Apresentação No livro anterior, Filhos sadios, pais felizes, descrevemos os fatos característicos da evolução psicossocial da grande maioria das crianças desde o nascimento até os dez anos de idade e sua inserção social e sua educação, primeiro dentro da família, depois na escola. Sintetizamos os fatos mais marcantes e procuramos estabelecer, da melhor maneira possível, os marcos do desenvolvimento psicossocial, ano por ano, definindo a maneira de lidar com cada um dos eventos. Terminamos afirmando como reconhecer e como lidar com alguns dos problemas de saúde física e mental mais comuns e importantes de nossos filhos. Este livro descreve as características das crianças, dos adolescentes e dos adultos jovens, de acordo com a faixa etária. Nossa intenção é que todos conheçam melhor as características da pré-adolescência e da adolescência e a forma de encarar e lidar com grande parte dos problemas decorrentes dessas fases. Introduzimos o tema do adulto jovem considerado por parte da Organização Mundial da Saúde o jovem entre os vinte e os 24, 25 anos de idade que ainda depende dos pais. Suas características são semelhantes às da última fase da adolescência e tendem a se eternizar. Trata-se da síndrome 9
do canguru, mamífero que nasce e permanece na bolsa materna até atingir uma condição física e psíquica que permita que ande e se alimente por conta própria, o que leva alguns meses. Entretanto, os jovens adultos têm eternizado sua dependência por motivos sociais e educacionais. 10
Idade escolar Período intermediário ou de latência Características Nesta etapa do desenvolvimento dos seis aos dez anos de idade, além de terem a vida centralizada na família, as crianças se unem numa sociedade separada que se baseia na vizinhança e na escola, formando grupos de acordo com a idade e com o sexo, com os quais têm as primeiras noções sobre estruturas formais, sejam democráticas ou autoritárias, sobre ser líder ou liderado, sobre justiça e injustiça, lealdade, heróis e idéias. Por um lado, são doutrinados pelos pais e professores, de acordo com a sociedade onde vivem. Por outro, entre os seus amigos, vivem uma cultura infantil especial, marcada pelos jogos tradicionais, rimas, enigmas e zombarias, transmitidas praticamente intactas de uma geração à outra. No começo desta fase, há um grande avanço no desenvolvimento do conhecimento, que culmina na chamada prontidão (condições apropriadas) geral e específica para várias aprendizagens para a leitura e para os números. A criança quer saber sobre o mundo e sobre o 11
espaço, como as coisas funcionam, para que servem, de onde vêm. A ficção não é mais mesclada, às cegas, com a realidade. Mas ela não quer somente o conhecimento, quer também a perícia. Quer ter as habilidades, conhecer os truques e os procedimentos. Torna-se consciente dos processos que ocorrem em seu corpo, de seus sentidos, do hiato do sono. Aprende sobre germes e doenças e pode ter crises de hipocondria (um estado no qual há uma preocupação compulsiva com a própria saúde acompanhada de sintomas que não podem ser atribuídos a doença alguma). Pondera sobre os mistérios da vida e da morte. A criança pré-escolar está inclinada a concordar: é amoral. A criança de idade escolar, por contraste, é moralista. Com o desenvolvimento do superego (senso superior que existe em nossa mente, característico por sua severidade), em determinadas situações, quando tem necessidade de controlar seus próprios impulsos e seus atos, a criança tende a fazer julgamentos excessivamente rigorosos de si mesma (e também das demais pessoas). A percepção das principais motivações de seu comportamento é ainda 12
muito limitada e ela julga apenas através do que evidencia (conteúdo manifesto), levando pouco em conta os motivos e circunstâncias atenuantes. Considera a mentira um enorme crime, talvez porque ela própria tenha se tornado capaz de mentir e dissimular. Na latência ocorre um aparente desinteresse na área da sexualidade, evidenciando uma maior inibição no relacionamento com o sexo oposto. Os instintos sexuais parecem estar adormecidos. Entretanto, não se trata somente de uma trégua por redução da efervescência instintiva, mas uma erotização do intelecto e da atividade muscular. É nessa fase que a criança está apta à aprendizagem formal, comportando-se com certo grau de docilidade, o que lhe permite desenvolver o interesse pelas primeiras letras, pelo conhecimento do universo e das regras de convívio familiar e social. Nesse período, a criança tem sede de conhecimento, e o processo de alfabetização ocorre com prazer. Em idade inferior, criam-se dificuldades por ela não ter atingido a prontidão para esse processo. Por outro lado, a criança interessa-se pelas atividades físicas e revela certo prazer tanto pela escola e pelo convívio com os companheiros, quanto pelos jogos esportivos. 13