Relatório de Estabilidade Financeira



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ISSN 1677-812X Relatório de Estabilidade Financeira Maio 2008 Volume 7 Número 1

ISSN 1677-812X CNPJ 00.038.166/0001-05 Relatório de Estabilidade Brasília v. 7 n 1 maio 2008 P. 1-144 Financeira

Relatório de Estabilidade Financeira Publicação semestral do Banco Central do Brasil (Bacen) Os textos e os correspondentes quadros estatísti cos e gráficos são de responsabilidade dos seguintes componentes: Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro e de Gestão da Informação (Desig) Apresentação, Sumário executivo e Supervisão do Sistema Financeiro Nacional (E-mail: desig@bcb.gov.br) Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab) Evolução dos mercados financeiros (E-mail: gabin.demab@bcb.gov.br) Departamento Econômico (Depec) Evolução dos mercados financeiros (E-mail: depec@bcb.gov.br) Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban) Sistema de Pagamentos Brasileiro (E-mail: deban@bcb.gov.br) Departamento de Organização do Sistema Financeiro (Deorf) Organização do Sistema Financeiro Nacional (E-mail: copec.deorf@bcb.gov.br) Departamento de Normas do Sistema Financeiro (Denor) Regulamentação do Sistema Financeiro Nacional (E-mail: denor@bcb.gov.br) Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) Estudos selecionados (E-mail: conep.depep@bcb.gov.br) É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, Volume 7, nº 1. Controle Geral de Publicações Banco Central do Brasil Secre/Surel/Dimep SBS Quadra 3 Bloco B Edifício-Sede 1º andar Caixa Postal 8.670 70074-900 Brasília DF Telefones: (61) 3414-3710 e 3414-3567 Fax: (61) 3414-3626 E-mail: editor@bcb.gov.br Tiragem: 900 exemplares Convenções Estatísticas... dados desconhecidos. - dados nulos ou indicação de que a rubrica assinalada é inexistente. 0 ou 0,0 menor que a metade do último algarismo, à direita, assinalado. * dados preliminares. O hífen (-) entre anos (1970-75) indica o total de anos, inclusive o primeiro e o último. A barra (/) utilizada entre anos (1970/75) indica a média anual dos anos assinalados, inclusive o primeiro e o último, ou ainda, se especificado no texto, ano-safra, ou ano-convênio. Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos. Não são citadas as fontes dos quadros e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil. Central de Atendimento ao Público Endereço: Secre/Surel/Diate Edifício-Sede 2º subsolo SBS Quadra 3 Zona Central 70074-900 Brasília DF DDG: 0800 9792345 Fax: (61) 3414-2553 Internet: http://www.bcb.gov.br

Índice Apresentação 7 Sumário executivo 9 Evolução dos mercados financeiros 13 1.1 Introdução 13 1.2 Mercados financeiros internacionais 14 1.2.1 Análise dos mercados financeiros internacionais 14 1.2.2 Instituições financeiras 18 1.3 Mercado Financeiro Nacional 26 1.3.1 Análise do Mercado Financeiro Nacional 26 1.3.2 Mercados de Ativos 32 1.4 Conclusão 36 Supervisão do Sistema Financeiro Nacional 41 2.1 Visão geral 41 2.2 Estrutura patrimonial 42 2.2.1 Capital 42 2.2.2 Ativos 44 2.2.3 Exigibilidades 47 2.2.4 Resultados 48 2.3 Fundo Garantidor de Crédito (FGC) 54 2.4 Limites operacionais do SFN 54 2.4.1 Índice de Basiléia 54 2.4.1.1 Evolução 55 2.4.1.2 Concentração 56 2.4.1.3 Análise por segmentos 56 2.4.1.4 Desenquadramentos ao Limite de Basiléia 58 2.4.2 Índice de Imobilização 58 2.4.2.1 Evolução 59 2.4.2.2 Análise por segmentos 59 2.4.2.3 Desenquadramentos no Limite de Imobilização 60 2.5 Riscos 60 2.5.1 Operações de crédito 60 2.5.1.1 Operações baixadas como prejuízo 64 2.5.1.2 Coobrigações 64

2.5.1.3 Maiores devedores do SFN 65 2.5.1.4 Setor da atividade econômica 65 2.5.1.5 Classificações das operações de crédito 66 2.5.1.6 Inadimplência 71 2.5.1.7 Provisão 71 2.5.1.8 Provisão constituída/provisão mínima 72 2.5.2 Exposição em moedas estrangeiras e ouro 72 2.5.2.1 Exposição líquida na cesta de moedas 73 2.5.2.2 Volume de posições compradas e vendidas na cesta de moedas 74 2.5.2.3 Exposição líquida das moedas da cesta 74 2.5.2.4 Exposição líquida na cesta por segmento 74 2.5.2.5 Volume de posições comprada e vendida na cesta por segmento 75 2.5.2.6 Concentração do SFN 76 2.6 Testes de estresse 76 2.6.1 Universo analisado 77 2.6.1.1 Situação inicial 77 2.6.2 Cenários de estresse de alta 77 2.6.2.1 Cenário I: aumento do risco de crédito 77 2.6.2.2 Cenário II: aumento das taxas de juros e de câmbio 78 2.6.2.3 Cenário III: aumento das taxas de juros, de câmbio e do risco de crédito 78 2.6.3 Cenários de estresse de baixa 78 2.6.3.1 Cenário IV: baixa das taxas de juros e de câmbio 78 2.6.4 Análise temporal 79 2.6.4.1 Cenário I: aumento do risco de crédito 79 2.6.4.2 Cenário II: aumento das taxas de juros e de câmbio 79 2.6.4.3 Cenário III: aumento das taxas de juros, de câmbio e do risco de crédito 80 2.6.4.4 Cenário IV: baixa das taxas de juros e de câmbio 80 2.6.5 Análise de sensibilidade 80 2.6.5.1 Risco de crédito 81 2.6.5.2 Risco de mercado taxa de câmbio 81 2.6.5.3 Risco de mercado taxa de juros 81 2.7 Conclusão 81 Sistema de Pagamentos Brasileiro SPB 99 3.1 Introdução 99 3.2 Principais desenvolvimentos no segundo semestre de 100 3.3 Desempenho dos sistemas de liquidação 102 3.3.1 Sistemas de transferência de fundos 102 3.3.1.1 Sistema de Transferência de Reservas STR 102 3.3.1.2 Sistema de Transferência de Fundos Sitraf 107 3.3.1.3 Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito Siloc 109 3.3.1.4 Centralizadora da Compensação de Cheques e Outros Papéis Compe 109 3.3.2 Sistemas de compensação e de liquidação de títulos e valores mobiliários, derivativos e câmbio interbancário 110 3.3.2.1 Sistema Especial de Liquidação e de Custódia Selic 110 3.3.2.2 Câmara de Custódia e de Liquidação Cetip 111 3.3.2.3 Companhia Brasileira de Liquidação e de Custódia CBLC 111 3.3.2.4 Câmara de Ativos da BM&F BM&F-Ativos 113

3.3.2.5 Câmara de Derivativos da BM&F BM&F-Derivativos 114 3.3.2.6 Câmara de Câmbio da BM&F BM&F-Câmbio 115 3.4 Conclusão 116 Organização do Sistema Financeiro 119 4.1 Introdução 119 4.2 As estratégias de mercado e o quantitativo de instituições no SFN 120 4.3 Processos de reorganização, estrutura de capital, dinâmica operacional e níveis de concentração no SFN 122 4.4 Microfinanças 124 4.4.1 Cooperativas de crédito 125 Regulamentação do Sistema Financeiro Nacional 127 5.1 Patrimônio de Referência Exigido (PRE) 127 5.2 Mensuração de Risco das Operações não Classificadas na Carteira de Negociação (Banking Book) 132 5.3 Limite para exposição cambial 133 5.4 Ouvidoria 133 5.5 Acessibilidade 135 5.6 Tarifas bancárias 135 Boxes Matriz de Migração de Classificação de Crédito 68 Conceitos e Metodologias Geral 83 Conceitos e Metodologias Operações de Crédito 88 Conceitos e Metodologias Exposição Cambial 90 Conceitos e Metodologias Testes de Estresse 92 Metodologia Riskmetrics para Calcular Valor em Risco 94 Abordagem Híbrida para Calcular Valor em Risco 96 Fundo Garantidor de Crédito 97 Visão Geral do Sistema de Pagamentos Brasileiro 118 Apêndice 137

Apresentação O Banco Central do Brasil tem como missão assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente. Esses dois propósitos estão intimamente ligados. Distúrbios sérios no sistema financeiro afetariam a efetividade da política monetária, enquanto a estabilidade macroeconômica corrobora para a redução dos riscos para a estabilidade financeira. A responsabilidade institucional do Banco Central do Brasil de contribuir para a manutenção da estabilidade do sistema financeiro como um todo deriva da sua competência de implementar a política monetária, de cumprir o seu papel de supervisor do sistema de pagamento e de emprestador de última instância. Dentre as suas funções, encontra-se o monitoramento de situações ou eventos que não se enquadrem nos padrões de comportamento esperado em relação a questões regulamentares, à exposição a riscos ou a aspectos patrimoniais e financeiros que possam afetar a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional ou de seus subsistemas. Assim, a publicação de análises sobre o desempenho do sistema financeiro, realizadas pelos bancos centrais, além de mostrar o nível de estabilidade do sistema, é amplamente recomendada sob a ótica da transparência da autoridade monetária e da convergência de expectativas dos agentes. Estabilidade financeira é a situação na qual a eficiência da intermediação bancária não está sendo ameaçada por choques adversos. É um ambiente em que o sistema financeiro é capaz de desempenhar corretamente o seu papel e, em perspectiva, visualizar a continuidade das funções bancárias. Nesse sentido, o Relatório de Estabilidade Financeira tem como objetivo divulgar diagnóstico sobre a eficiência e a solvência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e contribuir para que os participantes do mercado financeiro possam melhor avaliar e gerenciar os riscos inerentes. Este Relatório é produzido semestralmente, publicado internacionalmente e tem como referência os dados ocorridos no segundo semestre Maio 2008 Relatório de Estabilidade Financeira 7

de e, em algumas seções, nos primeiros meses do primeiro semestre de 2008. As análises divulgadas nesta edição e a base de dados utilizada referem-se aos fatos ocorridos até 3 de março de 2008. Portanto, eventuais divergências em relação a outras publicações com data-base mais recente podem ser decorrentes de eventuais mudanças no cenário econômicofinanceiro internacional. O Relatório de Estabilidade Financeira está disponível em PDF no endereço: www.bcb.gov.br. 8 Relatório de Estabilidade Financeira Maio 2008

Sumário executivo Nos últimos meses, a projeção para a taxa de crescimento global foi revista para baixo. O cenário econômico internacional passou a traduzir o sentimento de que a economia norte-americana caminha para um período de menor atividade econômica. De fato, corroborando esse sentimento, a concessão de novos créditos no mercado internacional permaneceu objeto de crescente conservadorismo emanado da crise no mercado de financiamento hipotecário residencial subprime nos Estados Unidos. As grandes economias emergentes têm se mostrado relativamente menos afetadas por esses eventos devido ao elevado nível de reservas internacionais e aos fundamentos macroeconômicos robustos, embora a revisão para baixo das previsões para o crescimento mundial possa ter conseqüências no ritmo de crescimento do comércio internacional. Diante das turbulências desencadeadas pela crise do mercado de hipotecas, os indicadores do mercado financeiro nacional apresentaram grande resiliência, devido, basicamente, à consolidação das conquistas macroeconômicas dos últimos anos, que permitiu aos investidores diferenciar favoravelmente o Brasil dentre os países emergentes. Entretanto, esses indicadores domésticos não permaneceram totalmente indiferentes ao cenário externo adverso e, nos últimos meses, apresentaram aumento da volatilidade, principalmente nos mercados de juros e de ações. A hipótese de que as economias emergentes, dentre elas o Brasil, tenham se descolado da economia norte-americana ainda não pôde ser completamente comprovada. Por outro lado, a intensificação do ritmo de crescimento da economia real brasileira registrada nos últimos anos continua associada ao maior dinamismo da demanda interna, expresso tanto na aceleração significativa dos investimentos como na manutenção do crescimento do consumo das famílias. Nesse sentido, a demanda por crédito permaneceu aquecida no início de 2008, a despeito da elevação das taxas de juros das Maio 2008 Relatório de Estabilidade Financeira 9

principais modalidades de empréstimos. Esse comportamento reforça a percepção de que o mercado de crédito nacional tende a continuar oferecendo suporte à sustentação do nível de atividade econômica. As operações de crédito no país mantiveram a trajetória de expansão observada desde dezembro de 2004 e o seu percentual em relação ao PIB vem paulatinamente apresentando crescimento. Vale ressaltar que o crédito bancário tem estado sob especial atenção por parte deste órgão de supervisão do sistema financeiro, o qual tem constatado que o seu crescimento tem ocorrido sem o comprometimento da qualidade das carteiras e de forma ordenada, com observância à boa técnica bancária. Até ao final de, o nível de inadimplência manteve-se no patamar mais baixo desde o início da publicação deste Relatório; as provisões constituídas estavam em montante superior às perdas esperadas; e as instituições detinham capital acima do limite exigido na regulamentação brasileira para cobrir perdas não esperadas. Relativamente ao crédito imobiliário, é importante notar que esse tipo de operação é pouco representativo em relação ao montante das operações de crédito contratadas no âmbito do sistema financeiro e está entre as modalidades de crédito no SFN com o menor índice de inadimplência, especialmente quando comparado às realidades norteamericana e européia. Além disso, há de se considerar que o arcabouço normativo no Brasil é diferente do europeu e do norte-americano e que, até o momento, o tipo de empréstimo classificado como subprime, que gerou a atual crise em outros países, não encontrou ambiente que viabilizasse o seu crescimento. Portanto, o crescimento do crédito no Brasil não representa, até o momento, risco à solidez do sistema financeiro. De fato, tal cenário de incremento do crédito tem sido o responsável pela persistência das estratégias empresariais das instituições financeiras no sentido de elevar escalas operacionais, tanto pela via de aquisições como pela via de crescimento orgânico. Entretanto, diferentemente do que se possa imaginar, esse ambiente tem exercido saudável influência sobre a concorrência entre os agentes econômicos do setor, a despeito de processos de concentração verificados no passado. O ambiente competitivo tem sido assegurado pelo ingresso de novos concorrentes no mercado financeiro, atraídos pela lucratividade auferida pelos investimentos no setor, tanto estrangeiros quanto domésticos. 10 Relatório de Estabilidade Financeira Maio 2008

No segundo semestre de, no que se refere ao sistema de pagamentos, todos os sistemas de compensação e de liquidação e, em especial, aqueles considerados mais importantes sob o ponto de vista da estabilidade financeira funcionaram de forma contínua e sem atrasos significativos, com todos eles concluindo tempestivamente os ciclos diários de liquidação. Algumas instituições apresentaram maior necessidade de liquidez, sem efeitos significativos no sistema como um todo. Por outro lado, nenhum dos sistemas de pagamentos de varejo apresentou alterações que justificassem uma reavaliação quanto a sua importância sob o ponto de vista do risco sistêmico. Quanto ao gerenciamento de risco das câmaras que atuam como contraparte central, testes de estresses realizados mostraram resultados adequados para garantir a liquidação das operações, embora tenha sido observado crescimento dos riscos em decorrência da maior volatilidade observada no mercado internacional. A partir de 1º de julho de 2008, os dispositivos da Resolução n 3.490, de, produzirão seus efeitos nos quais, dentre outros, é atribuída ao Banco Central do Brasil a tarefa de fixar os procedimentos e parâmetros para o cálculo das parcelas do Patrimônio de Referência Exigido (PRE), um aprimoramento do antigo Patrimônio Líquido Exigido (PLE), que representa o montante de capital a ser mantido pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas pelo Banco Central do Brasil, segundo recomendações contidas no documento Convergência Internacional de Mensuração de Capital e Padrões de Capital, conhecido por Basiléia II. A apuração do PRE é efetuada de forma consolidada, considerando os integrantes de conglomerado financeiro e de consolidado econômico-financeiro, inclusive as dependências no exterior. A introdução da parcela referente ao risco das operações sujeitas à variação do preço de mercadorias (commodities) e da parcela referente ao risco das operações sujeitas à variação do preço de ações e classificadas na carteira de negociação conclui a implementação no Brasil da Emenda de 1996 ao Acordo de Basiléia de 1988, assim como as demais parcelas de requerimento de capital para cobertura do risco de mercado. Maio 2008 Relatório de Estabilidade Financeira 11

Evolução dos mercados financeiros 1 1.1 Introdução A evolução recente das condições financeiras internacionais caracteriza-se pela acentuação dos riscos à estabilidade emanados da crise no mercado de financiamento hipotecário residencial subprime nos Estados Unidos, que desde o trimestre final de apresentou rápida evolução e passou a repercutir em outros mercados de crédito em nível local e internacional. Embora os sistemas financeiros de países desenvolvidos da Ásia, da Oceania e, em particular, da Europa também tenham apresentado repercussão dos acontecimentos nos mercados de crédito dos Estados Unidos, em nenhuma outra economia a dimensão e a dinâmica dos acontecimentos têm consubstanciado riscos para a estabilidade dos mercados, do sistema financeiro, bem como para a evolução do PIB, como na economia norte-americana. Embora as grandes economias emergentes tenham se mostrado relativamente menos afetadas por esses eventos devido ao elevado nível de reservas internacionais e fundamentos macroeconômicos robustos, países com déficits em transações correntes elevados e dependentes de capitais externos para o seu financiamento permaneceram mais vulneráveis à volatilidade nos mercados financeiros norte-americano e europeu. Os indicadores do mercado financeiro nacional apresentaram grande resiliência diante das turbulências desencadeadas pela crise do mercado de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos. A consolidação das conquistas macroeconômicas dos últimos anos propiciadas pelo compromisso com a austeridade fiscal e com o sistema de metas para a inflação permitiu aos investidores diferenciar favoravelmente o Brasil dentre os países emergentes. Os indicadores domésticos, entretanto, não permaneceram totalmente indiferentes ao cenário externo adverso, Maio 2008 Relatório de Estabilidade Financeira 13

principalmente nos meses de agosto de e janeiro de 2008, quando se verificou um aumento da volatilidade nos mercados de juros e de ações. Após a queda decorrente da eclosão da crise no mercado financeiro internacional, em agosto, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) recuperou-se rapidamente, registrando, já em setembro, novos recordes históricos, e operou, desde então, com grande volatilidade em torno desse novo patamar. As taxas de juros, ainda que influenciadas pelos eventos externos, tiveram sua trajetória determinada pelo compromisso com as metas para a inflação e pelo ambiente de crescente dinamismo da economia doméstica. À inversão da inclinação da estrutura a termo no início do semestre, acompanhada de acentuado aumento das taxas para os prazos mais longos em agosto, seguiu-se redução da inclinação positiva até meados de outubro. A partir de então, com a interrupção do ciclo de relaxamento da política monetária doméstica, as taxas de juros futuros seguiram trajetória ascendente. Diferentemente do ocorrido em outras ocasiões de cenário internacional adverso, o real apreciou-se em relação ao dólar norte-americano à medida que este também se desvalorizava perante outras moedas. Diante do grande influxo cambial, o Banco Central do Brasil intensificou sua política de recomposição de reservas internacionais, o que contribuiu para alçar o país à condição de credor externo líquido ao final de. As diretrizes e as principais metas estabelecidas pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) para a dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi) em foram implementadas e cumpridas, resultando em alongamento de prazos e redução da participação dos títulos remunerados pela taxa Selic. 1.2 Mercados financeiros internacionais 1.2.1 Análise dos mercados financeiros internacionais A crise iniciada no mercado imobiliário norteamericano e seus desdobramentos levaram à interrupção do crédito em alguns mercados, com severa restrição de financiamento no sistema bancário internacional. O transbordamento da crise para o mercado financeiro deu-se a partir de meados de junho de, quando a Moody s reduziu a avaliação de vários ativos lastreados 14 Relatório de Estabilidade Financeira Maio 2008

em empréstimos hipotecários subprime e colocou sob revisão outros tantos. Desde então, riscos não contemplados nas estratégias de securitização de várias instituições financeiras, sobretudo norte-americanas e européias, foram expostos e passaram a evidenciar dificuldades na determinação dos preços dos complexos produtos financeiros, inibindo operações nos mercados secundários. A assimetria de informação quanto à intensidade e à identificação de investidores com potenciais prejuízos trouxe de volta a volatilidade aos mercados. Inúmeros eventos continuaram a contribuir para o espraiamento da crise, com destaque para a contabilização de prejuízos bilionários por parte de diversas instituições financeiras. Mais recentemente, seguradoras de bônus municipais também se mostraram vulneráveis à crise financeira, reflexo de suas atuações como provedores de garantias a produtos estruturados lastreados em hipotecas residenciais. Há riscos de que o agravamento da situação transforme a crise no crédito em uma crise de solvência para instituições alavancadas. Retorno de títulos do tesouro Rendimentos nominais para papéis de 10 anos % a.a. 6,0 4,8 3,6 2,4 1,2 Apesar das intervenções dos principais bancos centrais em seus mercados, injetando liquidez, o sistema permaneceu desencorajado a fornecer crédito. De fato, a forte redução de liquidez foi evidenciada não somente no encarecimento do crédito bancário, mas também do crédito corporativo e dos spreads de risco soberano para as economias emergentes. Por outro lado, a procura por títulos soberanos de economias desenvolvidas permaneceu forte durante o período. 31.3 2006 12.6 22.8 1.11 11.1 Fonte: Bloomberg Embi Global 17.3 2006 Fonte: Bloomberg 23.3 4.6 14.8 24.10 3.1 2008 14.3 EUA Alemanha Reino Unido Japão 16.6 15.9 15.12 16.3 15.6 14.9 14.12 14.3 2008 EmbiG África do Sul Turquia Argentina México 0,0 Pontos básicos 550 440 330 220 110 0 Desde o último Relatório de Estabilidade Financeira, a procura por papéis governamentais de longo prazo permaneceu forte. O aumento da demanda por papéis percebidos como seguros, em ambiente de adoção de políticas monetárias menos restritivas, favoreceu a manutenção da trajetória de queda dos rendimentos anuais de títulos governamentais de dez anos de importantes economias, iniciada em junho passado. Entre 30 de setembro e 14 de março, os rendimentos anuais dos títulos de dez anos dos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Japão reduziram-se, nesta seqüência, em 112 pontos básicos (p.b.), 60 p.b., 68 p.b. e 61 p.b. O Emerging Market Bond Index Global (Embi Global), indicador de risco associado a mercados emergentes, manteve a trajetória altista iniciada em junho passado, fruto da forte retração de liquidez no mercado financeiro internacional. Desde o final de setembro, o Embi Global Maio 2008 Relatório de Estabilidade Financeira 15

itraxx e DJ CDX 5 anos 27.3 10.5 25.6 8.8 21.9 6.11 20.12 4.2 2008 Fonte: Thomson Datastream itraxx Europa crossover, série 7 itraxx Europa, série 7 DJ CDX (EUA) crossover, série 8 DJ CDX (EUA), grau de investimento, série 8 CDS 5 anos Prêmios principais bancos 1/ 15.9 2006 VIX 9.11 3.1 27.2 23.4 15.6 9.8 3.10 27.11 21.1 2008 Bancos Europa Bancos EUA Pontos 14.3 600 480 360 240 120 0 Pontos Fonte: Thomson Datastream 1/ Calculado pela média aritmética dos prêmios de CDS de cinco anos dos bancos HSBC, UBS, Santander, BNP Paribas e Deutsche Bank, para a Europa; e Citigroup, Bank of America, JPMorgan, Goldman Sachs e Wells Fargo, para os EUA. Como tratase de amostra não aleatória, pode não refletir o comportamento do sistema financeiro como um todo. 14.3 200 160 120 80 40 0 Pontos 48 40 subiu 110 p.b., atingindo o patamar de 324 pontos em 14 de março, o maior valor desde julho de 2005. Nessa mesma data, os indicadores Embi Global associados à África do Sul, à Argentina, ao México e à Turquia alcançaram 279, 541, 200 e 338 pontos, representando elevações de 154 p.b., 143 p.b., 69 p.b. e 118 p.b. no período em análise. Cabe ressaltar que a forte elevação dos prêmios de risco associados especialmente à África do Sul e à Argentina está fortemente atrelada a determinantes de ordem doméstica. As expressivas baixas contábeis registradas nos balanços de importantes bancos sediados majoritariamente no hemisfério norte, bem como as expectativas de novas e elevadas baixas a serem realizadas no decorrer de 2008, impactaram a evolução dos prêmios dos credit default swap (CDS) desses bancos. Em 14 de março, os prêmios médios dos CDS de cinco importantes bancos dos Estados Unidos e de cinco importantes bancos europeus atingiram 198 p.b. e 155 p.b., respectivamente, em comparação com 35 p.b. e 25 p.b., ao final de setembro. Ressalte-se que, ao final de maio de, os CDS dos mesmos bancos registravam, na mesma ordem, médias de 14 p.b. e 7 p.b. O custo para proteção de títulos corporativos contra default atingiu níveis recordes, evidenciando, também, deterioração na percepção da qualidade do crédito. Nesse sentido, os indicadores itraxx Crossover e Dow Jones CDX US Crossover, que medem os prêmios exigidos para garantir empréstimos de companhias européias e estadunidenses com classificação de risco abaixo do grau de investimento, passaram de 340 p.b. e 250 p.b., respectivamente, ao final de setembro, para 548 p.b. e 430 p.b., em 14 de março. 32 14.3 2000 14.3 2001 Fonte: Bloomberg 14.3 2002 Bolsas de valores Países desenvolvidos 14.3 2003 15.3 2004 15.3 2005 15.3 2006 15.3 24 16 8 14.3 2008 31.12.2003 = 100 210 A deterioração do cenário financeiro continuou impactando no Índice de Volatilidade da Chicago Board Options Exchange (VIX), utilizado como medida de referência para a volatilidade do mercado acionário. Entre 30 de setembro de e 14 de março último, o VIX saltou de 18 pontos para 31,2 pontos, o maior patamar em cinco anos, superando a marca de 30,8 pontos registrada no fechamento de 16 de agosto do ano passado, um dia antes de o Federal Reserve (Fed) dar início a uma série de ações que tinham por objetivo adicionar liquidez ao sistema. 188 28.3 2005 Fonte: Bloomberg 26.7 23.11 23.3 2006 21.7 20.11 20.3 18.7 15.11 14.3 2008 Japão Nikkei 225 Reino Unido FTSE 100 Alemanha DAX EUA S&P500 166 144 122 100 A forte volatilidade verificada no mercado de ações desde o início da turbulência, em meados do ano passado, resultou em expressiva perda de riqueza nos mercados acionários. De fato, nos nove meses encerrados em 14 de março, os principais indicadores que refletem a evolução das bolsas de valores de importantes economias registraram perdas substanciais, variando de 15,4% (S&P500 Estados 16 Relatório de Estabilidade Financeira Maio 2008

Unidos) a 31,4% (Nikkei Japão). Considerando-se apenas as variações a partir do último Relatório de Estabilidade Financeira, os indicadores das bolsas de valores dos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Japão registraram, entre 30 de setembro e 14 de março, desvalorizações de 15,6%, 17,9%, 12,9% e 27,1%, nessa seqüência. No ano, até 14 de março, seguindo a mesma ordenação anterior, as perdas atingiram 12,3%, 20%, 12,8% e 20%. Bolsas de valores Economias emergentes 28.3 2005 26.7 23.11 23.3 2006 Fonte: Bloomberg 21.7 20.11 20.3 31.12.2003 = 100 18.7 15.11 14.3 2008 África do Sul México Índia Turquia Moedas de países desenvolvidos Cotações do dólar 18.3 2005 Fonte: Bloomberg 6.7 24.10 9.2 2006 30.5 15.9 1.3 380 324 268 212 156 100 115 106 97 88 79 70 23.4 9.8 27.11 14.3 2008 Libra/Dólar Iene/Dólar Euro/Dólar Moedas de países emergentes Cotações do dólar 19.9.2003 = 100 19.9.2003 = 100 130 114 Diferentemente de crises anteriores, em que as bolsas de valores das economias emergentes foram as mais afetadas, no episódio atual, salvo algumas exceções, as bolsas de valores dessas economias têm-se mostrado mais resilientes do que as contrapartes do mundo desenvolvido. De 14 de junho de a 14 de março de 2008, os principais indicadores da África do Sul e da Índia registraram ganhos de 5,9% e 1%, respectivamente, enquanto os índices do México e da Turquia cederam, nesta ordem, 4,1% e 21,2%. Ressalte-se que tanto o índice XU100 (Turquia) quanto o Sensex (Índia) acumularam expressiva desvalorização no ano corrente, com perdas acumuladas de 23,3% e 22,3%, respectivamente, até 14 de março. No mesmo período, os índices IPC (México) e Jalsh (África do Sul) acumularam, nesta seqüência, perda de 1,7% e ganho de 5,8%. Desde fins de 2005, o dólar norte-americano iniciou uma trajetória de depreciação frente ao euro e à libra esterlina. Mais recentemente, a deterioração das condições econômicas dos Estados Unidos e a falta de atratividade das taxas de juros daquele país imposta pelas sucessivas reduções na sua taxa básica empurraram a moeda norteamericana para uma rápida desvalorização, em especial frente ao iene e ao euro. As expectativas para o restante de 2008 são de manutenção desse cenário, dada a perspectiva de, ao longo deste ano, haver cortes adicionais nas taxas dos Fed funds e de manutenção nas taxas básicas na Área do Euro e no Japão. De 14 de junho de a 14 de março de 2008, o dólar depreciou 19,4% frente ao iene, 15,1% frente ao euro e 2,5% frente à libra esterlina. No ano, até 14 de março, o dólar desvalorizou-se 11,3% frente ao iene, 6,9% frente ao euro e 1,7% contra a libra esterlina. 17.3 2006 30.5 10.8 23.10 3.1 Fonte: Bloomberg Real/Dólar Lira turca/dólar 16.3 29.5 9.8 22.10 2.1 2008 Rublo/Dólar Rand sul-africano/dólar 14.3 98 82 66 50 Na comparação da moeda norte-americana vis-à-vis moedas de economias emergentes, a trajetória do dólar tem seguido caminhos distintos. Na Turquia, o elevado déficit em conta corrente permanece como fonte de preocupação em relação à evolução da taxa de câmbio. Na África do Sul, as restrições quanto ao fornecimento de energia e as perspectivas de menor crescimento econômico mundial, com impactos negativos na indústria local, têm influenciado Maio 2008 Relatório de Estabilidade Financeira 17

negativamente no sentimento do investidor em relação a um país com elevado déficit em conta corrente. Na Hungria, eliminou-se a banda de flutuação de 15% para cima ou para baixo em relação ao euro, com o objetivo de permitir ao Banco Central húngaro concentrar-se mais fortemente no combate à inflação. Na China, aumentou a velocidade de apreciação do renmimbi em relação ao dólar dos Estados Unidos, reforçando a perspectiva de que o Banco Central chinês está aceitando a apreciação da moeda local na tentativa de combater o crescente processo inflacionário naquele país. De 14 de junho de a 14 de março de 2008, o dólar depreciou-se 6,3% frente à lira turca e 9,4% frente ao rublo russo, em contraposição a uma apreciação de 10,4% contra o rand sul-africano. No ano, até 14 de março, o dólar registrou desvalorização de 4,2% frente ao rublo russo, em contraposição a uma valorização de 5,9% contra a lira turca e de 15,6% contra o rand sul-africano. 1.2.2 Instituições financeiras A elevação da inadimplência nos créditos hipotecários subprime nos Estados Unidos, não representada previamente nas avaliações de rating, explicitou deficiências nas avaliações realizadas pelas principais agências de classificação de risco para instrumentos de securitização desses créditos. Isso provocou incertezas quanto à precificação de um amplo espectro de títulos securitizados e induziu forte contração da liquidez em seus mercados. Diante de riscos reputacionais ou obrigações contratuais assumidas, os intermediários financeiros responsáveis pela organização de securitizações de créditos foram levados a incorporar em seus balanços operações que anteriormente seriam vendidas nos mercados de títulos, passando a enfrentar importante pressão sobre suas posições de liquidez nos meses finais de. A elevação dos riscos de contraparte e a persistência das incertezas quanto ao total das perdas do sistema resultaram na adoção de atitudes defensivas pelas instituições financeiras, no intuito de minorar novas perdas, reforçar suas posições de liquidez e conservar capital. Essa postura teve repercussões importantes sobre a redução das transações no mercado interbancário, a elevação dos prêmios de seguro contra default de crédito por instituições financeiras e de spreads de uma forma geral, bem como sobre a redução da disposição do sistema financeiro à concessão de novos créditos a empresas e a indivíduos. 18 Relatório de Estabilidade Financeira Maio 2008

EUA Evolução do lucro líquido 15.11 1993 15.8 1995 Fonte: FDIC 15.5 1997 15.2 1999 15.11 2000 15.8 2002 Lucro líquido 15.5 2004 15.2 2006 US$ milhões 40 000 32 000 24 000 16 000 8 000 0 15.11 Segundo a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), no quarto trimestre de houve deterioração generalizada dos principais indicadores de qualidade de ativos e de lucratividade das instituições financeiras seguradas, principalmente entre as grandes instituições grupo no qual uma em cada quatro instituições apresentou prejuízo. Além de apresentar o menor lucro líquido consolidado (US$5,8 bilhões) desde o último trimestre de 1991, pela primeira vez na história as transações com títulos e valores mobiliários registraram prejuízo (US$10,6 bilhões) para o sistema financeiro de forma consolidada. As novas provisões para devedores duvidosos foram recordes, tendo alcançado US$31,3 bilhões, mais que três vezes o montante provisionado no mesmo trimestre de 2006. EUA Provisões e baixas contábeis líquidas Q4 1999 Q4 2000 Fonte: FDIC Q4 2001 Provisões Q4 2002 Q4 2003 Q4 2004 Q4 2005 Q4 2006 Baixas contábeis líquidas US$ milhões 0 Q4 35 000 28 000 21 000 14 000 7 000 Em claro sinal da tendência de degradação da qualidade das operações de crédito em carteira das instituições seguradas, a inadimplência (atrasos superiores a noventa dias) cresceu US$26,9 bilhões, chegando a US$109,9 bilhões, no quarto trimestre de, o maior nível em 24 anos e 91,5% superior ao nível registrado ao final do quarto trimestre de 2006. Os créditos com atrasos entre trinta e noventa dias cresceram US$18,7 bilhões em relação ao trimestre anterior, para US$110,94 bilhões, nível 55,1% superior ao observado ao final de 2006. As baixas contábeis no último trimestre de somaram US$16,2 bilhões. Ao gerar prejuízos e problemas de acesso à liquidez também para fundos de hedge e descapitalização de empresas seguradoras que garantem risco de crédito de títulos municipais (monolines) que possuem em carteira derivativos de crédito, a queda dos preços de títulos de dívida securitizada introduziu uma segunda ordem de risco para o sistema e para os mercados financeiros. Assentado, em grande medida, na avaliação de risco de crédito empreendida por agências de rating sobre ativos e instituições, novos provisionamentos de crédito podem ser demandados a bancos e outras instituições financeiras devido a suas posições em títulos municipais, caso a deterioração do capital das monolines leve a reclassificações de seus ratings para baixo, com conseqüências similares para os ratings e preços dos títulos por elas garantidas. Adicionalmente, restrições continuadas ao acesso a crédito por parte de instituições que apresentam elevada alavancagem, como os fundos de hedge, podem obrigá-las a vender posições em mercados já debilitados por problemas de liquidez e precificação, introduzindo novas pressões de baixa. Caso se confirmem, ambos os movimentos têm o potencial de gerar novos Maio 2008 Relatório de Estabilidade Financeira 19

prejuízos e problemas relacionados à capitalização no sistema financeiro, o que poderia acentuar os problemas já aparentes. Em resposta a prejuízos, a pressões sobre liquidez e sobre a adequação de capital, diversas instituições norteamericanas, especialmente as de grande porte, procuraram capitalizar-se reduzindo recompras de ações e distribuições de dividendos e levantando capital adicional, de forma a manter o nível de capital suficiente para atender aos limites regulatórios. Até início do mês de março, entre as maiores instituições bancárias foram levantados pouco mais de US$50 bilhões em capital adicional. Parcela importante desse valor foi originária de aquisições de ações por fundos soberanos de investimento de países da Ásia e do Oriente Médio. No último trimestre de, um banco comercial decretou falência e o número de bancos comerciais e instituições de poupança segurados pela FDIC com problemas foi acrescido em dez, para 75 instituições, com ativos totais de US$22,2 bilhões. Em março de 2008, virtual impossibilidade de acesso à liquidez no mercado interbancário induziu a venda, com o apoio do Federal Reserve, do quinto maior banco de investimentos norteamericano para outro grande banco do país. Em contrapartida aos problemas nos mercados e no sistema financeiro, os esforços da política monetária norte-americana voltaram-se com intensidade crescente ao restabelecimento da fluidez nas transações financeiras e a contra-arrestar os efeitos desses sobre o nível de atividade econômica. Em resposta à severa crise de liquidez, desde meados de agosto, o Federal Reserve Bank já reduziu a taxa básica dos Fed funds por seis vezes, de 5,25% ao ano (a.a.) para 2,25% a.a.; e a taxa de redesconto por oito vezes, para 2,5% a.a. Sensibilizados pelo estreitamento do crédito e pelo relativo recuo da atividade econômica, em meados de dezembro, os bancos centrais dos Estados Unidos, da Área do Euro (BCE), da Inglaterra (BoE), do Canadá (BoC) e da Suíça (BNS) anunciaram uma ação temporária e coordenada de intervenções em seus mercados monetários, e passaram a realizar leilões de crédito a taxas menores do que as disponíveis pelas respectivas janelas de redesconto. Nos Estados Unidos, esses leilões ficaram conhecidos como Term Auction Facility (TAF). Essas operações, que conjugam o aceite de uma maior gama de colaterais e prazos mais dilatados para a revenda dos papéis, somaram-se ao esforço para reduzir a pressão sobre o dólar no mercado 20 Relatório de Estabilidade Financeira Maio 2008

interbancário offshore, o que deu origem ao estabelecimento de linhas de swap entre o Fed e o BCE (US$20 bilhões) e entre o Fed e o BNS (US$4 bilhões). Seja na Europa, seja nos Estados Unidos, os leilões têm sido eficientes na redução dos spreads entre as taxas interbancárias de três meses e a meta para juros básicos. Nos Estados Unidos, a TAF tem o objetivo de reduzir os incentivos de preferência à liquidez pelos bancos e aumentar sua disposição de prover crédito para empresas e indivíduos. Com duas ofertas mensais no sistema de leilão e prazos de 28 ou 35 dias, o limite inicial dessa operação, de US$20 bilhões a cada leilão foi, posteriormente, elevado para US$30 bilhões e US$50 bilhões, respectivamente, em janeiro e março de 2008 1. A emergência dos problemas de capitalização das monolines e de acesso a financiamentos pelos fundos de hedge, que coincidiram com o período em que os problemas de liquidez do quinto maior banco de investimento do país se acentuaram, levaram o banco central norte-americano a criar, em 11 e 16 de março, duas novas linhas de crédito aos primary dealers, que incluem instituições que não possuem contas de reserva bancária. Com o objetivo explícito de melhorar a capacidade de os primary dealers proverem financiamento para participantes dos mercados de títulos securitizados, essas linhas de crédito ampliaram o espectro de ativos elegíveis como colaterais para a realização das operações junto ao banco central. Inicialmente, por meio da Term Securities Lending Facility (TSLD), o Federal Reserve passou a facultar a troca, em leilões, por 28 dias, de diversos títulos por até US$200 bilhões em títulos do Tesouro. Além dos colaterais usuais nas operações de auxílio à liquidez, essa linha de crédito faculta a apresentação, como colaterais, de títulos de agências federais, títulos garantidos por empréstimos hipotecários residenciais emitidos por agências federais e por agentes privados, neste caso, desde que tenham rating AAA ou Aaa. Em seguida, pela primeira vez desde o período da Grande Depressão de 1929, a autoridade monetária dos Estados Unidos criou uma linha de assistência à liquidez direta, que alcança também instituições não-bancárias (cerca de dez instituições entre os vinte primary dealers 1/ Uma descrição detalhada dessa e de outras medidas do Federal Reserve, bem como a coordenação de ações entre bancos centrais de países desenvolvidos, está disponível no Boxe A Crise Financeira Internacional Resenha sobre a Ação dos Bancos Centrais, à página 76 do Relatório de Inflação de março de 2008 deste Banco Central. Maio 2008 Relatório de Estabilidade Financeira 21