AGRAVO REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR N. 18.432-SP (2011/0218651-0)



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Transcrição:

Quarta Turma

AGRAVO REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR N. 18.432-SP (2011/0218651-0) Relator: Ministro Marco Buzzi Agravante: Manoel Domingues da Silva Agravante: Tereza Fortunato da Silva Advogado: Fernando Rodrigues Agravado: Companhia de Habitação Popular de Bauru - Cohab Bauru Advogado: Roberto Antônio Claus EMENTA Agravo regimental em medida cautelar. Pretensão voltada à atribuição de efeito suspensivo a recurso especial pendente de juízo de admissibilidade perante o Tribunal a quo. Inexistência de teratologia do decisum estadual ou manifesto confronto com jurisprudência desta Corte. Fumus boni juris necessário à excepcional concessão da medida não demonstrado. Recurso desprovido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão (Presidente), Maria Isabel Gallotti e Antonio Carlos Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Raul Araújo. Brasília (DF), 06 de outubro de 2011 (data do julgamento). Ministro Marco Buzzi, Relator DJe 14.10.2011

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RELATÓRIO O Sr. Ministro Marco Buzzi: Trata-se de agravo regimental, interposto por Manoel Domingues da Silva e Tereza Fortunato da Silva contra decisão monocrática deste relator, que indeferiu a petição inicial, negando seguimento à medida cautelar, ante a ausência de fumus boni juris. Os ora agravantes reiteram os argumentos invocados no recurso especial, sustentando que o efeito suspensivo visa impedir o uso desproporcional do direito da resolução do contrato por parte da agravada, impedindo a rescisão em prol da preservação do contrato, levando em consideração os princípios da boa-fé e da função social do contrato, principalmente, diante da teoria do adimplemento substancial do contrato (...) (fl. 195, e-stj). É o relatório. VOTO O Sr. Ministro Marco Buzzi (Relator): Sem razão os insurgentes, impondo-se o desprovimento do agravo regimental. Com efeito, a competência do STJ para a apreciação de ação cautelar, objetivando a concessão de efeito suspensivo a recurso especial, instaura-se, a rigor, após a realização do juízo de admissibilidade no Tribunal de origem, consoante se infere dos Verbetes n. 634 e n. 635 da Súmula do STF. Súmula n. 634 Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem. Súmula n. 635 Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade. In casu, conforme alegação dos próprios requerentes (fl. 04, e-stj), o recurso especial interposto pende de análise do juízo de admissibilidade pela Corte Estadual. Desta feita, a admissibilidade da medida cautelar encontra-se condicionada à demonstração de teratologia ou manifesto confronto do acórdão recorrido com jurisprudência consolidada na Corte, pois, do contrário, incide o entendimento de que a competência do STJ para a apreciação de ação cautelar, objetivando 450

Jurisprudência da QUARTA TURMA a concessão de efeito suspensivo a recurso especial, instaura-se, a rigor, após a realização do juízo de admissibilidade no Tribunal de origem, consoante se infere dos Verbetes n. 634 e n. 635 da Súmula do STF (AgRg na MC n. 18.395-SP, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, 4ª Turma, j. em 15.09.2011). No mesmo sentido: Processual Civil. Medida cautelar. Atribuição de efeito suspensivo a recurso especial pendente do juízo de admissibilidade na origem. Impossibilidade. Súmulas n. 634 e n. 635-STF. 1. Compete ao Tribunal de origem a apreciação de medida cautelar destinada a conferir efeito suspensivo a recurso especial ainda pendente de juízo de admissibilidade. Súmulas n. 634 e n. 635-STF. 2. Incabível o abrandamento dos comandos sumulares retro, quando não evidenciado o caráter teratológico da decisão estadual impugnada. 3. Carece de interesse processual a parte que postula o imediato processamento do recurso especial sem comprovar tenha a Corte de origem determinado a aplicação da regra retentiva constante no art. 542, 3º, do Código de Processo Civil. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg na MC n. 17.399-SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha). Na espécie, conforme fundamentação constante do decisum atacado, o aresto emanado do Tribunal de origem não contém solução jurídica teratológica, sendo descabida, portanto, a atribuição de efeito suspensivo ao recurso especial, por esta Corte, previamente ao juízo de admissibilidade a ser realizado em sede estadual. Por brevidade, vale a transcrição do decisum hostilizado, no que interessa, para confirmação ante esta colenda Turma: A própria requerente afirma, já em sua exordial, encontrar-se ainda pendente o exercício do exame de admissibilidade do Recurso Especial interposto junto ao Tribunal a quo. Nesse estágio processual, portanto, a concessão da medida cautelar, para conferir efeito suspensivo a recurso sequer admitido, pressupõe a aferição da existência de decisão teratológica ou manifestamente contrária à jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça. Sobre o tema, vale conferir pronunciamentos desta Casa: 1) AgRg na MC n. 13.123-RJ, Rel. Min. Nancy; Andrighi, Terceira Turma, DJ 08.10.2007; 2) AgRg na MC RSTJ, a. 23, (224): 447-545, outubro/dezembro 2011 451

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA n. 12.595-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ 03.05.2007; 3) AgRg na MC n. 17.818-PB, rel Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJ 28.06.2011. No caso concreto, não se vislumbra teratologia ou manifesto conflito entre o que restou decidido no acórdão atacado e a jurisprudência deste STJ. Com efeito, a matéria principal alegada no Recurso Especial diz com a falta de antecedente notificação dos devedores a lhes constituir em mora previamente à deflagração do pedido de cumprimento de sentença. Todavia, para defender referida argumentação, citam os requerentes artigos concernentes à execução de título extrajudicial, os quais não se coadunam à hipótese concreta discutida nos autos, que versa sobre cumprimento de título judicial, hipótese na qual o devedor já se encontra constituído em mora desde a citação (art. 219 do CPC). De resto, analisando as demais teses suscitadas no Recurso Especial, não se verifica, primo oculi, em nenhuma delas, plausibilidade jurídica suficiente a derrubar a inadimplência dos devedores, daí por que não há falar em acórdão teratológico ou confrontante à jurisprudência pacífica deste STJ. Logo, não se verifica a existência do fumus boni juris indispensável ao ajuizamento da medida cautelar em sede de Recurso Especial, que ainda sequer teve seu processamento admitido no Tribunal local. Do exposto, nego provimento ao agravo regimental. É o voto. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 1.181.920-MG (2010/0032109-3) Relator: Ministro Marco Buzzi Agravante: Metropolitan Life Seguros e Previdência Privada S/A Advogados: Juliana dos Santos Caetano Márcio Alexandre Malfatti Patricia Carrilho Corrêa Gabriel Freitas e outro(s) Agravado: Tarcisio dos Santos Balbino Advogado: Joaquim Celestino Soares Pereira e outro(s) 452

Jurisprudência da QUARTA TURMA EMENTA Agravo regimental em recurso especial. Ação de cobrança lastrada em contrato de seguro. Pretensão cujo exercício prescreve em prazo ânuo. Suspensão de sua fluência entre a data da comunicação do sinistro em sede administrativa e posterior recusa de pagamento. Súmula n. 229-STJ. Análise da contagem do prazo realizada no Tribunal a quo. Impossibilidade por demandar o reexame de aspectos fáticos da lide. Incidência da Súmula n. 7. Recurso desprovido. I. A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora prescreve em um ano. - Súmula n. 101-STJ. II. O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão. - Súmula n. 229-STJ. III. O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral. - Súmula n. 278-STJ. IV. Rever o confronto de datas promovido pelas instâncias ordinárias, cuja investigação levou em consideração as provas coligidas no iter processual para aferir a fluência do prazo prescritivo, demandaria revolvimento do conjunto fático-probatório, inadmissível na via recursal eleita, como cristalizado no Verbete n. 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. V. Agravo regimental desprovido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão (Presidente), Maria Isabel Gallotti e Antonio Carlos Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Raul Araújo. RSTJ, a. 23, (224): 447-545, outubro/dezembro 2011 453

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Brasília (DF), 06 de outubro de 2011 (data do julgamento). Ministro Marco Buzzi, Relator DJe 14.10.2011 RELATÓRIO O Sr. Ministro Marco Buzzi: Trata-se de agravo regimental, interposto por Metropolitan Life Seguros e Previdência Privada S/A contra decisão monocrática do eminente Ministro João Otávio de Noronha, que negou seguimento a recurso especial. Transcreve-se a ementa do decisum hostilizado (fl. 296 e-stj): Civil. Seguro. Ação do segurado contra seguradora. Indenização securitária. Prescrição ânua. Reexame de provas. Incidência da Súmula n. 7-STJ. 1. O prazo prescricional decorrente de contrato de seguro tem início na data em que o segurado tem conhecimento inequívoco do sinistro (Súmula n. 278- STJ), ficando suspenso entre a comunicação do sinistro e a recusa ao pagamento da indenização. 2. O recurso especial não é via própria para a apreciação de questão relativa ao decurso do prazo prescricional, pois, para tanto, é necessário o reexame dos elementos probatórios considerados para a solução da controvérsia. 3. Recurso especial não conhecido. A ora agravante assevera que não há necessidade de nova análise do conjunto fático-probatório para o reconhecimento da prescrição. Reitera os argumentos lançados no recurso especial, mediante os quais sustenta que o pedido administrativo do segurado, não suspende o prazo prescricional para o exercício da pretensão de cobrança. É o relatório. VOTO O Sr. Ministro Marco Buzzi (Relator): Sem razão a agravante, impondo-se o desprovimento do agravo regimental. Como bem anotado na brilhante decisão do eminente Ministro João Otávio de Noronha, relator originário, de acordo com precedentes deste Superior Tribunal de Justiça, o marco inicial da contagem do prazo prescricional ânuo é a 454

Jurisprudência da QUARTA TURMA data em que o segurado tem inequívoca ciência de sua incapacidade laborativa, sendo que este interregno permanece suspenso entre a data da comunicação do sinistro, e a recusa do pagamento da indenização por parte da seguradora. Outrossim, rever o confronto de datas promovido pelas instâncias ordinárias, cuja investigação levou em consideração as provas coligidas no iter processual, de modo a definir a fluência do prazo prescricional, demandaria revolvimento do conjunto fático-probatório, inadmissível na via recursal eleita, como cristalizado no Verbete n. 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. Nesse sentido: Civil e Processo Civil. Violação do art. 535 do CPC. Não ocorrência. Seguro. Ação do segurado contra seguradora. Indenização securitária. Prescrição ânua. Cerceamento de defesa. Não ocorrência. Livre convencimento do julgador. Reexame de provas. Incidência da Súmula n. 7-STJ. Aplicação de multa. Art. 557, 2º, CPC. 1. Não há violação do art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido, integrado pelo julgado proferido nos embargos de declaração, dirime, de forma expressa, congruente e motivada, as questões suscitadas nas razões recursais. 2. O prazo prescricional decorrente de contrato de seguro tem início na data em que o segurado tem conhecimento inequívoco do sinistro (Súmula n. 278- STJ), ficando suspenso entre a comunicação do sinistro e a recusa ao pagamento da indenização. 3. O recurso especial não é via própria para a apreciação de questão relativa ao decurso do prazo prescricional, pois, para tanto, é necessário o reexame dos elementos probatórios considerados para a solução da controvérsia. 4. Aplica-se a Súmula n. 7 do STJ quando a apreciação da tese versada no recurso especial reclama a análise dos elementos probatórios produzidos ao longo da demanda. 5. Cabe aplicação da multa prevista no art. 557, 2º, do CPC na hipótese de recurso manifestamente improcedente e procrastinatório. 6. Agravo regimental desprovido. AgRg no REsp n. 1.236.485-SC, Relator Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, DJe 09.08.2011). Contrato de seguro de vida em grupo. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental. Reexame de provas em sede de recurso especial. Inviabilidade. 1. Orienta a Súmula n. 7 desta Corte que a pretensão de simples reexame de provas não enseja recurso especial. RSTJ, a. 23, (224): 447-545, outubro/dezembro 2011 455

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 2. O prazo de prescrição para ajuizamento da ação de indenização relativa a seguro de vida poderá iniciar-se a partir da concessão de aposentadoria pelo INSS como termo inicial do prazo prescricional. 3. No caso, portanto, diante da moldura fática apurada pela Corte local, ainda que o requerimento administrativo possa suspender a fluência do prazo prescricional, não há como afastar a sua ocorrência. 4. Agravo regimental não provido. (EDcl no REsp n. 856.596-SP, Relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe 09.08.2011). Do exposto, nego provimento ao agravo regimental. É o voto. RECURSO ESPECIAL N. 494.183-SP (2002/0155865-3) Relatora: Ministra Maria Isabel Gallotti Recorrente: Nelinho Candido Moutim Advogado: Roberto Dias Vianna de Lima e outro Advogada: Andrea Helena Costa Prieto e outro(s) Recorrido: Rede Ferroviária Federal S/A - RFFSA - em liquidação extrajudicial Advogado: Marcia Rodrigues dos Santos e outro(s) EMENTA Civil e Processual Civil. Recurso especial. Responsabilidade civil. Atropelamento em via férrea. Morte de transeunte. Concorrência de culpas da vítima e da empresa ferroviária. Dano moral. Juros de mora. Termo inicial. Data do arbitramento. 13º salário. Não comprovação de exercício de atividade remunerada pela vítima. Improcedência. Pensão devida ao filho da vítima. Limite etário. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça reconhece a concorrência de culpas da vítima de atropelamento em via férrea e 456

Jurisprudência da QUARTA TURMA da concessionária de transporte ferroviário, porquanto cabe à empresa fiscalizar e impedir o trânsito de pedestres nas suas vias. 2. Dano moral fixado em razão da perda da genitora em valor condizente com a linha dos precedentes do STJ. 3. Não comprovado o exercício de atividade remunerada pela vítima, não procede o pedido de 13º salário. 4. Pensionamento devido até a idade em que o filho menor da vítima completa 25 anos, conforme precedentes do STJ. 5. A correção monetária deve incidir a partir da fixação de valor definitivo para a indenização do dano moral. Enunciado n. 362 da Súmula do STJ. 6. Os juros moratórios devem fluir, no caso de indenização por dano moral, a partir da data do julgamento em que foi arbitrada a indenização (REsp n. 903.258-RS, 4ª Turma, Rel. Min. Isabel Gallotti, julgado em 21.06.2011). 7. Recurso especial parcialmente provido. ACÓRDÃO A Turma, por unanimidade, deu parcial provimento ao recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora, vencido em parte o Ministro Luis Felipe Salomão, no tocante ao termo inicial dos juros dos danos morais. Os Srs. Ministros Antonio Carlos Ferreira, Luis Felipe Salomão e Raul Araújo votaram com a Sra. Ministra Relatora. Dr(a). Andrea Helena Costa Prieto, pela parte recorrente: Nelinho Candido Moutim. Brasília (DF), 1º de setembro de 2011 (data do julgamento). Ministra Maria Isabel Gallotti, Relatora DJe 09.09.2011 RELATÓRIO A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti: Nelinho Cândido Moutim ajuizou ação de reparação de danos em face da Rede Ferroviária Federal S/A, alegando RSTJ, a. 23, (224): 447-545, outubro/dezembro 2011 457

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA responsabilidade da ré no acidente envolvendo composição férrea que resultou na morte de sua mãe. Pleiteou a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais, pensões mensais vencidas e vincendas, 13º salário, constituição de capital garantidor, juros de mora e correção monetária sobre todas as verbas indenizatórias. O MM. Juiz da 13ª Vara Cível Central de São Paulo julgou improcedente o pedido, ao fundamento de que houve culpa exclusiva da vítima no sinistro, que teria agido com imprudência e descuido ao caminhar sobre o leito ferroviário (fls. 238-243). Inconformado, o autor interpôs apelação cível, alegando que a Rede Ferroviária falhou no dever de fiscalizar e vigiar a via férrea, devendo, por isso, ser responsabilizada pelo evento fatal. Contra-razões da apelada às fls. 267-271, requerendo o julgamento do agravo retido em que alegou cerceamento de defesa por de ter sido indeferida a coleta do depoimento do maquinista do trem. O Primeiro Tribunal de Alçada Cível do Estado de São Paulo negou provimento à apelação e ao agravo retido, em acórdão que recebeu a seguinte ementa (fl. 281): Responsabilidade civil. Acidente ferroviário. Atropelamento de pedestre. Depoimento do condutor do trem. Desnecessidade. Cerceamento de defesa inocorrente. Culpa exclusiva da vítima que caminhava sobre a linha férrea. Indenizatória improcedente. Recursos improvidos. O autor, então, interpôs recurso especial com fundamento no art. 105, III, alínea c, da Constituição Federal, sustentado a culpa da empresa ferroviária no acidente que vitimou sua mãe, ao argumento de que é ônus da ré cercar e fiscalizar a linha férrea. Ressaltou que não foi cumprida a determinação contida no art. 10 do Decreto n. 2.080/1963, no sentido de cercar a faixa ocupada por suas linhas, conservando cercas, muros ou valas para impedir a circulação de pessoas no leito férreo. Contrarrazões às fls. 327-349, pugnando pela aplicação das Súmulas n. 282-STF e n. 7-STJ ao recurso especial. Juízo prévio positivo de admissibilidade à fl. 397. 458

Jurisprudência da QUARTA TURMA A decisão denegatória do recurso especial de fls. 413-414, proferida pelo Desembargador Convocado Honildo Amaral de Mello Castro, foi impugnada pelo agravo regimental de fls. 420-424 e reconsiderada por esta relatora à fl. 426. É o relatório. VOTO A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti (Relatora): Como se vê do relatório, trata-se de recurso especial em que o recorrente aponta divergência jurisprudencial entre o acórdão recorrido e precedentes desta Corte, quanto à responsabilidade da ferrovia nos atropelamentos em via férrea. Tenho por demonstrado o dissídio invocado. Passo, pois, ao exame do recurso. No tocante à culpa pelo acidente, colhe-se da leitura da sentença (fls. 240-243) que, no dia 12.02.1984, a vítima, mãe do autor, caminhava pela linha do trem quando foi atropelada por uma composição da ré, vindo a falecer. Depreende-se dos autos, também, que o acidente ocorreu nas proximidades de estação ferroviária provida de passagem de nível para pedestres. Ocorre que a presença de passagem para transeuntes, por si só, não retira a responsabilidade da concessionária, pois a empresa deveria ter mantido fechados outros acessos, mesmo que clandestinamente abertos por populares, pois cuidase de área urbana, questão, aliás, que não é meramente fática, mas de direito. Confira-se nesse sentido: I Responsabilidade civil. Ferrovia. Passagem clandestina. Concorrência de culpa. A companhia ferroviária tem o dever de cuidado e conservação de cercas e muros que ergue ao longo das linhas férreas, não podendo permitir o uso de passagem clandestina pelos moradores próximos da estrada. A existência de passarela, que poderia ter sido utilizada para a travessia, caracteriza a culpa concorrente da vítima. Precedentes. Recurso conhecido e provido em parte. (REsp n. 480.357-SP, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Quarta Turma, julgado em 18.02.2003, DJ 15.09.2003, p. 326). RSTJ, a. 23, (224): 447-545, outubro/dezembro 2011 459

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Civil e Processual. Ação de indenização. Atropelamento em via férrea. Morte de ciclista. Passagem clandestina. Existência de passagem de nível próxima. Concorrência de culpas da vítima e da empresa concessionária de transporte. Danos materiais e morais devidos. Pensão. Juros moratórios. Súmula n. 54-STJ. Constituição de capital ou caução fidejussória. I. Inobstante constitua ônus da empresa concessionária de transporte ferroviário a fiscalização de suas linhas em meios urbanos, a fim de evitar a irregular transposição da via por transeuntes, é de se reconhecer a concorrência de culpas quando a vítima, tendo a sua disposição passagem de nível construída nas proximidades para oferecer percurso seguro, age com descaso e imprudência, optando por trilhar caminho perigoso, levando-o ao acidente fatal. (...) VI. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp n. 622.715-SP, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, julgado em 24.08.2010, DJe 23.09.2010). Responsabilidade civil. Acidente ferroviário. Vítima fatal. Culpa concorrente. Danos morais e materiais. Proporcionalidade. Neste Superior Tribunal de Justiça, prevalece a orientação jurisprudencial no sentido de que é civilmente responsável a concessionária do transporte ferroviário pelo falecimento de pedestre vítima de atropelamento por trem em via férrea, porquanto incumbe à empresa que explora tal atividade cercar e fiscalizar, eficazmente, a linha, de modo a impedir a sua invasão por terceiros, notadamente em locais urbanos e populosos. Nesses casos, é reconhecida a culpa concorrente da vítima que, em razão de seu comportamento, contribuiu para o acidente, por isso a indenização deve atender ao critério da proporcionalidade, podendo ser reduzida à metade. Recurso especial parcialmente provido. (REsp n. 257.090-SP, Rel. Ministro Castro Filho, Terceira Turma, julgado em 16.12.2003, DJ 1º.03.2004, p. 178). Não se pode desconhecer, contudo, que houve descuido da vítima ao transitar pela linha férrea, fator que deve ser considerado na avaliação do grau de culpa da empresa. Em vista disso, o pedido de indenização mostra-se parcialmente procedente, sendo o caso de aplicar-se o art. 257 do RISTJ, para fazer incidir o direito pertinente em face do pedido exordial, examinando-se o cabimento das verbas postuladas. 460

Jurisprudência da QUARTA TURMA O pedido de indenização por dano moral formulado pelo autor merece acolhida, pela obviedade da lesão moral sofrida com a perda de sua genitora. A jurisprudência do STJ tem fixado como indenização de dano moral em caso de morte o valor em moeda corrente situado por volta de 500 salários mínimos (cf. entre outros, REsp n. 1.021.986-SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe 27.04.2009; REsp n. 959.780-CE, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, DJe 06.05.2011; REsp n. 731.527- SP, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, DJe 17.08.2009). Aqui, considerada a culpa recíproca, fixo a indenização em R$ 136.000,00 (cento e trinta e seis mil reais), a ser corrigida a partir da presente data pelos índices oficiais aplicáveis à espécie (Súmula n. 362-STJ). Quanto ao pedido de 13º salário, o quadro fático descrito nos autos reflete que o autor perdeu sua mãe em tenra idade, não havendo, entretanto, comprovação de que a vítima exercia atividade remunerada de doméstica/ diarista, como alegado na inicial. Ao contrário, consta do depoimento de testemunha arrolada pelo autor (fls. 167) que a vítima à época cuidava da família, que era sustentada pelo marido. Indevido, portanto, o 13º salário. Já com relação ao pensionamento, o entendimento jurisprudencial desta Corte é no sentido de que, no caso de morte de genitor(a), é devida pensão aos filhos no valor de um salário mínimo, caso a vítima não exerça trabalho remunerado. A propósito: II III IV Recurso especial. Ação de indenização. Danos materiais e morais. Acidente de trânsito. Pensionamento. Exercício de atividade remunerada. Fixação em salário mínimo. Precedentes da Corte. I - A jurisprudência desta Corte orienta que o fato de a vítima não exercer atividade remunerada não nos autoriza concluir que, por isso, não contribuía ela com a manutenção do lar, haja vista que os trabalhos domésticos prestados no dia-a-dia podem ser mensurados economicamente, gerando reflexos patrimoniais imediatos (REsp n. 402.443-MG, Rel. Min. Castro Filho, DJ 1º.03.2004). RSTJ, a. 23, (224): 447-545, outubro/dezembro 2011 461

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA II - Quanto à vinculação da pensão ao salário mínimo, a fim de evitar distorções, é possível em razão de seu caráter sucessivo e alimentar e, por esse motivo que, segundo a jurisprudência dominante no C. Supremo Tribunal Federal e nesta Corte, admissível é fixar-se a prestação alimentícia com base no salário-mínimo (REsp n. 85.685-SP, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ 17.03.1997). III - A Agravante não trouxe qualquer argumento capaz de modificar a conclusão alvitrada, que está em consonância com a jurisprudência consolidada desta Corte, devendo a decisão ser mantida por seus próprios fundamentos. Agravo Regimental improvido. (AgRg no REsp n. 1.076.026-DF, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 20.10.2009, DJe 05.11.2009, grifei). Tenho por devida, assim, a pensão mensal, a título de dano material, no valor correspondente a um salário mínimo desde o óbito até a data em que o autor completou 25 anos de idade. Registro que a jurisprudência deste Tribunal estabelece ser devido o pensionamento até a data em que os descendentes beneficiários completarem 25 anos de idade. Note-se: Agravo regimental. Agravo de instrumento. Responsabilidade civil. Danos morais. Acidente de veículo. Omissões no acórdão. Inexistência. Denunciação da lide. Seguradora. Obrigatoriedade. Perda do direito de regresso. Ausência. Pensionamento mensal. Morte do pai dos agravados. Termo final. Decisão agravada mantida. Improvimento. (...) III - A jurisprudência deste Tribunal é firme no sentido de que termo ad quem da pensão devida aos filhos menores em decorrência do falecimento do genitor deve alcançar a data em que os beneficiários completem vinte e cinco anos de idade, quando se presume concluída sua formação. Agravo Regimental improvido. (AgRg no Ag n. 1.190.904-SP, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 27.10.2009, DJe 06.11.2009). Recurso especial. Civil e Processual Civil. Morte do pai e marido dos recorridos. Pensão mensal. Termo final. Dano moral. Redução. Súmula n. 7-STJ. Verba honorária. Base de cálculo. Justiça gratuita. Suspensão do pagamento. Atualização do valor devido. Indexação ao salário mínimo. Não-cabimento. Súmula n. 284-STF. Deficiência na fundamentação. Divergência jurisprudencial. Súmula n. 83-STJ. Omissão no acórdão recorrido. Inexistência. 1. A pensão mensal a ser paga ao filho menor, fixada em razão do falecimento do seu genitor em acidente de trânsito, deve estender-se até que aquele complete 25 anos. 462

Jurisprudência da QUARTA TURMA (...) 8. Recurso especial não-conhecido. (REsp n. 586.714-MG, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta Turma, julgado em 03.09.2009, DJe 14.09.2009). Direito Civil e Processual Civil. Acidente ferroviário. Vítima fatal. Culpa concorrente. Indenização por danos materiais e morais. (...) 4. A pensão mensal fixada, a título de danos materiais, à luz do disposto no art. 945 do CC/2002, é devida a partir da data do evento danoso em se tratando de responsabilidade extracontratual, até a data em que o beneficiário - filho da vítima - completar 25 anos, quando se presume ter concluído sua formação. Precedentes. (...) 9. Recurso especial parcialmente provido, com o afastamento da incidência da multa prevista no art. 557, 2º, do CPC. (REsp n. 1.139.997-RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 15.02.2011, DJe 23.02.2011). Em face da culpa recíproca, entretanto, a verba referente ao pensionamento será devida pela ré à razão de 50% (cinquenta por cento), ou seja, pela metade do seu total. O pedido de constituição de capital para assegurar o pagamento de pensão encontra suporte na Súmula n. 313 do STJ, que estabelece: V Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado. No caso dos autos, entretanto, mostra-se desnecessária a constituição desse fundo, pois, em razão da idade atual do autor - mais de 25 anos - não há que se falar em prestações vincendas a serem garantidas. Quanto aos juros moratórios incidentes sobre a indenização por dano moral, a Quarta Turma, em recente pronunciamento acerca da matéria, nos VI RSTJ, a. 23, (224): 447-545, outubro/dezembro 2011 463

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA autos do REsp n. 903.258-RS (julgado em 21.06.2011), de minha relatoria, reviu seu posicionamento concluindo que a indenização por dano moral puro (prejuízo, por definição, extrapatrimonial) somente passa a ter expressão em dinheiro a partir da decisão judicial que a arbitrou. Isso porque a ausência de seu pagamento desde a data do ilícito não pode ser considerada como omissão imputável ao devedor, para o efeito de tê-lo em mora, pois, mesmo que o quisesse, não teria como satisfazer obrigação decorrente de dano moral, sem base de cálculo, não traduzida em dinheiro por sentença judicial, arbitramento ou acordo (CC/1916, art. 1.064). Pertinente a transcrição, por esclarecedor da questão, de parte do voto condutor do acórdão do referido precedente: Na linha da jurisprudência sumulada no STJ, tratando-se de responsabilidade extracontratual, os juros de mora fluem desde a data do evento danoso (Súmula n. 54). Orienta-se a jurisprudência no sentido de que este enunciado aplica-se também no caso de indenização por dano moral (cf, entre diversos outros, o acórdão no EDREsp n. 295.175, 4ª Turma, relator o Ministro Sálvio de Figueiredo). Por outro lado, cuidando-se de responsabilidade contratual, os juros de mora contam-se a partir da citação (Código Civil de 1916, art. 1.536, 2º). Nesse sentido, entre muitos outros, REsp n. 651.555-MT, rel. Ministro Aldir Passarinho, DJe 16.11.2009). No caso dos autos, o fundamento da imposição de responsabilidade ao Hospital foi a relação contratual mantida com o autor e seus pais, na qual se compreendia o dever de prestar serviço a salvo de infecções hospitalares. Embora tenha eu seguido a linha da jurisprudência acima sumariada, conforme precedentes invocados no bem elaborado memorial oferecido pelo autor, a solução adotada pelo acórdão recorrido me faz presente a necessidade de repensar a questão. Com efeito, a questão do termo inicial dos juros de mora no tocante ao pagamento de indenização por dano moral, seja o seu fundamento contratual ou extracontratual, merece ser reexaminada, tendo em vista as peculiaridades deste tipo de indenização. E o presente caso presta-se como uma luva para o reexame da questão, sem que a mudança de jurisprudência seja prejudicial aos interessados, pois há recurso especial de ambas as partes, o autor pretendendo o aumento da indenização e o réu a sua diminuição, de forma que o exame da própria base de cálculo da condenação foi devolvido ao STJ e não apenas o termo inicial dos juros de mora e da correção monetária. Considero que, em se tratando de indenização por dano moral, da mesma forma como não se aplica a pacífica jurisprudência do STJ segundo a qual incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo (Súmula n. 43), na linha do entendimento consagrado na Súmula n. 362, também 464

Jurisprudência da QUARTA TURMA não deve ser invocada a Súmula n. 54, de acordo com a qual os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual. Isto porque como a indenização por dano moral (prejuízo, por definição, extrapatrimonial) só passa a ter expressão em dinheiro a partir da decisão judicial que a arbitrou, não há como incidir, antes desta data, juros de mora sobre quantia que ainda não fora estabelecida em juízo. Dessa forma, no caso de pagamento de indenização em dinheiro por dano moral puro, entendo que não há como considerar em mora o devedor, se ele não tinha como satisfazer obrigação pecuniária não fixada por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes. Incide, na espécie, o art. 1.064 do Código Civil de 1916, segundo o qual os juros de mora serão contados assim às dívidas de dinheiro, como às prestações de outra natureza, desde que lhes seja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes. No mesmo sentido, o art. 407 do atual Código Civil. Observo que, a rigor, a literalidade do citado art. 1.064 conduziria à conclusão de que, sendo a obrigação ilíquida, e, portanto, não podendo o devedor precisar o valor de sua dívida, não lhe poderiam ser imputados os ônus da mora é o princípio in iliquidis non fit mora, consoante ressaltado pelo Ministro Orozimbo Nonato em seu voto no julgamento do Recurso n. 111, cujo acórdão foi publicado na Revista Forense, de junho de 1942, p. 145. Mas, conforme assinalou o eminente Ministro, no mesmo julgamento, tal entendimento tornaria sem sentido a regra do 2o do art. 1.536, do Código de 1916, segundo o qual contam-se os juros de mora, nas obrigações ilíquidas, desde a citação inicial. A jurisprudência e a doutrina, em interpretação harmonizadora da aparente antinomia entre os dois dispositivos, reduziu o alcance do princípio do art. 1.064, para consagrar o entendimento de que se a obrigação é ilíquida os juros se contam desde a petição inicial, mas sobre a importância determinada pela sentença judicial (na ação), pelo arbitramento, ou pelo acordo das partes (cf. voto citado). Observo que a tese de que os juros de mora fluem desde data anterior ao conhecimento, pelo próprio devedor, do valor pecuniário de sua obrigação, decorre de uma mora ficta imposta pelos arts. 962 e 1.536, 2o, do Código de 1916. Esta ficção de que desde o ato ilícito (art. 962) ou desde a citação (1.536, 2o, aplicável aos casos de inadimplemento contratual) o devedor está em mora e poderia, querendo, reparar plenamente o dano, a despeito de ilíquida a obrigação é razoável nos casos de indenização por dano material (danos emergentes e lucros cessantes). Com efeito, considera-se em mora o devedor desde a data do evento danoso, porque o procedimento correto, que dele se espera, é o reconhecimento de RSTJ, a. 23, (224): 447-545, outubro/dezembro 2011 465

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA que causou o dano e sua iniciativa espontânea de repará-lo, de acordo com as circunstâncias do caso concreto, prestando socorro à vítima, pagando-lhe o tratamento necessário, provendo o sustento de seus dependentes, indenizando-a dos prejuízos materiais sofridos, prejuízo este apurável com base em dados concretos, objetivos, materialmente existentes e calculáveis desde a data do evento. Se assim não age, ou se não repara espontaneamente a integralidade dos danos, no entender da vítima, caberá a esta ajuizar a ação, considerando-se o devedor em mora não apenas desde a fixação do valor da indenização por sentença, como decorreria da interpretação isolada do art. 1.064, do Código Civil, mas desde a data do ato ilícito (no caso de responsabilidade extracontratual) ou desde a citação (no caso de responsabilidade contratual). Em se tratando de danos morais, contudo, que somente assumem expressão patrimonial com o arbitramento de seu valor em dinheiro na sentença de mérito (até mesmo o pedido do autor é considerado pela jurisprudência do STJ mera estimativa, que não lhe acarretará ônus de sucumbência, caso o valor da indenização seja bastante inferior ao pedido, conforme a Súmula n. 326), a ausência de seu pagamento desde a data do ilícito não pode ser considerada como omissão imputável ao devedor, para o efeito de tê-lo em mora, pois, mesmo que o quisesse o devedor, não teria como satisfazer obrigação decorrente de dano moral não traduzida em dinheiro nem por sentença judicial, nem por arbitramento e nem por acordo (CC/1916, art. 1.064). Se a jurisprudência do STJ não atribui responsabilidade ao autor pela estimativa do valor de sua pretensão, de modo a impor-lhe os ônus da sucumbência quando o valor da condenação é muito inferior ao postulado (Súmula n. 326), não vejo como atribuir esta responsabilidade ao réu, para considerá-lo em mora, desde a data do ilícito, no que toca à pretensão de indenização por danos morais. De tal forma, os juros moratórios devem fluir, no caso de indenização por dano moral, assim como a correção monetária, a partir da data do julgamento em que foi arbitrada a indenização, no caso em exame a partir da presente data. Já com relação ao dano material, indenizado em forma de pensão, incidem juros moratórios desde a morte da genitora do autor (Súmula n. 54). Em face do exposto, dou parcial provimento ao recurso especial nos termos acima. Considerada a sucumbência recíproca, determino que cada parte arque com os honorários advocatícios dos seus advogados e a metade das custas processuais, ressalvada a concessão de justiça gratuita ao autor. É como voto. VII 466