Dor miofascial - Diagnóstico e tratamento. Alexandra Fernandes Rute Soares Inês Gama

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Transcrição:

Dor miofascial - Diagnóstico e tratamento Alexandra Fernandes Rute Soares Inês Gama

1. INTRODUÇÃO - O QUE É A DOR MIOFASCIAL? Definição Dor musculo-esquelética não articular causada por trigger points localizados no músculo, na fascia, ou nas inserções tendinosas. 1 Síndrome doloroso miofascial é definido como o conjunto de sintomas sensitivos, motores e autónomos causados pela existência de trigger points miofasciais. 5

1. INTRODUÇÃO - IMPORTÂNCIA NA PRÁTICA CLÍNICA Prevalência/Incidência Afeta até 95% das pessoas com dor crónica. 1 Prevalência ao longo da vida 85% na população em geral. 2 Os distúrbios musculo-esqueléticos são a principal causa de incapacidade na população activa e estão ente as causas principais de incapacidade noutros grupo etários. 4

2. O QUE É UM TRIGGER POINT? Definição Trigger point miofascial é um ponto hiperirritável num músculo esquelético associado a nódulo hipersensível numa tautband (banda estirada). O ponto é doloroso à compressão e pode originar dor referida, com disfunção motora e fenómenos autonómicos.

2. O QUE É UM TRIGGER POINT?- ETIOLOGIA Etiologia Trauma agudo ou microtrauma repetitivo. Falta de exercício, má postura prolongada, défices vitaminicos, perturbações do sono, patologia articular Microtrauma. Actividades ocupacionais ou recreativas que produzem stress crónico num músculo. Exemplos: carregar pesos sem o movimento adequado, sentar numa cadeira sem apoio lombar, ténis, golf, etc. Sequelas de cirurgia da coluna, protese do joelho e da anca.

2. TRIGGER POINT VS TENDER POINT 3,4 Trigger points Hiperreactividade local, taut ba d, espas o, sinal do salto Singular ou múltiplo Pode ocorrer em qualquer músculo esquelético Pode causar um padrão específico de dor referida Tender points Hipersensibilidade local, sem taut band. Múltiplo Ocorrem em localizações específicas localizadas simetricamente Não causam dor referida, mas frequentemente causam um aumento da sensibilidade dolorosa da totalidade do corpo

2. TRIGGER POINT ACTIVO E LATENTE 4 Trigger points activos Causa dor em repouso Trigger points latentes Não causa dor espontaneamente Doloroso à palpação com o respectivo padrão de dor referida Esta dor é semelhante à queixa do paciente Pode restringir o movimento ou causar fraqueza muscular A pressão directa sobre o trigger point causa dor

4. TRIGGER POINT DIAGNÓSTICO 6 Manobras Flat palpation: Pesquisar o tónus muscular, verificando a existência de espasmos ou dor superficial. Finger tip palpation: percorrer as fibras musculares procurando tautband ou trigger point. Pincer palpation: entre o polegar e o indicador fazer uma pinça sobre o feixe afetado. Deep palpation: afastar o tecido superficial e aplicar pressão profunda com o dedo.

4. TRIGGER POINT DIAGNÓSTICO Taut band (anel negro) Trigger point (ponto vermelho) A Puxar a pele para um lado B Polpa do dedo desliza pelas fibras musculares para sentir o cordão C Puxar a pele para o outro lado para completar o movimento

3. QUADRO CLÍNICO DA DOR MIOFASCIAL 5 Características clínicas da dor miofascial Dor persistente regional Dor reprodutível e que não segue distribuição nervosa Restrição da amplitude de movimentos e diminuição da força dependentes do músculo afetado Os músculos mais afetados são os músculos posturais (pescoço, região lombar, cintura escapular e pélvica)

3. QUADRO CLÍNICO DA DOR MIOFASCIAL5

3. QUADRO CLÍNICO DA DOR MIOFASCIAL 5

5. TRATAMENTO DOR MIOFASCIAL 4,5,6 Terapêutica não farmacológica Acupuntura Técnicas osteopáticas manuais Massagem Fisioterapia Acupressão Compressão isquemiante Ultrassonografia Aplicação de calor ou frio Diatermia Estimulação eléctrica transcutânea Técnica combinada de spray de cloreto etilo (originalmente fluorimetano) e alongamento do músculo

5. TRATAMENTO DOR MIOFASCIAL 4,5,6 Compressão isquemiante A compressão de um trigger point causa a sua isquémia levando a um alívio da dor Pressionar o trigger point com pressão crescente até o paciente sentir um alivio da tensão Esta técnica acompanha-se de um desconforto inicial do paciente ao qual se segue alívio Utilizar em locais onde a injeção levanta maiores dificuldades devido a estruturas adjacentes

Terapêutica farmacológica 4. TRATAMENTO DOR MIOFASCIAL 4,5,6 Analgésicos, (flupirtina 300mg 3 a 4x por dia, paracetamol) AINE Antidepressivos Neurolépticos Relaxantes musculares Anticonvulsivantes

4. TRATAMENTO DOR MIOFASCIAL 4,5,6 Terapêutica por injecção do trigger point Anestésicos locais lidocaína Corticóides Toxina botuliníca Agulha seca Corticóide + lidocaína (Depomedrol com lidocaína )

4. TRATAMENTO DOR MIOFASCIAL 4,5,6 Terapêutica por injecção do trigger point Material Compressas esterilizadas Solução iodada Luvas esterilizadas Agulha intramuscular (verde) 40mm, triggerpoints superficiais e 50mm nos mais profundos 1 ampola de 2ml de Acetato de metilprednisolona + cloridrato de lidocaína, 40 mg/ml + 10mg/ml Penso rápido

4. TRATAMENTO DOR MIOFASCIAL 4,5,6 Contra Complicações indicações da injecção para a injecção de trigger de points trigger points Sincope vasovagal Pneumotorax Anticoagulação ou discrasias Presença de infecção local ou sistémica hemorrágicas Infecção cutânea Quebra da agulha Alergia aos anestésicos locais Ingestão Anafilaxia de aspirina nos 3 dias antes Formação de hematoma Trauma muscular agudo Miotoxicidade Medo extremo de agulhas

4. TRATAMENTO DOR MIOFASCIAL 4,5,6 NOTAS Aspirar antes de injetar Injecção sobre o trigger point em estrela Compressão hemostática durante pelo menos 2 min (duração superior nos doentes antiagregados) Alongamento completo do músculo a seguir à injeção Não restringir atividade, mas evitar esforços extremos nos dias 3-4 dias seguintes Repetir se necessário 7 a 10 dias depois o máximo 2x no mesmo local

5. BIBLIOGRAFIA 1. Malanga GA, Cruz Colon EJ. Myofascial low back pain: a review. Phys Med Rehabil Clin N Am. 2010 Nov;21(4):711-24. 2. Fleckenstein J. Discrepancy between prevalence and perceived effectiveness of treatment methods in myofascial pain syndrome: results of a cross-sectional, nationwide survey. BMC Musculoskelet Disord. 2010 Feb 11;11:32. 3. Travell JG, Simons DG. Myofascial Pain and Dysfunction: The Trigger Point Manual. Vols. 1 and 2. Williams & Wilkins, Baltimore, 1983; 132:184. 4. Alvarez DJ, Rockwell PG. Trigger Points: Diagnosis and Management. Am Fam Physician 2002;65:653-60. 5. Lavelle ED, Lavelle W, Smith HS. Myofascial Trigger Points. Anesthesiology Clin 25 (2007) 841 851 6. Yap EC. Myofascial Pain An Overview. Ann Acad Med Singapore 2007;36:43-8