CARGA DE TRABALHO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM DE UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO SEGUNDO O TISS-28 Kelly Ribeiro 1 Anair Lazzari Nicola INTRODUÇÃO: A unidade de terapia intensiva (UTI) é destinada a internação de pacientes graves que necessitam de cuidados contínuos, assistência de profissionais especializados, recursos e tecnologias específicas adequadas para um diagnóstico e terapia assistencial, visando a sobrevida com qualidade desses indivíduos (BRASIL, 1998). A UTI é caracterizada como sendo um ambiente de elevada tensão o que gera sobrecarga física e mental aos membros da equipe de enfermagem, por prestarem atendimento a pacientes sujeitos a alterações hemodinâmicas bruscas e risco eminente de morte que necessitam de tomada de decisões imediata. Essas ações exigem dos profissionais de enfermagem elevada carga de trabalho, remetendo assim para a necessidade de um gerenciamento de enfermagem que aborde essas especificidades no planejamento da assistência, bem como a gravidade do paciente, para dessa forma poder adequar o quadro de funcionários (VERSA, 2008). A necessidade de caracterizar a demanda de trabalho de enfermagem em UTI considerando o quantitativo de pessoal que assegure qualidade na assistência e adequada relação custo-benefício da assistência, tem sido uma das preocupações constantes dos gestores. Uma vez que, a necessidade crescente de diminuir custos e aumentar a oferta de serviços, na área de saúde, coloca em questão o quadro de pessoal de enfermagem, que representa o maior quantitativo e maior custo na unidade (QUEIJO, 2008; FUGULIN; 2002). A utilização de uma metodologia de dimensionamento é um importante instrumento gerencial, pois com a análise dos dados sobre as condições dos pacientes pode-se tomar decisões mais acertadas sobre a distribuição dos recursos humanos, considerando que um correto dimensionamento traduz numa maior satisfação dos profissionais de enfermagem que 1 Aluna do 5º ano do Curso de Enfermagem da Unioeste, Campus de Cascavel. Rua: Chavantes, 1643 Santa Cruz. Fone: (45) 9917-1299. E-mal: kelly_kribeiroo@hotmail.com.
refletirá na qualidade da assistência, produtividade e processo orçamentário (NICOLA; ANSELMI, 2005). Diante disso, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN, 2004), órgão que regulamenta o exercício dos profissionais de enfermagem, estabeleceu por meio da Resolução 293/2004 critérios para dimensionar o quantitativo mínimo de profissionais de enfermagem para a cobertura assistencial nas instituições de saúde. E para isso recomenda a utilização de um instrumento que classifique o tempo de assistência conforme as necessidades do paciente. O instrumento utilizado para o desenvolvimento deste estudo foi o Therapeutic Intervention Scoring System-28 (TISS- 28), proposto inicialmente por Cullen e seus colaboradores em 1974, a princípio com duplo objetivo, de mensurar a gravidade dos pacientes e calcular a correspondente carga de trabalho de enfermagem na UTI, com base no tipo e quantidade de intervenções terapêuticas recebidas. Este instrumento apresenta 28 intervenções que recebem pontuações de um a oito, podendo obter um somatório total variando de 1 a 78 pontos, que permite determinar a carga de trabalho de enfermagem da seguinte forma: a cada ponto do TISS-28 equivale a 10,6 minutos do tempo de trabalho de um profissional de enfermagem em um turno de trabalho na unidade (QUEIJO; PADILHA, 2009). Este estudo mostra a caracterização dos pacientes da UTI geral adulto do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), situado na cidade de Cascavel- PR, bem como a carga de trabalho dos profissionais de enfermagem medida pelo instrumento TISS-28. Os resultados apresentados a partir da análise dos dados oferecem informações necessárias para o dimensionamento dos recursos humanos de enfermagem a fim de atender as necessidades assistenciais dos pacientes da unidade, bem como, a distribuição adequada dos profissionais evitando assim sobrecarga de trabalho e desperdício de recursos. OBJETIVO: Identificar a carga de trabalho dos profissionais da equipe de enfermagem em uma Unidade de Terapia Intensiva Geral Adulto de acordo com os parâmetros presentes no TISS-28 e de acordo com sexo, faixa etária e diagnóstico dos pacientes. METODOLOGIA: Para o alcance do objetivo proposto, foi realizado um estudo descritivo e documental de natureza quantitativa. O local eleito para a coleta de dados foi a UTI-Geral Adulto do HUOP. A UTI Geral, conta com nove leitos destinados a atender pacientes adultos. A equipe de enfermagem, no período da coleta de dados, era constituída por seis enfermeiros, 21 técnicos de enfermagem e 18 auxiliares de enfermagem distribuídos nos três turnos diários de trabalho com seis horas no período matutino e vespertino e doze horas no período noturno. A população alvo deste estudo foram pacientes internados na unidade que apresentavam o
instrumento TISS-28 preenchido e completo, no período de julho a dezembro de 2008, com idade igual a superior a 14 anos. Os pacientes foram classificados de acordo com três diagnósticos: trauma, clínico e cirúrgico; e conforme a faixa etária: adolescentes, com idade de 14 a 19 anos; adulto jovem, com faixa etária 20 a 40 anos; adulto, com 41 a 59 anos e por fim, idoso, com idade superior a 60 anos. A amostra deste estudo foi composta por 132 prontuários. Os dados foram coletados do livro de registro da unidade UTI-Geral, o qual continha informações como: dia de internamento, desfecho, número de prontuário, data de admissão e da alta. No segundo momento foram utilizados os prontuários dos pacientes, localizados no SAME (Serviço de Atendimento Médico e Estatística) para completar as informações referentes ao desfecho, idade e diagnóstico. Para identificar a carga de trabalho, os dados foram coletados do instrumento TISS-28 que era preenchido diariamente pelo enfermeiro da unidade. RESULTADOS: A respeito da caracterização dos pacientes conforme diagnósticos, do total de 132 pacientes, 50 (38%) destes tiveram como diagnóstico trauma, 45 (34%) indivíduos com diagnóstico cirúrgico e por fim 28%, isto é 37 pacientes foram admitido na unidade devido ao diagnóstico clínico. Em relação ao sexo 67% eram do sexo masculino. Os pacientes que compuseram a amostra apresentaram uma média de idade de 43 anos, com uma variação entre 15 a 86 anos. Verificou-se que a maioria dos pacientes hospitalizados na UTI-Geral estão classificados como adulto jovem, isto é, com idade de 20 a 40 anos com 35%, seguido por pacientes adultos 28%, com a faixa etária de 41 a 59 anos; 24% dos pacientes classificados como idosos com idade acima de 60 anos e por fim em menor número os adolescentes de 14 a 19 anos que obtiveram um percentual de 13%. Sobre o desfecho desses indivíduos, 77% (102) dos pacientes que foram admitidos na UTI-Geral receberam alta. Já 23% (30) dos pacientes admitidos na unidade foram a óbito, destes 70% (21) eram do sexo masculino. Sendo a taxa de mortalidade maior no diagnóstico clínico. Sobre a carga de trabalho dos indivíduos que ingressaram na UTI Geral, com base no instrumento TISS-28, o diagnóstico de trauma apresentou o TISS Inicial, que é a quantidade de intervenções terapêuticas realizadas no internamento do paciente na unidade foi de 51 pontos para o grupo etário adulto do sexo feminino e com diagnóstico clínico, enquanto que no diagnóstico cirúrgico o grupo etário adolescente do sexo masculino obteve um escorre de 38, e por fim para o diagnóstico cirúrgico o grupo etário adolescente do sexo feminino com 44 pontos, sendo todos esses grupos classificado em classe III pacientes graves e instáveis hemodinamicamente (ELIAS, et al., 2006); e de acordo com a Resolução do COFEN
293/2004 esses grupos etários requer assistência intermediária, pois a pontuação ficou em média de 6,0 horas diária. Sobre a pontuação do TISS Médio, pontuação aproximada que estes indivíduos apresentaram em relação às intervenções e cuidados requeridos durante a internação, levando em consideração o desvio padrão (DP), o diagnóstico trauma variou de 25,82 (DP=4,4) do grupo etário adulto jovem feminino a 34,47 (DP=1,69) idoso do sexo feminino; já para o diagnóstico cirúrgico, o grupo etário que foi admitido na unidade com maior escorre foi adulto masculino com o escorre 27,46 (DP=4,88), seguido de adolescente masculino 26,38 (DP=9,04), adulto jovem feminino de 26,11 (DP=6,5) e masculino com 25,84 (DP=6,4); por fim do diagnóstico cirúrgico o grupo etário adolescente feminino apresentou pontuação de 35,6, adulto masculino 33,11 (DP=9,31) e idoso do mesmo sexo 33,11 (DP=7,61). Finalmente sobre o TISS Final, que é o último escorre apresentado pelo paciente, na circunstância tanto de alta da unidade quanto a óbito, sobre o diagnóstico trauma, o maior e o menor escorre apresentado pelos indivíduos alvo deste estudo foi 30 (DP=10,82) para o idoso do sexo masculino e 20 (DP=5,3) para adulto do sexo masculino e 20 (DP=4,53) adulto jovem do sexo feminino. Para o diagnóstico cirúrgico, os três maiores escorres foram do grupo etário adulto masculino com 25 (DP=7,31), adulto jovem feminino 21,4 (DP=7,7) e idoso feminino apresentando pontuação de 21 (DP=7,48). E por fim, do diagnóstico clínico, adulto do sexo masculino 30,12 (DP=9,86) e idoso do sexo masculino 30,12 (DP=9,09), estes dois grupos apresentaram um escorre final iguais, no entanto com desvio padrão diferentes, ainda, masculino foi de 23 (DP=1,41); idoso do sexo feminino 21,4 (DP=9,09). CONSIDERAÇÕES FINAIS: O desenvolvimento avançado dos recursos terapêuticos e a necessidade de pessoal especializado para o cuidado ao paciente crítico têm gerado alto consumo dos recursos hospitalares, trazendo como conseqüência, a necessidade cada vez maior de avaliar o desempenho das UTIs. É nesse contexto que os instrumentos de medida de gravidade e de demanda de trabalho de enfermagem surgem como recursos assistenciais e gerenciais voltados à classificação de pacientes e auxílio na adequação dos recursos no âmbito da assistência intensiva na UTI. No entanto, apesar das contribuições que podem proporcionar, apenas o uso adequado dos resultados obtidos é que confirmarão sua real importância. Para isso, devem ser analisados à importância da qualidade da assistência que se tem como meta e dos preceitos éticos inerentes ao cuidado ao paciente grave internado na UTI. Diante ao exposto, a aplicação do TISS-28 ajustado às recomendações da Resolução COFEN n. 293/2004 pode contribuir para o dimensionamento adequado de trabalhadores de
enfermagem na UTI e favorecer as condições de trabalho para o alcance de uma assistência de enfermagem de qualidade e segurança. Este estudo buscou caracterizar os indivíduos admitidos na UTI-Geral do referido hospital, a fim de verificar qual a carga de trabalho dos profissionais de enfermagem de acordo com as intervenções terapêuticas realizadas e os cuidados que estas demandam, de acordo com o diagnóstico trauma, clínico e cirúrgico, conforme a idade, classificadas em adolescente, adulto jovem, adulto e idosos. Em relação a carga de trabalho, pela pontuação média do TISS- 28, a faixa etária adulto masculino com diagnóstico clínico apresentou a maior pontuação 33,11 o que representa 5,8 horas de enfermagem, segundo a Resolução COFEN 293/2004. Já para o sexo feminino encontramos o grupo etário adolescente com pontuação média do TISS-28 com 35,6, o que equivale a 6,3 horas de enfermagem, segundo a referida resolução, logo enquadrando-se na assistência intermediária. Esses dados apresentam alterações significativas quando consideramos o TISS inicial ou o final e consequentemente as horas de assistência de enfermagem também acompanha essas alterações. Para finalizar, consideramos que os dados apresentados neste estudo, podem subsidiar os enfermeiros da unidade para desencadear o processo de dimensionamento dos profissionais de enfermagem necessários para prover a assistência que garantam a segurança dos pacientes e dos trabalhadores de enfermagem. PALAVRA-CHAVES: Unidade de Terapia Intensiva; carga de trabalho; dimensionamento de pessoal; recursos humanos; cuidados de enfermagem. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 466, 4 de junho de 1998. Regulamento técnico para funcionamento dos serviços de tratamento intensivo. Brasília, DF,1998. COFEN. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução nº 293/2004. Fixa e estabelece parâmetros para o dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nas unidades assistenciais das instituições de saúde e assemelhados. Disponível em: http://www.corensp.org.br/resolucoes/resolucao293.htm. Acesso em: jul.2010. ELIAS, A.C.G.P. et al. Aplicação do sistema de pontuação de intervenções terapêuticas (TISS 28) em unidade de terapia intensiva para avaliação da gravidade do paciente. Rev Latino-am Enfermagem. v. 14, n. 3, p. 324-9, 2006. FUGULIN, F.M.T. Dimensionamento de pessoal de enfermagem: avaliação do quadro de pessoal das unidades de internação de um hospital de ensino. [tese doutorado]. [online]. São Paulo: Escola de Enfermagem da USP; 2002.
NICOLA, A.L.; ANSELMI, M.L. Dimensionamento de pessoal de enfermagem em um hospital universitário. Rev Bras Enferm. v.58, n. 2, p.186-90. 2005. QUEIJO, AF. Estudo comparativo da carga de trabalho de enfermagem em unidade de Terapia Intensiva Geral e Especializada, segundo o Nursing Activities Score (NAS). 2008. Doutorado (tese). São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo. QUEIJO, A. F.; PADILHA, K. G. Nursing Activities Score (NAS): adaptação transcultural e validação para a língua portuguesa. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2009, vol.43, n.spe, pp. 1018-1025. VERSA, G.L.S. Dimensionamento de pessoal de enfermagem para assistir o paciente com traumatismo crânio-encefálico na unidade de terapia intensiva. 2008. Monografia (Especialização). Cascavel-PR, UNIOESTE.