O Ambiente Econômico Asiático em 1999 Luiz Carlos Alves Jr De uma forma geral, o ambiente econômico do Leste e Sul da Ásia, durante o ano de 1999, foi marcado por sinais de recuperação da sua firme tendência de crescimento. Podemos dividir a região em três grupos, que manifestaram características distintas dentro do quadro geral enunciado. Num primeiro agrupamento, destacam-se a Coréia do Sul, entre Tailândia, Indonésia, Malásia e Filipinas. Nele estão os países diretamente atingidos pela forte crise de 1997, mas que manifestaram em 1999 uma performance econômica invejável, com índices de crescimento e recuperação inéditos. Um segundo grupo, de países que sofreram apenas tangencialmente os desdobramentos da crise financeira de 97. A redução do ritmo da atividade econômica e alguns impactos negativos nas contas externas foram as conseqüências mais comuns entre estas economias, dentre as quais pode-se destacar China, Índia e Taiwan. O Japão figurou sozinho no terceiro e último grupo de países; oscilando entre uma longa estagnação econômica e recessões de curto prazo, o país esteve envolvido, durante o ano de 1999, em esforços de reativar os inúmeros setores privados de sua economia e restabelecer a credibilidade de seu combalido sistema financeiro, através de uma política fiscal amplamente expansionista. No primeiro grupo acima mencionado, a renda interna alcançou taxas médias de crescimento equivalentes a 8,1%. Apesar das bases comparativas bastante favoráveis (os níveis de renda de 1998 e 1997) essa taxa demonstra forte dinamismo e uma acentuada capacidade de recuperação. O destaque foi o desempenho sul coreano, que alcançou 13% de expansão em 1999. Esses resultados estiveram associados em grande medida ao comportamento de setores associados ao mercado externo. Grande parte do crescimento da renda interna nessas regiões deveu-se ao aquecimento da demanda global, sobretudo norte-americano e europeu, para onde se destinou a maior parcela dos itens exportados por estes países. O relativo ganho de produtividade obtido a partir do ajustamento cambial nestas economias, em 1997, permitiu uma expansão significativa da participação destes países no comércio global de mercadorias. Na Coréia do Sul, por exemplo, as exportações 1
cresceram 8,6% em 1999 (U$ 143 bilhões), ou 5,5% acima dos níveis alcançados em 1997, enquanto isso as importações de 99 (U$ 119 bilhões) não passaram de 82% dos níveis daquele ano. Os resultados da Balança Comercial foram ainda mais contundentes. Os saldos cresceram em média 15% e na Indonésia essa expansão chegou a 26%. No conjunto, verificou-se um crescimento nos estoques de moedas estrangeiras (Reservas Internacionais) que passou de U$ 140 bilhões em fins de 1998, para U$ 180 bilhões em dezembro de 1999. No segundo grupo de países, Índia e China apresentaram desempenhos diferentes. Enquanto a Índia acelerou seu ritmo de crescimento, a China fez o oposto. Em 1999, a Índia viu seu produto expandir-se em 6,8%, contra 5,0% em 1998. Para isso contribuiu a produção agrícola, que cresceu 7,2%. Já na China, a expansão em 1999, foi menor que em 1998. O produto interno avançou 7,1%, contra 8,5% em 1998. Esse resultado deve-se ao crescimento do produto industrial, impulsionado pela restruturação das empresas estatais no país. Em ambos os casos o setor externo representou importante estímulo a atividade doméstica. As vendas indianas no mercado externo cresceram no período 12,9% O destaque foi para o setor de softwares, que cresceu 15% em 1999. Na China, a recuperação em 1999 da balança comercial foi de 28%, sobre os valores de 1998, reflexo dos ganhos de produtividade na indústria chinesa, que cresceu 6,3% durante o mesmo período. No Japão, a renda em 1999 permaneceu praticamente estagnada. Com uma expansão de apenas 0,3%, o produto japonês articulou-se à demanda interna, sobretudo nos setores de alta tecnologia: telecomunicações, eletrônicos e química fina. A paralisia econômica em 1999 foi conseqüência direta da crise financeira que assolou o país durante o biênio 1997/98 e da restruturação econômica que alcançou os principais ramos de atividade no país. Os reflexos negativos sobre o fluxo comercial japonês foram inevitáveis, num ambiente de quase inatividade econômica. As exportações recuaram 6,1% e atingiram U$ 432 bilhões, enquanto que as importações caíram 3,8% totalizando U$ 320 bilhões. Em conseqüência, o saldo acumulado da balança comercial caiu 13%, entre 1998 e 1999. A região que mais sofreu queda das compras externas japonesas foi a América Latina, com queda de 20%. As vendas de produtos japoneses encontrou nessa mesma região o nível mais acentuado de retração, cujos destaques foram Chile (-47%) e Brasil (-32%). Entre os favorecidos, num contexto de refluxo comercial, pode-se apontar os países membros da ASEAN (Association of South East Asian Nations), como aqueles 2
que mais expandiram suas relações comerciais com o Japão. A Coréia do Sul, contudo, foi o país que apresentou as variações mais relevantes na troca de mercadorias com empresas japonesas. As vendas desta para aquele país chegaram a crescer no período 30%, enquanto as compras subiram 15%. A situação dos preços internos na região foi amplamente beneficiada pelos ganhos de produtividade conseguidos, sobretudo entre o primeiro grupo de países. Na Coréia do Sul, o índice de preços ao consumidor avançou apenas 0,8%, enquanto os preços ao produtor recuaram, em média, 2,1%. Os preços no varejo recuaram 1,4% e no atacado a deflação foi de 3,0% na China. Na Índia, o índice geral de preços ao consumidor foi de 2,9% em dezembro de 1999, contra 8,8% no final de 1998. A sensível redução nos indicadores de inflação nestas economias está diretamente relacionada às políticas de abertura comercial e a queda nos preços internacionais das commodities e de produtos manufaturados, sobretudo aqueles relacionados aos setores de alta tecnologia. No Japão o nível de preços chegou a recuar 1,4%, consolidando uma conjuntura que mistura estagnação da atividade econômica e queda de preços. No que se refere ao emprego, contudo, as nações do sul e leste asiático revelam uma grande homogeneidade. Em praticamente todas as economias da região, o crescimento da atividade econômica não é refletido no nível de emprego interno. O recuo na taxa de desemprego sul-coreana, por exemplo, é completamente incompatível com as taxas de crescimento da economia, durante o ano de 1999. O desemprego caiu de 6,8% para 6,3%, numa conjuntura de expansão acelerada da renda doméstica (13%). Em Taiwan, a situação aponta para uma elevação do produto a uma taxa equivalente a 5,7% em 1999, contra 4,6% no ano anterior, diante da expansão na taxa de desemprego, que passou de 2,7% para 2,9% no mesmo período. Na China continental, apesar das estatísticas apontarem para níveis estáveis de desemprego igual a 3,1% em 1999, é crescente o número de trabalhadores que migram das regiões rurais do país para os grandes centros industriais em busca de melhores alternativas e ocupações mais rentáveis. Esses problemas estão relacionados em grande parte ao processo de restruturação das empresas estatais, mas também associam-se à redução relativa e gradual na expansão do produto chinês, durante os últimos anos. Na Índia, o desempenho do produto agrícola e a particularidade de sua estrutura social têm ajudado a manter grande parte da população rural longe dos perímetros urbanoindustriais, reduzindo as pressões sobre o nível de emprego no país, que apesar de ter melhorado durante o ano de 1999, não foi capaz de reduzir expressivamente a taxa de 3
emprego situada em 6,6%, contra 6,9% em 1998. No Japão o desemprego continuou a crescer e atingiu 4,9% em 1999, o maior índices desde fins da década de 60. As taxas de juros sul-coreanas, assim como na parte dos países situados no primeiro grupo de nações asiáticas, continuam bastante elevadas, apesar das melhorias nas condições gerais de suas contas externas. Na Coréia do Sul, a taxa nominal média de juros de longo prazo situou-se em 8,9%, para uma inflação de 0,8%. O diferencial entre inflação e juros é elevado também em países como Indonésia (inflação de 1,1% e juros de 12,0%); Filipinas (inflação de 3,3% e juros de 9,3%). Na Malásia (inflação de 1,5% e juros de 3,0%) e Tailândia (inflação de 1,0% e juros de 4,0%) o diferencial é menor. Na China, os juros de longo prazo em 1999 foram de 2,0%, compatíveis com os indicadores de preços no período e com a relativa folga nas suas contas externas. As reservas internacionais chinesas alcançaram em 99 os níveis de U$ 154 bilhões, alimentadas principalmente por saldos positivos em sua balança comercial (U$ 29 bilhões em 1999) e por relevantes fluxos de investimentos externos (U$ 40 bilhões em 1999). Na Índia, as taxas de juros estiveram, em média, ao redor de 9,6%, contra uma inflação de 2,9%. As pressões sobre o balanço fiscal indiano, que fechou o ano com um déficit de 4,5% do PIB, e as dificuldades de financiamento do déficit em conta corrente do país (3,8% do PIB) colaboraram para manterem elevadas as taxas de juros internas durante todo o ano de 1999, apesar da queda nos índices de preços. Impulsionado pela necessidade de restabelecer a credibilidade do sistema financeiro e não fragilizar o mercado de créditos no país, o Banco do Japão tem mantido baixas as taxas de juros internas. Em 1999, as taxas anuais estiveram ao redor de 0,6%. Essa medida tem ajudado as autoridades monetárias a financiar o crescente endividamento do tesouro japonês e a manter estável o iene. A dívida pública japonesa subiu, entre 1998 e 1999, de U$ 3,8 trilhões para U$ 4,3 trilhões (14,3%); enquanto o iene conseguiu estabilizar-se ao redor de U$ 0,009, sobretudo após o terceiro trimestre. A atual política fiscal implementada pelo PDL elevou o déficit fiscal japonês de 6,8% em 1998 para 7,6%, um ano depois. Grande parte dos recursos têm sido destinados ao saneamento financeiro nacional e apenas uma parte residual dos programas de investimento público têm sido canalizados para projetos na economia real, seja no setor privado, seja ano setor público. A conjuntura dominante entre as economias do sul e leste asiático, durante 1999, foi de recuperação e crescimento. As diferenças no perfil de financiamento deste 4
crescimento e nos segmentos mais relevantes deste movimento são evidentes e podem ser observados através do comportamento dos principais indicadores econômicos em cada um dos países na região. Os efeitos sociais, contudo, guardam fortes semelhanças principalmente no que diz respeito aos níveis de emprego e os seus impactos negativo sobre o crescimento econômico (redução da massa salarial, enfraquecimento dos mercados e redução no nível de poupança interna, pressões sobre o aparato estatal devido aumento no custo de financiamento social...) fazem surgir sérias dúvidas sobre a sua sustentação fora de um contexto econômico global caracterizado por uma forte expansão. 5