INSUFICIÊNCIA CARDÍACA. Protocolo de Atendimento da IC nas Unidades de Pronto Atendimento

Documentos relacionados
PROTOCOLO MÉDICO INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NA UNIDADE DE EMERGÊNCIA. Área: Médica Versão: 1ª

PROTOCOLO MÉDICO SEPSE E CHOQUE SÉPTICO

Insuficiência Cardíaca Aguda (ICA) Leonardo A. M. Zornoff Departamento de Clínica Médica

DROGAS VASODILATADORAS E VASOATIVAS. Profª EnfªLuzia Bonfim.

comuns. ou o faz -carga). comorbidades. -lo. Desvio do ictus cordis para baixo e para a esquerda A presença de sopros EPIDEMIOLOGIA

Choque hipovolêmico: Classificação

Síndrome Cardiorrenal. Leonardo A. M. Zornoff Departamento de Clínica Médica

Insuficiência cardíaca agudamente descompensada

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

Definições importantes

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDAMENTE DESCOMPENSADA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

PROTOCOLO GERENCIADO DE SEPSE PACIENTE COM CONDUTA PARA SEPSE (OPÇÃO 2 E 3 - COLETA DE EXAMES/ANTIBIÓTICO)

Programa de Residência Médica em Pediatria - HMIB. CHOQUES Andersen O. R. Fernandes

Hospital São Paulo SPDM Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina Hospital Universitário da UNIFESP Sistema de Gestão da Qualidade

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA. Leonardo A. M. Zornoff Departamento de Clínica Médica

PAC Pneumonia Adquirida na Comunidade

Seminário ME3: Choque. Orientador: Gabriel MN Guimarães

Abordagem da sepse na emergência Rodrigo Antonio Brandão Neto

PROTOCOLO GERENCIADO DE SEPSE PACIENTE COM CONDUTA PARA SEPSE (OPÇÃO 2 E 3 - COLETA DE EXAMES/ANTIMICROBIANO)

Síndromes Coronarianas Agudas. Mariana Pereira Ribeiro

CONCEITO FALHA CIRCULATÓRIA HIPOPERFUSÃO HIPÓXIA

PROTOCOLO ASSISTENCIAL GERENCIADO DE SEPSE. Atendimento ao paciente com sepse/choque séptico DETECÇÃO PRECOCE + TRATAMENTO CORRETO

Cuidados clínicos após PCR (Parada Cardiorrespiratória)

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPESADA NO PRONTO SOCORRO LUCYO FLÁVIO B. DINIZ MÉDICO RESIDENTE DE CLÍNICA MÉDICA UNIVASF

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Protocolo de Atendimento a Pacientes Hepatopatas com Injúria Renal Aguda e Síndrome Hepatorrenal

Choque Cardiogêncio. Manoel Canesin ICC HC/HURNP/UEL

PROTOCOLO GERENCIADO DE SEPSE PACIENTE COM CONDUTA PARA SEPSE (OPÇÃO 2 E 3 - COLETA DE EXAMES/ANTIMICROBIANO)

Insuficiência Cardiaca

Objetivos da Respiração. Prover oxigênio aos tecidos Remover o dióxido de carbono

Diagnóstico e Manejo da Criança com Sepse

Introdução ao Protocolo

PROTO COLO CLÍNICO ABORDAGEM INICIAL DAS TAQUICARDIAS EM SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA. Vinício Elia Soares Coordenador Executivo da Rede de Cardiologia

CAUSAS DE PERICARDITE AGUDA

Urgência e Emergência

PACIENTE GRAVE IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO TREINAMENTO

PROTOCOLO DE REABILITAÇÃO FASE HOSPITALAR PARA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA- HIAE

Como reconhecer uma criança criticamente enferma? Ney Boa Sorte

EDEMA AGUDO DE PULMÃO

ESTADO DE CHOQUE HEMORRAGIA & CHOQUE 002

Insuficiência Cardíaca Congestiva ICC

Exames Complementares:

PROTOCOLO DE MANUTENÇÃO DO POTENCIAL DOADOR DE ORGÃOS

Definição Sepsis 3.0 Sepse: Choque séptico:

ARRITMIAS CARDÍACAS. Dr. Vinício Elia Soares

Síndrome Coronariana Aguda

Medicações de Emergências. Prof.º Enfº Diógenes Trevizan Especialista em Docência

Abordagem ao paciente em estado de choque. Ivan da Costa Barros Pedro Gemal Lanzieri

RESIDÊNCIA MÉDICA SUPLEMENTAR 2015 PRÉ-REQUISITO (R1) / CLÍNICA MÉDICA PROVA DISCURSIVA

Avaliação Clínica do Paciente Crítico monitorização hemodinamica. Profª Dra Luciana Soares Costa Santos 2º semestre 2017

Insuficiência cardíaca

Drogas Vasoativas. Drogas Vasoativas. ticos. Agentes Simpatomiméticos. ticos. ricos, São substâncias que apresentam efeitos vasculares periféricos,

DR. CARLOS ROBERTO CAMPOS INSUFICIÊNCIA MITRAL (I.M.I)

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016

INSTITUTO LATINO AMERICANO DE SEPSE CAMPANHA DE SOBREVIVÊNCIA A SEPSE PROTOCOLO CLÍNICO. Atendimento ao paciente com sepse grave/choque séptico

Aprendizado baseado na prática clínica... Caso Clínico

Tromboembolismo Pulmonar. Fernanda Queiroz

Viviane Rohrig Rabassa

Diagnóstico Diferencial das Síndromes Glomerulares. Dra. Roberta M. Lima Sobral

Coração Normal. Fisiologia Cardíaca. Insuficiência Cardíaca Congestiva. Eficiência Cardíaca. Fisiopatogenia da Insuficiência Cardíaca Congestiva

Comumente empregadas nos pacientes graves, as drogas vasoativas são de uso corriqueiro nas unidades de terapia intensiva e o conhecimento exato da

Insuficiência Cardíaca

CRISE HIPOXÊMICA. Maria Regina da Rocha Corrêa

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DESCOMPENSADA AGUDA

Arritmias Cardíacas CLASSIFICAÇÃO. Taquiarritmias. Bradiarritmias. Supraventriculares. Ventriculares

Marcos Barrouin Melo, MSc CURSO DE EMERGÊNCIAS EV UFBA 2008

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CONCURSO PÚBLICO

Estratificação de risco cardiovascular no perioperatório

SEPSE DRA PAULA MENEZES LUCIANO MEDICINA INTENSIVA E CARDIOLOGIA COORDENADORA DA EMERGÊNCIA E UTI SANTA CASA DE SÃO JOAQUIM DA BARRA

Sepse Professor Neto Paixão

Disciplina: Clínica Médica de Pequenos Animais

Monitorização hemodinâmica. Disciplina Urgência e Emergência Profª Janaína Santos Valente

Guia Prático MANEJO CLÍNICO DE PACIENTE COM SUSPEITA DE DENGUE. Estado de São Paulo Divisão de Dengue e Chikungunya

CAMPANHA DE SOBREVIVÊNCIA À SEPSE. Atendimento ao paciente com sepse grave/choque séptico DETECÇÃO PRECOCE + TRATAMENTO CORRETO

CAMPANHA DE SOBREVIVÊNCIA À SEPSE

PRINCIPAIS FÁRMACOS VASOATIVOS UTILIZADOS EM UTI E EMERGÊNCIA

Lesão Renal Aguda. Revista Qualidade HC. Autores e Afiliação: Área: Objetivos: Definição / Quadro Clínico:

FARMACOCINÉTICA FARMACODINÂMICA FARMACOCINÉTICA CONCEITOS PRELIMINARES EVENTOS ADVERSOS DE MEDICAMENTOS EAM. Ação do medicamento na molécula alvo;

PROVA OBJETIVA. b) Liste os outros exames que devem ser solicitado para o esclarecimento do quadro e descreva qual seria a abordagem terapêutica.

Viviane Rohrig Rabassa

Tromboembolismo Pulmonar Embolia pulmonar

Avaliação Clínica do Paciente Crítico monitorização hemodinâmica. Profª Dra Luciana Soares Costa Santos

Equipe Multidisciplinar de Atenção Integral ao Idoso com Fratura Avaliação e Cuidados Pré e Pós Operatórios

AVALIAÇÃO DA 2ª UNIDAD - P8- GRUPO B

Reunião Anatomoclinica 27 de junho de 2012

3) Complicações agudas do diabetes

- Miocardiopatias. - Arritmias. - Hipervolemia. Não cardiogênicas. - Endotoxemia; - Infecção Pulmonar; - Broncoaspiração; - Anafilaxia; - Etc..

5) Hiperglicemia hospitalar

Rim: Aliado ou inimigo? Miguel Nobre Menezes João R. Agostinho. Serviço de Cardiologia, CHLN, CAML, CCUL

TÓRAX: Percussão. Auscultação: Resenha Anamnese Exame físico Inspeção Palpação Percussão Auscultação. Exames complementares.

Rotinas da Unidade Clínica de Emergência do Instituto do Coração (InCor)

PROTOCOLO MÉDICO PADRONIZAÇÃO DO USO DE DROGAS VASOATIVAS

R1CM HC UFPR Dra. Elisa D. Gaio Prof. CM HC UFPR Dr. Mauricio Carvalho

CHOQUE E DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS. Dr. Vinício Elia Soares

1. INTRODUÇÃO 2. OBJETIVO

Atualização Rápida CardioAula 2019

Rosângela de Oliveira Alves ROA

O PACIENTE COM EDEMA

Transcrição:

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Protocolo de Atendimento da IC nas Unidades de Pronto Atendimento Versão eletrônica atualizada em fev/2012

Grupo de Trabalho: Dr Fernando Bacal Dr Sandrigo Mangini Dr. Luciano Monte Alegre Forlenza Dra. Tatiana de Fátima Gonçalves Galvão Enf. Alessandra da Graça Correa Dra Marcia Makdisse Avaliação inicial (triagem pela enfermagem): Pacientes com queixa de dispnéia, edema, cansaço a esforços ou em repouso, com sinais de congestão sistêmica ou pulmonar, com antecedente de DAC, doença valvar ou HAS. Fluxo de Avaliação de Dispnéia na UPA Anamnese / Exame Físico/ Oximetria ECG / Radiografia de Tórax Critérios de Boston IC confirmada Dúvida diagnóstica + BNP - Considerar outras causas Causas de descompensacao Tempo de inicio dos sintomas IC Sistólica x Diastólica Baixa aderência Medicacao inadequada Isquemia - ECG, enzimas, ECO, CATE TEP dímero D, ECO, CT, V/Q Arritmia - ECG Infeccao HMG, Urina I, RX, PCR Aguda Crônica Ecodopplercardiograma Isquêmica Miocardite Biópsia? Arritmia Baixa Aderência Infeccão Estratificacão de risco PAS na admissão Perfil hemodinâmico Avaliacão da funcão renal

Critérios de Boston Definida: 8 a 12 pontos Possível: 5 a 7 pontos Pouco Provável: <4 pontos Categoria I - História Nº pontos Dispnéia em repouso 4 Ortopnéia 4 Dispnéia paroxística noturna 3 Dispnéia ao andar no plano 2 Dispnéia ao subir escadas 1 Categoria II - Exame Físico Nº pontos Taquicardia: 91-110 bpm 1 Taquicardia: > 110 bpm 2 Elevação da PVC 2 Elevação da PVC + Hepatomegalia e/ou 3 Creptação pulmonar basal 1 Creptação pulmonar acima das bases 2 Terceira bulha 3 Sibilos 3 Categoria III - Raio X de tórax Nº pontos Edema alveolar pulmonar 4 Edema intersticial pulmonar 3 Derrame pleural bilateral 3 Indice Cardiotorácico > 0,5 3 Inversão do padrão vascular pulmonar 2 Perfis hemodinâmicos e Estratificação de risco na ICD:

Com base em achados de exame físico, à beira do leito, é possível definir de maneira simplificada e objetiva o perfil clínico-hemodinâmico, com vistas a orientar a terapêutica da insuficiência cardíaca descompensada (ICD), bem como estratificar seu risco, utilizando parâmetros de congestão e perfusão. Infere-se a presença de congestão (presente em aproximadamente 80% dos pacientes com ICD) com os sinais de taquipnéia, estertores pulmonares, terceira bulha, elevação de pressão venosa jugular (especialmente se for superior a 4 cm do ângulo esternal), edema de membros inferiores, hepatomegalia dolorosa, refluxo hepatojugular, derrame pleural, ascite. A presença de má-perfusão está relacionada aos achados de taquipnéia, hipotensão, galope de terceira bulha, pulso alternante, tempo de enchimento capilar lentificado, cianose, alteração do nível de consciência. Segundo o algoritmo desenvolvido por Stevenson, os pacientes que apresentam congestão são classificados como úmidos, enquanto pacientes sem congestão são chamados secos. Pacientes com perfusão inadequada são classificados como frios, ao passo que pacientes com boa perfusão são classificados como quentes. Desta forma, definindo quatro perfis clínico-hemodinâmicos (figura 1): - Categoria A quente e seco ; - Categoria B quente e úmido ; - Categoria C frio e úmido ;

- Categoria L frio e seco. Congestão? Baixo Débito? Não Sim Não A Quente/Seco PCP IC L Frio/Seco PCP IC Sim B Quente/Úmido PCP IC C Frio/Úmido PCP IC Segundo o registro norte-americano de ICD ADHERE, pacientes que na admissão apresentam uréia sérica acima de 90 mg/dl, PAS menor que 115 mmhg e creatinina sérica acima de 2,75 mg/dl têm risco de 21,9% de mortalidade na internação; em contrapartida, pacientes que não apresentam estas características têm baixo risco de mortalidade (2,14%). O estudo OPTIMIZE-HF demonstrou diferença pronunciada de sobrevida na ICD levando em consideração a PAS na admissão (PAS menor que 120 mmhg, 120-139 mmhg, 140-160 mmhg e maior que 160 mmhg, mortalidade, respectivamente, de 7,2%, 3,6%, 2,5% e 1,7%). A síndrome cardiorenal, na IC descompensada, está relacionada à elevação de 0,3 mg/dl nos níveis de creatinina em relação à admissão e também confere pior prognóstico. Neste contexto a diferenciação do tempo de início dos sintomas de IC (IC aguda nova ou crônica descompensada) pode auxiliar no uso criterioso de diurético visando preservação da função renal e consequente melhora de sobrevida. Nos pacientes com IC aguda nova habitualmente existe congestão pulmonar, sem

hipervolemia (ex. edema agudo de pulmão por HAS, valvopatia aguda e isquemia coronariana aguda), e neste sentido o foco do tratamento deve ser a causa de base e não altas doses de diurético. Já nos pacientes com IC crônica descompensada existe habitualmente congestão pulmonar e sistêmica (hipervolemia evidente), com aumento da pressão venosa renal e redução da pressão perfusão renal; neste ambiente o uso mais intensivo de diurético se faz necessário, sendo considerado inclusive o uso de diurético de alça em bomba de infusão contínua (ou intermitente com doses menos espaçadas) e associação com tiazídico / antagonista da aldosterona (bloqueio seqüencial do néfron). Fluxograma de Atendimento: Dependerá da estabilidade do quadro clínico: I - Pacientes estáveis (PA sistólica > 100 mmhg, SpO 2 > 92% em ar ambiente, FC > 60 e < 120 bpm, FR < 24 ipm, sem uso de musculatura acessória ou batimento de asa de nariz, sem sinais de perfusão periférica diminuída palidez e

cianose cutâneas, sudorese fria, livedo reticular, sem alteração do nível de consciência): Avaliação em consultório: Anamnese e exame físico, direcionados para determinação da gravidade da descompensação da IC e da cardiopatia de base, e detecção de fatores desencadeantes (infecção, isquemia miocárdica, não aderência a tratamento medicamentoso ou à restrição hidro-salina, etc). Diagnóstico: Clínico Critérios de Boston ECG Radiografia de tórax PA e perfil Exames laboratoriais: Na e K: para todos Ca iônico: na suspeita de hipocalcemia Mg: se arritmia ou QT longo Função renal (Uréia e creatinina): para todos Glicemia: pacientes diabéticos Peptídeo natriurético: Se dúvidas sobre a etiologia da dispnéia Hemograma: Hb/Ht: para todos; leucograma: na suspeita de infecção como causa de descompensação Urina tipo I + urocultura: na suspeita de ITU como fator de descompensação Marcadores cardíacos (troponina, CK-MB) na suspeita de isquemia miocárdica como fator de descompensação. TSH, T4L: Na suspeita de disfunção tireoidiana como fator de descompensação Ecodopplercardiograma transtorácico: Indicações na UPA: Suspeita de derrame/tamponamento pericárdico Suspeita de insuficiência mitral aguda ou com progressão rápida Pacientes sem antecedente de cardiopatia que desenvolvem quadro clínico e radiológico compatível com disfunção ventricular sistólica aguda. Atenção! O Ecocardiograma não deve ser usado para diagnosticar isquemia miocárdica aguda (acurácia inferior à cintilografia de perfusão miocárdica de repouso com MIBI). Tratamento: Vasodilatadores: Captopril: 12,5 a 25 mg VO ± Dinitrato de isossorbida 5mg SL, se PA sistólica > 100 mmhg. Diuréticos: Furosemida: 10 a 40 mg EV, se sinais de sobrecarga hidrossalina (estertores pulmonares, edema, hepatomegalia com refluxo jugular, estase jugular, ascite, derrame pleural).

Reavaliação: Após 30 min e repetir medicação, se necessário. Se houver resposta satisfatória e exames laboratoriais sem anormalidades clinicamente significativas, ajustar medicação e dar alta com orientação de procurar o médico de referência em 24 a 48 horas. Caso persistam os sintomas, internação hospitalar. II - Pacientes instáveis (Pacientes com 1 dos seguintes critérios de gravidade: PA sistólica < 100 mmhg, SpO 2 < 92% em ar ambiente, FC < 60 ou > 120 bpm, FR > 24 ipm, uso de musculatura acessória ou batimento de asa de nariz, sinais de perfusão periférica diminuída: palidez e cianose cutâneas, sudorese fria, livedo reticular, alteração do nível de consciência): Avaliação na sala de emergência: Monitorização de ECG, PA e SpO 2, avaliação quanto à gravidade, suporte respiratório (vias aéreas e ventilação), suporte circulatório (necessidade de expansão volêmica cuidadosa e drogas vasoativas, ou vasodilatadores), diagnóstico diferencial e estabilização. Diagnóstico: Clínico Critérios de Boston ECG Radiografia de tórax PA (sentado) Exames laboratoriais: Na e K: Para todos Ca iônico: na suspeita de hipocalcemia Mg: se arritmia ou QT longo Função renal (Uréia e creatinina): para todos Glicemia: para todos Peptídeo natriurético: Se dúvidas sobre a etiologia da dispnéia Hemograma completo Urina tipo I + urocultura: Na suspeita de ITU como fator de descompensação Marcadores cardíacos (troponina, CM-MB): Na suspeita de isquemia miocárdica como fator de descompensação Gasometria arterial Lactato TSH, T4L: Na suspeita de disfunção tireoidiana como fator de descompensação Ecodopplercardiograma transtorácico: Indicações na UPA: Suspeita de derrame/tamponamento pericárdico Suspeita de insuficiência mitral aguda ou com progressão rápida Pacientes sem antecedente de cardiopatia com quadro clínico-radiológico compatível com disfunção ventricular sistólica aguda. Atenção! Não deve ser usado para diagnosticar isquemia miocárdica aguda. Nos pacientes instáveis, com tal suspeita, considerar cinecoronariografia de urgência.

Tratamento: Ventilação não invasiva (CPAP): Indicação: Pacientes com congestão pulmonar (estertores bilaterais, sibilos), SpO 2 < 92% ou FR > 30 ipm com máscara com reservatório, uso de musculatura acessória, nível de consciência preservado (GCS > 13) e reflexos de proteção de via aérea presentes. Procedimento: Iniciar com válvula de 10 cmh 2 O e maior FiO 2 possível, para SpO 2 >92% e FR < 24 ipm. Reavaliação: Após 30 a 60 min clínica e gasometria arterial. Conduta: Se não houve melhora objetiva, optar por intubação orotraqueal e ventilação mecânica invasiva. Vasodilatadores: Indicação: PAS >120 mmhg Drogas: Nitroprussiato de sódio: 50mg em 250mL SF0,9% EV Dose inicial: 0,5 µg/kg/min, titular até PAS 100 ou PAM 70 mmhg (com vistas a melhora clínica) Nitroglicerina: 50mg em 250mL SF0,9% EV, na suspeita de isquemia miocárdica Dose inicial: 20 µg/min, titular até melhora de angina ou até PAS de 100 ou PAM 70 mmhg. Sulfato de Morfina: 2-4 mg EV, para pacientes em edema agudo de pulmão ou com desconforto respiratório intenso, desde que PAS>100 mmhg. Inotrópicos e expansão volêmica: para pacientes com sinais de baixo débito (sudorese fria, palidez cutânea, livedo reticular, pressão de pulso diminuída): Se PAS < 120 mmhg e > 90 mmhg: Dobutamina (250mg 230mL em SF0,9%) Dose inicial: 5 µg/kg/min, titular de acordo com sinais/sintomas de baixo débito e FC. Levosimendan: (12,5 mg SG5% 500 ml) Dose inicial: ataque de 12 a 24 µg/kg e manutenção de 0,05 a 0,2 µg/kg/min (dose média 0,1µg/Kg/min) em infusão por 24 horas (considerar dose de ataque na ausência de hipotensão) Milrinone: (20 mg 80 ml de SF0,9%) Dose inicial: 0,375 (dose máxima 0,75 µg/kg/min) titular conforme resposta clínica (necessita de correção pela função renal) Se PAS < 90 mmhg e ausência de estertores pulmonares, edema, ascite, turgência jugular ou sinais de desidratação: Expansão volêmica EV (250mL de SF0,9% em 15 a 20 min). Repetir até iniciar estertoração em bases.

Se PAS < 90 mmhg e sinais de congestão pulmonar ou retenção hidro-salina: Dobutamina: (250mg 230mL em SF0,9%) Dose inicial: 5 µg/kg/min, titular de acordo com sinais/sintomas de baixo débito e FC. Considerar associação de vasopressor (dopamina / noradrenalina) caso não haja resposta com dobutamina ou se hipotensão grave (PAS < 70 mmhg) Se PAS < 70 mmhg: Dopamina (250 mg 200 ml SF0,9%) Dose inicial 2,5 µg/kg/min, titular conforme resposta pressórica e freqüência cardíaca (dose máxima 10 µg/kg/min) Noradrenalina (8 mg 250mL SF0,9%) Dose inicial: 0,05 µg/kg/min, titular conforme resposta pressórica. Associar dobutamina após estabilização da PA. Diurético: Furosemida 10 a 40 mg EV (utilizar baixa dose em pacientes com IC aguda nova - priorizar tratamento da causa da IC). Na IC crônica descompensada, tratamento intensivo com diurético de alça (conforme a resposta de diurese) e considerar associação com tiazídico / antagonista da aldaosterona. ICD em uso de betabloqueador: na ausência de choque cardiogênico, buscar a manutenção do betabloqueador (mesma dose, redução pela metade ou 1/3 da dose) evitando ao máximo a suspensão. A retirada abrupta dos betabloqueadores pode aumentar ainda mais a ativação simpática (invariavelmente já elevada na ICD) favorecendo apoptose e aumento de arritmias, com conseqüente redução de sobrevida. Na necessidade de utilização de inotrópico têm sido sugeridas drogas sem atuação nos receptores beta-adrenérgicos, como milrinone e levosimendan. Após estabilização na sala de emergência, transferir para UTI ou Unidade Semiintensiva Cardiológica. Fluxograma de Tratamento

O quadro abaixo descreve os principais diagnósticos diferenciais que devem ser lembrados: Sintoma predominante Patologia Embolia pulmonar Características Presença de fatores de risco: imobilidade, edema de membros inferiores, neoplasia, trauma ou cirurgia recentes, uso de contraceptivos orais ou reposição hormonal com estrógenos;

Dispnéia Dispnéia + congestão sistêmica Congestão sistêmica, sem dispnéia Infecção respiratória Insuficiência renal associada a hipervolemia Mixedema Síndrome nefrótica Hepatopatia crônica Ausência de congestão pulmonar ao exame físico e radiografia de tórax; Sinais de sobrecarga de VD no ECG; Sinais clínicos de trombose venosa profunda. Febre, leucocitose com desvio a esquerda, expectoração amarelada, radiografia com área de condensação bem localizada. Elevação de uréia e creatinina, anasarca, acidose metabólica sem elevação de lactato. Edema tipo peau d orange, bradicardia relativa (FC menor que a esperada para o quadro de dispnéia), sonolência, hipotermia, derrames pleural e pericárdico. História de urina com espuma, alteração de uréia e creatinina, urina I com proteinúria importante, hipoalbuminemia História de hepatite por vírus B ou C, ou etilismo Estigmas de insuficiência hepática: teleangiectasias aracniformes, ginecomastia, ascite, circulação colateral abdominal, eritema palmar, icterícia Elevação de enzimas hepáticas e canaliculares, hiperbilirrubinemia às custas de bilirrubina direta, alargamento do TP, hipoalbuminemia.