Roberta Assalim Fernandes DIFERENÇAS NUTRICIONAIS ENTRE CÃES E GATOS ADULTOS



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Transcrição:

Roberta Assalim Fernandes DIFERENÇAS NUTRICIONAIS ENTRE CÃES E GATOS ADULTOS SÃO PAULO 2009

Centro Universitário FMU Roberta Assalim Fernandes DIFERENÇAS NUTRICIONAIS ENTRE CÃES E GATOS ADULTOS Trabalho apresentado para conclusão do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário FMU, sob orientação da Professora Dra. Ana Cláudia Balda. SÃO PAULO 2009

Fernandes, Roberta Assalim Diferenças nutricionais entre cães e gatos/roberta Assalim Fernandes/São Paulo: Centro Universitário FMU, 2009 55 1. Nutrição animal. I.Fernandes, Roberta Assalim. II.Diferenças nutricionais entre cães e gatos.

Roberta Assalim Fernandes DIFERENÇAS NUTRICIONAIS ENTRE CÃES E GATOS ADULTOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para conclusão do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário FMU, sob orientação da Professora Dra. Ana Claudia Balda. Defendido e aprovado em / /, pela banca examinadora constituída pelos professores: Profa. Dra. Ana Claudia Balda FMU Prof. Ms. Arnaldo Rocha FMU Profa. Dra Andréia Maria Martarelo Gonçalves FMU

Resumo FERNANDES, R. A. DIFERENÇAS NUTRICIONAIS ENTRE CÃES E GATOS ADULTOS. [NUTRITIVE DIFFERENCES BETWEEN ADULTS DOGS AND CATS.] 55 p. 2009. Os animais de companhia necessitam de água para se manterem saudáveis, portanto, entre esses animais existem algumas diferenças tanto nutricionais, quanto anátomofisiológicas, que foram abordadas no presente trabalho mais detalhadamente. Quanto às diferenças nutricionais, temos o metabolismo de energia e glicose, necessidades protéicas, e de aminoácidos além fornecimento de vitaminas. Em relação às diferenças anátomo-fisiológicas entre cães e gatos, como principal diferença, temos, a dentição e o comprimento do intestino delgado. Palavras-chave: alimentos, diferenças nutricionais, animais de companhia, diferenças anátomo-fisiológicas entre cães e gatos.

Abstract FERNANDES, R.A. NUTRITIVE DIFFERENCES BETWEEN ADULTS DOGS AND CATS. [DIFERENÇAS NUTRICIONAIS ENTRE CÃES E GATOS ADULTOS.] 55 p. 2008. Domestic animals need water and food to keep themselves healthy. However, there are several differences, between the mentioned animals, concerned to nutritive and physiological matters which, herein shall be more specifically studied. Concerning to the nutritional differences, energy metabolism and glucoses, protein needs and amino acids are appointed. In connection with the anatomic and physiologic differences between cats and dogs, the tooth and the intestine measure shall be named the most important. Key words: food, nutritional, differences, domestic animals, physiologic differences between cats and dogs,

Lista de figuras Figura 1. Aparelho digestório. de cães... 12 Figura 2. Dentição do cão... 14 Figura 3. Dentição do gato... 14 Figura 4. Glândulas produtoras de saliva em cavidade oral... 16 Figura 5. Estômago de um monogástrico... 18 Figura 6. Estrutura interna do estômago... 18

Lista de tabelas Tabela1. Valores mínimos e máximos de cada elemento para cães adultos... 28 Tabela 2. Valores mínimos e máximos de cada elemento para gatos adultos... 28 Tabela 3. Aminoácidos essenciais... 32

Abreviações AAFCO - Association of American Feed Control Officials CMD - Cardiomiopatia dilatada DRFC Degeneração retiniana central felina EB - Energia Bruta ED - Energia Digerível EM - Energia Metabolizável MCT Triglicérides de cadeia média PTH Hormônio paratireóide WCPN Waltham Centre of Pet Nutrition

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 11 2. ANATOMIA DIGESTIVA COMPARADA. 12 2.1 Boca e Digestão oral... 13 2.1.1 Boca. 13 2.1.2 Digestão Oral... 15 2.2 Esôfago 16 2.3 Estômago. 17 2.4 Intestino delgado. 20 2.4.1 Digestão... 20 2.4.2 Absorção 21 2.5 Intestino grosso... 22 3. DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES... 23 3.1 Digestão e absorção de proteínas... 23 3.2 Digestão de carboidratos... 23 3.3 Digestão de gorduras... 24 3.4 Absorção de minerais e vitaminas... 25 Minerais... 25 Vitaminas... 25 4. DIFERENÇAS NUTRICIONAIS DO CÃO E DO GATO... 26 4.1 Energia... 29 4.1.2 Energia em alimentos... 29 4.2 Água... 30 4.3 Macronutrientes... 31 Proteínas e aminoácidos... 31 Arginina... 33 Taurina... 33 Aminoácidos de interesse especial para cães e gatos... 35 Lisina... 35 Metionina e cisteína... 35 Incapacidade do gato para transformar o triptofano em niacina... 35 4.3.2 Lipídios... 36

4.3.3 Carboidratos... 37 4.4 Micronutrientes... 39 4.4.1 Minerais... 39 Cálcio e fósforo... 40 Magnésio... 40 Potássio... 41 Sódio e cloreto... 41 4.4.2 Vitaminas... 42 4.4.2.1 Vitaminas Lipossolúveis... 42 Vitamina A ou Retinol... 43 Vitamina D... 44 Vitamina E ou Tocoferol... 45 Vitamina K... 46 4.4.2.2 Vitaminas Hidrossolúveis... 46 Ácido Ascórbico... 47 Vitamina B1 ou Tiamina... 47 Vitamina B2 ou Riboflavina... 48 Ácido pantotênico... 48 Niacina... 49 Vitamina B6 ou Piridoxina... 49 Biotina... 50 Ácido fólico... 51 Vitamina B12... 51 Colina... 52 5. CONCLUSÃO... 53 6. REFERÊNCIAS... 54

11 1. INTRODUÇÃO Assim como todos os seres vivos, animais de companhia necessitam de água e alimentos para continuarem vivendo e permanecendo saudáveis. Os componentes dos alimentos que executam esta função são denominados nutrientes, de acordo com Blaza (1987). Os animais de companhia possuem, não somente diferenças nutricionais, mas também diferenças anatômicas e fisiológicas, de acordo com Case (1995). Essas diferenças, para Case (1995), incluem a habilidade dos gatos no metabolismo de energia e glicose, alto índice de necessidade de proteína e nas necessidades de aminoácidos como a taurina, arginina, sua inabilidade de converter beta-caroteno para a vitamina A ativa, e a inabilidade na conversão do aminoácido triptofano em niacina. Quando analisada a árvore filogênica desses animais, é possível entender melhor os motivos dessas diferenças, isso porque os gatos, ao longo de sua evolução mantiveram-se estritamente carnívoros, enquanto os cães preferiram uma dieta mais onívora, segundo Case (1995). Em relação à anatomia, existem algumas diferenças, como os gatos possuírem 30 dentes, desenhados para rasgar e cortar e os cães possuírem 42; o intestino dos gatos é proporcionalmente menor e a microflora intestinal também é em menor número, segundo Savassi (2006).

12 2. ANATOMIA DIGESTIVA COMPARADA De acordo com Dyce (1996) o aparelho digestório é formado por órgãos que estão relacionados recepção e digestão dos alimentos, bem como sua passagem pelo corpo e sua expulsão. Os órgãos que o compõem são: boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso e glândulas anexas (fígado e pâncreas). Figura 1. Aparelho digestório de cães. Fonte: Laflamme, 2005 Pode-se observar que, segundo Maskell e Johnson (1993), tanto macroscopicamente, quanto microscopicamente o trato digestório do cão e do gato é semelhante, tendo apenas pequenas variações.

13 Quanto ao estômago, a mucosa gástrica nos gatos, é mais uniforme do que nos cães, e é dividida em duas áreas: uma chamada de glandular, onde está situado mais proximal e com maior número de glândulas e a região aglandular, onde possui uma quantidade menor de glândulas, de acordo com Maskell e Johnson (1993). Para Maskell e Johnson (1993), a diferença anatômica mais importante entre cães e gatos está no ceco; onde nos cães, ele existe como um divertículo e é conhecido com saco cego, que está proximal ao cólon sendo mais desenvolvido que no gato, parecendo ser um pouco mais que um apêndice vestigial. 2.1. Boca e digestão oral 2.1.1 Boca Essa estrutura é limitada lateralmente pelas bochechas, dorsalmente pelo palato, ventralmente pelo corpo da mandíbula e pelos músculos milo-hióideos, e caudalmente pelo palato mole; a entrada da boca é fechada pelos lábios, segundo Getty (1981). Segundo Dyce (1996), a língua possui a mucosa áspera e se adere firmemente ao alimento ingerido, e sua superfície é dotada de papilas. Em cães e gatos, as papilas são encontradas na superfície da língua, e o tipo dessa estrutura é conhecido como filiforme; onde nos cães é bem menos rígida, e nos gatos que possuem uma maior queratinização, tornando-a mais rígida, a quantidade de papilas vai aumentando de tamanho em direção a faringe, segundo Getty (1981). Quanto à dentição, Maskell e Johnson (1993), demonstram de acordo com as figuras 2 e 3, que cães e gatos têm a mesma quantidade de incisivos e caninos, no total, cães tem mais dentes que os gatos, sendo 42 e 30, respectivamente; cães apresentam quatro pré-molares em cada lado do maxilar inferior e superior, dois molares no maxilar superior, e três molares no maxilar inferior. Gatos têm somente três pré-molares e um molar no maxilar superior, e dois pré-molares e um molar no maxilar inferior, em cada lado.

14 Figura 2. Dentição do cão Fonte: Maskell e Johnson, 1993. Figura 3. Dentição do gato. Fonte: Maskell e Johnson, 1993.

15 2.1.2 Digestão oral Segundo Laflamme (2005), a partir do momento em que o animal percebe que será alimentado, através de estímulos visuais, sonoros e olfativos, por exemplo, é iniciada a produção de saliva, isto é conhecido como resposta gustativa, que é aumentada no momento que o animal apreende e mastiga o alimento. No momento da apreensão o animal tende a mastigar o alimento até ficar em um tamanho que possa engolir, no entanto cães apresentam maior tendência a devorar o alimento evitando a sua decomposição, de acordo com Blaza (1987). A digestão na boca é considerada em sua grande parte mais mecânica do que química, isso porque Laflamme (2005) nos diz que a maior parte da saliva é constituída por água e apenas uma pequena parte, de muco sais inorgânicos e enzimas como a amilase (ptialina), sua função é lubrificar o alimento degradado, facilitando a deglutição sentido ao esôfago. Para a liberação e produção de saliva, ainda na cavidade oral existem quatro pares de glândulas que executam esta função, que são as parótidas, que estão localizadas próximo às orelhas, a mandibular ou submandibular, localizadas uma de cada lado do maxilar inferior, glândula sublingual, localizada abaixo da língua e a glândula zigomática, localizada no maxilar superior, mas um pouco abaixo dos olhos, segundo Blaza (1987). De acordo com a figura 4.

16 Figura 4. Glândulas produtoras de saliva em cavidade oral. Fonte: Maskell e Johnson, 1993. 2.2 Esôfago O esôfago trata-se de um tubo muscular relativamente curto, que se comunica com o estômago, tendo a função de transferir o bolo alimentar formado pela língua para o estômago, através de movimentos peristálticos estimulados pela presença do alimento. Nesse momento não tem a ação de enzimas, mas sim, de mais muco liberado pelas suas células, para lubrificar, facilitando ainda mais a passagem do alimento para o estômago, de acordo com Blaza (1987). Contudo, de acordo com Getty (1981), cães possuem uma espessa camada de glândulas mucosas, quanto que em gatos, elas não existem. O esôfago entra no estômago, através de uma via formada por células musculares especializadas, chamada de esfíncter cardíaco, geralmente fica contraído, mas relaxa de acordo com a aproximação da onda de peristaltismo, que permite a passagem do bolo alimentar para o estômago; o estômago, por sua vez estimula a manter esse esfíncter contraído

17 para evitar que ocorra refluxo do alimento, contudo em alguns casos específico, como no caso de vômito, ocorre o seu relaxamento para que algo seja expelido, quando causar desconforto ou apresentar certa toxicidade, segundo Maskell e Johnson (1993). 2.3 Estômago Localizado entre esôfago e intestino delgado, é a parte dilatada do trato gástrico, segundo Dyce (1996), este órgão recebe o alimento do esôfago e o retém por um tempo, antes de enviar para o duodeno. A digestão é iniciada pela apreensão do alimento, mastigação e contração muscular, além de enzimas e da flora microbiana ajudam á diminuir o tamanho das moléculas, para Maskell e Johnson (1993). Para Blaza (1987), o propósito da digestão é retirar as ligações dos grandes compostos, liberando pequenas unidades, através da água, processo denominado hidrólise, sendo acelerados pelas enzimas digestivas, que são produzidas e reguladas pelo próprio organismo; cada enzima tem uma função específica e está envolvida em uma determinada fase e decomposição de um composto em particular. Existem três grandes classes alimentos que necessitam de digestão, segundo Blaza (1987) que são: carboidratos, lipídeos e proteínas. Segundo Maskell e Johnson (1993), o estômago pode ser dividido em cinco regiões, cárdia, fundo, corpo, antro e piloro. Mas funcionalmente são consideradas duas dessas regiões, que são o corpo (proximal) e o antro (distal) (figura 5). O corpo é capaz de acomodar grande quantidade de alimento, em um determinado espaço de tempo, também tem como função produzir secreções mucosas, ácido clorídrico e proteases, através das glândulas gástricas; o antro está mais distal, e sua função é produzir solução alcalina e pobre em enzimas, através de glândulas cardíacas e pilóricas, segundo Dyce (1996).

18 Essa secreção produzida no antro forma o quimo, quando bem misturada ao alimento no estômago forma um líquido espesso e leitoso, e está pronto para passar para o duodeno através do esfíncter pilórico, segundo Maskell e Johnson (1993). Figura 5. Estômago de um monogástrico Fonte: Blaza, 1987 Figura 6. Estrutura interna do estômago Fonte: Laflamme, 2005 Em relação ao tamanho, Laflamme (2005), descreve que o estômago de gatos é aproximadamente a metade em relação ao dos cães. Antes de dar início à digestão de proteínas, para Blaza (1987), o estômago tem algumas funções, tais como, ser um reservatório de alimento, permitindo assim, a ingestão de

19 alimento ser mais espaçada, regulação do fluxo de materiais para o intestino delgado e a digestão. As secreções no estômago são controladas por uma interação neurológica e hormonal e podem ser divididas de acordo com Maskell e Johnson (1993) em três fases seqüenciais, durante a digestão, que são: a) fase cefálica: é a antecipação, ou seja, estímulos externos como visão, cheiro, ruídos, esse fenômeno é chamado de reflexo gustativo e inicia a produção e liberação de pepsinogênio, gastrina e ácido clorídrico; b) fase gástrica: a gastrina é o principal hormônio durante essa fase, ela é estimulada na presença de alguns nutrientes específicos como aminoácidos e pela pressão mecânica que o alimento faz contra a parede do estômago durante sua chegada do esôfago. Sua produção ocorre nas células da mucosa antral e é liberada para a circulação e quando volta para o estômago, atua na mucosa gástrica. A gastrina estimula a secreção de ácido clorídrico, pepsinogêni muco, e pode ser inibida quando o ph chega a 3,0 sendo um importante mecanismo de controle da secreção de ácido clorídrico ela pode ser controlada por hormônios como a secretina ou enteroglucagon na fase intestinal; c) fase intestinal: o alimento no intestino delgado estimula a secreção de ácido clorídrico no estômago, mediada por dois mecanismos, o de distensão da parede intestinal e pela estimulação química por aminoácidos e peptídeos,. Em geral a estimulação gerada por essa região, tende a causar inibição de gastrina no estômago, através da liberação do hormônio duodenal, enterogastrona, de acordo com Blaza (1987). Para Maskell e Johnson (1993) a digestão envolve uma combinação de processos, mecânico, químico e atividade microbiana, com a finalidade de degradar os grandes compostos do alimento para uma forma mais simples, ou seja, o nutriente, e assim, ser absorvida e utilizada pelo animal.

20 2.4. Intestino delgado Segundo Getty (1981), o intestino delgado interliga o estômago e o intestino grosso e está profusamente ocupada por vilos, que são pequenas projeções da túnica mucosa e cada vilo contém um vaso linfático central (quilífero), e ao redor deste, um plexo de capilares, tecido conjuntivo e fibra muscular lisa, sendo importantes estruturas na absorção do conteúdo intestinal. 2.4.1. Digestão De acordo com Laflamme (2005), é constituído por três partes: duodeno, jejuno e íleo, sendo que o jejuno ocupa maior parte do comprimento total. Comparativamente, o comprimento total do intestino em cães é maior do que em gatos, sendo 1,8 a 4,8 m e 0,8 a 1,3 m, respectivamente, segundo Laflamme (2005). Para Blaza (1987, p. 12) O intestino delgado é assim chamado por causa de seu diâmetro estreito, porém, apesar de seu diâmetro ser muito menor do que o intestino grosso, ele é várias vezes mais longo. A digestão é completada no intestino delgado; todas as proteínas digestíveis, lipídeos e carboidratos são reduzidos a aminoácidos, dipeptídeos, glicerol, ácidos graxos e monossacarídeos. Tão logo essas substâncias são liberadas, elas são absorvidas, como são os minerais, as vitaminas e a água. De acordo com Maskell e Johnson (1993), a digestão enzimática é completada nesse local, e a proteína digestível, gordura e carboidratos são reduzidos a aminoácidos, dipeptídeos, glicerol, ácidos graxos e monossacarídeos, que serão absorvidos assim que são liberados do alimento. Assim que o quimo chega ao duodeno, são adicionadas mais enzimas, estas se originam da própria mucosa ou do pâncreas, de acordo com Blaza (1987). De acordo com Dyce (1996), o pâncreas é uma glândula, que está relacionada com o duodeno, e possui duas funções, que são: a endócrina, secretando hormônios na circulação, como insulina, glucagon e gastrina, produzidas das ilhotas pancreáticas; e exócrina, liberando

21 suco digestivo, que contém enzimas que decompõem proteínas, carboidratos e gordura; todas essas substâncias são levadas até o duodeno através de ductos pancreático. Para Dyce (1996), o fígado é considerada a maior glândula do corpo, sendo dotada por 5 lobos, e uma vesícula para o armazenamento da bile durante o períodos de repouso; tem como função secreção da bile, armazenamento de amido e glicogênio, gordura e proteína, e também de forma excretora; a bile chega até o duodeno através de ductos biliares. Em relação à bile, também é adicionada ao quimo no duodeno, e fica armazenado na vesícula biliar e somente é liberada quando necessária, de acordo com Blaza (1987), a bile contém sais biliares, pigmentos e vários produtos residuais do fígado, que não são enzimas, mas desempenham funções importantes como a emulsificação das gorduras, agindo como um detergente, que irá quebrá-lo em glóbulos pequenos, porém com superfície de contato grande, onde as lipases irão atuar. A secretina além de aumentar o conteúdo de bicarbonato, também controla a velocidade de fluxo de bile, e outro hormônio duodenal, a colecistocinina, causa a contração da vesícula biliar e por conseqüência ocorre a liberação de bile armazenada. 2.4.2. Absorção Em relação à absorção, Blaza (1987) a define como a passagem do nutriente, através da mucosa intestinal para ser utilizada para funções de manutenção, reparo, crescimento ou fornecimento de energia A absorção pode ser passiva ou ativa, sendo a maior proporção da absorção ocorra no intestino através de sua mucosa, devido aos vilos existentes na região, que asseguram um bom suprimento de materiais para as superfícies epiteliais, devido à sua densa rede de capilares, garantindo que não aja acúmulo de nutrientes absorvidos, de acordo com Blaza (1987).

22 2.5. Intestino grosso Estende-se desde o término do íleo até o ânus, sendo constituído basicamente por ceco, cólon e reto, não possui vilosidades, sendo um tubo curto com um diâmetro maior que o delgado, de acordo com Getty (1981). Segundo Getty (1981), o ceco nos cães possui um tamanho moderado, tendo uma forma parecida com um espiral enquanto que nos gatos, é uma estrutura extremamente pequena, aparentando um formato de vírgula; quanto ao conteúdo provindo do intestino delgado, entra no intestino grosso pela válvula íleo-cecal. O cólon divide-se em três porções: cólon ascendente, cólon transverso e descendente, e sua função é a absorção de água e eletrólitos, fermentação de matéria orgânica não digerida e não absorvida pelo intestino delgado e armazenamento de fezes, de acordo com Laflamme (2005). No intestino grosso, existe uma estrutura denominada de células de Lieberkün, que se estende por toda sua superfície e contém muco, que é alcalino, e tem como função proteger o a mucosa do intestino contra injúrias mecânicas e físicas, além de promover a lubrificação para a passagem das fezes, e neutralizar os ácidos irritantes, que são produzidos pela fermentação bacteriana, e acordo com Maskell e Johnson (1993). A absorção de água neste local ocorre de maneira diferente, sendo, passando pelos espaços intercelulares dependendo do gradiente, o grau de absorção, segundo Blaza (1987), pode ser alterado pelo estado do fluido do organismo, através da presença ou ausência de hormônios como a aldosterona e a angiotensina, sendo o íleo e o cólon sensíveis a eles, podendo ocorrer também, discreta ação inibitória da secretina, gastrina e pancrozimina sobre a captação de água. No intestino dos animais, existe a microbiota bacteriana, que são responsáveis pela digestão parcial de proteínas e resíduos de fibras, e ajudam a prevenir a proliferação de bactérias potencialmente patogênicas, segundo Laflamme (2005).

23 3. DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES 3.1. Digestão e absorção de proteínas As proteases pancreáticas, tais como o tripsinogênio, quimotripsinogênio, carboxipeptidases, aminopeptidases e elastases, dividem em polipeptídeos, e o tripsinogênio é ativado pela enterocinase, formando a enzima ativa, que é a tripsina, ativando as outras proteases, segundo Laflamme (2005). De acordo com Laflamme (2005) A tripsina hidrolisa apenas ligações básicas que envolvem os aminoácidos lisina ou arginina. As quimotripsinas ativas dividem proteínas em aminoácidos aromáricos, bem como a metionina, leucina e asparagina. As carboxipeptidadeses e aminopeptidadases partem os aminoácidos das extremidades das proteínas. A elastase hidrolisa especificamente proteínas do tecido conectivo fibroso, bem como aquelas que também são hidrolisadas pela tripsina e pela quimotripsina Quanto à absorção, Blaza (1987), diz que os aminoácidos são absorvidos ativamente para as células da mucosa e depois se difundem para a corrente sanguínea. 3.2. Digestão e absorção de carboidratos De acordo com Laflamme (2005), esse processo ocorre predominantemente no intestino delgado, onde é facilitada pela ação da alfa-amilase pancreática, que quebrará a ligação alfa direta das moléculas existentes entre as moléculas de glicose presentes em longas cadeias de glicose, tais como o amido e glicogênio. Entretanto, como não consegue quebrar em regiões de ramificação, essa enzima deixa em pequenos complexos de dois ou três açúcares, ligados em ramificações, chamados de dextrinas-limite. A digestão final ocorre na borda em escova e as enzimas incluem: sacarase, maltase, isomaltase, alfa-dextrinase, de acordo com Laflamme (2005).

24 Laflamme (2005), diz que a atividade das dissacaridases, especialmente sacarase e maltase, no intestino de gatos é maior do que em cães, sendo compatível com a habilidade de gatos digerirem com eficácia sacarose e amido. Os açúcares absorvidos pelos capilares vilosos, e são transportados até a veia porta, onde, o fígado converterá boa parte da glicose absorvida em glicogênio, para manter o nível circulante de glicose com a finalidade de proporcionar um pronto suprimento de energia para os tecidos e principalmente para o cérebro, de acordo com Blaza (1987). 3.3 Digestão e absorção de gorduras Segundo Laflamme (2005), esses elementos não são solúveis em água, portanto, não são facilmente transportados para dentro do lúmen do intestino. Contudo uma combinação entre sais biliares, lecitina e colesterol de bile, faz com que corra a formação de micelas com as gorduras parcialmente digeridas, estas são solúveis em água facilitando a transferência de ácidos graxos livres solúveis por lipídios e monoglicerídeos para a borda em escova, local onde é absorvida. Para Laflamme (2005, p. 23) Ácidos graxos de cadeia mais curta, tais como triglicérides de cadeia média (MCTs), podem passar por um processo digestivo e de absorção mais simples via corrente sanguínea portal. Os MCTs podem ser parcialmente hidrolisados pela lípase gástrica na ausência da lipase pancreática. Comparativamente, cães, apresentam alto nível da atividade da lípase gástrica, de acordo com Laflamme (2005). Para Blaza (1987), em relação à absorção, os ácidos graxos e o glicerol, são raramente absorvidos para os capilares dos vilos, sendo assim, sua maior parte são absorvidos pelo sistema linfático.

25 Segundo Blaza (1987) Após a absorção, ocorre a ressintetização nas células da mucosa; os triglicerídeos e os fosfolipídios são formados e liberados para o sistema linfático, enquanto o glicerol e ácidos graxos de cadeia curta podem se dirigir ao sistema porta. 3.4. Absorção de minerais e vitaminas Minerais São absorvidos na forma ionizada, e são dependentes da necessidade requerida pelo organismo, segundo Maskell e Johnson (1993). Os meios em que são absorvidos variam de acordo com o local, como por exemplo, no jejuno, a captação do sódio está ligada á captação de ativa de glicose; no íleo, é um processo ativo, e no intestino grosso, é muito ativo, e dependente do movimento de glicose. A absorção depende também, dos níveis no sangue e de fatores hormonais, de acordo com Blaza (1987). Vitaminas Em relação às hidrossolúveis, Blaza (1987), são absorvidas passivamente, podendo haver alguma absorção ativa, no caso da vitamina B12, pode ser absorvida somente após ligarse ao fator intrínseco, produzido pela mucosa gástrica. As lipossolúveis, de acordo com Maskell e Johnson (1987), são absorvidas com os lipídios presentes na dieta, através da combinação com os sais biliares. Blaza (1987, p. 13) Onde houver digestão e absorção normal de lipídios, deveria haver uma captação normal das vitaminas lipossolúveis.

26 4. DIFERENÇAS NUTRICIONAIS DO CÃO E DO GATO Todos os animais necessitam dos alimentos para manterem-se saudáveis, sendo assim, Burger (1988), define como alimento toda substância que pode nutrir os seres vivos, e essa substância podem ser sólida ou líquida que uma vez ingerida, pode aportar materiais produtores de energia, para o crescimento e para iniciar e regular dois processos anteriormente citados. E os componentes dos alimentos que realizam essas funções são chamados de nutrientes, e os principais tipos de nutrientes são: carboidratos, ácidos graxos, proteínas, minerais, vitaminas, um último componente importante é a água, que apesar de ser essencial, não é considerado um nutriente, segundo Burger (1988). Para Burger (1988), são raros os alimentos, que oferecem apenas um nutriente, em grande parte, eles são uma mistura, incluindo os nutrientes necessários para o animal, a ração é um exemplo dessa mistura. Proporcionalmente, os minerais e vitaminas, são encontradas em menor quantidade, em relação aos outros elementos. As recomendações diárias variam de acordo com o estágio da vida do animal, por exemplo, um animal que está em gestação, lactação ou em fase de crescimento, as necessidades de nutrientes são superiores nessas fases, também variam quanto à raça, atividade física, peso, sexo. De acordo com Burger (1988) as necessidades míninas diárias se definem como a menor quantidade de um determinado nutriente que deve ser ingerido ao dia para manter o metabolismo corporal. No Brasil, existe a Instrução Normativa n 09 de 09.06.03, que estipula valores nutricionais mínimos e máximos, baseados em literatura, tais como: o National Research Council (NRC), a AAFCO, entre outros, segundo Astolphi. Essa Instrução Normativa abrange os seguintes âmbitos: Alimentos completos para cães em crescimento (seco, semiúmido e úmido);

27 Alimentos completos para cães adultos (seco, semi-úmido e úmido); Alimentos completos para gatos em crescimento (seco, semi úmido e úmido) e Alimentos completos para gatos adultos (seco, semi-úmidos e úmidos). De acordo com a IN n 09 a definição para alimentos é: Completos: são aqueles que garantem todos os níveis nutricionais necessários à Correta alimentação diária de cães e gatos saudáveis. Especiais: são os alimentos específicos ou coadjuvantes especialmente formulados ou processados e que possuam propriedades nutricionais específicas relacionadas ao valor energético e demais nutrientes (incluindo-se vitaminas, minerais, prebióticos, probióticos, etc...); destinados a cães e gatos com distúrbios fisiológicos ou metabólicos momentâneos, em cuja formulação é incondicionalmente privada de qualquer agente farmacologicamente ativo. De acordo com a IN nº9, estão descritos na tabela abaixo os valores mínimos e máximos de cada elemento em rações secas. (tabela 1 e 2)

28 Tabela 1- Valores mínimos e máximos de cada elemento para cães adultos Níveis de Cães adultos ** garantia(%) Alimento Seco Alimento semi-úmido Alimento úmido Umidade (Max) 12,00 30,00 84,00 Proteína bruta (min) 16,00 13,00 3,0 Extrato etéreo * 4,5 3,6 1,0 (min) Materia fibrosa 6,5 5,2 2,0 (max) Materia mineral 12,00 10,00 2,,5 (máx) Cálcio (máx) 2,4 2,0 0,4 Fósforo (mín) 0,6 0,5 0,1 * A determinação de extrato etéreo deve ser submetida anteriormente à hidrólise ácida. ** A EM de cada categoria de alimento deverá ser calculada de acordo com os cálculos no rodapé nº 11. Tabela 2- Valores mínimos e máximos de cada elemento para gatos adultos Níveis de Gatos adultos ** garantia(%) Alimento Seco Alimento semi-úmido Alimento úmido Umidade (Max) 12,00 30,00 84,00 Proteína bruta (min) 24,00 19,00 4,4 Extrato etéreo * 8,0 6,5 1,5 (min) Matéria fibrosa 5,0 4,0 2,0 (max) Matéria mineral 12,00 10,00 2,5 (máx) Cálcio (máx) 2,4 2,0 0,4 Fósforo (mín) 0,6 0,5 0,1 * A determinação de extrato etéreo deve ser submetida anteriormente à hidrólise ácida. ** A EM de cada categoria de alimento deverá ser calculada de acordo com os cálculos no rodapé nº 11

29 4.1 Energia A energia é essencial na vida dos animais e tem como função gerar a força necessária para que as células tenham um bom funcionamento, a energia é proveniente da alimentação, através de nutrientes, como o carboidrato, a gordura e a proteína. Contudo, a gordura tem aproximadamente o dobro de energia em relação à proteína ou ao carboidrato, sendo uma fonte muito mais eficiente para o metabolismo, porém, deve-se controlar a ingestão desse nutriente para não ocorrer desequilíbrio e causar obesidade no animal. Quanto à água, ela não possui valor energético, então, a concentração energética dos alimentos varia em relação à quantidade de água, segundo Blaza (1987). A energia pode ser expressa em calorias (cal), onde 1 (uma) caloria é definida como a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de um grama de água em um grau Celsius, mas, atualmente, é expressa em Joules (J), onde 1 (uma) cal é igual a 4,184J de acordo com a Waltham Centre for Pet Nutrition (WCPN 2006). Para Burger (1988), a obtenção de energia pelo organismo dá-se através da oxidação dos alimentos, com a liberação gradual por uma série de reações químicas complexas, sendo cada uma regulada por uma enzima, e muitas dessas enzimas dependem da presença de outros nutrientes, com as vitaminas e os minerais para seu funcionamento. 4.1.2. Energia em alimentos Dificilmente será encontrado um alimento em que o animal seja capaz de utilizar toda a sua energia, por isso a ingestão de energia pode ser classificada em três formas: energia bruta (EB), energia digestiva (ED) e energia metabolizável (EM), de acordo com Burger (1988). A Energia Bruta (EB) é a quantidade total de energia liberada através da oxidação de um determinado alimento, e é medida através de uma bomba calorimétrica, sendo assim, mesmo que um alimento tenha um alto nível de EB, é considerado inútil para o animal, desde que ele não consiga digeri-lo nem absorvê-lo; a Energia Digerível (ED) é aquela que foi digerida e absorvida e pode ser determinada através da EB menos as perdas fecais; já a

30 Energia Metabolizável, é aquela que é utilizada pelos tecidos, podendo ser determinada pelo cálculo de ED menos as perdas urinárias, segundo as definições da Waltham Centre for Pet Nutrition (2006). Quanto ao conteúdo em ED e EM dos alimentos, Burger (1988) diz, que dependem da composição e da espécie que irá consumir, como por exemplo, o sistema digestivo do cão parece ser mais eficiente que o do gato devido ao seu tudo digestivo ser um pouco menor em relação ao do cão, portanto um mesmo alimento, quando administrado a cães ou gatos podem ser revertidos em valores energéticos diferentes para cada espécie; devido a essa condição, existe um modo de medir a EM, utilizando a bomba calorimétrica, as fezes e a urina, entretanto esta é uma técnica trabalhosa e cara sendo possível sua realização apenas em instalações especiais. Uma forma de simplificar essa técnica é a utilização de uma equação para o cálculo de EM para cães e gatos, que foi obtida através de estudos realizados na Waltham Centre for Pet Nutrition e publicado na NRC. 4.2. Água Frequentemente negligenciada, devido sua grande disponibilidade, para Maskell e Johnson (1993), a necessidade de água é tão importante quanto à de outros nutrientes, isso porque o animal não sobreviveria com a sua completa ausência por dias ou horas. A água possui muitas funções, tais como, ser um excelente solvente, ser o principal constituinte do sangue, transporte, levando oxigênio e nutrientes, remover o dióxido de carbono e metabólitos, regulação de temperatura, na digestão, devido à hidrólise, eliminação de metabólitos tóxicos pelo rim, de acordo com Blaza (1987). A sua eliminação ocorre através das fezes, na urina, através da respiração, e também durante a lactação em animais saudáveis, segundo Maskell e Johnson (1993); em animais debilitados, essa eliminação pode ser por hemorragias, vômitos e diarréias. Nas fezes, de acordo com Blaza, o conteúdo perdido é muito pouco devido aos mecanismos serem muito eficientes na reabsorção de água.

31 Quanto à perda via urina, Maskell e Johnson (1993), dizem que o rim é o único órgão que pode controlar a perda de água, e regular o equilíbrio ácido-básico e a concentração de muitos eletrólitos. O rim consiste em uma rede de milhares de túbulos e cada túbulo tem um fundo cego ou cápsula glomerular, que envolve uma série de capilares sanguíneos, denominado de glomérulo. À medida que o fluido passa pelo túbulo, muito dele é absorvido, retornando para o sangue, e outra parte que não é reabsorvida é excretada na forma de urina. As vias de ingestão de água são, de acordo com Blaza (1987), beber a água, o conteúdo dela no alimento e provindo de reações metabólicas. 4.3. MACRONUTRIENTES Proteínas e aminoácidos São moléculas complexas, grandes compostas por carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e em sua maioria possuem enxofre, segundo Burger (1988). Quanto aos aminoácidos, são subunidades que formam as proteínas, e podem ser encontradas 20 formas diferentes na natureza, conferindo uma variedade quase que infinita de proteína, segundo Ferreira (2003). Os aminoácidos, de acordo com Burger (1988) são classificados em essenciais e não essenciais, e sua utilização para a formação de novas proteínas essenciais, das quais regulam os processos metabólicos na forma de enzimas, formação estrutural, crescimento e na renovação de tecidos. Para Case (1995), são 10 os aminoácidos essenciais e para os gatos, deve ser incluída a taurina. (tabela 3)

32 Tabela 3. Aminoácidos essenciais e não essenciais para cães e gatos. Aminoácidos essenciais e não essenciais para cães e gatos Essenciais Não essenciais Arginina Alanina Histidina Asparagina Isoleucina Aspartato Leucina Cisteína Lisina Glutamato Metionina Glicina Fenilalanina Hidroxilisina Taurina (somente para gatos) Hidroxiprolina Triptofano Prolina Treonina Serina Valina Tirosina Fonte: Linda P. Case Canine and feline nutrition. Para Case (1995, p.99) As proteínas são necessárias para o organismo por dois motivos principais: proporcionam-lhe os aminoácidos essenciais para a síntese de proteínas e o nitrogênio necessário para a síntese de aminoácidos prescindíveis e outros compostos essenciais que contêm nitrogênio Para Case (1995), os gatos necessitam de uma maior quantidade de proteína do que os cães, devido à sua elevada demanda por proteína total ou nitrogênio protéico e não por uma elevada demanda de aminoácidos essenciais. Isso pode ser, de acordo com a Waltham (2006), a limitada capacidade de regulação através de enzimas hepáticas no catabolismo de aminoácidos, portanto, esses animais não conseguem se adaptar a uma dieta com baixos níveis de proteína, e quando recebem uma dieta por um período prolongado, a tendência é iniciar o consumo de proteína endógena. De acordo com Case (1995), os gatos, apresentam a necessidade de dois aminoácidos, que são a arginina, que está relacionado com a deficiência de sua síntese; e a taurina, que possui um fornecimento baixo.

33 Arginina De acordo com Burger (1987), a deficiência de arginina causa grave transtornos nos gatos, como a hiperamonenia, isso porque ocorre a impossibilidade de metabolizar compostos de nitrogênio através do ciclo da uréia, causando acúmulo no sistema circulatório.segundo case (1995), existem dois motivos básicos para a sensibilidade do gato em relação à arginina, que é a incapacidade de sintetizar ornitina, que é um precursor da arginina no ciclo da uréia. Segundo Case (2005, p. 108) Na maioria dos animais, os aminoácidos glutamato e prolina atuam como precursores da síntese de ornitina na mucosa intestinal. No entanto, as células da mucosa intestinal do gato têm um nível extremamente baixo de pirrolina-5- carboxilato sintetase ativa, uma enzima essencial nesta via metabólica. O gato também tem uma baixa atividade de uma segunda enzima, a ornitina aminotransferase. Além de sua incapacidade para sintetizar ornitina, o gato também é incapaz de sintetizar arginina a partir da ornitina,para ser utilizada pelos tecidos extra-hepáticos, mesmo quando a dieta fornece ornitina. Segundo Case (1995), a citrulina, uma substância produzida a partir da ornitina na mucosa intestinal ou no fígado como intermediária do ciclo da uréia pode deslocar-se até o rim e se transformar em arginina, satisfazendo as necessidades, no entanto, em gatos, a mucosa intestina não produz citrulina e a que é produzida pelo fígado parece ser incapaz de sair do hepatócito para ser transformada em arginina nos rins. Portanto, segundo Burger (1987), deve-se fornecer na dieta a arginina, como uma fonte de ornitina, já que o gato não consegue sintetizar; ou a ornitina ou citrulina a uma dieta livre de arginina com a finalidade de evitar a toxicidade produzida pela amônia. Taurina É um beta-amino-sulfônico, e é encontrada como aminoácido livre nos tecidos, tais como a retina e o miocárdio, sendo o único que não faz parte das proteínas. Sua função está relacionada com a conjugação de ácidos biliares, na função retiniana, funcionamento do miocárdio e no rendimento reprodutivo normal de gatas, segundo case (1995)

34 Para Burger (1987), os gatos sintetizam pequenas quantidades de taurina, devido a baixa atividade de uma enzima, conhecida como ácido cisteína-sulfínico descarboxilase, responsável para a sua síntese; também pode ser devido á um metabolismo competitivo do metabolismo de cisteína que irá gerar a produção de piruvato ao invés da taurina. Segundo Case (1995) os gatos são os únicos que apresentam deficiência, isso ocorre, porque só utilizam a taurina na conjugação de ácidos biliares, enquanto que em outras espécies, utilizam também a glicina; portanto esses animais apresentam uma necessidade contínua de taurina para substituir as perdas fecais produzidas pela recuperação incompleta na circulação entero-hepática. Esse nutriente está presente somente em tecidos animais, como carnes, aves e peixes; os mariscos constituem uma fonte extremamente rica de taurina. Ao contrário do gato, o cão não necessita de taurina dietética, portanto os gatos não devem ser alimentados com alimentos destinados para cães, de acordo com Case (1995). A deficiência desse nutriente causa a degeneração retiniana central felina (DRCF) e a cardiomiopatia dilatada (CMD). Segundo Burger (1987). Quanto a DRFC, Case (1995), relata que foi a primeira doença a ser descrita; a função da taurina nesse local é manter o funcionamento correto da retina, que envolve células fotorreceptoras, onde é regulado o fluxo de íons de cálcio e potássio através da barreira de pigmento fotorreceptor-célula epitelial. Na ausência, as membranas dessas células perdem sua integridade, tornando-se afuncionais, ocasionando a morte celular, podendo ocorrer, também a degeneração concomitante do tapetum lucidum subjacente. A deterioração só é observada clinicamente nas fases finais de degeneração retiniana, e neste ponto é gerada a cegueira irreversível. Quando a CMD, é uma doença degenerativa, causando diminuição da contratilidade miocárdica, conduzindo a insuficiência cardíaca, segundo Case (1995).

35 Aminoácidos essenciais de interesse especial para cães e gatos Para Case (1995), os aminoácidos de interesse especial são a lisina, metionina e cisteína e triptofano, em relação a sua incapacidade de transformar o triptofano em niacina, vitamina do grupo B. Lisina De acordo com o aumento de proteínas na dieta, Case (1995) observou que as necessidades de lisina são aumentadas. A lisina é o primeiro aminoácido que limita os alimentos para cães e gatos baseados em cereais, sua degradação é causada, geralmente, por processos térmicos durante o processamento do alimento. A exposição ao calor induz a formação de uma ligação cruzada entre aminoácidos reduzindo sua digestibilidade. É necessário o controle de conteúdo de lisina nos alimentos preparados, e deve-se acrescentar proteína de origem animal em um alimento baseado em cereais, de acordo com Case (1995). Metionina e cisteína A metionina é essencial, porém a cisteína é prescindível para os animais, a síntese de cisteína pode utilizar a metionina para a sua produção. As necessidades são superiores em gatos, que é o único que produz a fenilina, que é um composto sintetizado a partir da cisteína e excretado na urina, e possivelmente está ligada na delimitação territorial, ou na regulação do esterol, de acordo com Case (1995). Incapacidade do gato para transformar o triptofano em niacina A partir da conversão de triptofano, é possível a produção de niacina, que é uma vitamina do complexo B, ou pela ingestão de nicotinamida na dieta, segundo Case (1995).

36 A nicotinamida está presente, em abundância, nos tecidos animais. É possível, que devido a uma dieta carnívora, não tenha feito pressão seletiva para que o gato sintetize a niacina a partir de substâncias precursoras, de acordo com Case (1995). 4.3.2. Lipídios Segundo Burger (1988), esse nutriente constitui a fonte mais concentrada de energia e confere certa palatabilidade e textura adequada para os alimentos de cães e gatos. Para Case (1995), esse nutriente possui muitas funções, tais como, fonte de energia, devido sua forma de armazenamento, proteção contra a perda de temperatura, proteção de órgãos contra choques mecânicos, são componentes que formam a membrana celular (fosfolipídios e glicolipídios), precursor de hormônios esteróides. Também conhecidos como gordura, são assim classificados devido á sua solubilidade em solventes orgânicos e insolúveis em água, segundo Case (1995). Esses nutrientes são compostos por carbono, hidrogênio e oxigênio, assim os lipídios são compostos por mesclas de triglicerídeos, sendo combinações de três ácidos graxos unidos a uma molécula de glicerol. De acordo com o número de carbonos na estrutura e de duplas ligações, ocorrem as variações de ácidos graxos, segundo Burger (1988). Os ácidos graxos podem ser saturados, que são de cadeia simples, ou seja, sem dupla ligação, ou insaturados, existindo uma ou mais duplas ligações (poliinsaturados). Quanto às necessidades dos lipídios, está relacionada com a capacidade de prover ácidos graxos essenciais e com o transporte de vitaminas lipossolúveis, de acordo com Burger (1988). Segundo Case (1995), os ácidos graxos necessários para o funcionamento normal do metabolismo são o ácido linoléico e o ácido aracdônico da série n-6, ou ômega 6 e possivelmente, o ácido alfa-linolênico da série n-3 ou ômega 3. Todos esses ácidos são considerados poliinsaturados.

37 Burger (1987, p. 17) Os ácidos linoléicos e linolênicos são compostos primários, a partir dos quais podem ser sintetizados no organismo compostos mais complexos de cadeias mais longas. Existe diferença na síntese dos ácidos graxos, para Burger (1988), os gatos têm sua capacidade limitada para a conversão de ácidos graxos primários em derivados de cadeia mais longa. Isso porque para cães, Case (1995) diz que estes possuem duas enzimas que são a delta-6-desnaturase e a delta-5-desnaturase, que a partir do ácido linoléico sintetizam o ácido araquidônico e o gama linolênico; e nos gatos, essas enzimas possuem pouca atividade no fígado e possuem também, baixa quantidade de outras duas enzimas delta-8-desnaturase e delta-4-desnaturase. Portanto, de acordo com Case (1995), é necessário o fornecimento de apenas ácido linoléico para cães, e quanto aos gatos, é necessária a adição de ácido linoléico e aracdônico. Quanto à deficiência, ocorrem geralmente lesões de pele, como a queda e opacidade de pelos, apresentando prurido, gorduroso e predispõe o animal a infecção secundária; e além dessas manifestações, em filhotes de gatos ocorrem problemas de crescimento, degeneração gordurosa do fígado e deposição de gordura nos rins; em adultos, prejudica a agregação plaquetária e trombocitopenia, em gestantes causa inviabilidade do feto. Nas rações, pode ocorrer devido à rancificação. Em relação ao excesso, de acordo com Case (1995), causa obesidade, estearorréia, diarréia e panesteatite. 4.3.3. Carboidratos Esse nutriente é o que possui maior quantidade de energia, e são formados por carbono, hidrogênio e oxigênio; e podem ser classificados em três grupos: mossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos, de acordo com Case (1995). Os monossacarídeos, para Ferreira (2003), são os chamados de açúcares simples, e não são hidrolisados em moléculas menores. Como exemplo, temos a glicose, frutose e lactose. Em relação aos dissacarídeos, são compostos por duas moléculas de monossacarídeos, como

38 por exemplo, a sacarose e a maltose; já os polissacarídeos, são aqueles que possuem várias unidades de monossacarídeos, por exemplo, o amido, glicogênio e fibra dietética. Cães e gatos adultos possuem uma tolerância muito baixa à lactose, isso devido à diminuição ao longo do seu desenvolvimento, ocorre a diminuição das enzimas betafrutofuronidase (sacarose) e beta-galactosidase (lactose), e quando são alimentados com altos níveis desses nutrientes, por exemplo, o leite, podem apresentar diarréria, devido a um desequilíbrio osmótico e na fermentação bacteriana no intestino grosso, de acordo com Burger (1987). Quanto à fibra dietética, segundo Carciofi (2005), são os polissacarídeos, que não são digeríveis, e podem ser encontradas nos vegetais constituindo sua parede celular, que são a lignina, celulose, hemicelulose e pectina, presentes nos tomates, citrus, beterrabas, soja. Contudo uma quantidade limitada pode formar o bolo fecal, regularizar o movimento intestinal, ajudando a evitar constipações e diarréias; algumas dessas fibras podem ser moderadamente fermentáveis, e que através da atividade da microflora do cólon podem ser utilizadas formando ácidos graxos de cadeia curto como o acetato, ácido butírico e propionato, de acordo com Case (1995), essa é uma fonte importante de energia para as células de revestimento do trato gastrointestinal de cães e gatos. Para Case (1995), o amido, é o principal carboidrato presente na ração, e as principais fontes desse amido são cereais como o milho, trigo, sorgo, cevada e arroz. O organismo armazena amido na forma de glicogênio e são encontrados no fígado e músculos, e tem como função manter equilibrada a quantidade de glicose no sangue, atuando de forma adicional, quando ocorre a falta desse nutriente, segundo Case (1995). Os carboidratos exercem funções importantes, tais como ser fonte de energia para células, manter o funcionamento adequado do sistema nervoso central; atua na formação da molécula dos aminoácidos não-essenciais e é necessário na síntese de ácido glicurônico, heparina, sulfato de condroitina, imunopolissacarídeos, DNA e RNA.

39 Segundo Case (1995), a necessidade de glicose pode ser suprida por síntese endógena, através da gliconeogênese, que ocorre no fígado e rins usando ácido propiônico, ácido lático, glicerol, e certos aminoácidos. Em cães os principais aminoácidos são a alanina, glicina e serina. Comparativamente com os cães, os gatos possuem mecanismos únicos para a metabolização dos carboidratos, para Case (1995). A atividade enzimática no fígado dos gatos indica que a gliconeogênese a partir de aminoácidos, é rápida quando houver o excesso dietético, e parecem ter maior atividade da serina-piruvato aminotransferase, convertendo o aminoácido serina em glicose, segundo Case (1995). Entretanto, cães e gatos não necessitam de um suprimento de carboidrato na dieta, devido à maioria dos alimentos comerciais incluírem em níveis moderados desse nutriente, de acordo com Case (1995), devido à capacidade de conversão de outros nutrientes em glicose. 4.4. MICRONUTRIENTES 4.4.1. Minerais Conhecidos coletivamente como cinza são nutrientes inorgânicos, e podem ser divididos em dois grupos, que são os macro-minerais e os micro-minerais ou elemento traço. Os eletrólitos também são minerais, porém na forma de sal, e são encontrados em tecidos corpóreos, de acordo com a WCPN (2006). Esses nutrientes não podem ser sintetizados pelo organismo, portanto devem ser obtidos na alimentação, não fornecem calorias, contudo alguns desses nutrientes desempenham funções essenciais, como é o caso do cálcio e fósforo, que será descrito, de acordo com Loiola (2007). Os minerais ao contrário das vitaminas, segundo Loiola (2007), não são perecíveis e persistem até após a morte do animal, onde volta para a terra e continua o seu ciclo.