Gestão de Riscos Psicossociais Lisboa, 04 de Julho de 2013 Lúcia Simões Costa Centro de Psicologia da Universidade do Porto; Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra
Ao contrário de outros tipos de riscos, os R.P.: São intangíveis; pouco concretos; pouco definíveis; ambíguos; não concretamente mensuráveis. Os factores que lhe dão origem podem ser positivos por contribuírem para desafios no trabalho. Não estão localizados num nível local ou operacional, mas num nível organizacional e relacional. 2
Os fatores psicossociais e os fatores ligados à organização do trabalho raramente são tomados em consideração na avaliação de riscos. Os fatores de risco psicossociais, bem como determinados síndromas, não são facilmente observáveis. Os indicadores de risco reportam-se muitas vezes às consequências sobre as pessoas ou organização. 3
Fatores de Risco e Riscos Psicossociais O que faz com que um risco para a saúde, no trabalho, seja psicossocial, não é a sua manifestação, mas sim a sua origem. Risco Dos seus efeitos sobre a saúde física, mental e social 4
Fatores de Risco e Riscos Psicossociais O que restringe o campo da definição do risco psicossocial, não são as consequências em termos de saúde mental, física e social, mas as condições de trabalho e os fatores organizacionais e relacionais. O que está em causa em termos delimitadores e definidores não é o risco, mas sim o fator. Os riscos psicossociais são os riscos para a saúde mental, física e social, originados pelas condições de trabalho e pelos fatores organizacionais e relacionais suscetíveis de interagir com o funcionamento mental (Gollac & Bodier, 2011). 5
Fatores de Risco e Riscos Psicossociais Intensidade e Tempo de Trabalho Exigências Emocionais Má Qualidade das Relações Sociais no Trabalho Fatores Psicossociais de Risco Falta/ Insuficiência de Autonomia Insegurança na Situação de Trabalho Conflitos de Valores 6
Fatores de Risco e Riscos Psicossociais Intensidade do trabalho e tempo de trabalho (constrangimentos de ritmo; responsabilidade; duração e organização do tempo de trabalho, conciliação trabalho/vida fora do trabalho). Exigências emocionais (relação com o público; contacto com o sofrimento; esconder emoções; a violência externa). Falta/insuficiência de autonomia (na tarefa; previsibilidade do trabalho; a monotonia e tédio; satisfação no trabalho). Má qualidade das relações sociais no trabalho (reconhecimento; apoio social; relações com os colegas e superiores; violência interna-discriminações, assédio moral e assédio sexual). Conflitos de valores (conflitos éticos; trabalho inútil). Insegurança na situação de trabalho/emprego (segurança no emprego, no salário e na carreira). 7
Consequências dos Riscos Psicossociais Empresas/Organizações Maior absentismo Menor dedicação ao trabalho, motivação e satisfação Menor rendimento, produtividade e qualidade Aumento de práticas de trabalho pouco seguras, erros, D.P. e A.C. Queixas, problemas legais Conflitos, más relações de trabalho, greves, baixas, despesas médicas, seguros, compensações Deterioração da imagem institucional Sociedade Custos económicos Saúde Pública (em termos mentais) 8
Consequências dos Riscos Psicossociais Saúde e Bem-Estar dos Trabalhadores Fisiológicas; Psicológicas; Cognitivas; Comportamentais Maior vulnerabilidade, marginalização, isolamento e descontinuidade na carreira Esgotamento físico, mental e emocional Fadiga, stress Relação entre riscos psicossociais e outros riscos!!! Dores nas costas (até 3x) Lesões músculo-esqueléticas (até 2-3 x) Abuso de substâncias (até 2 ou mais x) Conflitos e violência no local de trabalho (até 2-3 x) Depressão e ansiedade (até 2-3 x) 9
Gestão de Riscos Psicossociais 10
Satisfação, Tranquilidade e Alegria no Trabalho? Sim, Obrigado! O reconhecimento precoce dos riscos psicossociais no local de trabalho e práticas de comum acordo para a prevenção afetam a produtividade e a qualidade do serviço (Stavroula Leka, 2010). Investir no bem-estar dos trabalhadores deve ser visto como um investimento mais do que um custo. O bem-estar no trabalho requer ações por parte da gestão, mas, também por cada um de nós (Guy Ahonen, FIOH). 11
IMPORTANTE 12
A Prevenção INEFICÁCIA????? Desconhecimento sobre o que é o risco psicossocial. Descrença sobre a eficácia da sua prevenção. Desprendimento relativo à prevenção dos R. P. enquanto problema de gestão. Incapacidade profissional/pessoal de gerir sem criar riscos psicossociais. 13
A Prevenção A ausência ou ineficácia de prevenção parecem ter, em comum, na maioria das explicações, uma razão: a falta de uma abordagem de gestão de riscos. Os riscos psicossociais e a sua prevenção não podem, nem devem, ser, apenas, uma questão técnica, mas, também, uma questão de gestão. 14
A Prevenção OU SEJA: A prevenção de riscos psicossociais deve contemplar: Atuações tradicionais; Atuações de promoção da saúde no trabalho. PARA: Eliminar, evitar, diminuir os efeitos negativos do trabalho e manter ou potenciar os seus efeitos positivos com a finalidade de melhorar a saúde dos trabalhadores. Então, gerir riscos psicossociais: 15
A nível individual: prevenir queixas e reduzir riscos ou reduzir/tratar os efeitos dos riscos para quem já apresenta sintomas. Para Quê? A nível da interacção indivíduo/organização: melhorar relacionamentos e compatibilizar objectivos. A nível organizacional: enfatizar causas de raiz com vista a introduzir alterações na estrutura da organização. 16
De Que Forma 3 níveis de Intervenção 17
1. Eliminar/alterar factores de risco na origem, focando a organização ou grupos dentro dela. Planeamento e/ou Modificação dos Aspectos Organizacionais e dos Ambientes de Trabalho. 18
Descrição clara do posto de trabalho/tarefas/papéis e harmonizar responsabilidade e autoridade. Reduzir monotonia das tarefas/encorajar trabalho em equipa. Justiça nos estilos de gestão/aplicação de políticas e trabalhar lideranças, valores, normas e actos em bases éticas. Estipular com razoabilidade carga de trabalho, prazos, ritmos e exigências e proporcionar regimes de trabalho flexíveis. Proporcionar politicas e práticas de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho e uma cultura de suporte. Encorajar participação nos processos de decisão. Treinar e avaliar supervisores/chefias em termos de capacidades comunicacionais e de relacionamento interpessoal. Fornecer informação e recursos necessários para a execução do trabalho. Recompensar trabalho bem feito e mostrar apreço pelo esforço. ( ) 19
2. Melhorar a perceção e a gestão dos riscos para os trabalhadores em geral e para grupos em risco de exposição. Seleção Apropriada e Formação (Relacionamento Interpessoal; Gestão de Tempo; Gestão de Conflitos; Técnicas de Comunicação e Técnicas de Relaxamento). 20
3. Ações para minimizar os efeitos dos problemas em indivíduos já afetados pela exposição aos riscos. Aconselhamento Individual e/ou Tratamento; Procedimentos de Resolução de Conflitos; Modificações na Área, Horário e Organização do Trabalho; Rotatividade; Formação. 21
Como saber se eles existem? Instrumentos e Procedimentos de Avaliação de Riscos Psicossociais 22
Observação directa do processo de trabalho (desvios entre o prescrito e o realizado, por ex.) Análise de indicadores organizacionais e recolha de dados administrativos (níveis de absentismo, acidentes, danos...) Entrevistas (individuais ou em grupo) e questionários de autoinformação Check-lists (avaliação de conteúdos, condições e relações de trabalho e relações sociais no trabalho) 23
Quer ao nível dos fatores de risco profissionais quer ao nível dos problemas de saúde/segurança é a atividade de trabalho que está em jogo (o trabalho real) e não (somente) a tarefa (o trabalho prescrito). Caracterizar e compreender o contexto de trabalho (distinguir o trabalho prescrito do trabalho real; o vivido pelo trabalhador; a análise no terreno ). A análise dos riscos psicossociais deve ser feita a partir dos fatores, que estão na sua origem, e que são suscetíveis de alterar a saúde do trabalhador e não através das suas consequências. 24
Uma abordagem eficaz dos riscos psicossociais necessita menos de instrumentos específicos para a sua avaliação (e muito menos para a avaliação das suas consequências, enquanto forma de os medir) e mais de formas que permitam conhecer, em profundidade, e assim avaliar, as condições em que, concretamente se trabalha. Reconhecer os trabalhadores como atores da prevenção. Agir sobre as causas e não sobre os sintomas. O foco de avaliação/intervenção é a atividade de trabalho. 25
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