TEXTO E COESÃO TEXTUAL

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Transcrição:

TEXTO E COESÃO TEXTUAL Prof.Ms. Giselda dos Santos Costa CEFET-PI UNED /FLORIANO- 2003 giseldacostas@hotmail.com Cohesion is the chain that keeps our text together. It is the ebb and flow of meaning. If organization is the skeleton of a text, cohesion is the musculature which hold the skeleton together. Dr. Karin Wenz ( English department, University of Kassel) INTRODUÇÃO Este trabalho tem como finalidade examinar algumas concepções de texto e Coesão Textual que vem sendo realizadas por Vários lingüistas no campo da gramática textual, surgida na Europa, aonde vem tendo grande impulso nas ultimas décadas, em diversos paises. Na primeira parte, faremos uma rápida retrospectiva do que seja Lingüística Textual, a sua origem e abordando o objeto principal de estudo desta ciência, que é o texto. A seguir, apresentamos uma visão panorâmica de vários conceitos de texto como construção de sentido, e faremos paralelos ou contrastes destas concepções de acordo com vários pesquisadores nesta área de estudo. Finalizando, enfatizamos conceitos e divisões sobre Coesão Textual, abordando Os trabalhos de Halliday e Hasan (1976), Marcuschi (1983), Bronckart (1999) e Koch (2000).No entanto, daremos mais detalhes e exemplos dos mecanismos de coesão textual dos trabalhos de Bronckart e Koch por considerarem Os trabalhos mais recentes, dentro do campo de pesquisa da Lingüística Textual. LINGUISTICA TEXTUAL Favero e Koch (1988) destacam que origem do termo Lingüística Textual pode ser encontrada em Coseriu (1955), embora, no sentido que lhe é atualmente atribuído, tenha sido empregado pela primeira vez por Weinrich (1966,1967). Essas autoras (1988) afirmam que as principais causas do surgimento das 1

gramáticas textuais são as lacunas das gramáticas de frase no tratamento de fenômenos tais como a cor referencia a pronominalização, a seleção dos artigos (definidos ou indefinidos), a ordem das palavras no enunciado, a relação tópico - comenta rio, a entoação, as relações entre sentenças não ligadas por conjunções e a concordância dos tempos verbais. Também, elas escrevem neste mesmo trabalho (1988), que a gramática textual surgiu com a finalidade de refletir sobre fenômenos lingüísticos inexplicáveis por meio de urna gramática de enunciado. Os estudos realizados por Sitya (1995) ressaltam que a lingüística textual constitui um novo ramo da lingüística, que começou a desenvolver-se na década de 60, na Europa. Nesta década, Os lingüistas constataram que a lingüística da frase estava sendo insuficiente para resolver certos fenômenos lingüísticos de natureza mais abrangente do que Os da frase, corno Os fenômenos sintático-semânticos ocorrentes entre enunciados e seqüências de enunciados. Havia urna demanda que exigia uma lingüística mais voltada para Os mecanismos da organização textual responsáveis pela construção do sentido. Já na década de 70, o texto passou a ser abordado sob dois pontos de vista: dos mecanismo sintático - semânticos responsáveis pela produção do sentido; e, de outro ponto, analisando o texto corno objeto cultural produzido a partir de certas condições culturais em urna relação dialógica com as condições hist6ricas de outros textos. (Sitya, 1995). Somente em tomo dos anos 80, chegavam ao Brasil, os primeiros estudos da Lingüística Textual que proponham analisar o texto como seqüências lingüísticas coerentes em Si. Segundo Sitya (1995), a Lingüística Textual propõe estudar as frases e organiza-las em um texto significativo, observando as condições de produção do texto, como os aspectos sociais - históricos e culturais - e os processos sintático-semânticos que se estabelecem, além de observar as estruturas lingüísticas que constituem um texto. Para Koch (1990), citado em Sitya (1995:17): A Lingüística do Texto é constituída de princípios e/ou modelos cujo objetivo não e predizer a boa ou má formação dos textos, mas permitir representar os processos e mecanismos de tratamento dos dados textuais que os usuários põem em ação quando buscam compreender e interpretar uma seqüência lingüística estabelecendo o seu sentido e, portanto, calculando sua coerência". Em Marcuschi (1983:12-13), citado em Koch (2000),encontrarmos a seguinte "definição provisória" de Lingüística Textual e de seu objeto: 2

"Proponho que se veja a Lingüística do texto, mesmo que provisória e genericamente, como o estudo das operações lingüísticas e cognitivas reguladoras e controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção de textos escritos e orais". Com a evolução destes estudos que buscou-se analisar o texto como uma unidade lingüística com propriedades estruturais especificas. O texto, então, passou a ser considerado como urna unidade significativa. O TEXTO: CONSTRUCÃO DE SENTIDO A Lingüística Textual é, hoje, um pólo de investigação teórica da lingüística contemporânea (Marcuschi, 1983). Sua proposta de trabalho consiste em tornar com unidade básica, ou seja, corno objeto particular de investigação, não mais a palavra ou a frase, mas sim o texto, por serem os textos a forma especifica de manifestação da linguagem (cf Favero e Koch, 1988). Para Sitya (1995), a função da Lingüística do Texto é, pois, estudar os processos e mecanismos de construção textual que dão significado ao texto, o que os consumidores da linguagem buscam entender em uma situação de comunicação. Nas duas ultimas décadas, pesquisadores na área de Lingüística Textual e da Analise do Discurso tem se dedicado a investigação do estatuto do texto como unidade de analise na linguagem. Nessa trajetória, autores corno Kress (1989), Halliday e Hasan (1985), Fairclough (1989), Bronckart ( 1999) e Koch ( 2000) e tantos outros não citado aqui, tem discutido a constituição e a produção de sentido do texto. As diferentes óticas adotadas pelos pesquisadores na área da lingüística possibilitam o surgimento de varias acepções para o termo texto. Entre outras acepções, o termo texto pode ser representado por "uma passagem falada ou escrita que forma um todo unificado" (Halliday e Hasan, 1976:1). Assim, o texto, reconhecido corno uma unidade de analise pode ser interpretado como uma unidade de linguagem em uso. Pode também ser definido como urna unidade semântica, ou seja, uma unidade de sentido. Adotando urna perspectiva do texto em que o componente social não aparece privilegiado, Beaugrande e Dressler (1981) argumentam que urna ciência de textos deve ser capaz de descrever ou explicar características comuns e distintivas entre textos. Texto, para esses autores, é urna ocorrência comunicativa que preenche sete critérios de textualidade: coerência, coesão - centrados no texto - e, intencionalidade, aceitabilidade, 3

situacionalidade, infomatividade e intertextualidade - centrados no usuário. Esses critérios definem e criam à comunicação verbal e, a ausência deles pode acarretar o rompimento da comunicação. E esta também a posição de Schmidt (1978:170), para quem o texto é "qualquer expressão de um conjunto lingüístico numa atividade de comunicação - no âmbito de um jogo de atuação comunicativa - tematicamente orientado e preenchendo uma função comunicativa reconhecível, ou seja, realizando um potencial ilocucionário reconhecível". Seguindo a mesma proposta, Cristal (1988) define texto corno: Unidades de língua com uma função comunicativa definível, caracterizada por princípios como coesão, coerência e informação formal do que constitui sua textura ou textualidade. Com base nesses princípios, os textos são classificados em tipos de textos, tais como sinais de estrada, relatórios de noticias, poemas, conversas, etc. Texto é definido por Koch (1992) como uma manifestação verbal constituídos de elementos lingüísticos selecionados e ordenados pelos falantes, durante a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na interação, não apenas a depreensão de conteúdos semânticos, em decorrência da ativação de processos e estratégias de ordem cognitivas, como também a interação (ou atuação) de acordo com pratica socioculturais. A partir de uma perspectiva em que processos sociais e lingüísticos estão necessariamente inter-relacionados, Fairclough (1985:24) define texto como "um produto mais que um processo - um produto do processo de produção". Adotando urna abordagem similar, Bronckart (1999:75) chama texto toda unidade de produção de linguagem. Situada, acabada e auto-suficiente (do ponto de vista da ação ou da comunicação). Dessa forma, texto pode ser considerado o resultado, o produto do processo comunicativo que, para ser reconhecido corno texto, deve seguir determinados princípios que garantam a construção de sentido em urna determinada situação comunicativa ou contexto. O mais novo trabalho de Koch (2000) ressalta que o texto deixa de ser entendido como urna estrutura acabada (produto), passando a ser abordado no seu pr6prio processo de planejamento, verbalização e construção. Nesta abordagem, Koch (2000) afirma que o texto pode ser concebido como resultado parcial de nossa atividade comunicativa, que compreende processos, operações e estratégias que tem lugar na mente humana, e que são postos em ação em situações concretas de interação social. COESÃO TEXTUAL 4

O texto, de acordo com Beaugrande e Dressler (1981), enquanto ocorrência comunicativa deve satisfazer sete critérios que funcionam como princípios constitutivos da comunicação social. Entre esses critérios responsáveis pela textualidade, encontra-se a coesão que se refere aos componentes da estrutura de superfície de um texto. A coesão relaciona-se com o modo corno Os componentes do universo textual conectam-se numa relação de dependência para a formação de urna seqüência linear. Em outras palavras, a coesão diz respeito aos processos de seqüêncialização que asseguram urna ligação lingüística entre Os elementos da superfície textual. Segundo Marcuschi (1983) citado em Koch (2000), Os fatores de coesão são aqueles que dão conta da seqüêncialização superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de urna língua que permitem estabelecer, entre Os elementos lingüísticos do texto, relações de sentido. Neste mesmo trabalho, Marcuschi apresenta quatro grupos de fatores de "conexão seqüencial": repetidores, substituidores, seqüenciadores e moduladores. O conceito de coesão, de acordo com Halliday e Hasan (1976) é um conceito semântico e refere-se às relações de sentido que ocorrem no interior do texto e que se organizam superficial e linearmente no texto, reconhecível na sua superfície através de recursos semânticos, tais como marcas lingüísticas, índices formais e conetivos. Esses elos que encadeiam o texto e permitem a construção do sentido global, possibilitam a concatenação das partes do texto através de marcas fornecidas pelo sistema léxico - gramatical de urna língua. Nesse sentido, algumas formas de coesão são realizadas através do vocabulário (léxico) e outras, através da gramática. Para sistematizar o conceito de coesão Halliday e Hasan (1976) propõem a distinção dos mecanismos coesivos em cinco categorias, divididas de acordo com o modo como os itens lexicais e gramaticais relacionam-se com o texto e no texto: referência, Substituição, elipse, conjunção e coesão lexical. Os estudos realizados por Bronckart (1999) apresentam o termo 'Mecanismos de Textualização" que podem ser reagrupados em três grandes conjuntos: conexão, coesão nominal e coesão verbal. Portanto, neste trabalho vamos dar maiores detalhe os mecanismos de coesão. Segundo Bronckart, os mecanismos de coesão nominal introduzem os argumentos e organizam sua retomada na seqüência do texto: são realizados por um subconjunto de unidades que chamarmos de anáforas esse procedimento concorrem, portanto, sobretudo para a produção de um efeito de estabilidade e de continuidade. 5

Bronckart também divide esses mecanismos em duas funções: Introdução e Retomada. A função introdução consiste em marcar, em um texto, a inserção de uma unidade de significação nova (ou unidade de fonte), que é a origem de urna cadeia anafórica e é geralmente realizada por um sintagma nominal indefinido; e a função de retornada consiste em reformular essa unidade fonte (ou antecedente) no decorrer do texto e é, geralmente realizadas pelas diversas anáforas pronominais assim corno por sintagmas nominais cujos determinantes são definidos. Também, neste trabalho, Bronckart inclui a marca ø que pode considerar como produto de urna transformação de apagamento de um pronome. Vamos analisar um exemplo tirado de Bronckart (1999:268): (a) Aimée fez algumas compras,(b) depois ø subiu em um ônibus Chausson. (c) Durante o trajeto de dezoito quilômetros, ø folheou um jornal local.. (d) Subitamente, descobriu no jornal local a informação que ø tinha procurado em vão (e) Aimée guardou o jornal quando ø desceu do ônibus numa pequena cidade... Neste exemplo Bronckart explica que duas cadeias anaf6ricas se sobrepõem. Na Primeira, que envolve o personagem - herói do romance, a unidade-fonte foi introduzida desde o começo do texto e as formas nominais e pronominais que constituem a serie (Aimée, ø, ø, ø, ela, Aimée, ø) assumem uma função de retornada desse antecedente. Na Segunda cadeia, observa-se a introdução da unidade-fonte, que é marcada por um sintagma nominal indefinido ( um jornal local) e esse antecedente é, a seguir, retornado por urna serie de sintagmas nominais definidos (o jornal local, o jornal). Bronckart também ressalta em seu trabalho que o antecedente de uma cadeia anafórica não é necessariamente urna forma nominal como supomos. Vejamos um exemplo: "Em um segmento como os combates foram retomados na Bósnia oriental e esse novo desenvolvimento conduziu... " (Bronckart,1999:269) A anáfora nominal esse novo desenvolvimento tem corno antecedente a totalidade da oração que a precede. Já coesão verbal estabelece retomada entre series de predicados, ou ainda, entre series de sintagmas verbais. Nesses sintagmas, as unidades lexicais (os verbos) contribuem, em princípios, sobretudo para a evolução do conteúdo temático e produzem, por isso, um efeito de progressão. E uma abordagem com mais detalhe que Bronckart (1999) faz no seu mais novo trabalho. Dentre os estudos que abrangem a coesão, encontramos as pesquisas de Koch (2000:21) conceituando a coesão como: 6

O fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos lingüísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por meio de recursos também lingüísticos, formando seqüências vinculadoras de sentidos" Ainda para Koch (2000), a coesão é divida em duas grandes modalidades: a remissão e a seqüênciaçao. A coesão por remissão pode desempenhar a função de (re)ativação de referentes e de sinalização textual. A reativação de referentes no texto é realizado através de referenciarão anafórica ou catafórica, formando-se, deste modo, cadeias coesivas mais ou menos longas. Esse tipo de remissão pode ser efetuado por meio de recurso de ordem "gramatical". Muitas vezes, a reativação de referentes, a partir de "pistas" expressas no texto, se dá via inferênciação. Vejamos Os exemplos: a) Paulo e José são excelente advogados. Eles se formaram na academia do Largo de São Francisco. (anáfora) b) Realizara todos os seus sonhos, menos este: o de entrar para a Academia (catáfora) (Koch,1993:21). c) "psicanálise: - Tenha a bondade de se deitar, minha senhora. - Isso nunca, doutor. Todos os meus problemas comeram assim". (Eliachar,1979:32) ( anafórica) A sinalização textual, por sua vez, segundo a autora, tem a função básica de organizar o texto, fornecendo, ao interlocutor, apoios para o processamento textual, através de orientações para cima, para baixo ( no texto escrito), para a frente e para trás, ou, ainda, estabelecendo urna ordenação entre segmentos textuais ou partes de texto. Também, em casos de "apontamento" para trás, pode incluir tipos de remissão com função "distributiva". Como exemplos: a ) Corno foi mencionado acima: postulo a existência de duas grandes modalidades de coesão.(koch,2000: 38) b) Paulo, José e Pedro deverão formar duplas com Lucia, Mariana e Renata, respectivamente. (Koch, 2000:38). Porém, neste caso de sinalização, Koch (2000), concorda que seja adequado 7

falar de "dêixis textual", como tem postulado, entre outros, K.Ehlich. Isto é, não se trataria aqui de relações de referencia ou correferência, mas antes de "mostrarão" dêitica no interior do pr6prio texto. Para Ehlich (1981), citado em Koch (2000), as expressões dêiticas permitem ao falante obter uma organização da atenção comum dos interlocutores com referência ao conteúdo da mensagem. Seguindo a mesma proposta, Bronckart (1999) afirma que algumas ocorrências de pronomes pessoais, em particular da primeira e da segunda pessoa, podem não se inscrever em uma cadeira anafórica e remeter diretamente a uma instancia exterior ao texto (ao agente produtor ou a seus destinatários): trata-se, portanto, de pronomes dêiticos. Vejamos alguns exemplos de dêixis textual: a) Resolveu renunciar a tudo: riqueza, honrarias, e posição social. (Koch, 2000:37) b) Não estava habituado a coisas como estas: ser servido, receber atenções e homenagens. A mesma autora (2000) afirma que a coesão seqüenciadora é aquela através da qual se faz o texto avançar, garantido-se, porém, a continuidade dos sentidos. Seguindo a classificação de Halliday e Hasan (1976) sobre os mecanismos responsáveis pela coesão do texto pode-se considerar que a unidade de sentido ocorre também pelo uso adequado dos mecanismos de coesão e a relação desses com, os objetivos do evento comunicativo em que se inserem. CONSIDERAÇÕES FINAlS Pode-se dizer que, no Brasil, a Lingüística Textual já atingiu 30 anos de pesquisas e vem tendo um grande desenvolvimento nas questões relativas ao processamento do texto. Como grandes destaques brasileiros nessa área de pesquisa, temos Koch e Marcuschi. A partir dos conceitos de texto apresentados aqui, o que observamos é que existem pesquisadores dentro da linha estruturalista empenhando-se na descrição das propriedades especificas do texto; enquanto outros buscam a linha da gramática gerativa, construindo modelos de gramáticas textuais, através da pesquisa de macroestruturas semânticas subjacentes aos diversos tipos de textos. O que mais se destacou, foi a posição de Bronckart (1999), que ainda considera texto como produto, definição essa que Koch (2000) não concorda. Vimos também conceitos e divisões de coesão textual por 8

vários pesquisadores, e nesses trabalhos, verificamos que Bronckart (1999) destaca a coesao verbal; no entanto, observarmos os trabalhos de Weinrich citado em Favero e Koch (1988), Marcuschi (1983) e Koch (2000) que eles apenas fazem referências a estes mecanismos. Também Bronckart não enfatiza a categoria das catafóricas nominais apenas as anafóricas. Já nos trabalhos de Koch, (2000) ela enfatiza os dois mecanismos de coesão. Porém, todos concordam que a linearidade textual é mais de que urna mera seqüência. O texto conta com dispositivos, os quais fornecem a coesão, tais como: dêixis, anáfora etc. Esses dispositivos coesivos constroem entidades sintáticos maiores (estrutura hierárquica) que conduzem ao macrotextual corno parágrafos, seções e capítulos. Essas estruturas podem ser consideradas como um ponto de referencia (landmarks) que fornece ao leitor informação de localização explicita dentro do texto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRONCKART, J. P.1999. Atividades de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio - discursivo. Sao Paulo, EDUC. BEAUGRANDE, Robert de. & Wolfgang DRESSLER. 1981. Introduction to text linguistics. London, Longman. CRYSTAL. David. 1988. Dicionário de lingüística e fonética. Rio de Janeiro, Zahar. FARCLOUGH, N. 1985. Media discourse. New York, Edward Arnold. FAJRCLOUGH, N. 1989.Language and power. New York, Longrnan. FAVERO, Leonor Lopes & KOCH, Ingedore Villaça. 1988.Lingüística textual: introdução. São Paulo, Cortez. FAVERO, Leonor Lopes. 1991. Coesão e coerência textuais. São Paulo, Atica. HALLIDAY, M.A.K. 1985. An introduction to functional grammar. London, Edward Arnold. HALLIDAY, M.A.K. & Ruqaiya HASAN. 1976. Cohesion in English. Londres, Longrnan. KOCH, Ingedore Villaça. 1984. Argumentação e linguagem. São Paulo, Cortez. KOCH, Ingedore Villaça. 1993. A coesão textual. São Paulo, Contexto. KOCH, Ingedore Villaça. 2000.O texto e a construção dos sentidos. Sao Paulo, Contexto. KRESS, G. 1989. Linguistic processes in sociocultural practice. Oxford, Oxford University Press. MARCUSCHI, Luiz Antonio. 1983. Lingüística de texto: que é e como se faz? Recife, 9

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