CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO Rafaela Almeida David de Castro A INFLUÊNCIA DA PUBLICAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO MERCADO DE CAPITAIS Belo Horizonte 2011
Rafaela Almeida David de Castro A INFLUÊNCIA DA PUBLICAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO MERCADO DE CAPITAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Curso de Graduação em Administração do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração. Prof. Orientador: Vagner Antônio Marques Belo Horizonte 2011
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO ATA DE DEFESA FINAL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II Ao primeiro dia do mês de julho de 2011, na sala 201 do Prédio Escolar da unidade Campus II do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, reuniram-se, às 20:00 horas, os professores Vagner Antônio Marques, Flávia Vital e Uajará Pessoa Araújo para participarem da banca de avaliação do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado A influência da publicação das demonstrações contábeis no mercado de capitais de autoria da Aluna Rafaela Almeida David de Castro, como requisito parcial para aprovação na disciplina TCC II. Após a apresentação do trabalho, a aluna foi argüida pelos membros da banca, que em seguida reuniram-se para deliberar se o Trabalho apresentado atende os requisitos técnicos e acadêmicos exigidos. Uma vez avaliado, o trabalho foi declarado APROVADO. Nada mais havendo a tratar, o Professor Orientador, Presidente da Banca, declarou encerrada a sessão, cujas atividades são registradas nesta Ata, lavrada, a qual assina, juntamente com os demais membros da Banca Examinadora. Belo Horizonte, 01 de julho de 2011. Banca Examinadora: Prof. Orientador Vagner Antônio Marques (Presidente) Prof a. Flávia Vital Prof. Uajará Pessoa Araújo
Para Cléia Márcia, com amor.
RESUMO Segundo Fama (1970) os mercados de capitais são fundamentais para o desenvolvimento econômico de um país por alocar os recursos disponíveis para investimento, função que ao ser desenvolvida fornece sinais importantes à formação dos preços dos títulos, que devem refletir as informações existentes no sistema econômico a qualquer tempo. De acordo com Hendriksen e Van Breda (1999, p. 117) a informação é importante, pois permite aos investidores manter em suas carteiras as opções que atendam as suas preferências quanto ao risco e ao retorno. Takamatsu, Lamounier e Colauto (2008) afirmam que o conhecimento de especificidades das empresas e do mercado torna possível a elevação da eficiência e da rentabilidade das carteiras dos investidores no mercado financeiro. Neste sentido, as demonstrações contábeis apresentam ao usuário externo as situações financeiras, patrimoniais e econômicas das organizações. Por meio dessas informações, os investidores conseguem avaliar os riscos e o potencial de retorno de seus investimentos. Considerando a importância da informação para o desenvolvimento do mercado de capitais e também a relevância dos demonstrativos contábeis, esse trabalho propõe um estudo sobre a eficiência do mercado brasileiro e o impacto da divulgação das informações contábeis no preço das ações. Foi utilizada a técnica de Estudo de Eventos, sendo considerado como evento a data de divulgação das demonstrações contábeis trimestrais e anuais no período de 2007 a 2009 de 42 papéis de empresas listadas no Índice Bovespa (Ibovespa), consecutivamente, no período analisado. Os resultados indicaram que as demonstrações contábeis em sua maioria não afetaram significativamente nos preços dos títulos, salvo no período de 2009 em que observou-se efeito significativo, nos retornos dos títulos após a publicação. Palavras-Chaves: Eficiências de Mercado. Demonstrações Contábeis. Retornos Anormais.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 - Janela de eventos... 39 QUADRO 1 Modalidades de atos ou fatos relevantes... 29 QUADRO 2 Demonstrações contábeis e suas informações... 30 QUADRO 3 Pesquisas Anteriores... 34 QUADRO 4 Síntese dos resultados dos testes aplicados para retornos diários em 2007, 2008 e 2009... 61 QUADRO 5 Síntese dos resultados dos testes aplicados para retornos acumulados em 2007, 2008 e 2009... 63 QUADRO 6 Resumo das conclusões por objetivos propostos... 67
LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Retornos anormais diários das demonstrações trimestrais de 2007, 2008 e 2009... 62 GRÁFICO 2 - Retornos anormais acumulados das demonstrações anuais de 2007, 2008 e 2009... 62 GRÁFICO 3 - Retornos anormais acumulados das demonstrações trimestrais de 2007, 2008 e 2009... 64 GRÁFICO 4 - Retornos anormais acumulados das demonstrações anuais de 2007, 2008 e 2009... 64
LISTA DE TABELAS TABELA 1 Quantidade de eventos analisados... 37 TABELA 2 Estatística descritiva dos parâmetros da regressão do ano de 2007... 50 TABELA 3 Teste de normalidade dos parâmetros da regressão do ano de 2007... 51 TABELA 4 Estatística descritiva dos parâmetros da regressão do ano de 2008... 52 TABELA 5 Teste de normalidade dos parâmetros da regressão do ano de 2008... 52 TABELA 6 Estatística descritiva dos parâmetros da regressão do ano de 2009... 53 TABELA 7 Teste de normalidade dos parâmetros da regressão do ano de 2009... 53 TABELA 8 Resultado do teste de normalidade dos retornos anormais diários para 2007, 2008 e 2009... 55 TABELA 9 Resultado do teste de normalidade dos retornos anormais acumulados para 2007, 2008 e 2009... 55 TABELA 10 Resultados do teste T para retornos anormais diários em 2007, 2008 e 2009... 57 TABELA 11 Resultado do teste T para retornos anormais acumulados em 2007, 2008 e 2009... 57 TABELA 12 Resultado do teste dos sinais para retornos anormais diários em 2007, 2008 e 2009... 58 TABELA 13 Resultado do teste dos sinais para retornos anormais acumulados em 2007, 2008 e 200... 59 TABELA 14 Resultado do teste Wilcoxon Mann Whitney para retornos anormais acumulados em 2007, 2008 e 2009... 60 TABELA 15 Resultado do teste Wilcoxon Mann Whitney para retornos anormais acumulados em 2007, 2008 e 2009... 60
LISTA DE SIGLAS HME Hipótese de Mercados Eficientes CVM Comissão de Valores Mobiliários
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 12 1.1 Apresentação... 12 1.2 Evolução do tema... 13 1.3 Problema de pesquisa... 14 1.4 Justificativa... 14 1.5 Objetivos... 15 1.5.1 Objetivo geral... 15 1.5.2 Objetivos específicos... 15 2 CARACTERÍSTICAS DO MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO... 16 2.1 Dados gerais... 16 2.2 Histórico... 16 2.3 Crescimento... 17 2.4 Principais legislações... 18 3 REFERENCIAL TEÓRICO... 20 3.1 Information approach na contabilidade... 20 3.2 Informação contábil e mercado de capitais... 21 3.3 Hipótese de mercado eficiente (HME)... 23 3.3.1 Pressupostos da HME... 23 3.3.2 Formas de eficiência... 24 3.3.2.1 Forma fraca (weak form)... 24 3.3.2.2 Forma semi-forte (semi-strong form)... 26 3.3.2.3 Forma forte (strong form)... 27 3.4 Relevância das informações contábeis... 28 3.5 Divulgação de informações contábeis... 30 3.6 Pesquisas anteriores... 33 4 METODOLOGIA... 36 4.1 Classificação da pesquisa... 36
4.2 Definição da amostra... 37 4.3 Estudo de eventos... 37 4.3.1 Definição do evento... 38 4.3.2 Retorno normal (R i )... 40 4.3.3 Retornos estimados (R e )... 40 4.3.4 Retorno anormal (AR it )... 41 4.3.5 Retornos anormais acumulados... 42 4.4 Técnica de análise de dados... 43 4.4.1 Pressupostos econométricos... 43 4.4.2 Nível de significância dos testes... 44 4.4.3 Teste de normalidade... 44 4.4.4 Teste de diferença de médias... 45 4.4.4.1 Teste T para diferença de médias... 46 4.4.5 Testes não paramétricos... 46 4.4.5.1 Teste dos sinais... 46 4.4.5.2 Teste de Wilcoxon Mann Whitney... 47 4.5 Coleta de dados... 47 4.6 Hipóteses de pesquisa... 47 5 ANÁLISE DOS DADOS... 49 5.1 Análise descritiva dos parâmetros... 49 5.2 Teste de normalidade dos retornos anormais... 54 5.2.1 Retornos anormais diários... 54 5.2.2 Retornos anormais acumulados... 55 5.3 Resultados dos testes de diferença de médias aplicadas aos retornos anormais... 56 5.3.1 Teste T para diferença de médias... 56 5.3.1.1 Retornos anormais diários... 56 5.3.1.2 Retornos anormais acumulados... 57 5.3.2 Teste dos sinais... 58 5.3.2.1 Retornos anormais diários... 58 5.3.2.2 Retornos anormais acumulados... 58 5.3.3 Teste de Wilcoxon Mann Whitney... 59 5.3.3.1 Retornos anormais diários... 59 5.3.3.2 Retornos anormais acumulados... 60
5.4 Análise dos resultados... 60 6 CONCLUSÕES... 66 REFERÊNCIAS... 69 APÊNDICE A RELAÇÃO DE EMPRESAS PARTICIPANTES DA AMOSTRA... 76 APÊNDICE B DATAS DE APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS... 77 APÊNDICE C TESTE DE NORMALIDADE DOS RETORNOS ANORMAIS... 79
12 1 INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação Segundo Fama (1970) os mercados de capitais são fundamentais para o desenvolvimento econômico de um país por alocar os recursos disponíveis para investimento, função que ao ser desenvolvida fornece sinais importantes à formação dos preços dos títulos, que devem refletir as informações existentes no sistema econômico a qualquer tempo. Uma característica importante para que um mercado se desenvolva é a confiança entre os agentes de mercados. Promover a disciplina de divulgação de informações para os participantes do mercado é importante para fornecer condições para os investidores analisarem as empresas e tomarem decisões com mais certeza e confiança. De acordo com Hendriksen e Van Breda (1999, p. 117) a informação é importante, pois permite aos investidores manter em suas carteiras as opções que atendam as suas preferências quanto ao risco e ao retorno. Takamatsu, Lamounier e Colauto (2008) afirmam que o conhecimento de especificidades das empresas e do mercado torna possível a elevação da eficiência e da rentabilidade das carteiras dos investidores no mercado financeiro. Neste sentido, as demonstrações contábeis apresentam ao usuário externo as situações financeiras, patrimoniais e econômicas das organizações. Por meio dessas informações, os investidores conseguem avaliar os riscos e o potencial de retorno de seus investimentos. Estes autores atribuem à contabilidade e às informações por ela geradas uma importância fundamental no mercado de capitais, uma vez que a qualidade dessas informações está diretamente relacionada aos interesses peculiares dos usuários externos e às suas decisões. Fama (1970) supõe que num cenário em que o mercado é eficiente, as informações geradas pela contabilidade deveriam estar refletidas nos preços das ações, neste sentido, haveria uma forte relação entre as informações contábeis e o preço dos ativos no mercado, de forma que a alteração em uma variável contábil provocaria a variação dos preços das ações. Analisando a evolução do mercado de capitais no Brasil, podem-se observar diversas mudanças econômicas que afetaram o volume de negócios no país. Segundo Forti, Peixoto e Santiago (2009) o mercado de capitais brasileiro tem se expandido de forma vigorosa e as diversas mudanças ocorridas no quadro macroeconômico e regulatório brasileiro, como a
13 estabilização da economia e a abertura comercial, tornaram o mercado brasileiro mais atraente e acessível aos investidores. A consequência desse aumento foi o crescimento expressivo no valor das ações e dos volumes negociados na bolsa. Baesso et al. (2008) afirmam que a redução da inflação e do risco Brasil, a internacionalização dos mercados de capitais, a adesão do mercado brasileiro às regras contábeis internacionais e o aumento da base de investidores dispostos a transferir parte de sua poupança de renda fixa para ações são fatores que apontam para o aumento da eficiência do mercado de capitais no Brasil. Considerando a importância da informação para o desenvolvimento do mercado de capitais e também a relevância dos demonstrativos contábeis para o mercado, que as utiliza para mensurar o valor das empresas, os riscos e retornos esperados dos investimentos, esse trabalho se propõe a estudar a eficiência do mercado brasileiro e o impacto da divulgação das informações contábeis no preço das ações. Foi utilizado como evento a data de divulgação das demonstrações contábeis trimestrais e anuais no período de 2007 a 2009 dos papéis de empresas listadas no Índice Bovespa (Ibovespa) consecutivamente neste período. A amostra selecionada é composta por 42 papéis correspondente a 36 empresas. 1.2 Evolução do tema A Hipótese de Mercados Eficientes (HME) possibilitou um significativo avanço nas pesquisas empíricas de finanças em relação ao mercado de capitais, principalmente após o estudo de Fama (1970). Segundo Iudícibus e Lopes (2004) a HME proporcionou à contabilidade a possibilidade de verificação do relacionamento dos números contábeis e das variáveis econômicas. Os mesmos autores afirmam que com o início dos testes empíricos da HME na década de 60, começou-se a notar que as respostas do mercado para procedimento contábeis eram contraditórios ao esperado pelas regras contábeis existentes na época. Esse tipo de questionamento motivou os acadêmicos a verificarem se os números contábeis possuíam ou não conteúdo informacional relevante para o mercado de capitais. Yamamoto e Salotti (2006) afirmam que as pesquisas do final da década de 60 Ball e Brown (1968) e Beaver (1968) introduziram a metodologia financeira empírica, e a partir de então a literatura contábil passou a adotar a premissa de que a contabilidade fornece informações para o mercado de capitais, utilizando esse paradigma para investigar as relações entre a contabilidade e o preço das ações. Ball e Brown (1968) e Beaver (1968) afirmam que o tema divulgação de informações
contábeis tem tomado uma importância cada vez maior nos meios acadêmicos e profissionais, principalmente com o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro. 14 1.3 Problema de pesquisa Este trabalho preocupa-se em responder o seguinte problema de pesquisa: A publicação das demonstrações contábeis trimestrais e anuais afeta significativamente o preço das ações das empresas participantes do mercado de capitais? 1.4 Justificativa Segundo Fama (1970), todos os mercados são eficientes e se diferenciam em relação ao grau de eficiência, e pesquisas empíricas devem medir os efeitos do processo de formação dos preços com objetivo de identificar em qual forma de eficiência o mercado está inserido. Como consequência, a identificação da eficiência do mercado auxilia os agentes de mercados nas suas decisões e previsão de rentabilidade futura. Sob a perspectiva de crescimento econômico no país, este estudo é importante para mensurar o quão eficiente encontra-se o mercado brasileiro. Para Camargos e Barbosa (2003), o mercado de capitais brasileiro ainda carece de estudos que contemplem a sua eficiência, principalmente após a estabilização econômica e monetária ocorrida após 1994. Essas mudanças afetam diretamente o volume de negociações no mercado financeiro brasileiro. Forti, Peixoto e Santiago (2009) afirmam que a abertura financeira trouxe a possibilidade de que os investidores internacionais comprassem papéis nacionais diretamente no país, o reflexo desta mudança foi um crescimento expressivo no valor das ações e dos volumes negociados em bolsa. Baesso et al. (2008) indicam outros fatores que contribuíram para o aumento do volume financeiro negociado no mercado brasileiro como a redução da inflação e do risco Brasil, a internacionalização dos mercados de capitais e a progressiva adesão do mercado brasileiro às regras internacionais. Este trabalho contribui para o entendimento da reação dos acionistas às informações fornecidas pelas empresas em seus demonstrativos. Outro fator importante desse estudo é
identificar a ocorrência de retornos anormais gerados pela divulgação das informações contábeis dos principais ativos negociados no mercado. 15 O Índice Bovespa é o mais importante indicador do desempenho médio das cotações do mercado de ações brasileiro. Sua relevância advém do fato do Ibovespa retratar o comportamento dos principais papéis negociados na BM&F Bovespa pois, as ações que o integram respondem por mais de 80% do número de negócios e do volume financeiro verificado no mercado brasileiro. Dessa forma, este trabalho se torna importante por analisar o comportamento dos principais ativos financeiros no mercado financeiro, a influência das demonstrações contábeis no preço dos ativos e também, o grau de eficiência do mercado brasileiro atualmente. 1.5 Objetivos 1.5.1 Objetivo geral O objetivo geral deste estudo é verificar empiricamente se a publicação das demonstrações contábeis afeta o comportamento dos preços das ações. 1.5.2 Objetivos específicos 1. Identificar a importância das informações contábeis para o mercado de capitais. 2. Identificar os tipos de efeitos possíveis pela publicação das demonstrações. 3. Identificar os retornos normais e anormais dos títulos avaliados. 4. Verificar a homogeneidade estatística dos retornos pré e pós-evento.
16 2 CARACTERÍSTICAS DO MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO 2.1 Dados gerais Segundo BMF& Bovespa (2010, p.13): O mercado de capitais é um sistema de distribuição de valores mobiliários que visa proporcionar liquidez aos títulos de emissão de empresas e viabilizar seu processo de capitalização. É constituído pelas bolsas, corretoras e outras instituições financeiras autorizadas. Gitman e Madura (2003) definem as bolsas de valores como o local no mercado onde as empresas podem levantar fundos por meio da venda de novos títulos e os compradores de títulos podem manter liquidez, sendo capazes de revendê-los facilmente quando necessário. Em 2008, foi criada a BM&F Bovespa, com a integração da Bolsa de Mercadorias e Futuros e a Bovespa Holding. A BM&F Bovespa hoje é responsável pela negociação de títulos e valores mobiliários no Brasil. Com objetivo de fiscalizar e normatizar o mercado de capitais no Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), é, segundo Bovespa (2010, p.23) A CVM é uma autarquia especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com a responsabilidade de disciplinar, fiscalizar e promover o mercado de valores mobiliários. Criada em 1976, a CVM assegura o exercício das práticas, a fim de coibir qualquer tipo de irregularidade nas negociações. 2.2 Histórico O crescimento das empresas e a expansão da economia brasileira fez surgir uma necessidade de crédito e de capital que permitisse o aumento da escala produtiva. Para Vieira e Mendes (2006), com a mudança do cenário econômico no Brasil, as empresas começaram um processo de abertura de capital e aumentou a necessidade de uma administração profissional evidente e também, de melhor fiscalização e regulamentação no mercado financeiro. Andrezo e Lima (2000) afirmam que a partir de 1964, a estrutura financeira nacional começou a se desenhar; até aquele ano as empresas tinham poucas opções de financiamento, o mercado acionário praticamente inexistia e haviam elevados índices de inflação e dificuldade de obtenção de informações sobre a real situação das empresas.
17 O mercado de capitais brasileiro, desde 1940, era regulamentado pelo Decreto-Lei 2.627. A Lei do Mercado de Capitais n 4.728, aprovada em 1965, a Lei 6.385 (criação da CVM) em 1976 e a Lei das Sociedades por Ações, aprovada em 1976 marcaram o desenvolvimento legal do mercado financeiro no país. Segundo Vieira e Mendes (2006), a Lei das S.A regulamentou a estrutura básica que as empresas deveriam seguir em sua contabilidade, forma organizacional, direitos e deveres de dirigentes e acionistas, além de padronizar as práticas existentes. A partir da década de 90, a entrada de capital estrangeiro no país se intensificou. Segundo Andrezo e Lima (2000), a abertura externa, a privatização de estatais, a estabilização econômica e a redução da participação do Estado no sistema bancário nacional, que passou a concentrar sua atuação como regulador e fiscalizador mudou a imagem do país perante os investidores. Os autores afirmam que esses fatores foram importantes para o desenvolvimento do mercado acionário no Brasil. A Lei n 10.303 de 31 de outubro de 2001 aprovou ementas de modificações na Lei 6.404 (Lei das S.A.) e na Lei 6.385 (Criação da CVM). Souza (2002) afirma que esta Lei introduziu mudanças na estrutura de capital das companhias abertas, na administração e nos direitos dos acionistas não-controladores. Tais modificações, segundo o autor, acrescentaram ao mercado brasileiro princípios de Governança Corporativa e fortaleceu a estrutura do mercado de capitais no Brasil. Em 2008, a Bovespa se integrou com a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) formando a BM&F Bovespa, atual instituição brasileira de intermediação para operações do mercado de capitais e mercadorias e futuros. Essa junção levou a BM&F Bovespa a se posicionar como a segunda maior bolsa de negociação das Américas. 2.3 Crescimento O mercado de capitais no Brasil teve um lento desenvolvimento que teve como fatores responsáveis o fechamento da economia e dos investimentos até a década de 1990. De acordo com Andrezo e Lima (2000), neste período a instabilidade econômica e a preocupação com a inflação não permitiam o desenvolvimento do mercado de capitais no país. Até este período, abrir o seu capital não era interessante para as empresas, visto que existiam outras formas de financiamento menos onerosas de recursos governamentais subsidiados.
18 A partir do início da década de 90, o mercado começou a se desenvolver com a entrada de recursos estrangeiros e a privatização de estatais, que refletiu em um crescimento expressivo no valor das ações e no volume de negociações. Segundo Bovespa (2000) já no final desta década, o mercado de capitais brasileiro perde sua atratividade com o fim das privatizações mais importantes, o aumento dos custos de transações (criação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira CPMF) e o surgimento e facilidade de acesso às bolsas internacionais. A retomada do crescimento no mercado de ações brasileiro se deu pela necessidade de investimento para as empresas, pois, com o fim de créditos subsidiados pelo governo as empresas precisaram buscar outras fontes de captação de recursos. Andrezo e Lima (2000) completam que do lado dos acionistas, a baixa inflação, a queda da taxa de juros e a maior transparência nas informações gerenciais da empresas são fatores que contribuiram para o crescimento do volume de negociações no mercado e para o crescimento dos mercados latinos-americanos.. Com objetivo de desenvolver o mercado de capitais brasileiro, nota-se o crescimento de práticas de transparencia gerencial adotadas pelas empresas e estimuladas pelos órgãos regulamentadores. Para Forti, Peixoto e Santiago (2009), o desenvolvimento atual do mercado de capitais brasileiro tem como uma das causa a crescente preocupação com a divulgação de informações e a adoção de práticas de de governança corporativa entre as empresas. 2.4 Principais legislações As principais legislações que regulamentam o mercado de capitais brasileiro são: Lei n 4.728 (Mercado de Capitais); Lei n 6.385 (criação da CVM); Lei n 6.404 (Lei das S.A.) e a Lei n 10.303. A Lei de Mercado de Capitais n 4.728 foi instituída em 14 de julho de 1965. Nela foi atribuído ao Conselho Monetário Nacional e ao Banco Central do Brasil a autoridade de regulamentar e fiscalizar o mercado de capitais no país. Também foi instituído o sistema de distribuição no mercado de capitais e os seus participantes. A Lei formalizou o acesso ao mercado financeiro pelos investidores e pelas empresas; as obrigações das companhias abertas; as sociedades e fundos de investimentos.
19 A Lei n 6.385 foi aprovada em 7 de dezembro de 1976, e nela foi criada a CVM. A partir da legislação, foi definida a CVM como órgão regulamentador e fiscalizador das atividades e os serviços do mercado de valores mobiliários. Cabe à CVM também, a veiculação de informações relativas ao mercado e às pessoas que dele participem. Posterior à criação da CVM, foi aprovada a Lei das S.A em 15 de dezembro de 1976, que descreveu uma empresa sociedade anônima e instituiu seus deveres e obrigações como participante do mercado de capitais brasileiro. Esta Lei definiu as condições necessárias para que uma empresa abra seu capital, diferenciou as sociedades anônimas abertas e fechadas, firmou a autoridade da CVM como órgão regulamentador e fiscalizador das S.A. Uma importante contribuição dessa lei foi a definição da obrigatoriedade de divulgação dos demonstrativos contábeis anuais com objetivo de exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no período. Com objetivo de alterar e acrescentar disposições na Lei n 6.404/76 (Lei das S.A.) e na Lei n 6.385/76 (Criação da CVM) foi decretada a Lei n 10.303 em 31 de outubro de 2001. Como principais mudanças, esta Lei firmou o direito de tag along para as ações ordinárias, o processo de fechamento de capital e fortaleceu a CVM como órgão regulador. Esta Lei também regulamentou as assembleias de investidores e a formação do conselho de administração das empresas sociedades anônimas.
20 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Information approach na contabilidade No final da década de 60 a ênfase das pesquisas em contabilidade passou da abordagem normativa para uma perspectiva com base na informação, que ficou conhecida como information approach (abordagem da informação). Segundo Lopes (2002) essa nova visão dominou as pesquisas acadêmicas e foi premissa de importantes trabalhos anglo-saxões que se seguiram. Isso implicou que as pesquisas passaram, a partir dessa nova abordagem, a focar na observação empírica da relação entre a contabilidade e suas informações e o valor das empresas no mercado de capitais (abordagem positiva). Yamamoto e Salotti (2006) afirmam que os trabalhos de Ball e Brown (1968) e Beaver (1968) foram importantes contribuições para a pesquisa positiva em contabilidade, através da introdução da metodologia financeira empírica. Ball e Brown (1968) estudaram a reação dos preços de mercado à evidenciação de lucro contábil anormal. Beaver (1968) analisou o comportamento dos preços e do volume negociado nas semanas próximas da divulgação de informações contábeis. Para Lopes (2002) estes estudos demonstraram que tanto o preço quanto o volume de negociações reagem à divulgação das informações contábeis. Este autor ainda afirma que esta relação entre o mercado de capitais e as demonstrações contábeis descrita nos trabalhos de Ball e Brown (1968) e Beaver (1968) abriram uma nova era no campo de pesquisas em contabilidade. Yamamoto e Salotti (2006, p. 1) afirmam ainda que: A partir de então, a literatura contábil passa a adotar a premissa de que a contabilidade fornece informações para o mercado de capitais, utilizando esse paradigma para investigar as relações entre a contabilidade e o preço das ações. Segundo Lopes (2002), com essa nova visão, a contabilidade começou a ser vista de uma maneira diferente com a alteração dos mecanismos de pesquisa e o estabelecimento de hipóteses e testes empíricos para verificação do real comportamento dos agentes econômicos
21 em face da informação contábil. O autor considera ainda que a information approach concebe à contabilidade o seu papel de fornecedora de informações para os agentes econômicos. Assim, a contabilidade deve ser avaliada pela sua capacidade de fornecer informações que sejam úteis ao processo de tomada de decisões dos seus usuários. Segundo Yamamoto e Salotti (2006), para que a informação contábil seja eficiente em auxiliar a tomada de decisão dos seus usuários ela necessita de possuir as seguintes características: a) relevância: a qualidade da informação é dada pela sua capacidade de auxiliar o usuário a estimar os resultados da empresa (capacidade preditiva); b) confiabilidade: as mensurações são verificáveis quando podem ser avaliadas por outros profissionais qualificados, utilizando os mesmos métodos; c) oportunidade: disponibilização da informação contábil no momento em que sua utilização seja necessária; d) consistência em sua divulgação; e) comparabilidade: capacidade de comparação entre diferentes entidades. Observa-se que a evolução das pesquisas na área contábil trouxe uma nova visão em relação à informação contábil. As recorrentes pesquisas reforçam a hipótese de que essas informações tornaram-se base para a tomada de decisões pelos investidores, que utilizam os demonstrativos para projetar suas perspectivas em relação ao futuro da empresa e seu comportamento no mercado. 3.2 Informação contábil e mercado de capitais A contabilidade fornece dados passados sobre os fluxos de caixa, lucros, dividendos e outras informações que podem ser utilizadas como parâmetros de avaliação da empresa. Iudícibus e Lopes (2004) afirmam que as informações contábeis fornecem evidências de comportamentos de fluxos de caixa futuros, que são utilizados como determinantes do valor da empresa. Kam 1 (1986) apud Yamamoto e Salotti (2006) afirma que a informação é relevante para uma decisão se ela pode reduzir a sua incerteza, por exemplo, a informação sobre eventos passados fornecem apoio na previsão de resultados futuros. Para Lopes e Martins (2005, p. 77): A relação entre a informação contábil e o preço dos títulos negociados na bolsa de valores é central, pois os preços de mercado refletem as expectativas dos agentes econômicos acerca do futuro da empresa e da economia. 1 KAM, V. Accounting theory. New York : Wiley, 1986.
22 O estudo de Beaver (1968) apresenta os cinco grupos de usuários das informações contábeis: investidores, intermediários de informação (analistas, empresas de classificação de risco e outros), órgãos de regulamentação, administradores e auditores. O autor ainda afirma que a informação contábil pode afetar o comportamento de seus usuários, e estes possuem uma tendência natural de exigir um número cada vez maior de informações, com maior grau de precisão e menor espaço de tempo. Yamamoto e Salotti (2006) afirmam que a informação contábil divulgada pela empresa tem como principal função fornecer dados úteis aos usuários e ressaltam a importância do processo de divulgação. Os autores classificam os níveis de divulgação como completa, justa e adequada. O nível de divulgação completa (full disclosure) aborda a maximização da divulgação pelos agentes e contempla a ideia de que todas as informações são importantes e devem ser divulgadas. A divulgação justa pressupõe o tratamento equitativo a todos os usuários e a divulgação adequada afirma que devem ser divulgadas informações somente quando estas são relevantes para os usuários. Hendriksen e Breda (2007) acreditam que a divulgação das informações relevantes para os usuários deve ser adequada, justa e completa e não há diferença real entre esses conceitos, caso sejam utilizados no contexto apropriado. A divulgação das informações pode ser classificada como obrigatória ou voluntária. De acordo com Yamamoto e Salotti (2006), pesquisadores favoráveis à obrigatoriedade afirmam que as empresas não fornecem informações suficientes aos seus usuários, pois consideram que a divulgação em excesso favorece os concorrentes. Os defensores da divulgação voluntária argumentam que as empresas possuem estímulos necessários para fornecer informações de qualidade capazes de satisfazer seus usuários. Segundo Yamamoto e Salotti (2006, p. 12) o papel dos relatórios contábeis obrigatórios, fonte primária de informação, é confirmatório em relação à divulgação voluntária, uma vez que as demonstrações obrigatórias são auditadas elas podem ser utilizadas para averiguar a veracidade da divulgação voluntária. Dessa forma, essas demonstrações são úteis na criação de um ambiente em que os administradores possam comunicar com maior credibilidade suas informações relevantes que não são diretamente verificáveis.