-1 9 9 9 1991-2 0 0 2 F lu tu a ção livre d e s d e 2002 d e sde 1999 d e s d e 1991 d e sde 2 002 S u p e rá v it C o m e rc ia l 2 0 0 0-2 0 0 5 2 0 0 1-2 0 0 5 n 2 0 0 2-2 0 0 5 S u p e rá v it em 2 0 0 2-2 0 0 5 1 9 9 2-1 9 9 3 2 0 0 2-2 0 0 4 2002 T ra n s a ç õ e s C o rre n te s 2 0 0 3-2 0 0 5 D ívida P ú b lic a / P IB Em 2004 Em 2005 1 1 6,3 % (dez) 5 4,2 % (set) 4 5,5 % (dez) 4 2,9 % (dez) 2 5,5 % (d e z) 2 0,3 % (d e z) Fonte: CEPAL (1998), CEPAL (2001), CEPAL (2004); http://gmm/mecon.gov.ar (*) país tradicionalmente deficitário 9 0,4 % (jun) C o n s id e ra n d o d e fo rm a c o m p a ra tiv a os re sulta d o s o b tid o s no in ício e no fim do p e río d o e m a n á lise, p o d e -s e d iz e r q u e um re s u lta d o n o tá v e l e c o m u m a os q u atro p a ís e s 1 é o re la tivo c o n tro le d o s n íve is in fla cio n á rio s. A p e s a r de no ú ltim o ano dois d o s q u a tro p a íse s a p re s e n ta re m in fla ções de d o is d íg ito s, os n ú m e ro s do Q u a d ro 5 fa la m p o r si só s q u a n to à im p o rtâ n cia d o s g a n h o s o b tid o s e m te rm o s de re d ução na va ria ç ã o de p re ç o s ao c o n su m id o r. Q u a d ro 5 - ín d ic e d e P re ç o s ao C o n s u m id o r (ta xas a n u a is ) M é d ia 1 9 8 0-9 0 1990 M é d ia 1 9 9 5-2 0 0 5 2 0 0 5 A rg e n tin a 5 8 4 2314 6 12 B rasil 3 3 0 2 8 6 2 9 6 P a ra g u a i 22 38 9 12 U ru g u a i 61 12 13 5 Fonte: CEPAL (2004), CEPAL (2005b) 1 De fato, uma característica da maior parte dos países da América Latina.

8 O c o n tro le so b re os p re ç o s te m o co rrid o e m p a ra le lo à p re o c u p a ç ã o co m as c o n ta s fis c a is. E ssas d u a s p o lític a s tê m sido - ju n ta m e n te com a re d u ção da v u ln e ra b ilid a d e e xte rn a - c a ra c te rís tic a s co m u n s à m a io r p a rte d o s p a íses da A m é ric a L a tin a nos ú ltim o s anos, e os p a íses do M e rc o s u l não são exceção. C o m o m o stra o Q u a d ro 6 a o rd e m de g ra n d e za do d é fic it p ú b lico era (co m a e x c e ç ã o do U ru g u a i) b e m m e n o r e m 2 0 0 3-2 0 0 5 q u e e m 1 9 96-98. Q u a d ro 6 - R e s u lta d o do S e to r P ú b lico (em (% ) do PIB) 1 996-98 2 0 0 3-0 5 A rg e n tin a 78 2,0 1,2 B ra sil/b 3,5 1,9 P a ra g u a i/c 1,3 0,2 U ru g u a i/b 1,5 3,2 Fonte: CEPAL (2005b) (a) Administração nacional; (b) Governo central; (c) Administração central. E ssa m e sm a p re o c u p a ç ã o co m as co n ta s fis c a is e stá p re s e n te na m e lh o ra d o s in d ic a d o re s de s o lv ê n c ia de cada país. E sse é m a is um d o s a p re n d iz a d o s das crise s da s e g u n d a m e ta d e d o s a n o s 90: e c o n o m ia s com d e s e q u ilíb rio s nas co n ta s in te rn a s e e x te rn a s são c a n d id a to s n a tu ra is a a lvo s e s p e c u la tiv o s, ao m esm o te m p o em q u e e s s e s d e s e q u ilíb rio s p o te n c ia liz a m o s ch o q u e s e x te rn o s. A ssim, ao c o m p a ra rm o s a s itu a ç ã o em 1990 e 2 0 0 5 q u a n to à re la çã o dívida e x te rn a /e x p o rta ç õ e s de b e n s e se rv iç o s (Q u a d ro 7) d e s ta c a m -s e as re d u çõ e s n o tá ve is d o s in d ic a d o re s da A rg e n tin a e B rasil e um p o u c o m e n o s no caso do U ruguai. A e x c e ç ã o é, m ais um a vez, o P ara g u a i, com a u m e n to d e s s a relação e n tre e s s e s d o is a nos. Q u a d ro 7 - D ívid a E x te rn a / E x p o rta ç ã o de B ens e S e rv iç o s (% ) 1990 2 0 0 0 2 0 0 5 A rg e n tin a 4 9 6 498 2 5 5 B rasil 395 303 143 P a raguai 79 96 86 U ru g u a i 244 243 237 Fonte: CEPAL (2005b) Em p a ra le lo a e s s a p re o c u p a ç ã o com os a ju s te s in te rn o s a d e p e n d ê n c ia de p o u p a n ça e x te rn a p a ra fin a n c ia r o in v e s tim e n to te m s id o ca d a v e z m enor. A e x e m p lo de o u tro s p a ís e s da A m é ric a Latina e C a rib e (o re s u lta d o a g re g a d o para a re g iã o do s a ld o e m C o n ta C o rre n te do B a la n ço de P a g a m e n to s se reduziu de um d é fic it d e 3% d o P IB na se g u n d a m e ta d e d o s a n o s 90, p a ra p ra tic a m e n te zero nos p rim e iro s cin co a n o s da a tu a l d é cada), ta m b é m o s p a ís e s d o M e rcosul a p re s e n ta ra m m e lh o ra e x p re s s iv a. C o m o m o stra o Q u a d ro 8, a e v o lu ç ã o m ais

9 e xp re s s iv a fo i a da A rg e n tin a, q u e re ve rte u o s in a l do s a ld o 2, m a s o s o u tro s países m o s tra ra m ig u a lm e n te e v o lu ç ã o b a s ta n te fa v o rá v e l e m re la ção à m e n o r d e p e n d ê n c ia de re c u rs o s e x te rn o s 3. Q u a d ro 8 - S a ld o em C o n ta C o rre n te (% do P IB ) M édia M édia M é d ia 1991-9 5 1 996-00 2 0 0 1-0 5 A rg e n tin a -2,7-3,8 1,9 B rasil -0,4-4,0-0,3 P a raguai -1 0,9-3,6-0,4 U ru g u a i -1,0-1,9-0,4 T o ta l A m é ric a L a tin a e C a rib e -2,6-3,1-0,2 Fonte: CEPAL (2005b); CEPAL (1998) E sse re s u lta d o fo i e m p a rte u m a re sposta à m u d a n ç a na p o lític a ca m b ia l, q u e se s e g u iu às c ris e s da s e g u n d a m e ta d e da d é ca d a de 90. C o m o m o s tra o Q u a d ro 9, a e v o lu ç ã o da ta x a de câ m b io real e fe tiva - c o n s id e ra d a a re la ç ã o c o m e rc ia l com cada um d o s p rin c ip a is p a rc e iro s de ca d a país e o d ife re n c ia l de ín d ice s de pre ço s ao c o n s u m id o r - fo i m a rc a d a m e n te d istin ta a n te s e a p ó s 1999. Q u a d ro 9 - E v o lu ç ã o d o C â m b io R eal E fe tivo (*) - 1996-2 0 0 5 (B a se : 2 0 0 0 = 100) 1997 1999 2 0 0 2 2 005 A rg e n tin a 113 100 2 2 2 215 B ra sil 70 108 130 104 P a raguai 93 97 106 118 U ru g u a i 108 98 117 138 A m é ric a L a tin a e C a rib e 100 100 107 111 Fonte: CEPAL (2005b) (*) índices deflacíonados pelos preços ao consumidor, e estimados segundo a participação no comércio total com cada principal parceiro comercial. A s crise s de 1997 (a siá tica ), 1998 (ru ssa ) e 1999 (e s p e c u la ç ã o co n tra o R eal) e n c o n tra ra m os p a íse s d o M e rco su l com p o líticas c a m b ia is q u e c o n trib u íra m para a m p lia r a m a g n itu d e d o s ch o q u e s e x te rn o s. A A rg e n tin a e n c o n tra v a -s e num p ro cesso d e v a lo riz a ç ã o c a m b ia l q u e p a ssou de um ín d ice de 115 para a ta xa de câ m b io real e fe tiv a e m 1996 a 96 em 2001, q u a n d o fo i p re c is o a lte ra r seu regim e ca m b ia l. E m tra je tó ria se m e lh a n te, o p e so u ru g u a io v a lo riz o u -s e e m form a e xp re ssiva, p a s s a n d o de um ín d ice de 111 e m 1996 a 98 e m 1999. O R eal b ra s ile iro e n c o n tra v a -s e, em 1997, ta m b é m b a s ta n te v a lo riz a d o em re la çã o às m o e d a s d o s p rin c ip a is p a rceiro s c o m e rc ia is. E sse d e s e q u ilíb rio levou à n e c e s s id a d e d e m u d a n ç a no re g im e c a m b ia l no in ício d e 1999. O g u a ra n i 2 Embora em situação peculiar, com moratória dos pagamentos à maior parte dos credores externos. 3 No caso do Brasil há saldo positivo em Conta Corrente desde 2003.

10 p a ra g u a io m a n te v e -s e ig u a lm e n te a cim a de se u nível de e q u ilíb rio, a p re s e n ta n d o ín d ice s de c â m b io real e fe tiv o de e n tre 93 e 9 7 4 até o a n o 2 0 0 0. A p a rtir de 2001 os p a ís e s da A m é ric a Latina e m g e ra l - M e rcosul in clu sive - p a s s a ra m a a d o ta r p o lític a s c a m b ia is m ais a tiva s, c o m d e s v a lo riz a ç ã o das m o e d a s n a cio n a is. E ssa te n d ê n c ia fo i p a rc ia lm e n te re ve rtid a e m a lg u n s dos p a íses nos ú ltim o s a n o s, s u s c ita n d o a lg u m a p re o c u p a ç ã o com os n íve is de c o m p e titiv id a d e da p ro d u ç ã o, com o ilu stra m os in d ic a d o re s para a A rg e n tin a e o B rasil, no Q u a d ro 9. Em re su m o, os p a íse s do M e rco su l tê m a p re s e n ta d o nos ú ltim o s a n o s um padrão m a c ro e c o n ô m ic o o rto d o x o s e m e lh a n te ao do co n ju n to da A m é ric a L a tin a e C aribe: co n tro le fiscal, p re o c u p a ç ã o e m re d u z ir a d e p e n d ê n c ia d e re c u rs o s exte rn o s, política c a m b ia l m a is a tiva q u e a n te s de 1997, b a ixo s n íve is d e in fla ção, m a s ao m e sm o te m p o tê m o b tid o c re s c im e n to lim ita d o do p ro d u to e fo rm a ç ã o de ca p ita l fixo a q u é m do d e se já ve l. O q u e se p ro c u ro u m o s tra r n e sta s e ç ã o é q u e as tra je tó ria s a d o ta d a s im p o rta m para v ia b iliz a r p ro c e s s o s de c o n v e rg ê n c ia e c o n s o lid a r a in te g ra ç ã o re g io n a l. Da m e sm a fo rm a, são fu n d a m e n ta is as c a ra c te rís tic a s d o s p ro c e s s o s p ro d u tivo s e as c o n d iç õ e s s o c ia is e m c a d a um d os p a íses e n v o lv id o s. E ssas q u e s tõ e s são tra ta d a s nas s e ç õ e s a se g u ir. IV - Desempenho e Evolução da Estrutura Produtiva IV.1 Geral Se a tra je tó ria d e c re s c im e n to fo i in stá ve l e in s u fic ie n te, ca b e in v e s tig a r a té que p o n to o p e río d o d e v ig ê n c ia do M e rcosul - visto c o m o fe rra m e n ta para o d e s e n v o lv im e n to - c o rre s p o n d e u à a lte ra ç ã o das e s tru tu ra s p ro d u tiva s. C o m p a ra n d o -s e e n tre 1991 e 2 0 0 2 a im p o rtâ n cia e c o n ô m ic a d e d iv e rs o s b lo co s de p a íse s no c e n á rio in te rn a c io n a l, fica cla ro q u e o b a ix o d in a m is m o do M e rco su l fe z co m q u e seu p e s o re la tiv o no ce n á rio in te rn a c io n a l c h e g a s s e a um p o n to de m á xim o de q u a s e 4 % do P IB m u n d ia l na se g u n d a m e ta d e d o s a n o s 90, m as vo lta s s e - já no início da d é c a d a se g u in te - ao m e s m o g ra u d e im p o rtâ n c ia dos a n o s q u e a n te c e d e ra m o T ra ta d o de A s s u n ç ã o (2,5 % ), bem a b a ix o de outro s g ru p o s de p a íses. Em te rm o s de d im e n s ã o re la tiva e n tre os p a ís e s -m e m b ro s do M e rco su l o d ife re n c ia l n os ritm o s d e c re s c im e n to do PIB (Q u a d ro 1) co n trib u iu para q u e os s ó c io s m e n o re s e m p o u co ou nada a lte ra ssem seu p e so re la tiv o no g ru p o. Em 4 Ano-base=2000

11 conju n to, B ra sil e A rg e n tin a co rre s p o n d e m a m ais de 90% do p ro d u to do M e rco su l d e sde o início d o s a n o s 90, s e g u n d o d a d o s da C E P A L. H á d ife re n ç a s e n tre os q u a tro p a ís e s ta m b é m no q u e se re fe re à c o m p o sição se to ria l d o p ro d u to. Na m e d id a e m que o p ro je to d e in te g ra ç ã o re g io n a l foi p e n sado para p ro m o v e r a tra n s fo rm a ç ã o d a s e s tru tu ra s p ro d u tiv a s os re sulta d o s o b tid o s no m ín im o d ã o m a rg e m para contro vérsia s. C o m p a ra n d o -s e as e s tru tu ra s p ro d u tivas em 1 9 9 0-9 2 e e m 2 0 0 3-2 0 0 5 d e sta ca-se a re d u ção da p a rtic ip a ç ã o do s e to r m a n u fa tu re iro - c o m g ra u s d e in te n sid a d e va ria d o s e n tre p a ís e s - n os q u a tro p a íse s do M e rcosul (Q u a d ro 10). C o m e x c e ç ã o d a A rg e n tin a, a e s s a re tra ção da in d ú stria c o rre s p o n d e u a u m e n to na p a rtic ip a ç ã o d e a g ric u ltu ra, caça, silvicu ltu ra e pesca. O co n ju n to d e a tiv id a d e s a g ru p a d a s a q u i co m o s e rv iç o s e o u tro s - que co m p re e n d e um c o n ju n to v a ria d o de seto re s, c o m o in d ic a d o no Q u a d ro 10 - c o rre s p o n d e à p a rc e la m a is im p o rta n te do p ro d u to n o s q u a tro p a íse s. E sse co n ju n to de a tiv id a d e s g a n h o u e sp a ço nos q u a tro p a íses, e n tre 1990 e 2005: houve um a u m e n to do s e to r te rc iá rio do p ro c e s s o p ro d u tiv o na s u b -re g iã o, com re d u ção do p e so re la tivo d o s s e to re s p rim á rio e s e c u n d á rio. Q u a d ro 10 - C o m p o s iç ã o do P ro d u to (p e rc e n ta g e n s a p re ç o s c o n s ta n te s ) A g ric u ltu ra (*) 1 990-92 2 0 0 3-2 0 0 5 A rg e n tin a 8.3 5.8 B rasil 7.0 7.9 P a ra g u a i 2 1.3 2 6.0 U ru g u a i 11.2 12.3 In d ú stria m a n u fa tu re ira A rg e n tin a 2 5.7 16.6 B rasil 21.5 2 0.4 P a ra g u a i 16.2 14.4 U ru g u a i 2 4.5 18.2 S e rviço s e o u tro s (**) A rg e n tin a 6 6.0 77.6 B rasil 71.5 7 1.7 P a ra g u a i 52.7 5 9.6 U ruguai 6 4.3 6 9.5 Fonte: CEPAL (2005 a); tabulações da CEPAL a partir de dados oficiais. (*) inclui caça, silvicultura e pesca. (**) inclui mineração, eletricidade, gás e água, serviços de construção, comércio por atacado, restaurantes e hotéis, transporte, armazenamento, comunicações, estabelecimentos financeiros, serviços comunais, sociais e pessoais e serviços governamentais.

12 A s s u b s e ç õ e s a s e g u ir tra ta m de fo rm a m a is d e tid a do d e s e m p e n h o d os se to re s a g ríco la e m a n u fa tu re iro n os q u a tro países. IV.2 S etor Agrícola O Q u a d ro 11 ilu stra o d e s e m p e n h o da p ro d u ção a g ríc o la na d é c a d a de 80 e nos a n o s e n tre 1990 e 2 0 0 3. H o u ve a u m e n to g e n e ra liz a d o no ritm o de cre scim e n to m é d io a n u a l da p ro d u ç ã o a g ríc o la e n tre os d o is p e río d o s na m a io r parte dos p a íses, c o m p a ra d o com a d é c a d a a n te rio r. Q u a d ro 11 - V a ria ç õ e s no V o lu m e da P ro d u çã o A g ríc o la (M é d ia 1 9 9 9-2 0 0 1 = 1 0 0 ) P aís M édia M édia V a ria ç ã o V a ria ç ã o 1 9 9 0 /1 9 9 2 2 0 0 1 /2 0 0 3 1 9 8 0 /9 0 (A )/(B ) (A) (B) (% ) (% ) A rg e n tin a 73,5 101,3 19 38 Brasil 70,2 111,3 34 59 P a ra g u a i 75,7 107,2 79 42 U ruguai 76,7 9 5,9 16 25 Fonte: CEPAL (2005a) Q u a n d o m e d id o p o r h a b ita n te o ritm o de a u m e n to da p ro d u ç ã o de a lim e n to s (Q u a d ro 12) fo i ig u a lm e n te n o tá vel na A rg e n tin a, B ra sil e U ru g u a i. A p e n a s no P a ra g u a i a p ro d u ç ã o de a lim e n to s p o r h a b ita n te cre sceu e n tre 1 9 9 0-9 2 e 2 0 0 1-0 3 a um ritm o in fe rio r ao re g is tra d o na d é cada de 1980. Q u a d ro 12 - ín d ice s de V o lu m e F ísico da P ro d u ção de A lim e n to s p o r H a b ita n te (M é d ia 1999-2001 ==100) País 1 9 9 0 /1 9 9 2 2 0 0 1 /2 0 0 3 V a ria ç ã o V a ria ç ã o (A) (B) 1 9 8 0 /9 0 (A )/(B ) (% ) (% ) A rg e n tin a 8 2,7 98,9 2,4 19,6 B rasil 7 9,7 108,5 10,7 36,1 P a raguai 9 5,4 102,1 2 6,0 7,0 U ru g u a i 8 1,9 9 4,4 7,3 15,3 Fonte: CEPAL (2005a) E sses re s u lta d o s re fle te m os a v a n ç o s o b tid o s na e x p lo ra ç ã o m a is s is te m á tic a e p ro d u tiva d o s s e to re s a g ríc o la s, m a s e sco n d e m um a d im e n s ã o p re o cu p a n te. Um d e s e m p e n h o tã o a b a ix o d o de o u tro s países da região, e a ritm o s tã o d e s ig u a is no a u m e n to da p ro d u ç ã o d e a lim e n to s p o r h a b ita n te, te n d e a a fe ta r a p e rc e p ç ã o de g a n h o p o r p a rte d o s in d iv íd u o s n e sse s países.

13 I V.3 S e t o r I n d u s t r i a l A p ro d u ç ã o da in d ú s tria m a n u fa tu re ira no M e rco su l a p re s e n to u - da m e sm a form a q u e a p ro d u ç ã o a g ríc o la - re sulta d o s m a rc a d a m e n te d ife re n c ia d o s e n tre os p a ís e s -m e m b ro s do M e rcosul. M e d id a a p re ços c o n s ta n te s (Q u a d ro 13) a p ro d u çã o m a n u fa tu re ira na A rg e n tin a, no B ra sil e no P a ra g u a i a u m e n to u e n tre 1990-92 e 2 0 0 1-0 3. Já no U ru g u a i h o uve re tra çã o s ig n ific a tiv a 5. Q u a d ro 13 - P ro d u ç ã o m a n u fa tu re ira (U S $ b ilh õ e s d e 1995) e n tre 1 990 e 2003 M é d ía l 9 9 0-9 2 M é d ia 2 0 0 1-0 3 V a ria ç ã o (% ) A rg e n tin a 3 6,5 38,8 6,3 B rasil 121,9 150,3 2 3,2 P a ra g u a i 1,1 1,2 8,1 U ruguai 3,8 3,0-2 0,2 T o ta l A m é ric a L a tin a 2 9 4,5 3 6 5,5 24,1 Fonte: CEPAL (2005 a) D e to d o m o d o, m e s m o a s ta x a s d e a u m e n to m a is d e s ta c a d a s, a s d o s d o is sócios m a io re s, fic a ra m a q u é m da m é d ia de cre s c im e n to re g is tra d a p a ra o co n ju n to dos p a íse s da A m é ric a L a tin a, d e 24% no m e sm o p e río d o. E m te rm o s da c o m p o s iç ã o se to ria l da p ro d u ç ã o m a n u fa tu re ira, um a v e z m ais re ssalta m as d ife re n ç a s e n tre os p a íses p a rtic ip a n te s do M e rcosul. O Q u a d ro 14 m o stra o s s e to re s m a n u fa tu re iro s com m a io r p e s o e m cada país, cu ja s o m a d a s p a rtic ip a ç õ e s su p e ra os 50% d o v a lo r a d ic io n a d o na in d ú stria. De a co rd o com e s s e Q u a d ro, e m to d o s os países os p rin c ip a is se to re s m a n u fa tu re iro s tê m fo rte c o m p o n e n te d e re cursos n a tu ra is - a lim e n to s e b e b id a s, pro d u to s tê xte is, co m b u s tív e is, p ro d u to s m in e ra is e outro s. Isso é um a c o m p ro v a ç ã o de que a va n ta g e m c o m p a ra tiv a d e s s e s p a íses para sua in s e rç ã o in te rn a c io n a l está vin c u la d a à e x p lo ra ç ã o d e s s e s re cursos. A o m e sm o te m p o, é um a in d icação de q u e a p ro d u ç ã o n e s s e s p a ís e s tem p a rtic ip a ç ã o e x p re s s iv a de s e to re s em q u e são re le v a n te s a s e c o n o m ia s d e escala (co m o p ro d u to s q u ím ic o s e p e tro q u ím ic o s e p ro d u to s m e tá lic o s b á sicos), m as p re s e n ç a lim ita d a de s e to re s in te n s iv o s e m te c n o lo g ia. D o p o n to de vista da g e ra ç ã o de d in a m is m o p ro d u tiv o e ssa e s tru tu ra tra z à c o n s id e ra ç ã o te m a s com o as q u e s tõ e s fu n d iá ria s, a re la çã o e n tre as a tiv id a d e s no c a m p o e nos se to re s urb a n o s, a a s s o c ia ç ã o d a s a tiv id a d e s p ro d u tiva s com c e n tro s de g e ra çã o de p ro g re sso té c n ic o, e n tre outro s. 6 Mais que outros setores, a indústria reflete de imediato as condições adversas da conjuntura econômica. Assim, os anos tomados como referência na presente análise podem estar refletindo o impacto de cenários macroeconômicos adversos, e até certo ponto distorcendo a apreciação da estrutura produtiva. Nesse sentido, é importante registrar que o critério de seleção usado aqui foi o cronograma em relação ao Tratado de Assunção, e não a escolha de períodos mais adequados para essa análise, no sentido estrito de comparação de estruturas produtivas.

14 D a ótic a n e g o c ia d o ra e x te rn a e s s e p e rfil p ro d u tivo to rn a o d e s e m p e n h o e x p o rta d o r d e p e n d e n te da e lim in a ç ã o de b a rre ira s c o m e rc ia is p re c is a m e n te o n d e e la s são m a is e le v a d a s e re n ite n te s, isto é, no s e to r a g ríco la. U m se g u n d o a s p e c to n o tá v e l in d ic a d o no Q u a d ro 14 é a d ife re n ç a no grau de d iv e rs ific a ç ã o d o s e to r m a n u fa tu re iro. E n q u a n to para o P a ra g u a i e U ru g u a i m ais da m e ta d e da p ro d u ç ã o de m a n u fa tu ra s e stá c o n c e n tra d a e m d o is s e to re s - a lim e n to s e b e b id a s e p ro d u to s tê x te is (em b o ra e m o rd e m in versa de im p o rtâ n cia, nos d o is c a s o s ) - para a A rg e n tin a e o B ra sil são re s p e c tiv a m e n te 5 e 6 o núm ero de s e to re s q u e c o rre s p o n d e m à m e ta d e da p ro d u ç ã o d e m a n u fa tu ra s nos dois anos co n sid e ra d o s. Q u a d ro 14 - In d ú s tria M a n u fa tu re ira no M e rcosul - s e to re s q u e c o rre s p o n d e ra m a 5 0 % ou m a is do V a lo r A d ic io n a d o e m 1992 e 2 0 0 2 em ca d a p a ís A r g e n t i n a 1992 2 0 0 2.A lim e n to s e b e b id a s 19,9 2 2,6.P ro d u to s q u ím ic o s 10,8 11,5.R e fin o d e P e tró le o, c o q u e,e tc 8,6 8,2.E d ito ria l e g rá fica 5,8 4,8.V e ículo s m o to riz a d o s 5,7 4,9 B r a s i l.a lim e n to s e b e b id a s 12,9 13,5.R e fin o de P e tró le o, co q u e, e tc 12,0 12,8.P ro d u to s q u ím ic o s 10,4 11,1.P ro d u to s m e tá lic o s 7,6 8,3.P ro d u to s m in e ra is n ã o -m e tá lic o s 4,9 4,6.M á q u in a s e e q u ip a m e n to s 4,6 5,6 P a r a g u a i.a lim e n to s e b e b id a s 4 4,9 49,1.P ro d u to s tê xte is 7,1 6,8 U r u g u a i.a lim e n to s e b e b id a s 17,2 19,8.P ro d u to s tê xte is 3 7,9 3 3,3 Fonte: www.unido.org/data/country/stats E ssas d ife re n ç a s n as e s tru tu ra s p ro d u tivas e v id e n te m e n te a fe ta m a s n e g o cia ções e n tre os q u a tro p a íse s para d e fin ir a e s tru tu ra da T a rifa E x te rn a C o m u m, a ssim c o m o a id e n tific a ç ã o d e p o s tu ra s n e g o c ia d o ra s c o m u n s com te rc e iro s países. E ssas d ife re n ç a s de e s tru tu ra ta m b é m d e te rm in a m a c o m p o s iç ã o d o s flu xos de c o m é rc io e xte rn o, te m a d a p ró xim a seção.

15 V - O S e t o r E x t e r n o N os q u in ze a n o s de v ig ê n c ia d o M e rco su l a u m e n ta ra m e m fo rm a e x p re s s iv a as re la çõ e s e c o n ô m ic a s d o s q u a tro p a ís e s -m e m b ro s com o re sto d o m u n d o. O v a lo r e x p o rta d o to ta l m a is do q u e d u p lico u na A rg e n tin a e no U ru g u a i e n tre 1990 e 2005, e fo i m u ltip lic a d o p o r q u a s e q u a tro no B rasil. Já no c a s o do P a raguai a va ria ç ã o e n tre e s s e s d o is a n o s fo i bem m e n o s e x p re s s iv a (Q u a d ro 1 5 ). E sses re s u lta d o s fo ra m, e n tre ta n to, m ais do q u e n e u tra liz a d o s - no P a ra g u a i e U ru g u a i - p e lo a u m e n to d a s im p o rta çõ e s, q u e c re s c e ra m a ta x a s s u p e rio re s às das e x p o rta ç õ e s. E ste é c e rta m e n te u m c o m p lic a d o r q u a n d o se tra ta d e n e g o c ia r p re fe rê n cia s com e rc ia is a d ic io n a is, ta n to e n tre os q u a tro p a íse s q u a n to e n tre e le s e p a rce iro s exte rn o s: a p ro p e n s ã o a a b rir o m e rcado in te rn o a c o n c o rre n te s e x te rn o s te n d e a s e r m e n o r para e c o n o m ia s m ais fe c h a d a s q u e p a ra p a ís e s c o m p a rticip a ção e xp re s s iv a de p ro d u to s im p o rta d o s, um a ve z q u e os in te re s s e s d o s p ro d u to re s e e m p re g a d o s nos s e to re s p o te n c ia is co m p e tid o re s com im p o rta ç õ e s a u m e n ta m a re sistê n cia a c o n c e s s õ e s. E c o n o m ia s com d é fic its c o m e rc ia is sã o, a lé m disso, c o m p re e n s iv e lm e n te m a is c a u te lo s a s em c o n c e d e r p re fe rê n c ia s com e rcia is a d icio n a is. Q uadro 15 - E xportações e Im portações de Bens (FO B) (U S $ bilhões correntes) E x p o rta ç õ e s 1990 1995 2000 2005 A rgentina 12,3 21,1 26,4 40,1 Brasil 31,4 46,5 55,1 117,7 P araguai 2,1 4,2 2,3 2,8 Uruguai 1,7 2,1 2,4 3,5 Im p o rta ç õ e s A rgentina 3,7 18,8 23,8 27,7 Brasil 20,7 49,7 55,8 73,5 P araguai 1,7 4,5 2,9 3,4 Uruguai 1,3 2,7 3,3 3,6 Fontes: CEPAL (2004), CEPAL (2005b) Em q u e p e se e s s e d e s e m p e n h o, co n tu d o, o M e rcosul é um d o s b lo co s de p aíses com c o e fic ie n te de a b e rtu ra m a is baixo. S eu c o e fic ie n te de a b e rtu ra (e xporta ções m a is im p o rta ç õ e s e m re la ção ao P IB ) não é m u ito m a io r q u e 2 0 % (Q u a d ro 1 6 ), e n q u a n to e m o u tro s b lo c o s re g io n a is e s s e c o e fic ie n te c h e g a a s u p e ra r os 40%. M ais q u e isso, o M e rc o s u l não a c o m p a n h o u o ritm o g e ra l de a m p lia ç ã o do grau de a b e rtu ra, o b s e rv a d o e m o u tro s blocos.

16 Q uadro 16 - C oeficiente de A bertura (X +M /P IB ) de B locos R egionais Selecionados (percentual m édio anual) 1991-94 1995-98 1999-2002 S udeste A siático (*) 30 35 39 M ercosul 14 16 21 N afta 19 23 24 U nião E uropéia 42 48 54 Fonte: CEPAL (2004b) (*)Brunel, China, Taiwan, Hong-Kong, Filipinas, Indonésia, Japão, Coréia do Sul, Malásia, Cingapura e Tailândia O Q u a d ro 17 m o stra os g ra u s de a b e rtu ra d os q u a tro p a ís e s, p a ra e x p o rta ç õ e s e im p o rta ç õ e s de b e n s e serviços, d e sde o início da v ig ê n c ia do T ra ta d o de A s s u n ç ã o. O s d o is s ó c io s m a io re s têm g ra u s de a b e rtu ra b e m m a is re d u zid o s que o s o u tro s d o is p a rce iro s: e n q u a n to para o B rasil e a A rg e n tin a o p e so re la tivo das e x p o rta ç õ e s e d a s im p o rta ç õ e s de bens e se rv iç o s no P IB se s itu a e n tre 10% e 17%, para o P a ra g u a i e o U ru g u a i e sses in d ica d o re s su p e ra m 1/3 do produto. D e sd e o in ício do p e río d o de v ig ê n c ia do M e rco su l h o u v e n ítid o a u m e n to da im p o rtâ n c ia re la tiva d a s e x p o rta ç õ e s de bens e s e rv iç o s no p ro d u to. Já em relação às im p o rta ç õ e s os re s u lta d o s são m istos, co m a u m e n to s no B ra sil e U ru g u a i e re tra ç ã o nos o u tro s d o is p a ís e s 6. E sse ú ltim o re s u lta d o é c o n s is te n te com os d a d o s do Q u a d ro 8, q u e indicam m e lh o ra no s a ld o de tra n s a ç õ e s c o rre n te s. No e n ta n to, se c o m p a ra d o com os d a d o s do Q u a d ro 3, é p re o c u p a n te n o ta r q u e e ssa m e n o r d e p e n d ê n c ia da p o u p a n ça e x te rn a não re su lto u e m m a io r p ro p e n s ã o a in ve stir: o a u m e n to da fo rm a ç ã o b ru ta de c a p ita l fix o to ta l contin u a d e ix a n d o a d e se ja r. 6 Isso reflete, no caso argentino, a conjuntura recessiva por que passou aquela economia ao sair do Plano de Conversibilidade.

17 Q u a d ro 17 - M e rcosul: C o e fic ie n te s de E x p o rta ç õ e s e Im p o rta ç õ e s de B ens e S e rviços (p e rc e n tu a l m é d io a n u a l - p re ços co n sta n te s) 1 991-93 2 0 0 2-2 0 0 4 Exportações de Bens e Serviços / PIB Argentina 10.5 13.8 Brasil 11.4 16.7 Paraguai 38.9 42.6 Uruguai 30.1 37.5 Im portações de Bens e Serviços/PIB Argentina 13.3 9.9 Brasil 9.9 13.3 Paraguai 47.9 39.8 Uruguai 34.1 40.5 Fonte: CEPAL (2004b); tabulações da CEPAL a partir de dados oficiais. P a rte da e x p lic a ç ã o para e s s a s d ife re n ça s nos g ra u s de a b e rtu ra é a trib u íve l ao b a ixo gra u d e in te ra ç ã o e n tre as q u a tro e c o n o m ia s (Q u a d ro 18). P ara os dois sócio s m a io re s - B ra sil e A rg e n tin a - o c o m é rc io in tra -re g io n a l se situ a e n tre 9 e 2 0 % d as e x p o rta ç õ e s to ta is d e s s e s p a íses, e n q u a n to p a ra o s d o is o u tro s só c io s o m e rca d o do M e rc o s u l a b s o rv e e n tre um q u a rto e u m a te rç a p a rte d o v a lo r e xp o rta d o. Q u a d ro 18 - Im p o rtâ n c ia d o C o m é rc io in tra m e rc o s u l (% d a s e x p o rta ç õ e s to ta is) 1990 2 0 0 4 A rg e n tin a 14,8 19,9 B rasil 4,2 9,4 P a ra g u a i 2 7,4 3 2,9 U ru g u a i 35,1 2 6,5 Fontes: CEPAL (2004 a), CEPAL (2005c) E sse in d ic a d o r d e c o m é rc io in tra -re g io n a l para o c o n ju n to d e p a ís e s d a A m é rica L a tina e C a rib e fo i e m 2 0 0 4 7 ig u a l a 21,6 %, com d ife re n ç a s e x p re s s iv a s e n tre b lo co s s u b -re g io n a is : 1 0,5 % na C o m u n id a d e A n d in a, 1 2,9 % no M e rc o s u l e 2 7,6 % no M e rc a d o C o m u m C e n tro -a m e ric a n o, o q u e situ a o M e rc o s u l e m um plano in te rm e d iá rio e m te rm o s re g io n a is, no q u e se re fe re à im p o rtâ n c ia re lativa do c o m é rc io in tra b lo c o 8. 7 CEPAL (2005c). 8 Boa parte desse comércio intra-regional é de tipo intra-setorial. Estimativas (Baumann (2004)) indicam que ao longo da década de 90 entre 40 e 50% do comércio do Brasil com os parceiros do Mercosul tiveram essa característica. Este aspecto também tem implicações importantes para as negociações comerciais, uma vez que pode permitir a convivência de segmentos produtivos assemelhados, que contribui para a relação dos custos de ajuste e eventualmente pode facilitar a exploração conjunta de terceiros mercados por parte de dois ou mais países do Mercosul.

18 A s re la ç õ e s c o m e rc ia is de ca d a país com o re sta n te do b lo c o fo ra m ig u a lm e n te varia d a s, co m o m o s tra o Q u a d ro 19. Q u a d ro 19 - R e la ç õ e s C o m e rc ia is co m o M e rcosul V o lu m e de C o m é rc io (X +M ) S a ld o C o m e rc ia l M é d ia M édia V a ria ç ã o M édia M édia 1 9 9 0-9 2 2 0 0 2-0 4 (% ) 1 9 9 0-9 2 2 0 0 2-0 4 M erco T o ta l M e rco su l T o ta l sul A rg e n tin a 4 1 5 5 11325 173 (63) 3115 6 3 4 11140 B rasil 4 9 2 6 12095 146 225 10409 (1 69) 2 0 8 5 7 P a ra g u a i 990 1888 91 (372) (6 2 6 ) (492) (1 0 9 6 )* U ru g u a i 1254 1808 44 (118) (25) (4 44) (99) Fonte: http://unstats.un.org/comtrade (*) média de 2002 e 2004 N e sses q u in z e a n o s o v o lu m e de c o m é rcio com os p a rc e iro s d o g ru p o cresceu, m a s a ritm o s d ife re n c ia d o s, e s o b re tu d o p o r p a rte d o s d o is s o c io s m a io re s. E sse a u m e n to no ca s o u ru g u a io, p o r e xem p lo, fo i in fe rio r a % do a u m e n to o b s e rv a d o no ca so a rg e n tin o. C h a m a a a te n ç ã o a in d a o re s u lta d o e m te rm o s de s a ld o c o m e rc ia l. O s n ú m e ro s do Q u a d ro 19 d e v e m s e r v is to s com a lg u m a re serva. A s e s ta tís tic a s d isp o n íve is re fle te m d ife re n ç a s e m a lg u n s ca s o s n o tá ve is e n tre o q u e é re p o rta d o o ficia lm e n te p o r ca d a p a ís c o m o e x p o rta ç ã o b ila te ra l e c o m o im p o rta ç ã o c o rre s p o n d e n te por parte de o u tro país. Isso fa z com que, e n tre o u tro s a s p e c to s, os d a d o s d o Q u a d ro 19 não in d iq u e m p o s iç õ e s su p e ra vítá ria s e d e fic itá ria s c o m p a rá v e is no co m é rcio in tra b lo co. M e sm o com e s s a s o b s e rv a ç õ e s, c o m p a ra n d o -s e as m é d ia s p a ra os d o is perío d o s - ao início e m a is re c e n te m e n te - é n o tá vel c o n s ta ta r q u e o s d o is s ó c io s m e n o re s não a p e n a s fo ra m d e fic itá rio s em su a s re la ç õ e s in tra g ru p o nos d o is p e ríodos, com o a p a re n te m e n te n ã o e n c o n tra ra m no g ru p o u m a c o m p e n s a ç ã o para os re su lta d o s n e g a tiv o s o b tid o s e m suas tra n s a ç õ e s c o m e rc ia is g lo b a is. A s d ife re n ç a s d e d e s e m p e n h o se re fle te m ig u a lm e n te na c o m p o s iç ã o d os flu xo s de c o m é rc io d o s q u a tro países. C o n s id e ra n d o cin co g ru p o s de p ro d u to s e x p o rta d o s (p ro d u to s a g rícolas, a lim e n to s, b e b id a s e fu m o, p ro d u to s de m in e ra ç ã o, m a n u fa tu ra s e b e n s de co n s u m o n ã o -d u rá v e is ), o p e so d o M e rco su l n as e x p o rta ç õ e s to ta is latino- a m e ric a n a s d e s s e s p ro d u to s so fre u p o u ca a lte ra ç ã o e n tre 1990 e 2 0 0 3. Em 2 003 o M e rcosul re s p o n d ia p o r 4 9 % d as e x p o rta ç õ e s a g ríc o la s, 6 6 % d a s e xp o rta çõ e s de a lim e n to s, b e b id a s e fu m o, 16% d a s e x p o rta ç õ e s de p ro d u to s de m in e ra ç ã o e 23% d o s p ro d u to s m a n u fa tu ra d o s (C E P A L (2004)). O Q u a d ro 20 m o s tra a s v a ria ç õ e s no v a lo r e x p o rta d o d e s s e s p ro d u to s p o r cada país n e sse p e río d o.

19 O Q u a d ro 20 c o n firm a, e m p rim e iro lugar, o m a io r d in a m is m o e x p o rta d o r da A rg e n tin a e B ra sil e m c o m p a ra ç ã o co m se u s so c io s m e n o re s. A ú n ica e x c e ç ã o é o n o tá vel c re s c im e n to d a s e x p o rta ç õ e s p a ra g u a ia s de b e n s d e co n s u m o nãod u rá v e is m a is e le v a d o q u e em q u a lq u e r d os o u tro s p a íses. O se g u n d o a s p e c to n o tá vel d o Q u a d ro 20 é q u e as e x p o rta ç õ e s de pro d u to s a g rícola s e a lim e n to s, b e b id a s e fu m o p o r p a rte do B ra sil tiv e ra m ta xa de c re s c im e n to p e rc e n tu a l da o rd e m de trê s d íg ito s. N o ca s o da A rg e n tin a o c re s c im e n to fo i a in d a m a is e s p e ta c u la r para os p ro d u to s m a n u fa tu ra d o s e, so b re tu d o, para p ro d u to s d e m in e ra ção. E m te rc e iro lu g a r, m e re c e m d e s ta q u e no Q u a d ro 2 0 a s ta x a s n e g a tiva s de va ria ç ã o d a s e x p o rta ç õ e s u ru g u a ia s de bens de c o n s u m o n ã o -d u rá v e is e p ro d u to s de m in e ra ção. Quadro 20 - Exportações (US$ milhões) de produtos selecionados pelos países do Mercosul 1990-92 2001-03 Variação (%) Exportações agrícolas, produtos da caça e pesca e produtos florestais Argentina 3541 5812 64,1 Brasil 3431 7275 112,0 Paraguai 500 575 15,2 Uruguai 241 329 36,6 Exportações de Alimentos, bebidas e fumo Argentina 3936 7060 79,4 Brasil 5363 11057 106,2 Paraguai 153 279 82,2 Uruguai 495 742 49,9 Exportações de Produtos de Mineração Argentina 266 3452 1199,7 Brasil 2814 5157 83,3 Paraguai 0 1 66,7 Uruguai 3 2-36,7 Exportações de Manufaturas Argentina 3397 8156 140,1 Brasil 18041 33599 86,2 Paraguai 93 158 70,2 Uruguai 650 758 16,5 Exportações de Bens de Consumo Não-Duráveis Argentina 936 1451 54,9 Brasil 3154 4653 47,6 Paraguai 52 91 75,5 Uruguai 645 527-18,4 Fonte: CEPAL (2004), CEPAL (2005a) Já e m re la çã o às im p o rta ç õ e s o p e so do M e rcosul é b e m m e n o r no co n ju n to da região. S e c o n s id e ra rm o s a lg u n s itens d o s m ais im p o rta n te s, c o m o co m b u s tív e is e lu b rifica n te s, b e n s de ca p ita l e b e n s de c o n s u m o a p a rc e la d o M e rco su l nas im p o rta ç õ e s foi: para co m b u s tív e is, 8% em 1990 e 2 6 % e m 2 0 0 3 ; para bens de