Comparação da Suinocultura nas Regiões de Fronteira e Tradicional

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Transcrição:

Comparação da Suinocultura nas Regiões de Fronteira e Tradicional Resumo: Luiz Rodrigo Teixeira Lot Sergio De Zen Em 2002, a suinocultura no Brasil enfrentou uma grande crise econômica. O setor sofreu com o desabastecimento do milho, principal componente da ração. Além disso, a alta do dólar frente ao real impulsionou o custo de produção da atividade. Por outro lado, os preços do animal vivo caminhavam no sentido inverso, agravando a crise dos produtores. Além disso, outros fatores, como a doenças Aujesky, limitaram a exportação do produto brasileiro ao mercado externo, gerando excedente no mercado doméstico e agravando ainda mais a crise. O trabalho tem como objetivo, comparar os custo de produção de duas regiões produtoras de suínos em grande escala (acima de 900 matrizes), sendo uma tradicional e outra de fronteira. Para esta análise, foram aplicados questionários levantando o custo da produção. Com base nessas informações determinou-se a participação de cada fator no custo operacional de produção; e o comportamento de cada região na crise da suinocultura mencionada anteriormente. O resultado mostrou que os salários e encargos encareceram a atividade para o produtor tradicional em relação ao produtor de fronteira. O acesso aos insumos também deixou os tradicionais menos competitivos. Com tudo, as altas nos preços de carne suína em setembro e outubro e a normalização da oferta de grãos em São Paulo, mantiveram os criadores paulistas na atividade devido a maior margem de comercialização obtida em relação aos produtores da região de fronteira. Palavras-chave: Custo de produção, gestão, suinocultura. 1.Introdução: Em 2002, a suinocultura no Brasil enfrentou uma grande crise econômica. O setor sofreu com o desabastecimento do milho, principal componente da ração, e com a alta do dólar frente ao real encarecendo o custo de produção da atividade. Por outro lado, os preços do animal vivo caminhavam no sentido inverso, agravando a crise dos produtores. Em junho de 2003, a cotação estava entre R$ 1,50 e R$ 1,60 o quilo vivo, abaixo do custo médio de produção que estava em torno de R$ 1,70 o quilo vivo terminado. Além disso, outros fatores, como a doença Aujesky, limitaram a exportação do produto brasileiro, gerando excedente no mercado doméstico e acentuando ainda mais a crise. O baixo preço do suíno vivo de fevereiro de 2002 até agosto de 2003 provocou a saída de diversos produtores da atividade, principalmente dos suinocultores independentes. Durante a crise, produtores associados a cooperativas negociavam seus animais vivos ao mesmo preço de referência dos integrados da região Sul, mantendo-se protegidos contra a variação do preço no mercado de carne fresca em relação aos produtores independentes. O presente trabalho busca estudar os custos dos produtores independentes da região de Campinas (SP) e dos integrados da região de São Gabriel do Oeste (MS) em dois períodos. Durante o momento mais crítico da crise da suinocultura em julho de 2003 e em setembro de 2003 quando a crise dava sinais de ter passado, com a estabilização do preço do milho e da soja (principais componentes da ração) e da alta nos preços recebidos pelos criadores. A elaboração dos custos de produção dependem dos sistemas de produção e das estruturas.

Neste trabalho estão definidos os principais sistemas de produção. Depois é feita uma rápida descrição da forma de cálculo dos custos e por fim é feita uma análise dos custos, onde ficam evidentes as vantagens das regiões de produção de grãos e as discutem-se as possíveis causas disso. 2.Objetivo: Determinar e comparar o custo de produção da suinocultura nas regiões de São Paulo e São Gabriel do Oeste MS, ressaltando as diferenças encontradas em cada região. As propriedades estudadas são de ciclo completo, confinamento de alta tecnologia. 3.Sistemas de Produção: O sistema de produção pode ser classificado segundo Gomes et al. (1992) citado por Lopes (1997), de acordo com o nível de confinamento, tipo e estrutura de produção. 3.1 Tipos de confinamento: Confinamento de alta tecnologia e eficiência, apresentando um caráter empresarial, com alta produtividade com modernas técnicas de exploração. Sistema de confinamento tradicional possui baixo custo e/ou baixa tecnologia, podendo não ser a suinocultura a principal atividade da propriedade rural, portanto nem todas as modernas técnicas são utilizadas. Sistema de semiconfinamento tradicional, com baixo custo e baixa tecnologia, podendo ou não propiciar controle dos animais aos piquetes, este consiste em pequenas áreas de pasto cercadas, onde os animais permanecem para o manejo. Na fase de terminação os animais são confinados. Sistemas de criação ao ar livre, onde os animais ficam nos piquetes e na fase de terminação ficam confinados. Por último o sistema extensivo, onde os animais ficam no campo. 3.2 Estrutura de produção: Ciclo completo, que é o mais usado, onde o suinocultor participa desde a criação dos leitões e inseminação das matrizes até a terminação. O Sistema de produção de leitões (SPL) geralmente está vinculado a um sistema de integração ou parceria, esse sistema possui alto grau de especialização, onde o criador fica responsável somente pela reprodução dos leitões, repassando para outro criador as demais fases. No SPL, o criador pode vender o leitão desmamado, de 21 dias (6kg) ou pronto para a terminação, com 20kg a 25kg, nesse último modo a granja dispõe de alojamentos para a creche, onde os leitões permanecem após a desmama. Produção de terminados, juntamente com o SPL possui duas formas, o mais usual e adquirir animais 25kg prontos para terminação, mas podem comprar os leitões com 21 dias, sendo necessário instalações de creche ou pré-terminação. Esse sistema tem como produto final o leitão de 90 a 100 quilos que será abatido nos frigoríficos. Produção de reprodutores, a maioria das granjas que operam nesse sistema estão estruturadas em granjas núcleos e granjas multiplicadoras. As granjas núcleo, que mantêm um plantel fechado de animais de raça pura com alto genético e sanitário, realizando cruzamentos entre elas visando o aprimoramento delas e abastecendo as granjas multiplicadoras onde é feito o cruzamento entre as raças puras fornecidas pela

granja núcleo, procurando ter melhor aproveitamento do vigor híbrido repassando os resultados desses cruzamentos para os suinocultores comerciais. 3.3 Tipos de estrutura: Verticalizada, quando uma só empresa se responsabiliza da produção a industrialização, incluindo a reprodução do material genético. Integração vertical, sendo formada por duas partes distintas, o produtor fica responsável pela mão-de-obra, instalações e venda dos terminados ou leitões desmamados para a integradora, que se compromete a fornecer assistência técnica, medicamentos, nutrição total ou parcial e genética, além da compra dos animais (leitões ou terminados). Essa relação é mantida através de um contrato entre as partes. Integração horizontal, muito semelhante a vertical, porém o integrador é uma cooperativa ou associação de produtores. Especialização, nessa estrutura todos os componentes fornecedores dos insumos (alimentos, medicamentos, máquinas e etc...), assistência técnica, criadores e industrias são especializados em suas funções, tendo ambição de aumento do porte. Existe uma tendência à redução do número de agentes de cada setor. Os criadores são classificados como médio e de grande porte, sendo livres compradores de insumos e contratadores de assistência técnica. Comercializam seus animais com intermediários ou direto com os abatedouros. Por serem de médio e grande porte, esses criadores obtêm melhores condições de preços na compra de insumos e venda dos animais, quando a situação econômica do setor suinícola é boa. 4.Panorama Atual: O rebanho brasileiro concentrasse na região sul, com 34,21%, esta região é a mais tecnificada, com grande concentração de empresas de processamento, trabalhando em sistema de integração, segundo Lopes, (1997). A região Centro Oeste apresenta um grande potencial para o crescimento da suinocultura, devido a sua importância na produção de grãos (milho e soja), que são os principais componentes da ração. A produção vegetal pode ser transformada em proteína animal agregando valor à produção na região. Dessa forma, essas regiões passam a exportar produtos de maior valor e ao mesmo tempo os produtores poderiam contar com mais uma opção de atividade dentro de suas propriedades. O estado de São Paulo é um grande mercado consumidor de carne suína. A produção concentra-se nas regiões de Campinas, Fartura e Bragança Paulista. Essas regiões possuem potenciais para produzir e abastecer o próprio estado, mas dependem do grão proveniente de outras regiões. A grande maioria dos produtores paulista é independente. Por outro lado, a região de São Gabriel do Oeste possui vantagens quanto à oferta de grãos e apresenta um bom desenvolvimento agroindustrial segundo Pinazza (1994), citado por Lopes (1997). Estas vantagens estão atraindo investimentos das agroindústrias, que optam por trazer aos grandes centros consumidores, carne pronta para ser consumida, com maior valor agregado, ao invés de transportar milho e soja com baixo valor agregado. Durante a crise, que se encerrou por volta de agosto de 2003, vários produtores reduziram suas matrizes e outros saíram da atividade, provocando uma grande queda na oferta, impulsionando os preços que estavam abaixo do custo médio de produção. O mercado está se recuperando. A crise que durou cerca de 18 meses está dando sinais de melhora devido à alta nos preços recebidos pelos produtores e à estabilização da oferta de milho e soja. A Associação Paulista dos Criadores de Suínos APCS (2003), porém, alerta que a melhora nos preços pode atrair aventureiros ou fazer com que alguns produtores

aumentem a produção para recuperar mais rápido os prejuízos que tiveram durante a crise, e dessa forma pode-se caminhar para uma nova crise no futuro. 5.Metodologia: O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) vêm acompanhando desde 2001 algumas propriedades criadoras de suínos nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, buscando quantificar os custos operacionais efetivos da produção nessas localidades. Como as propriedades possuem diferentes características estruturais e regionais, optou-se pela divulgação e análise do Custo Operacional Efetivo (COE). O COE, refere-se a todos os gastos assumidos pela propriedade ao longo de um ano e que serão consumidos neste mesmo intervalo de tempo. Este item é dividido em custos variáveis, que variam conforme a quantidade produzida (ex.vacinas que variam conforme o número de animais) e custos fixos (ex: impostos, como o ITR, ou a contribuição sindical). O Custo Operacional Total (COT) refere-se a soma do COE com o valor das depreciações de construções, benfeitorias, máquinas e implementos. A depreciação das máquinas e dos implementos utilizados nesta planilha é igual aos cálculos das depreciações de construções, benfeitorias e equipamentos. Todos levam em consideração a depreciação linear, utilizando apenas o valor unitário, o valor residual e o tempo de vida útil em anos, de cada bem. 6. Dados: Para análise, aplicaram-se questionários sobre o custo operacional de produção e do comportamento dos agentes de cada localidade na crise da suinocultura mencionada. Através desses questionários foram levantados os índices zootécnicos de cada região produtora e suas características, como número de matrizes, peso de abate, preço de comercialização, preço dos insumos. Os principais dados coletados seguem a seguinte descrição: Gastos anuais com ração para todas as fases dos suínos de cada granja; pesquisou-se a quantidade de ração fornecida em cada fase e foi coletado o custo de cada tipo de ração. A multiplicação do custo da ração por tipo pelo consumo em cada etapa forneceu o custo total com ração. Gastos anuais com mão-de-obra e encargos trabalhistas, incluindo todos os salários anuais, eventuais bônus, pagamentos de horas extras e os encargos trabalhistas. Gastos com energia elétrica, água, combustível e fretes. Gastos anuais com medicamentos, vacinas, inseminação artificial e serviços veterinários. Gastos com impostos como Fundo Rural, ITR, Imposto de Renda, etc; Despesas com contribuições a sindicatos, associações, federações e cooperativas; Gastos com a reposição de plantel. Gastos administrativos de material de escritório, despesas com telefone, viagens a cursos, palestras e congressos para aperfeiçoamento técnico, custos com manutenção das instalações, veículos e equipamentos, além de outras despesas que o produtor venha a ter na atividade.

Esses gastos divididos pelo total de carne produzida iram resultar no custo final por quilo vivo produzido. Com as informações em mãos, foi possível estabelecer o custo de produção por quilo terminado em cada região, e a participação de cada fator nesse custo. Para estimar a produção da granja foram utilizados os índices zootécnicos a fim de medir a produtividade e eficiência das granjas. Os itens solicitados aos produtores foram: Taxa de repetição de cio, a repetição de cio ocorre quando por quaisquer motivos as matrizes tenham tido algum problema na gestação, não chegando a parir e que atualmente estão em gestação novamente. Essa taxa tende a ser menor para granjas com uso de inseminação artificial devido a sua maior eficiência. Taxa de matrizes que abortaram, estavam vazias ou então tiveram os partos descartados; Taxa da reposição anual de matrizes (em %); Taxa da reposição anual de cachaços (em %); Leitões nascidos vivos por parto; Taxa de suínos natimortos e mumificados (em %) Mortalidade na maternidade (em %), considera se maternidade o período que vai do nascimento até o fim da desmama que acontece em média com 21 dias. Mortalidade na creche (em%), considera se creche o período que vai do fim da desmama até aproximadamente os 60 dias de vida do suíno. Mortalidade no crescimento, considera-se crescimento o período que vai do fim da creche até aproximadamente os 110 120 dias de vida do animal; Mortalidade na terminação (em%), considera se o período de terminação o período que vai do fim do período de crescimento até o animal chegar ao abate. Partos na vida da matriz; Número médio de partos na vida das matrizes, geralmente em torno de seis partos; Peso de abate dos suínos terminados (em kg); Por se tratar da produção de animais que não saem com pesos exatamente iguais adota se uma média do peso de abate. Peso de venda dos leitões (em kg); Peso de venda das matrizes como descarte (em kg); Peso de venda dos cachaços como descarte (em kg); Duração da gestação (em dias); Intervalo entre a desmama e a cobertura (em dias); Peso médio ao nascer (em kg); Inicio de fornecimento de ração; Peso médio ao desmame (em kg); Idade média ao desmame; Peso médio a saída da creche (em kg); Idade média a saída da creche (em dias); Idade de abate (em dias); 7. Resultado e Discussão: Os valores pagos pelos insumos e pela mão de obra no estado de São Paulo são maiores que os preços pagos em São Gabriel do Oeste. O gasto com ração na propriedade sul mato-grossense que está em cerca de 80% do C.O. Uma possível explicação é o maior peso de abate dos animais terminados, em média 115 kg, portanto, o animal consume mais ração para atingir esse peso e diluem os demais custos fixos. No estado de São Paulo os dispêndios com salários e encargos são maiores, pois são diluídos em escalas menores. Uma vez que, nas

propriedades paulistas o peso médio de abate está em torno de 92 kg. De forma, o gasto com ração tem uma participação em torno de 70% a 75% do custo operacional efetivo. Na Tabela 1, pode-se observar que em junho/2003, no momento de crise o salário representava 5,71% do COE e a ração 79,67% em São Gabriel do Oeste e 7,04% e a ração 76,45% em São Paulo. Passada a crise, com a regularização da oferta de milho em setembro de 2003, em decorrência da maior oferta do produto devido à boa produtividade da segunda safra, a participação dos salários e da ração altera-se de maneira mais significativa em São Paulo onde os salários passam a pesar 9,44% e a ração 71,30%. Em termos de valores absolutos do COE, em São Gabriel do Oeste ocorre uma redução de 1,72% nos custos e em SP ocorre um aumento de 2,69%. Isso de certa forma mostra como os custos das duas regiões apresentam sentidos opostos e causam efeitos distintos entre os produtores das duas regiões. Os demais itens que compõem os custos mantiveram-se estáveis nas regiões em estudo. O tipo de produto colocado no mercado é uma das explicações para essas diferenças. Em SP os frigoríficos destinam o grosso da produção para atender o mercado doméstico de carne fresca enquanto no centro-oeste as empresas destinam a produção para atender a demanda de carne para embutidos e a exportação de carcaça. A crise acentua-se em SP quando as empresas do centro-oeste e do sul têm excesso de produção e resolvem colocar essa carne no mercado paulista. O abate dos animais mais pesados dilui os custos fixos da atividade e deixa mais competitiva a produção do sul e do centro-oeste. Além disso, existe a proximidade das regiões produtoras de grãos que facilita a aquisição e mesmo a opção por fontes substitutas de carboidrato na composição da ração. TABELA 1: Valor adicionado por item no custo operacional efetivo do kg vivo do suíno terminado em julho e setembro de 2003. São Gabriel - MS R$/kg vivo São Paulo - SP R$/kg vivo jul/03 % set/03 % jul/03 % set/03 % Combustível/energia 0,024 1,51% 0,026 1,65% 0,044 2,59% 0,048 2,74% Contribuição Sindical 0,000 0,01% 0,000 0,01% 0,003 0,17% 0,002 0,13% Encargos sociais 0,044 2,80% 0,040 2,61% 0,059 3,46% 0,081 4,59% Impostos 0,058 3,66% 0,061 3,97% 0,040 2,36% 0,060 3,42% Manutenção/Viagens/Outros 0,006 0,36% 0,003 0,20% 0,028 1,66% 0,030 1,70% Medicamentos/veterinarios 0,060 3,84% 0,022 1,44% 0,049 2,89% 0,013 0,73% Reposição plantel 0,019 1,23% 0,047 3,06% 0,059 3,45% 0,072 4,08% Salários 0,090 5,71% 0,082 5,32% 0,120 7,04% 0,166 9,44% Ração 1,252 79,67% 1,239 80,24% 1,307 76,45% 1,252 71,30% COE 1,571 100,00% 1,544 100,00% 1,710 100,00% 1,756 100,00% Fonte: Dados da Pesquisa. No mercado paulista, os produtores apertados pela crise reduzem o peso de abate de 105 kg para 91 kg, procurando manter a competitividade. O produtor de São Gabriel manteve o peso de abate em torno de 115 kg, mas substituiu o milho pelo sorgo na alimentação de seus animais por ser, cerca de 25% mais barato em relação ao milho. Neste caso, é necessário comparar os indicadores de produtividade. Em São Gabriel do Oeste o rendimento na fase de maternidade é melhor, tendo em média 25 leitões desmamados por matriz/ano. Em São Paulo esse índice foi de 23 leitões. Esse indicador é vital para a diluição dos custos fixos, uma vez que reduz os dispêndios com as matrizes em quase 10%. Nas demais etapas o melhor desempenho do MS também é observado.o número de animais terminados por matriz ano também é maior na região de fronteira, 24,82 animais contra 22,08 animais na região tradicional. A idade das granjas e a assistência técnica fornecida pela integradora são alguns dos pontos importantes para justificar esse desempenho.

O segundo indicador é a taxa de conversão alimentar, que é obtida pela divisão da quantidade de ração utilizada (Kg) pelo peso total de terminados vendidos (Kg). As taxas de conversão alimentar estão melhores na região tradicional, por exemplo, para obter um quilo de suíno vivo terminado são necessários 3,12 quilos de ração, enquanto na região de fronteira são necessários 3,25 quilos de ração para um quilo de terminado. A taxa de conversão alimentar é menos eficiente na região de fronteira devido à utilização do sorgo. Analisando-se a relação custo beneficio da conversão alimentar, ou seja, dividindo o total gasto em reais com ração pelo peso total de terminados vendidos (Kg), constata-se que a região tradicional gasta R$1,316/kg terminado e a de fronteira R$ 1,268. Isto demonstra que a utilização do sorgo, apesar de piorar a taxa de conversão, é cerca de 3,65% mais vantajosa economicamente. 0,180 0,160 0,140 0,120 0,100 0,080 0,060 0,040 0,020 - São Gabriel jul/03 São Gabriel set/03 São Paulo jul/03 São Paulo set/03 C ombustível/energia Encargos sociais Impo s to s M anutenção/viagens/outros M edicamentos/veterinarios Reposição plantel Salários C ontribuição Sindical Figura 1: Comparação do custo nas regiões nos meses de julho e setembro Fonte: CEPEA/ESALQ/USP - FAO Na figura 1, é possível verificar que os dispêndios com medicamentos tem redução nas duas regiões. Isso ocorre pelo fato de que esse insumo está atrelado ao câmbio e com a valorização do Real no final de 2003 os gastos com esses insumos decaem. Os gastos administrativos (manutenção/viagens/outros) são menores em MS que em SP. A permanência do produtor paulista na atividade deve-se principalmente à rentabilidade com a alta do preço do produto no mercado. Em São Paulo o mês de setembro registrou preços de R$ 2,45 por quilo vivo, enquanto os integrados de São Gabriel estavam negociando a R$ 1,80 por quilo terminado. As altas nos preços são repassadas para os produtores integrados de maneira lenta, já que é estabelecida por contratos, porém, assumem menos riscos quanto à oferta de grãos. 8. Conclusão: Através deste trabalho foi possível comparar os custos de produção de duas fortes regiões produtores de suínos do Brasil. Para a região considerada como fronteira na produção de suínos, São Gabriel do Oeste apresentou menores custos em relação a São Paulo, face à maior oferta de matéria-prima como o milho e a soja para produção de ração, além da mão-de-obra mais barata. Além disso, a região produz sorgo concorrendo com o milho como insumo, caso este último tenha uma forte alta de preço.

Por ter instalações mais modernas e competitivas, São Gabriel do Oeste apresenta melhores índices zootécnicos, como mortalidades mais baixas em todas as fases e por não apresentar altos gastos com manutenção predial. Para enfrentar a crise, os produtores conseguiram manter o peso de abate, mas substituíram o milho pelo sorgo. Verificou-se que a região tradicional de Campinas (SP) apresentou uma maior dependência, principalmente, quanto à oferta de matéria-prima e mão-de-obra. O custo elevado pode ser devido à presença de grandes indústrias e da classe de trabalhadores muito organizada na região. Com relação a crise, esta provocou uma diminuição do peso de abate e redução do plantel, no que resultou do abandono de muito produtores da atividade suinícola. Ademais, as propriedades dessa região também apresentaram índices zootécnicos piores em relação à região de São Gabriel do Oeste, por isso, sugere-se as instalações mais antigas exigiram maiores gastos com manutenção. 9. Referencias Bibliográficas: Anuário da pecuária brasileira (ANUALPEC) 10 edição FNP consultoria e agro-informativos 2002. Cepea, Metodologia do índice de preços dos insumos utilizados na produção pecuária brasileira, www.cepea.esalq.usp.br/indicador/boi/metodologia_cna.pdf consultado em (20/03/2004) Pork World, www.porkworld.com.br, consultado em 30/10/2003 APSC, Estatísticas www.apsc.com.br consultado em 30/10/2003 ABSC, Estatística, www.absc.com.br consultado em 01/11/2003 Ministério da Agricultura Pecuária a Abastecimento, www.agricultura.gov.br consultado em 01/11/2003. Gomes, M. F. F. et al; Análise prospectiva do complexo agroindustrial de suínos no Brasil, Concórdia: EMBRAPA-CNPSA, 1992. 108p. (EMBRAPA-CNPSA. Documentos, 26). Nicolaiewsky, Sérgio, Ivo Wentz, Osmar A. Dalla Costa, Jurij Sobestiansky; Suinocultura Intensiva, Embrapa, 1998. Pinazza, L.A. Frigorífico Aurora: Os Caminhos para a Construção da Marca. In: Seminário Programa de estudos dos negócios do sistema agroindustrial, Águas de São Pedro, 1994. Anais São Paulo: FIA/FEA/USP, 1994. p.1-36. Lopes, Ricardo Lopes Suinocultura no estado de Goiás; Uma aplicação do modelo de localização, 1997 p. 03.