DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DO EXTRATO PURIFICADO DO COGUMELO Agaricus blazei CULTIVADO POR FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO

Documentos relacionados
EXTRAÇÃO E PURIFICAÇÃO DE ANTIMICROBIANO DO COGUMELO Pleurotus sajor-caju

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA EXTRAÇÃO DE COMPOSTOS ANTIMICROBIANOS OBTIDOS DE FUNGOS COMESTÍVEIS

ESTABILIDADE TÉRMICA DE BACTERIOCINA PRODUZIDA POR Lactobacillus sakei

Integrantes do Laboratório de Microbiologia e Toxicologia de Alimentos

COGUMELO CAS: N/A DCB: N/A DCI: N/A

TÍTULO: OBTENÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO DE (-)-HINOQUININA A PARTIR DA BIOTRANSFORMAÇÃO FÚNGICA DA (-)-CUBEBINA POR ASPERGILLUS TERREUS

Introdução. Graduando do Curso de Engenharia Química FACISA/UNIVIÇOSA. gmail.com. 2

Meios de cultura bacteriano

Maria Eugênia Silveira da Rosa 1 ; Sheila Mello da Silveira 2 INTRODUÇÃO

MSc. Wagner Fernando Fuck Letícia Pavoni Grasselli Drª Mariliz Gutterres

ATIVIDADE SANIFICANTE DO ÓLEO ESSENCIAL DE CYMBOPOGON FLEXUOSOS CONTRA BIOFILMES SIMPLES FORMADOS POR PSEUDOMONAS AERUGINOSA

HIDRÓLISE DA LACTOSE A PARTIR DA ENZIMA - PROZYN LACTASE

Purificação de Proteínas

TÍTULO: AVALIAÇÃO DO PODER INIBITÓRIO DE EXTRATO DE CASCA DE PEPINO (CUCUMIS SATIVUS) FRENTE A ESCHERICHIA COLI

PROSPECÇÃO DE BACTÉRIAS E LEVEDURAS LIPOLÍTICAS DO ESTADO DO TOCANTINS PROMISSORAS EM APLICAÇÕES INDUSTRIAIS

Purificação de Proteínas

Determinação de sensibilidade bacteriana aos antimicrobianos

ATIVIDADE ANTAGONISTA DE BACTÉRIAS LÁCTICAS DE LEITES FERMENTADOS COMERCIALIZADOS EM VIÇOSA, MG

PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PROTEINASE EXTRACELULAR PRODUZIDA POR Candida krusei AP176.

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

Aula3: Nutrição, Metabolismo e Reprodução Microbiana

Aula Prática. - Preparo de meio de cultivo. - Influência da temperatura no crescimento de microrganismos

DIÁRIO DE BORDO. Título do projeto: Efeito da UV em CSB como medida de biossegurança. Código do projeto: 378

Curso Técnico em Análises Químicas Microbiologia. Meios de cultura

Microbilogia de Alimentos I- Curso de Engenharia de Alimentos Profª Valéria Ribeiro Maitan

Purificação de Proteínas

CULTIVO, NUTRIÇÃO E MEIOS DE CULTURA UTILIZADOS NO CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS

Avaliação do efeito fungicida e larvicida do óleo essencial do capim citronela

AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES ANTIMICROBIANA DOS EXTRATOS DE TABEBUIA ALBA E MYRACRODRUON URUNDEUVA

MEIOS DE CULTURA TIPOS DE MEIOS DE CULTURA

GUIA DOS MÉTODOS DE REFERÊNCIA

Revista Eletrônica de Biologia

Aula Prática. - Preparo de meio de cultivo. - Influência da temperatura no crescimento de microrganismos

Operações Unitárias: nanofiltração, ultrafiltração, microfiltração e osmose reversa. Profª. Camila Ortiz Martinez UTFPR Campo Mourão

Isolamento, Seleção e Cultivo de Bactérias Produtoras de Enzimas para Aplicação na Produção mais Limpa de Couros

Caraterização nutricional e funcional de três variedades portuguesas de figo de piteira Licenciatura em. Ciências da Nutrição

REGIANE GONÇALVES FEITOSA LEAL NUNES. ATIVIDADE BIOLÓGICA DE Lentinula edodes E PRODUÇÃO DE SHIITAKE EM SUBSTRATO ENRIQUECIDO COM SELÊNIO


Por que razão devemos comer fruta? Determinação da capacidade antioxidante da pêra abacate.

LEVANTAMENTO DA CURVA DE CRESCIMENTO DA BACTÉRIA M. PHLEI PARA OBTENÇÃO DE BIOMASSA EM ENSAIOS DE SEPARAÇÃO SÓLIDO-LÍQUIDO

Métodos de Purificação de Proteínas Nativas

Influência de hidrocolóides na cor de estruturado de maracujá-do-mato

TÍTULO: ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DOS EXTRATOS DE PITANGA E CAPIM CIDREIRA

Principais funções dos sais minerais:

EFEITO DO RESÍDUO EXAURIDO DO CULTIVO DE COGUMELOS SOBRE A GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Eucalyptus dunnii

Injúria microbiana. Talita Schneid Tejada. Pelotas, outubro de 2008

AÇÃO ANTIMICROBIANA E INTERAÇÃO ENDOFÍTICA EM SYMPHYTUM OFFICINALE L. ANTIMICROBIAN ACTION AND ENDOPHYTIC INTERACTION IN SYMPHYTUM OFFICINALE L.

Purificação parcial, Caracterização e Imobilização de lectina de sementes de Brosimum gaudichaudii.

Luxo do lixo. Dafne Angela Camargo*, Bruna Escaramboni, Pedro de Oliva Neto

QUI 070 Química Analítica V Análise Instrumental. Aula 11 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE)

K. A. DALLA COSTA¹, M. FERENZ², S. M. da SILVEIRA², R. MOURA², A. F. MILLEZI². Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões 2

AVALIAÇÃO DE FONTES DE CARBONO PARA A PRODUÇÃO DE INIBIDOR DE CRESCIMENTO DE Aspergillus fumigatus USP2 por Corynebacterium sp.

Tecnologia de Bioprocesso e Biotecnologia. Uso do hipoclorito de sódio como agente antimicrobiano nas escovas de dente

BASES MACROMOLECULARES CELULAR

LINHA DE PESQUISA TECNOLOGIAS EM SAÚDE ESPELHO DA PROVA

Avaliação da atividade antimicrobiana in vitro de óleo essencial de alho sobre bactérias patogênicas

Técnicas Microbiológicas

Utilização de microalgas na pirólise de lípidos para produção de biocombustíveis

Gabrieli Senger 1 ; Henriquy Aguiar Coelho 2 ; José Hilton Bernardino de Araújo 3 INTRODUÇÃO

PIMENTAS... o ardido que faz bem à saúde. Dra. Mônica Rosa Bertão, Dr. Darío Abel Palmieri

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR PALOTINA MESTRADO - BIOENERGIA BIOETANOL

Estudo farmacológico do óleo essencial de vários tipos de pimentas.

Artigo Docente texto original

Composição química da célula

Fatores que influenciam no crescimento. microbiano

Estudo do efeito antimicrobiano de diferentes concentrações de extrato de própolis.

FATORES INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS DE CONTROLE DO DESENVOLVIMENTO MICROBIANO EM ALIMENTOS

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE DIFERENTES MÉTODOS DE SECAGEM DE ERVAS AROMÁTICAS NO POTENCIAL ANTIOXIDANTE

ESTUDO DA EFICIÊNCIA DE ANTIBIOTICOS CONTRA BACTÉRIAS PATOGÊNICAS

Título Purificação de Produtos Biotecnológicos. Coordenadores: Adalberto Pessoa Jr. Beatriz Vahan Kilikian

TRABALHO DE BIOLOGIA QUÍMICA DA VIDA

Declaração de Conflitos de Interesse. Nada a declarar.

PROSPECÇÃO DE FUNGOS LIPOLÍTICOS DO ESTADO DO TOCANTINS PROMISSORES EM APLICAÇÕES INDUSTRIAIS PROPESQ GU3 # 003/2010

Nutrição bacteriana. José Gregório Cabrera Gomez

Fundamentos e Gestão de Laboratórios Métodos de separação de misturas

POTENCIAL ANTIBACTERIANO DO COGUMELO COMESTÍVEL Pleurotus ostreatus

TÉCNICA CROMATOGRÁFICA DE SEPARAÇÃO DE COMPOSTOS BIOATIVOS PRESENTES NAS CASCAS DO JAMBOLÃO (Syzygium cumini)

Ovos Além de poucas calorias, os ovos contêm mais de 12 vitaminas e minerais e ainda uma quantidade nada desprezível de proteínas, substância

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR PALOTINA MESTRADO - BIOENERGIA BIOETANOL

INFLUÊNCIA DOS COMPONENTES DE UM SABONETE LÍQUIDO SOBRE A AÇÃO ANTIBACTERIANA DO EXTRATO DE PAU-DE- JACARÉ (PIPTADENIA GONOACANTHA)

ATIVIDADE FUNGITÓXICA DO ÓLEO ESSENCIAL DO FRUTO DA PTERODON EMARGINATUS VOGEL, FABACEAE SOBRE FUNGOS FITOPATOGÊNICOS DO FEIJOEIRO.

3003 Síntese de 2-cloro-ciclohexanol a partir de ciclohexeno

Base destinada para a preparação do meio para a diferenciação e identificação de bactérias coliformes baseadas na fermentação da lactose.

SELEÇÃO DE BACTÉRIAS ENDOFÍTICAS DE PLANTAS DE ARROZ IRRIGADO NO ESTADO DO TOCANTINS

Química Orgânica Experimental I BAC CRITÉRIOS PARA CORREÇÃO DOS PRÉ-RELATÓRIOS E RELATÓRIOS

EFEITO DE DIFERENTES FORMAS DE PREPARO DO INÓCULO E DE CONCENTRAÇÕES DOS NUTRIENTES NA PRODUÇÃO DE ETANOL POR Saccharomyces cerevisiae UFPEDA 1238

PROCESSOS FERMENTATIVOS

Múcua. super fruto do passado.

As bases bioquímicas da vida

FABRICAÇÃO DO ÁLCOOL INTRODUÇÃO

CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA DE INGA ALBA E INGA CYLINDRICA: UMA AVALIAÇÃO DE POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO

Princípios de formulação de alimentos para cães e gatos. Aulus Carciofi

METABOLISMO DOS FUNGOS

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Decanato Acadêmico

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PROGRAMA DE DISCIPLINA

Universidade de Évora ICAAM Laboratório de Microbiologia do Solo 18/07/ /07/2011

Métodos de Purificação de Proteínas Nativas

ANÁLISE DA EFICÁCIA DO DECOCTO DA FOLHA DE CAJÁ (Spondias mombin L) COMO ANTISSÉPTICO NATURAL

EXTRATOS ORGÂNICOS DE PLANTAS NATIVAS DO CERRADO DOS GÊNEROS

Transcrição:

Revista CSBEA v. 2, n. 1 (2016)1 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DO EXTRATO PURIFICADO DO COGUMELO Agaricus blazei CULTIVADO POR FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO N. B. SOUZA * ¹, C. R. CONTESSA ¹, L. ALMEIDA ¹, A. P MANERA ¹ e C. C. MORAES ¹ ¹ Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA, 96413-170 - Bagé, RS Brasil *nathieli.souza.1995@gmail.com RESUMO - Cogumelos são fungos macroscópicos e por não possuírem clorofila, necessitam absorver nutrientes do ambiente para sobrevivência, utilizando substâncias orgânicas em decomposição para sua nutrição. Alguns cogumelos como o Agaricus blazei tem mostrado seu potencial antimicrobiano frente a bactérias, bolores e algumas doenças, pela ação de compostos bioativos encontrados no micélio e corpo de frutificação. Para um maior aproveitamento destes compostos do basidiocarpo do cogumelo, são necessárias etapas de purificação. Existem muitas formas de purificar um composto, mas as técnicas cromatográficas em geral são preferidas, por sua resolução e recuperação obtidas. Com isso, objetivou-se a extração, purificação por permeação em gel e a análise antimicrobiana do extrato do cogumelo Agaricus blazei, frente ao micro-organismo Staphylococcus aureus. A fim de avaliar a capacidade antimicrobiana do extrato, foram feitas análises de porcentagem de inibição utilizando a metodologia descrita pela NCCLS (2003), as leituras de absorvância dos poços da microplaca com as amostras, foram feitos em leitora de microplacas e após, foram realizados os cálculos de porcentagem de inibição. Os resultados de inibição obtidos foram satisfatórios para 3 frações purificadas do extrato, frente ao microorganismo estudado, mostrando a eficiência do processo de purificação, visto que a amostra bruta do extrato do cogumelo não apresentou inibição contra o mesmo micro-organismo. Palavras chaves: cogumelos comestíveis, antimicrobiano e purificação. 1. INTRODUÇÃO Cogumelos são fungos macroscópicos, segundo Raven (2007) que se caracterizam por serem saprófitas. Como não possuem clorofila, necessitam absorver nutrientes do ambiente para sobrevivência, utilizando substâncias orgânicas em decomposição para sua nutrição (TRABULSI, et. al., 2002). Os cogumelos podem ser alucinógenos, venenosos ou comestíveis, os pertencentes a esta última classificação tem em sua composição moléculas biologicamente ativas como polissacarídeos, glicoproteínas entre outras (NOVAES & FORTES, 2005).

Revista CSBEA v. 2, n. 1 (2016)2 Segundo Godoy (2008) existe na terra aproximadamente 140.000 espécies de cogumelos, dentre esses apenas 200 espécies já tiveram seus benefícios medicinais comprovados. Cogumelos em geral são alimentos com baixos teores energéticos além de elevadas quantidades de minerais, aminoácidos essenciais, vitaminas e fibras (MAZZUTI, 2012). O cogumelo Agaricus blazei também conhecido como Agaricus brasiliensis é um cogumelo comestível, nativo do Brasil conhecido comercialmente como Cogumelo do Sol, este possui importantes características funcionais e nutricionais (ALLIATTI, 2014). Segundo Mizuno et. al. (1990), o corpo de frutificação do Agaricus blazei fresco apresenta 85-87% de água e sua composição química em base seca é constituída de cerca de 40-45% de proteínas, rico em lisina e leucina, 3-5% de gorduras, sendo essas 72-85% polinsaturadas, apresenta 38-45% de carboidratos, 6-8% de fibras, 5-7% de cinzas, dentre estas minerais como potássio, cálcio, fósforo, magnésio, zinco, ferro, selênio e cádmio (MIZUNO, 2002). Além de vitaminas B1, B2, niacina, vitamina K e tocoferol (PIERO, 2003). Quanto a suas características medicinais, vários estudos têm reportado que o Agaricus blazei apresenta atividade antibactericida (BERNARDSHAW; JOHNSON; HETLAND, 2005), antioxidante (SILVA et. al., 2009), anticancerígena (MANTOVANI et. al., 2008) e antifúngica (MAZZUTI, 2012), entre outros. Contessa, et. al. (2014) sugere que a produção de compostos bioativos pelos cogumelos se dá quando estes se sentem ameaçados, produzindo-os como sistema de defesa. Um dos compostos bioativos mais estudados em cogumelos são as β-glucanas, polissacarídeos eficientes no tratamento de várias enfermidades (ELLERTSEN; HETLAND, 2009). Além deste composto o cogumelo Agaricus blazei apresenta moléculas bioativas com a lecitina, antitumoral, antimutagênica e hemaglutinizante; o ergosterol que funciona como anticarcinogênico e inibidor da angiogênese; o ácido linoléico que atua como bactericida; os esteróides que atuam contra os tumores; a arginina que funciona como anticarcinogênica e a glutamina com efeitos antioxidantes, entre outros (LAKHANPA; RANA, 2005; FORTES; NOVAES, 2006; SORIMACHI; NAKAMOTO, 2011) Para um maior aproveitamento de alguns compostos bioativos deste cogumelo, são necessários processos de purificação, este é um processo que consiste na separação de compostos, permitindo assim a purificação e em consequência a concentração do composto de interesse. Métodos de purificação por técnicas de alta resolução são muito utilizados para este tipo de processo, uma técnica interessante é a cromatográfica por exclusão molecular, onde a coluna é recheada com resina, que contem tamanhos dos poros controlados, na qual as moléculas menores penetram estes, levando mais tempo para saírem da coluna, já as com peso molecular maior não entram nos orifícios, percorrendo o interior da coluna mais rapidamente (ZUÑIGA, et. al., 2003). A cromatografia de permeação em gel por exclusão molecular quando utilizada no extrato de fungos tem como objetivo a separação de compostos presentes neste extrato, isolando os componentes com atividade antimicrobiana e ocasionando a eliminação dos compostos indesejáveis, separando-os em várias frações (PESSOA & KILIKIAN, 2005; SCHMIDELL et. al., 2001). O fungo Agaricus blazei produz compostos com atividade bacteriana e antifúngica como já comprovados por Mazzuti (2012), tendo em vista a importância destes compostos na indústria de alimentos percebe-se que sua purificação torna-se interessante para diversos ramos da indústria alimentícia. Por estes motivos, teve-se por objetivo extrair e purificar o extrato obtido de

Revista CSBEA v. 2, n. 1 (2016)3 Agaricus blazei e avaliar sua ação sobre o desenvolvimento da bactéria Staphylococcus aureus, patogênica ao homem. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Cultivo Para obtenção do extrato, foi necessário o cultivo do micélio do fungo Agaricus blazei em Agar Extrato de Malte, por fermentação em estado sólido. A partir de uma placa com o fungo já desenvolvido, este foi repicado com bisturi estéril, no tamanho de 1 cm² para um crescimento radial uniforme, então foi colocado sobre o Agar já solidificado em placa de Petri com 9 cm de diâmetro e incubado em estufa bacteriológica com circulação de ar à 25 ºC até o desenvolvimento total do fungo no perímetro da placa. 2.2. Extração O extrato do micélio do fungo Agaricus blazei foi obtido a partir da extração do agente antimicrobiano contido no micélio com auxílio de solvente com Twenn p.s. 80 e uma alça bacteriológica, que auxilia na raspagem das hifas presas ao Agar. Após a raspagem a solução resultante foi acondicionada em frasco âmbar, para evitar perdas de componentes por fotooxidação. O frasco contendo a amostra foi submetido à agitação em shaker na temperatura de 60 C. A solução foi filtrada com membrana de 0,45µm, para a retirada de partículas maiores presentes no extrato, que poderiam interferir nos procedimentos posteriores. 2.3. Purificação Foi utilizada uma coluna cromatográfica C10/20 (GE Healthcare), preenchida com gel Sephacryl (40 20.000 KDa) até altura de 10 cm. A coluna foi previamente recheada e esterilizada com álcool 70%. Após, foi alimentado 1 ml de extrato do cogumelo com auxílio do eluente tampão fosfato de sódio ph 6,5 e uma bomba peristáltica a uma vazão de 0,1 ml/min. Foram recolhidas 10 frações na saída da coluna, para análise da atividade antimicrobiana. 2.4. Análise Antimicrobiana Todas as análises foram feitas a partir da metodologia descrita nas normas da NCCLS (2003), onde nas microplacas com 96 poços foram adicionados 145 μl de caldo Müeller Hinton, utilizado como nutriente para o desenvolvimento do micro-organismo, 135 μl de extrato purificado, a fração de interesse ou a amostra bruta (sem purificação) e por último 20 μl de microbiota contaminante, neste caso o micro-organismo que se deseja analisar é o Staphylococcus aureus, o qual foi incubado em caldo BHI 24 horas antes do uso, todos os poços com amostra foram realizados em triplicata. Além dos poços com amostra, foi realizada uma triplicata de poços controle, onde no lugar das 135 μl de extrato, foi adicionada a mesma quantidade de água com Tween p.s. 80. Nestes poços considerou-se 100% de crescimento do micro-organismo para posteriores cálculos de porcentagem de inibição. As leituras de

% Inibição Revista CSBEA v. 2, n. 1 (2016)4 absorvância foram realizadas em leitora de Elisa na faixa de 630 nm, considerando duas leituras, uma após a inoculação do micro-organismo nos poços e uma 16 horas após a incubação na temperatura de 35 C em estufa bacteriológica. 2.5. Cálculos de Porcentagem de Inibição Os cálculos de porcentagem de inibição do micro-organismo foram realizados baseados na equação (1), onde a absorvância dos poços controle foram considerados como 100% de crescimento microbiano e a absorvância dos poços com amostras considerados como X%, onde quanto mais turvo o meio, maior o crescimento do micro-organismo naquela solução. % inibição= (100-Absorvância Poços Amostra) Absorvância Poços controle 100 (1) 2. RESULTADOS E DISCUSSÕES As porcentagens de inibição das 10 frações de extrato purificadas em relação ao microorganismo Staphylococcus aureus, estão dispostas na Figura 1. 70 60 50 40 30 20 10 0 63,36 1,94 4,31 0 0 0 0 0 0 0 0 s/ 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 purif. Frações de amostra Inibição do Staphylococcus aureus Figura 1- Porcentagem de inibição das frações frente ao micro-organismo Staphylococcus aureus. Na Figura 1, pode-se constatar que o cogumelo Agaricus blazei nas condições de estudo, não apresentou compostos com ação antimicrobiana no extrato bruto, contudo Contessa, et. al.

Revista CSBEA v. 2, n. 1 (2016)5 (2014) mostra que a porcentagem de inibição do agente depende das condições que o micélio do fungo está durante a extração. No entanto, o extrato apresentou compostos com ação antimicrobiana, que se destacaram após a purificação e seu isolamento nas frações 2, 7 e 8, sendo que na 7 o composto teve maior atividade contra o desenvolvimento do micro-organismo, 63,36% de inibição. Souza, et. al. (2014) em seus estudos apontam uma porcentagem de 23,4 ± 0,32% de inibição do extrato bruto do cogumelo Agaricus blazei, cultivado por fermentação em estado sólido em Agar dextrose batata, contra o micro-organismo Staphylococcus aureus e 11,08 ± 0,16% para o micro-organismo Escherichia coli, nas mesmas condições de estudo, confirmam os resultados satisfatórios quanto à presença do agente. Os resultados de Mazzuti (2012) demonstraram o poder de controle da bacteriose do tomateiro provocada por Xanthomonas vesicatoria, a partir do extrato aquoso de basidiocarpos de Agaricus blazei, comprovando a presença de compostos com ação antibactericida com poder de controle da bactéria. Contudo, são necessários mais estudos na área de purificação de biocompostos oriundos de extratos de biomassa de cogumelos, pois ainda é uma área de pesquisa pouco explorada e estes fungos se mostram interessantes quanto à presença de compostos com diversas ações de interesse na indústria tanto alimentícia como farmacêutica e cosmética. Os próximos estudos serão voltados à determinação e caracterização dos compostos presentes neste extrato, que apresentam ação antimicrobiana contra outros micro-organismos estudados. 5. CONCLUSÃO Conclui-se que o micélio do cogumelo Agaricus blazei produziu compostos com ação antimicrobiana, que se destacaram após a purificação pela técnica de permeação em gel, nas condições de estudo. A purificação resultou em 3 frações com atividade antimicrobiana, sendo que em uma delas obteve-se cerca de 63% de inibição frente ao S. aureus, mostrando a eficiência do processo. 6. AGRADECIMENTOS Ao laboratório de Microbiologia e Toxicologia de Alimentos (LMTA) da Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA, Campus Bagé, pelo espaço físico, ao Programa de Desenvolvimento Acadêmico PDA e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo incentivo financeiro à pesquisa e a Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB pela oportunidade. 7. REFERÊNCIAS

Revista CSBEA v. 2, n. 1 (2016)6 ALLIATI, C. Enriquecimento nutricional no cultivo do Agaricus blazei com ferro e zinco e elaboração de preparação alimentícia com a farinha do cogumelo. Centro Universitário UNIVATES. 99 pag. Lajeado RS. 2014. BERNARDSHAW, S; JOHNSON, E; HETLAND, G. An Extract of the Mushroom Agaricus blazei Murill Administered Orally Protects Against Systemic Streptococcus pneumoniae Infection in Mice. Scandinavian Journal of Immunology, v. 62, n. 4, p. 393-398, 2005. CONTESSA, C. R; SOUZA, N. B; ALMEIDA, L; MANERA, A. P; MORAES, C. C. Avaliação da atividade antimicrobiana do cogumelo comestível Pleorutus sajor-caju em diferentes temperaturas. XXVI Congresso Regional de Iniciação Científica e Tecnológica em Engenharia - CRICTE, 2014. FORTES, R. C; NOVAES, M. R. C. G. Efeitos da suplementação dietética com cogumelos Agaricales e outros fungos medicinais na terapia contra o câncer. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 52, n. 4, p. 363-371, 2006. LAKHANPAL, T. N; RANA, M. Medicinal and nutraceutical genetic resources of mushrooms. Plant Genetic Resources, v. 3, n. 2, p. 288-303, 2005. MANTOVANI, M. S; Bellini, M. F; Angeli, J. P. F; Oliveira, R. J; Silva, A. F; Ribeiro, L. R. β-glucans in promoting health: Prevention against mutation and cancer. Reviews in Mutation Research, v. 658, n. 3, p. 154-161, 2008. MAZZUTTI, S. Obtenção de extrato de Cogumelo do Sol (Agaricus Brasiliensis): atividade antioxidante, antibacteriana e antifúngica. Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis. 119 pag. Santa Catarina- SC, 2012. MIZUNO, T. Medicinal Properties and Clinical Effects of Culinary-Medicinal Mushroom Agaricus blazei Murrill (Agaricomycetideae) (Review). International Journal of Medicinal Mushrooms, v. 4, 299-312, 2002. MIZUNO, T; HAGIWARA, T; NAKAMURA, T; ITO, H; SHIMURA, K; SUMIYA, T; ASAKURA, A. Antitumor activity and some properties of water-soluble polysaccharides from Himematsutake, the fruiting body of Agaricus blazei Murill. Agricultural and Biological Chemistry, v. 54, n. 11, p. 2889 2896, 1990. NCCLS. Metodologia dos testes de sensibilidade a agentes antimicrobianos por diluição para bactéria de crescimento aeróbico: Norma Aprovada Sexta Edição; v. 23, nº. 2, 2003. NOVAES, M. R. C. G; FORTES R. C. Efeitos antitumorais de cogumelos comestíveis da família agaricaceae. Nutr Bras 2005;4(4):207-17.

Revista CSBEA v. 2, n. 1 (2016)7 PESSOA, Jr. A; KILIKIAN, B. V. Purificação de Produtos Biotecnológicos. 1ª ed. Barueri- SP: Manole, 2005. PIERO, R. M. Potencial dos cogumelos Lentinula edodes (Shitake) e Agaricus blazei (Cogumelo-do-Sol) no controle de doenças em plantas de pepino, maracujá e tomate e a purificação parcial de compostos biologicamente ativos. Universidade de São Paulo USP. 171 pag. Piracicaba SP. 2003. RAVEN, P. H; EVERT, R. F; EICHHORN, S. E. Biologia Vegetal. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. SILVA, A. C. et al. Utilização de extrato de cogumelo como antioxidante natural em óleo vegetal. Ciência e agrotecnologia, v. 33, n. 4, p. 1103-1108, 2009. SORIMACHI, K; NAKAMOTO, T. Alternative Medicine Safety: Agaricus blazei and Propolis. Combinatorial Chemistry & High Throughput Screening, v. 14, p. 616-621, 2011. SOUZA, N. B; CONTESSA, C. R; ALMEIDA, L; MANERA, A. P; MORAES, C. C. Obtenção de compostos antimicrobianos a partir de diferentes espécies de cogumelos comestíveis. Universidade Federal do Pampa. Bagé RS, 2014. SOUZA, N. B; CONTESSA, C. R; ALMEIDA, L; MANERA, A. P; MORAES, C. C; Extração e purificação por ultrafiltração de compostos bioativos de Agaricus blazei. Universidade Federal do Pampa. Bagé RS, 2015. TRABULSI, L. R. Microbiologia. Rio de Janeiro: Atheneu, 2002. ZUÑIGA, A. D. G; PEREIRA, J. A. M; COIMBRA, J. S. R; MINIM, L. A; ROJAS, E. E. G. Revisão: Técnicas usadas no processo de purificação de Biomoléculas. Revista B. CEPPA, Curitiba, v. 21, n. 1, p. 61-82, Paraná, 2003.