Gabriela Fabian Universidade do Vale do Rio dos Sinos

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Transcrição:

A aprendizagem de língua estrangeira no ensino médio: como é possível proporcionar um processo de enculturação, sem que haja apologia ao modo de vida dos nativos das línguas estrangeiras estudadas nas Resumo Em tempos em que a internacionalização cresce constantemente e que a globalização exige que tenhamos um olhar diferenciado às culturas de outros países, o ensino e a aprendizagem de línguas estrangeiras possuem posição de destaque. No entanto, no Brasil, nos deparamos com duas realidades: no ensino privado, encontramos alunos que tem pressa em apropriar se de um ou mais idiomas, para competirem em um mercado de trabalho cada vez mais exigente ou para estarem aptos a viajarem para outros países. Em contrapartida, no ensino público e em regiões desfavorecidas, os estudantes não encontram estímulo para essa disciplina, pois, os interesses pessoais da vida de cada indivíduo inserido naquele âmbito se distanciam das vivências de um contexto internacional. Nesta assertiva, é questionável se é possível aprender uma segunda língua sob uma perspectiva de apropriação de outra cultura, sem que haja apologia ao modo de vida ou a sistemas de subsistência que não são comuns à nossa cultura. Desta forma, o objetivo desse ensaio é promover algumas reflexões teóricas e metodológicas acerca das possíveis práticas nas aulas de língua estrangeira no Ensino Médio. Abordaremos, brevemente, como estão presentes os processos de pluriculturalismo no âmbito escolar e de que forma a cultural digital contribui para o êxito dessa prática de ensino e de aprendizagem, através de uma ação integrada entre professor e aluno, contribuindo, assim, com a formação de um sujeito que se apropria de forma crítica e significativa de uma língua estrangeira. Universidade do Vale do Rio dos Sinos fabian.gabriela@gmail.com Palavras chave: Enculturação, língua estrangeira, cooperação, comunicação, pluriculturalismo. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1

1. A aprendizagem de língua estrangeira no Ensino Médio: Um processo de enculturação Durante anos, o ensino de línguas estrangeiras nas escolas brasileiras foi pouco relevante. No entanto, com o tempo, esse quadro vem modificando se e, pouco a pouco, se torna uma disciplina tão importante quanto às demais. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira, (PCN s), as línguas estrangeiras modernas assumem a condição de serem parte indissolúvel do conjunto de conhecimentos essenciais que permitem ao estudante aproximar se de várias culturas e, consequentemente, propiciam a sua atuação em um mundo globalizado. (BRASIL, 2000, p.24) As discussões acerca da importância de aprender mais de uma língua estrangeira perduram há anos, assim como o descontentamento com as práticas ou com a cargahorária estabelecida pelo sistema educacional. O que pouco se discute é se o sujeito só passará a aprender a outra língua se estiver inserido em um país onde este idioma é a língua oficial, ou se há possibilidades de aprendê lo através de um processo de enculturação na escola em que este estuda. É imprescindível entender que, em um mundo globalizado, não se aprende uma língua estrangeira somente para ter domínio de outro idioma. Aprendemos outra língua para compreender outra cultura e, assim, ampliarmos a nossa percepção de mundo, conforme explicam os Parâmetros Curriculares de Língua Estrangeira. Ainda, de acordo com os PCN s: As similitudes e diferenças entre as várias culturas, a constatação de que os fatos sempre ocorrem dentro de um contexto determinado, a aproximação das situações de aprendizagem à realidade pessoal e cotidiana dos estudantes, entre outros fatores, permitem estabelecer, de maneira clara, vários tipos de relações entre as Línguas Estrangeiras e as demais disciplinas que integram a área. (BRASIL, 2000, p.25) Nesse contexto, entendemos que, no momento em que um plano curricular oferece obrigatoriamente duas línguas estrangeiras no Ensino Médio, tanto no ensino público, quanto no privado, é necessário que professores e alunos façam com que esses X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2

idiomas dialoguem, de forma que as culturas de diferentes povos sejam elementos presentes nas aulas e contribuam de forma positiva na construção do conhecimento dos educandos. Os elementos culturais ligados diretamente às línguas estrangeiras estudadas nas escolas são amplos. Para compreender certas atitudes que a sociedade assume, é necessário buscar respostas na cultura de alguns países que estão frequentemente presentes nos materiais didáticos ofertados pelas escolas ou produzidos pelos professores, principalmente, no caso da Língua Inglesa, que traz os Estados Unidos de forma tão marcante na nossa sociedade. Ao conhecer outra (s) cultura (s), outra (s) forma (s) de encarar a realidade, os alunos passam a refletir, também, muito mais sobre a sua própria cultura e ampliam a sua capacidade de analisar o seu entorno social com mais profundidade, tendo melhores condições de estabelecer vínculos, semelhanças e contrastes entre a sua forma de ser, agir, pensar e sentir a de outros povos, enriquecendo a sua formação. (BRASIL, 2000, p. 30) 2. Tecnologia na sala de aula & Aprendizagem de idiomas: As aulas de línguas estrangeiras conectadas ao mundo pluricultural Segundo Leffa (2006), com a expansão do ensino de línguas estrangeiras, diferentes métodos (ou abordagens) e tecnologias surgiram com o intuito de facilitar, ou até mesmo tornar mais eficaz, o processo de ensino de uma língua estrangeira. Esses métodos (ou abordagens) adquiriram destaque com a emergência de novas tecnologias, propiciando uma revolução no ensino de línguas em praticamente todo o mundo. Como resultados, hoje é possível promover a interação entre um grupo de alunos brasileiros com alunos chilenos ou ingleses, por exemplo, sem sair da própria sala de aula, basta ter acesso à internet e um software (ou aplicativo) que possibilite o câmbio de textos, sons e imagens. Este contato direto com falantes nativos não é uma restrição à aprendizagem, pois há várias possibilidades de trabalhos a serem desenvolvidos nas aulas. Conforme explica Paiva (2008), o acesso à internet pode facilitar a aprendizagem de línguas estrangeiras, visto que, através dela, os aprendizes podem ter acesso a várias páginas (sítios de X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3

internet) e, então, interagirem com falantes das línguas por meio de e mail, listas de discussão e fóruns, além das mídias sociais. Essas tecnologias podem contribuir para experiências linguísticas não artificiais e a língua pode ser entendida como comunicação (Paiva, 2008, p. 9). Assim, estas novas tecnologias poderiam romper os vínculos que tornam os alunos submissos a práticas conservadoras, apenas identificando, lendo e escrevendo algumas palavras em outros idiomas. Adicionalmente, hoje, a internet não é apenas uma facilitadora para termos acessos a outras culturas, mas permite inclusive a experiência digital virtual em espaços físicos distantes. Por exemplo, permite que estejamos andando ao redor do Palácio de Buckingham, através do Google Maps, tanto com alunos que já têm experiências fora do Brasil, quanto com alunos que foram, no máximo, até a cidade ao lado da que vivem. Ou, ainda, permite que os alunos façam um passeio pelos principais pontos percorridos por Che Guevara, principal líder da Revolução Cubana sem sair da escola. Nessa perspectiva, Reis (2010) explica que as tecnologias digitais (TD) são instrumentos de mediação que nos auxiliam no ensino de línguas, nos processos de ensino e de aprendizagem, na inserção dos alunos em diferentes contextos de prática de produção do conhecimento, de inserção de práticas sociais mais inclusivas que permitam os alunos vivenciarem o mundo por meio dos diferentes recursos disponíveis por meio de diferentes mídias. (REIS, 2010, p. 187). Nesse contexto, as TD podem auxiliar na busca da aprendizagem do estudante, interagindo de forma dinâmica com o currículo, com a escola e com os docentes (SEVERÍN; CAPOTA, 2011 p. 38). 3. O trabalho colaborativo na aula: considerações finais Para proporcionarmos uma aprendizagem significativa em idiomas distintos do nativo, entendemos que um dos caminhos seja promover uma proposta de trabalho cooperativo no âmbito educacional, sob uma perspectiva multidisciplinar. Quando se ensina língua estrangeira na escola, os professores podem trabalhar diversos assuntos que estejam relacionados a outras disciplinas. Por exemplo, caso o docente queira trabalhar alimentação ou vocabulário referente à gastronomia, não precisa, X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4

necessariamente, trabalhar com os estudantes somente pratos típicos de países de determinado idioma. Se, ao invés do consumo e da apologia ao modo de vida estrangeiro os estudantes forem desafiados a apresentar a sua culinária típica ou local, a necessidade de se comunicar através de outro idioma com estudantes estrangeiros pode criar condições para que, no contraste cultural, seja possível aprender para além do que a simples memorização das palavras é capaz de ensinar. Além disso, por exemplo, desenvolver em conjunto com seus alunos uma pesquisa sobre os aspectos históricos e culturais referentes tanto a gastronomia local quanto a estrangeira amplia o tópico em estudo, possibilitando explorar algo que outro colega docente esteja trabalhando referente a este mesmo assunto. Assim, os estudantes podem encontrar mais sentido nas aulas. Essa perspectiva ou abordagem teórico metodológica, envolvendo o pluriculturalismo e a comunicação para a aprendizagem da língua estrangeira, se insere no contexto de um projeto de pesquisa que está em construção. Pretendemos verificar se, com intervenções através da exploração multicultural nas aulas de língua estrangeira, haverá maior interesse por parte dos alunos e mais momentos de interação com as línguas estudadas, de forma que os mesmos percebam a real importância de não só aprender outro idioma, mas também compreender os aspectos culturais existentes neles e suas influências, direta ou indiretamente, na nossa cultura. 4. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio). Brasília: MEC, 2000. CRYSTAL, D. On what a tangled web we weave. 2004. Disponível em: http://www.davidcrystal.com, acesso em 29 de abr de 2014. GOULÃO, M. F. Ensinar a aprender na sociedade do conhecimento: o que significa ser professor? In: Educação e tecnologias: reflexão, inovação e práticas / org. de Daniela Melaré Vieira Barros [et al.]. Lisboa: [s.n.], 2011. 517p. Disponível em: http://livroeducacaoetecnologias.blogspot.com/, acesso em 04 de out de 2013. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5

LEFFA, J.V. Aprendizagem de línguas mediada por computador. Disponível em: http://www.leffa.pro.br/textos/trabalhos/b_leffa_call_hp.pdf, acesso em 29 de abr de 2014. MATURANA, H; VERDEZN ZÖLLER, G. Amar e brincar: fundamentos esquecidos do humano. In: SOARES, E.M.S. VALENTINI, Carla Beatriz. Tecnologias Digitais: práticas e reflexões no contexto do ensino fundamental. Revista Linhas. Florianópolis, v. 13, n. 02, jul/dez. 2012. Disponível em: www.revistas.udesc.br/index.php/linhas/article/download/.../2135, acesso em 17 de nov de 2013. PAIVA, V. L. M. O. A www e o ensino de Inglês. Revista Brasileira de Linguística Aplicada. v. 1, n.1, 2001A,.p.93 116. Disponível em: http://www.veramenezes.com/www.htm, acesso em 30 de abr de 2014. SEVERÍN, E, CAPOTA, C. La computación uno a uno: nuevas perspectivas. Revista iberoamericana de educación. n.º 56.2011, pp. 31 48. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6