TREINO DE FORÇA EM CORREDORES DE FUNDO PARA A MELHORA NA ECONOMIA DE CORRIDA. STRENGTH TRAINNING IN RUNNERS FUND TO BETTER IN THE RUNNING ECONOMY.



Documentos relacionados
A ECONOMIA DE CORRIDA E O TREINO DE FORÇA EM CORREDORES DE MEIO FUNDO E FUNDO. Artigo publicado na Revista Mundo da Corrida (Atletismo - PORTUGAL)

Paulo Jorge Paixão Miguel

Diminua seu tempo total de treino e queime mais gordura

Lucimere Bohn Área de Formação: 813 Desporto. Curso: Musculação e Cardiofitness. Módulo: Bases Morfofisiológicas

A PLANIFICAÇÃO DO TREINO DA FORÇA NOS DESPORTOS COLECTIVOS por Sebastião Mota

TREINAMENTO DE FORÇA PARA CORREDORES DE

MÉTODOS DE TREINAMENTO INTERVALADOS 2 COMPONENTES DO MÉTODO DE TREINO INTERVALADO

TREINAMENTO PLIOMÉTRICO PARA CORREDORES

Paulo Jorge Paixão Miguel. Juan José González Badillo. Março de Escola Superior de Desporto de Rio Maior (Portugal)

Período de Preparação Período de Competição Período de Transição

QUANTIFICAÇÃO FISIOLÓGICA DA CARGA DE TRABALHO EM ESPORTES AQUÁTICOS: EFICÁCIA PARA A VITÓRIA ESPORTIVA *

EXERCÍCIOS RESISTIDOS. Parte I

Dr. Milton Mizumoto Diretor Médico da Corpore

Força e Resistência Muscular

Protocolo em Rampa Manual de Referência Rápida

VALÊNCIAS FÍSICAS. 2. VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO: Tempo que é requerido para ir de um ponto a outro o mais rapidamente possível.

Fundamentação Fisiológica da Matriz de Treino

António Graça Quantificação do Limiar anaeróbio Controlo Através da Lactatémia

A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

TRIPLO SALTO VELOCIDADE FORÇA OUTRAS VELOCIDADE EXECUÇAO (MOV. ACÍCLICO) FORÇA RESISTÊNCIA HIPERTROFIA CAPACIDADE DE ACELERAÇÃO EQUILÍBRIO

PERIODIZAÇÃO APLICADA AO TREINAMENTO FUNCIONAL

Desenvolvimento da criança e o Desporto

Treino em Circuito. O que é?

A PLIOMETRIA por Sebastião Mota

POLIMENTO: O PERÍODO COMPETITIVO DA NATAÇÃO *

Treinamento Concorrente

Bases Metodológicas do Treinamento Desportivo

PLANEAMENTO DO TREINO: DA FORMAÇÃO AO ALTO RENDIMENTO

CEF Periodização e Sistemas de Treino

O TREINO DEPOIS DOS 50 ANOS

ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

CIRCUITO TREINO * O fator especificador do circuito será a qualidade física visada e o desporto considerado.

Velocidade no Futebol - Capacidade é complexa e precisa ser analisada de forma global

Exercícios além da academia

MÉTODO ADAPTATIVO. Nos métodos adaptativos, no entanto, juntamente com o exercício, associa-se um outro fator: a diminuição de oxigênio.

Disciplina: Controle Motor e Fisiologia do Movimento. Flávia Porto RELEMBRANDO...

CURSO TREINAMENTO PLIOMÉTRICO

ANÁLISE DOS TEMPOS E IDADES DO RANKING DA PROVA DOS 100 METROS MASCULINO

ORIGENS DA PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO FÍSICO ORIGENS DA PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO FÍSICO ORIGENS DA PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO FÍSICO 25/08/2008

A NECESSIDADE DE UMA NOVA VISÃO DO PROJETO NOS CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL, FRENTE À NOVA REALIDADE DO SETOR EM BUSCA DA QUALIDADE

Os Benefícios do Taekwon-do na Infância e na Adolescência

TÍTULO: A IMPORTÂNCIA DA ESPECIFICIDADE NO TREINAMENTO DO FUTEBOL CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: EDUCAÇÃO FÍSICA

ANÁLISE DAS CARGAS E MÉTODOS DE TREINAMENTO UTILIZADOS NA PREPARAÇÃO FÍSICA DO FUTSAL FEMININO AMAZONENSE

Corrida com Barreiras

MÉTODOS DE TREINAMENTO FRACIONADO

Crescimento e Desenvolvimento de Atletas Jovens nas Distâncias de Fundo e Meio Fundo: Fases Sensíveis

Mentor do Projecto -> Coach-Helper.Com

BIKE PERSONAL TRAINER O TREINO DE CICLISMO DEPOIS DOS 50 ANOS

UNIVERSIDADE GAMA FILHO ALINE MEYRE DOMINGOS ALLAN JOSÉ SILVA DA COSTA DÓRIS ALVES DE LIRA BENÍCIO JOÃO MARQUES DANTAS

A ACTIVIDADE FÍSICA F PREVENÇÃO DA IMOBILIDADE NO IDOSO EDNA FERNANDES

Variáveis Manipuláveis do Treino de Força

Referências internas são os artefatos usados para ajudar na elaboração do PT tais como:

PLANOS DE CONTINGÊNCIAS

Colunista da Revista W Run e colaborador das Revistas The Finisher e Revista O2

CARACTERÍSTICAS ESPECIFICAS E FATORES FISIOLÓGICOS DO TREINAMENTO DO VOLEIBOL DE ALTO N ~ L

Promoção para a Saúde

EXERCÍCIOS RESISTIDOS : Uma visão dentro da Escola

Métodos de treino da resistência

RODOLFO ANDRÉ DELLAGRANA RELAÇÃO DE ÍNDICES FISIOLÓGICOS E NEUROMUSCULARES COM O DESEMPENHO DE CORRIDA EM ADOLESCENTES FUNDISTAS

Orientações para montagem

PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO PROF.ª ESP. MARIA HELENA CARVALHO

Sistemas de Gestão Ambiental O QUE MUDOU COM A NOVA ISO 14001:2004

Navarro, F. In Planificacion del entrenamiento a largo plazo

JUSTIFICATIVAS PROPOSTA de LIMITES DE EMISSÕES FONTES EXISTENTES REFINARIAS

Disciplina: FISIOLOGIA CELULAR CONTROLE DA HOMEOSTASE, COMUNICAÇÃO E INTEGRAÇÃO DO CORPO HUMANO (10h)

Um Alerta, uma Reflexão, um Desafio

FIBROMIALGIA EXERCÍCIO FÍSICO: ESSENCIAL AO TRATAMENTO. Maj. Carlos Eugenio Parolini médico do NAIS do 37 BPM

PREPARAÇÃO FÍSICA ARBITRAGEM FPF Fedato Esportes Consultoria em Ciências do Esporte

AUMENTO DRAMÁTICO DO INTERESSE E PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS NO ESPORTE DE ALTO NÍVEL

FACULDADE METODISTA DE SANTA MARIA CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA JOSÉ OTAVIO FRANCO DORNELLES CREF2/RS 3700

Fundamentos Teórico-Práticos do Aquecimento no Futsal

Página 1

TREINAMENTO DE FORÇA APLICADO À CATEGORIA DE BASE DO SUB-13 AO SUB-20 Profº - Douglas Saretti Cref nº G/SP

TÍTULO: MAGNITUDES DE FORÇA PRODUZIDA POR SURFISTAS AMADORES CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: EDUCAÇÃO FÍSICA

O IMPACTO DO PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL NO AUMENTO DA FLEXIBILIDADE

Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa)

TREINAMENTO DE FORÇA NO JUDÔ. Sérgio Ricardo de Souza Oliveira, Guilherme Artioli, Hélio Serassuelo Júnior, Antonio Carlos Simões

Corinthia Hotel Lisbon - Hotel Energeticamente Eficiente

XVII CLINIC Análise de Indicadores de Força Explosiva de Potência e de Resistência de Força Explosiva em Judocas Juniores vs.

Métodos da Taxa de Produção de Força ou Máximos Métodos da Hipertrofia Muscular ou Sub-máximos Métodos Mistos. Métodos Reactivos

CHECK - LIST - ISO 9001:2000

Grau de hipertrofia muscular em resposta a três métodos de treinamento de força muscular

Check-up Performance

VANTAGENS DAS CORREIAS TRAPEZOIDAIS DENTADAS SOBRE AS CLÁSSICAS LISAS

CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E LIMITAÇÕES. 1. Conclusões e Recomendações

Cerca de 30% do consumo elétrico no Comércio e Serviços

Periodização do Treinamento. Vitor Leandro da Silva Profeta Mestrando em Ciências do Esporte

Brazilian Journal of Sports and Exercise Research, 2010, 1(2): 84-88

MÉTODOS DE TREINAMENTO DE FLEXIBILIDADE EM PRATICANTES DE GINÁSTICA RÍTMICA DO PARANÁ

Efeitos da Inactividade e Readaptação Física do Desportista após uma lesão

TRABALHOS TÉCNICOS Coordenação de Documentação e Informação INOVAÇÃO E GERENCIAMENTO DE PROCESSOS: UMA ANÁLISE BASEADA NA GESTÃO DO CONHECIMENTO

Por que devemos avaliar a força muscular?

COACHING: UMA NOVA FERRAMENTA PARA O SUCESSO E QUALIDADE DE VIDA.

PLANO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS 2012 FORMAÇÃO DE TREINADORES FEDERAÇÃO PORTUGUESA DO PENTATLO MODERNO

Gestão da Qualidade Políticas. Elementos chaves da Qualidade 19/04/2009

Deficiência de Desempenho Muscular. Prof. Esp. Kemil Rocha Sousa

EXERCÍCIO E DIABETES

TUTORIAL CERTIFICAÇÕES SCIENCE SYSTEMS

Desenvolvimento das capacidades motoras

Sociedade União 1º.Dezembro. Das teorias generalistas. à ESPECIFICIDADE do treino em Futebol. Programação e. Periodização do.

Transcrição:

TREINO DE FORÇA EM CORREDORES DE FUNDO PARA A MELHORA NA ECONOMIA DE CORRIDA. STRENGTH TRAINNING IN RUNNERS FUND TO BETTER IN THE RUNNING ECONOMY. LEONARDO EMMANUEL DE MEDEIROS LIMA (1) ORIENTADOR: Dr. FRANCISCO NAVARRO (1,2) 1 Programa de Pós-graduação Lato-Sensu da Universidade Gama Filho Fisiologia do Exercício: Prescrição do Exercício. 2 Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício. E-mail: rhcorrida@gmail.com Rua Carlos Weber, 1564, ap. 11. Vl. Leopoldina São Paulo SP. 05303-000. São Paulo, Turma 01093, Entrega no dia 18/12/2010

RESUMO Entre muitos determinantes de um bom resultado nas corridas de fundo o consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo) é um destes aspectos. É a capacidade que os atletas têm de metabolizar energia de forma aeróbia num nível tão próximo quanto possível daquele valor (limiar anaeróbio) têm sido considerável. No entanto, uma releitura científica no campo do treinamento desportivo é a aplicabilidade de força na preparação do atleta em corrida de fundo têm mostrado que esta capacidade física passa a ser essencial na melhora de desempenho. Melhores tempos em provas e novos recordes sendo quebrados têm levado muitos treinadores a inserir dentro do campo da periodização o trabalho de força em seus atletas. O artigo mostra com conclusões teóricas e práticas que se o treinamento de força for aplicado de maneira lógica e racional nos corredores de fundo, os resultados serão positivos na melhora da economia de corrida e conseqüentemente na melhora do desempenho. Palavras-chave: Economia de Corrida, Força, Periodização e Treinamento Desportivo. ABSTRACT Among many key aspects of a good result in the racing fund the maximum oxygen consumption (VO2max) and the ability for athletes to have energy to metabolize aerobically at a level as close as possible to that value (anaerobic threshold) have been considered the most. However, a new cientific read in the field of sports training and strength workability of the athletes preparation has proved that physical fitness has become essential in improving performance. Best time to evidence and new records being broken has led many coaches to be inserted within the field of periodization of the work force to their athletes. The article demonstrates with theoretical and practical conclusions that if the strength training is applied in a logical and rational in distance runners, the results will be positive in improving running economy and thus in the improvement of the minutes per kilometer (min/km) driven. Keywords: Running Economy, Strength, Periodization and Sports Training.

INTRODUÇÃO Um dos aspectos determinantes de um bom resultado nas corridas de fundo é o consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo). Isto é a capacidade que os atletas têm de metabolizar energia de forma aeróbia num nível tão próximo quanto possível daquele valor (limiar anaeróbio). Porém, a economia de corrida passa a ser revista como tão importante em corridas de resistência que Vancini e Lira (2005) chegam a afirmar que para dois atletas com níveis de VO2 máx. semelhantes, a economia de corrida passa a ser o melhor predito de desempenho e de sucesso esportivo, sendo considerada mais importante que o VO2 máx. O presente artigo apresenta a justificação de treinos de força para a melhora da economia de corrida de fundo, como fator fundamental na elaboração do treinamento para estes atletas, e enfatiza a importância de periodizar esta capacidade física para uma construção segura e eficiente no desempenho destes atletas. 1. METODOLOGIA O presente estudo é constituído de uma revisão bibliográfica não sistemática. A pesquisa foi baseada nas referências bibliográficas publicadas ao longo dos anos sobre o tema treinamento desportivo, força e economia de corrida. Para melhor compreensão do assunto foram introduzidos conceitos preliminares.

2. INFLUÊNCIA DA FORÇA NA CORRIDA 2.1. Força Força é definida como a capacidade de superar ou opor-se a uma resistência por meio da contração muscular (PLATONOV, 2004). A corrida de fundo, com todas as suas variáveis individuais e ambientais, exige respostas diversificadas da musculatura de forma a manter as exigências funcionais do exercício. De acordo com Platonov (2004), a força é uma capacidade motora condicional que se manifesta de maneira diferente em função da necessidade de ações presentes no gesto motor. Para as corridas de longa distância a capacidade de força está sempre interligada com outras capacidades motoras. A força é a condição fundamental que determina o nível de velocidade de deslocamento cíclico nas modalidades de resistência, e elemento primordial para o desempenho nas corridas de fundo. Sendo assim, o treinamento especial desta capacidade é fundamental na preparação esportiva do atleta. Um atleta de longas distâncias deverá assegurar o desenvolvimento dentro das suas possibilidades genéticas dos sistemas cardiovascular, respiratório e também muscular no processo de periodização. Porém, para que ocorram as adaptações positivas ao atleta, o treinamento deverá previamente construir uma base para os treinamentos especiais de força.

A variação dos meios e métodos de treinamento e a distribuição coerente e lógica das cargas de treino, conforme o planejamento e o avanço das etapas da preparação irão promover a elevação da capacidade metabólica e neuromuscular de maneira positiva e principalmente eficiente. Bompa (2001) sugere que esta elaboração sistemática de treinamento de força deverá ser composta por 4 fases: adaptação anatômica, hipertrofia, força máxima e a fase da conversão para potência/resistência. 2.2. Resistência de Força (RF) Entende-se por Resistência de Força (RF) a capacidade de manter um nível constante de força durante um tempo de uma atividade ou gesto desportivo (MANSO, 1999) e que esta pode ainda ser aeróbia e anaeróbia. Em corridas de longa distância se utiliza a resistência de força aeróbia onde os músculos resistem à fadiga com uma provisão suficiente de oxigênio (BARBANTI, 1997). A RF corresponde à capacidade muscular do atleta de resistir ao cansaço provocado por um número elevado de contrações (BARBANTI, 1997), fundamental para o desempenho em provas de média e longa distância. Alguns autores citam o termo força hipertrófica como componente da variável de resistência de força. Porém, é importante lembrar que hipertrofia muscular não é capacidade motora, mas sim uma resposta adaptativa morfológica.

Para Harre e Leopold (1987), o conceito de Resistência de Força define um pressuposto condicional da prestação determinado pela associação entre a força (máxima ou rápida) e a resistência. A primeira distinção que surge diz respeito à separação entre a Resistência Absoluta e a Resistência Relativa da Força. A primeira diz respeito ao valor médio absoluto do desenvolvimento repetido da força realizada, enquanto a segunda pode definir-se como a capacidade do atleta se opor à fadiga, referindo-se à diferença entre o máximo rendimento possível de força (sem diminuição devida à fadiga) e o valor médio de força desenvolvido durante o esforço. Também Siff & Verkhoshansky (2000) sugerem que a RF proporciona um nível alto de capacidade de trabalho especial, que é sobretudo típico dos desportos cíclicos nos quais se executam ações de grande potência. Dando claramente a entender que se referem a provas de velocidade resistente ou de meio-fundo curto, ou seja os 400m e 800m. Contudo esta combinação entre a força e a resistência parece não ser tarefa fácil, especialmente quando refere-se ao treino destas duas capacidades conjugadas, conhecido por Treino Concorrente (DOCHERTY & SPORER, 2000; LEVERITT, ABERNETHY, BARRY, & LOGAN, 1999; TANAKA & SWENSEN, 1998). Quando esta combinação refere-se ao tipo de treino que habitualmente é realizado por corredores de fundo é maioritariamente composta por trabalho relacionado com

a capacidade resistência. Não obstante, os benefícios do treino de força nestes corredores têm sido estudados e parecem não comprometer, e inclusive contribuem para a melhoria do rendimento nas corridas de meio-fundo e fundo (JUNG, 2003). 2.3. Força Explosiva (FE) A FE é a capacidade muscular de vencer uma resistência na maior velocidade de contração possível (LETZELTER apud BARBANTI, 1997). Em provas de longa distância não se manifesta como fator determinante de desempenho, todavia seu treinamento está relacionado à melhoria da economia de corrida, sendo um parâmetro fundamental de desempenho aeróbia (HÄKKINEN, KRAEMER, 2004). De acordo com Antoniazzi et al (1999) uma melhora na economia de corrida permite ao atleta aumentar a eficiência biomecânica e reduzir o consumo de oxigênio para realizar os movimentos por mais tempo e em maiores distâncias a uma dada velocidade, podendo gerar elevação no desempenho atlético. A EC é tão importante em corridas de resistência que Vancini e Lira (2005) chegam a afirmar que para dois atletas com níveis de VO2 máx. semelhantes, a EC passa a ser o melhor predito de desempenho e de sucesso esportivo, sendo considerada mais importante que o VO2 máx.

2.4. Força Pliométrica (FPL) O termo pliometria já gera, segundo Verkhoshanski (1998), uma desvirtuação da proposta original, pois se refere somente à fase excêntrica ou de amortecimento, quando na verdade o método deveria ser centrado na transição rápida entre as fases de amortecimento e impulsão. A essência do método não está em saltar ou amortecer e sim em aproveitar de forma eficiente a energia cinética do contramovimento para impulsionar o movimento seguinte. Os exercícios pliométricos envolvem um tipo de treinamento que utiliza exercícios de saltos a fim de produzir uma sobrecarga de ação muscular do tipo isométrica, com grande tensão muscular, envolvendo o reflexo de estiramento nos músculos (BARBANTI, 1998). Os mesmos podem ser também definidos como aqueles que ativam o ciclo excêntrico-concêntrico, aumentando assim a potência elástica e mecânica (MOURA, MOURA, 2001). 2.5. Força Máxima (FM) A Força Máxima, segundo Platonov (2004), é a maior força possível que o desportista é capaz de exercer em uma ação voluntária máxima (AVM). Sua inserção na periodização de atletas de resistência é fundamentada em dois postulados. Primeiro, o treinamento de FM é útil para reduzir a possibilidade de lesões ao longo do macrociclo. Segundo, ele também é útil para formar a base necessária ao

treinamento de Força Explosiva, ou seja, antes de executar um grande volume de trabalho para o desenvolvimento de FE o atleta deve atingir um nível considerável de FM. Caso contrário há um aumento da possibilidade de traumatismos e uma diminuição da eficácia do treinamento. 3. ESTUDOS SOBRE TREINO DA FORÇA COM CORREDORES DE FUNDO Verkhoshansky (1999), num estudo com meio-fundistas da seleção nacional russa, verificou que a aplicação de um programa específico concebido para o desenvolvimento da capacidade de manifestar força explosiva e capacidade reativa em condições de esgotamento levou os atletas do grupo experimental a melhorar suas referidas capacidades, o que por sua vez levou-os também a obter melhores resultados competitivos do que o grupo de controle, não obstante o menor volume de corrida realizado em treino. O estudo sugere que os atletas possam ter melhorado o rendimento à custa de um incremento de origem neuromuscular. Outros estudos também verificaram a melhoria da performance em corridas de fundo graças à aplicação de um programa de treino pliométrico e na relação de influenciar na função neuromuscular com uma melhor economia de corrida (SPURRS, MURPHY & WATSFORD, 2003; TURNER, OWINGS & SCHWANE, 2003). Outros, ainda, utilizaram programas de treino de força com cargas elevadas, tendo verificado que sem alteração do VO2 máx. se conseguiu uma melhoria do rendimento graças a um incremento da economia de corrida (JOHNSTON, QUINN, KERTZER, & VROMAN, 1997; MILLET, JAOUEN, BORRANI & CANDAU, 2002).

4. A ECONOMIA DE CORRIDA De acordo com Antoniazzi et al. (1999) uma melhora na Economia de Corrida permite ao atleta aumentar a eficiência biomecânica e reduzir o consumo de oxigênio para realizar os movimentos por mais tempo e em maiores distâncias a uma dada velocidade, podendo gerar elevação no desempenho atlético. A EC é habitualmente definida pela exigência energética que uma determinada velocidade de corrida submáxima apresenta (SAUNDERS, PYNE, TELFORD & HAWLEY, 2004). Quanto menor for o VO2 de um atleta a determinada velocidade, mais eficiente este será e conseqüentemente melhores as suas possibilidades de rendimento em eventos de resistência. A determinação da EC tem sido realizada em laboratório e mais recentemente também em testes de terreno (LUCIA et al., 2006; NUMMELA et al., 2006; PAAVOLAINEN, HAKKINEN, HAMALAINEN, NUMMELA & RUSKO, 1999). Um dos principais parâmetros onde uma intervenção neuromuscular pode ajudar corredores de fundo é a economia de movimento. Durante a corrida, até 60% da energia mecânica da passada anterior pode ser recuperada para a próxima passada, sendo necessário despender apenas os 40% restantes através de reações metabólicas (VERKHOSHANSKI, 1998; 1999). Deste modo, quanto mais energia se aproveitar das passadas precedentes, menor será o desgaste durante a corrida e, conseqüentemente, maior a desempenho.

Segundo Foster y Lucia (2007), a metodologia utilizada para a referida determinação consiste em realizar corridas progressivas com patamares de duração de 4 a 10 minutos (sendo estes suficientes para atingir um estado de equilíbrio fisiológico) e com uma intensidade inferior ao limiar ventilatório. A expressão da economia de corrida pode ser apresentada de diversas formas, sendo a mais habitual a interpolação ou extrapolação do VO2 consumido à velocidade de 4,47m/s, a qual corresponde a 3,44min/km (FOSTER & LUCIA, 2007). Em eventos de fundo, embora o consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.) e a capacidade de manter uma elevada percentagem de VO2 máx. por um longo período de tempo sejam também aspectos determinantes (FOSTER y LUCIA, 2007), a EC parece ser um melhor preditor da performance (SAUNDERS et al., 2004). O treino de força com corredores, desde que bem conjugado com treino de resistência, pode favorecer a melhoria da EC e conseqüentemente da performance dos atletas. Estas melhorias podem ocorrer inclusive sem alteração dos parâmetros habitualmente associados ao treino de resistência nomeadamente o VO2 máx. Ainda que alguns estudos se tenham debruçado sobre os aspectos acima referidos (JUNG, 2003; NUMMELA et al., 2006; PAAVOLAINEN, HAKKINEN, HAMALAINEN, NUMMELA & RUSKO, 1999; SPURRS et al., 2003; TURNER et al., 2003), nestes trabalhos tem-se dado particular importância aos efeitos do treino pliométrico ou do treino de pesos mais clássico, pelo que julgamos pertinente conhecer outras formas

alternativas de combinação do treino de força conjugado com o trabalho habitual que os corredores de fundo realizam. Estamos a referirmo-nos nomeadamente ao treino de rampas, muito utilizado e pouco estudado, e ainda aos exercícios com cargas baixas movidas à máxima velocidade, incluindo saltos e que se chamam balísticos (KAWAMORI & HAFF, 2004; STONE et al., 2003). A combinação destes exercícios com o gesto da especialidade desportiva, neste caso a corrida a uma velocidade média ou elevada, tem sido proposta por diversos autores (COMETTI, 2001; DONATI, 1996; MIGUEL & REIS, 2004). CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo as pesquisas e argumentos citados, a interconexão de força e resistência de longa duração dentro de um contexto de elaboração de treinamento coerente irá promover uma melhora na economia de corrida. Os meios e métodos de treinamento de força para a melhora da economia de corrida, e conseqüentemente sua aplicação e adaptações, como as citadas por Bompa (2001), dentro do universo da periodização requerem mais estudos científicos e práticos dos mesmos. Portanto, para o trabalho de força com atleta de longa distância devemos considerar o nível do atleta na modalidade, experiência do atleta na variável da capacidade de força em treinos anteriores e planejamento lógico dentro da estruturação de treino.

Sendo assim, as adaptações na interação e integração da capacidade de força em conjunto com a capacidade aeróbia permitirão o alcance de um elevado nível de resistência à fadiga de longa duração, melhora na economia de corrida e prevenção de lesões.

REFERÊNCIAS BARBANTI, V. J. Teoria e prática do treinamento esportivo. 2ª ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1997. BARBANTI, V. J. Treinamento esportivo: as capacidades motoras dos esportistas. São Paulo: Manole, 2010. 246p. BERG, K. (2003). Endurance training and performance in runners: Research limitations and unanswered questions. Sports Med, 33(1), 59-73. BILLAT, V.; LEPRETRE, P. M.; HEUGAS, A. M.; LAURENCE, M. H.; SALIM, D. & KORALSZTEIN, J. P. (2003). Training and bioenergetic characteristics in elite male and female kenyan runners. Med Sci Sports Exerc, 35(2), 297-304; discussion 305-296. BILLAT, V. L.; DEMARLE, A.; SLAWINSKI, J.; PAIVA, M. & KORALSTEIN, J. P. (2001). Physical and training characteristics of top-class marathon runners. Med Sci Sports Exerc, 33(12), 2089-2097. BOMPA, T. O.; HAFF, G. G. Periodization: Theory and Methodology of Training. 2 ed. Human Kinetics, 2009. 411p. BOMPA, T. O. A Periodização no Treinamento Esportivo. Tradução Dayse Batista. São Paulo: Manole, 2001. 260p. BOSCO, C. (2000). La fuerza muscular - aspectos metodologicos. Barcelona: Inde. COMETTI, G. (2001). Los metodos modernos de musculación. Barcelona: Paidotribo.

COSTA, A. (1996). Caracterização da corrida de 400 metros planos - identificação de algumas variáveis condicionantes do rendimento. FCDEF/UP, Porto. DOCHERTY, D. & SPORER, B. (2000). A proposed model for examining the interference phenomenon between concurrent aerobic and strength training. Sports Med, 30(6), 385-394. DONATI, A. (1996). The association between the development of strength and speed. New studdies in Athletics, 11(2-3), 51-58. FOSTER, C. & LUCIA, A. (2007). Running economy - the forgotten factor in elite performance. Sports Medicine, 37(4-5), 316-319. HARRE, D. & LEOPOLD, W. (1987). La resistenza alla forza definizione della capacità di resistenza alla forza e principi fondamentali del suo allenamento (parte prima). Sds- Riv. Cult. Sportiva, VI (9), 28-35. HENNESSY, L. & KILTY, J. (2001). Relationship of the stretch-shortening cycle to sprint performance in trained female athletes. J Strength Cond Res, 15(3), 326-331. JOHNSTON, R., QUINN, T., KERTZER, R. & VROMAN, N. (1997). Strength training in female distance runners: Impact on running economy. Journal of strength and conditioning research, 11(4), 224-229. JUNG, A. (2003). The impact of resistance training on distance running performance. Sports Medicine, 33(7), 539-552. KAWAMORI, N. & HAFF, G. G. (2004). The optimal training load for the development of muscular power. J Strength Cond Res, 18(3), 675-684.

EVERITT, M., ABERNETHY, P. J., BARRY, B. K. & LOGAN, P. A. (1999). Concurrent strength and endurance training. A review. Sports Med, 28(6), 413-427. LUCIA, A., ESTEVE-LANAO, J. OLIVAN, J. GOMEZ-GALLEGO, F., SAN JUAN, A., SANTIAGO, C., et al. (2006). Physiological characteristics of the best eritrean runners - exceptional running economy. Applied Physiology Nutrition and Metabolism-physiologie Applique Nutrition et Metabolisme, 31(5), 530-540. MANOU, V., KELLIS, S. & ARSENIOUS, P. (2000). Relationship between 100m sprinting performance and jumping ability. Paper presented at the 5th Annual Congress of ECSS, Jyväskylä. MCLAUGHLIN, J. E., KING, G. A., HOWLEY, E. T., BASSET, D. R., Jr., & AINSWORTH, B. E. (2001). Validation of the cosmed k4 b2 portable metabolic system. Int J Sports Med, 22(4), 280-284. MANSO, J. M: La Fuerza. Ed.Gymnos, Madri, 2000. MERO, A., KOMI, P. V., RUSKO, H. & HIRVONEN, J. (1987). Neuromuscular and anaerobic performance of sprinters at maximal and supramaximal speed. Int J Sports Med, 8 Suppl 1, 55-60. MIGUEL, P. & REIS, V. (2004). Speed strength endurance and 400m performance. New studdies in Athletics, 19(4), 39-45. MIKKELSSON, L. O. (1996). How to train to become a top distance runner. New studdies in Athletics, 11(4), 37-44.

MILLET, G. P., JAOUEN, B., BORRANI, F. & CANDAU, R. (2002). Effects of concurrent endurance and strength training on running economy and vo2 kinetics. Medicine And Science In Sports And Exercise, 34(8), 1351-1359. NAVARRO, F. (1999). Metodologia del entrenamiento para el desarrollo de la resistencia. Madrid: COES/UAM. NOAKES, T. D. (2001). Lore of running (4th ed.). Champaign: Human Kinetics. NUMMELA, A., PAAVOLAINEN, L., SHARWOOD, K., LAMBERT, M., NOAKES, T. & RUSKO, H. (2006). Neuromuscular factors determining 5 km running performance and running economy in well-trained athletes. EUROPEAN JOURNAL OF APPLIED PHYSIOLOGY, 97(1), 1-8. NUMMELA, A., RUSKO, H. & MERO, A. (1994). Emg activities and ground reaction forces during fatigued and nonfatigued sprinting. Med Sci Sports Exerc, 26(5), 605-609. NUMMELA, A. T., PAAVOLAINEN, L. M., SHARWOOD, K. A., LAMBERT, M. I., NOAKES, T. D. & RUSKO, H. K. (2006). Neuromuscular factors determining 5 km running performance and running economy in well-trained athletes. Eur J Appl Physiol, 97(1), 1-8. PAAVOLAINEN, L., HAKKINEN, K., HAMALAINEN, I., NUMMELA, A. & RUSKO, H. (1999). Explosive-strength training improves 5-km running time by improving running economy and muscle power. J Appl Physiol, 86(5), 1527-1533.

PAAVOLAINEN, L., HAKKINEN, K., HAMALAINEN, I., NUMMELA, A. & RUSKO, H. (1999). Explosive-strength training improves 5-km running time by improving running economy and muscle power. Journal Of Applied Physiology, 86(5), 1527-1533. PLATONOV, V. N. Tratado Geral de Treinamento Desportivo. São Paulo: Phorte Editora, 2004. 887p. RAHMANI, A., LOcATELLI, E. & LACOUR, J. R. (2004). Differences in morphology and force/velocity relationship between senegalese and italian sprinters. Eur J Appl Physiol, 91(4), 399-405. SAUNDERS, P., PYNE, D., TELFORD, R. & HAWLEY, J. (2004). Factors affecting running economy in trained distance runners. SPORTS MEDICINE, 34(7), 465-485. SAUNDERS, P., PYNE, D., TELFORD, R., PELTOLA, E., CUNNINGHAM, R. & HALEY, J. (2004). Nine weeks of plyometric training improves running economy in highly trained distance runners. MEDICINE AND SCIENCE IN SPORTS AND EXERCISE, 36(5), S254-S254. SAUNDERS, P., TELFORD, R., PYNE, D., PELTOLA, E., CUNNINGHAM, R., GORE, C. et al. (2006). Short-term plyometric training improves running economy in highly trained middle and long distance runners. JOURNAL OF STRENGTH AND CONDITIONING RESEARCH, 20(4), 947-954. SAUNDER, P. U., PYNE, D. B., TELFORD, R. D. & HAWLEY, J. A. (2004). Factors affecting running economy in trained distance runners. Sports Medicine, 34(7), 465-485. SIFF, M. & VERKHOSHANSKY, Y. (2000). Superentrenamiento. Barcelona: Paidotribo.

SPURRS, R. W., MURPHY, A. J. & WATSFORD, M. L. (2003). The effect of plyometric training on distance running performance. Eur J Appl Physiol, 89(1), 1-7. STONE, M. H., O'BRYANT, H. S., MCCOY, L., COGLIANESE, R., LEHMKUHL, M. & SCHILLING, B. (2003). Power and maximum strength relationships during performance of dynamic and static weighted jumps. J Strength Cond Res, 17(1), 140-147. TANAKA, H. & SWENSEN, T. (1998). Impact of resistance training on endurance performance. A new form of cross-training? Sports Med, 25(3), 191-200. THOMAS, J. & NELSON, J. (1996). Research methods in physical activity (3th ed.). Champaign: Human Kinetics. TURNER, A., OWINGS, M. & SCHWANE, J. (2003). Improvement in running economy after 6 weeks of plyometric training. JOURNAL OF STRENGTH AND CONDITIONING RESEARCH, 17(1), 60-67. VANCINI, R. L., LIRA, C. A. B. Participação genética sobre o Desempenho atlético. Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício (CEFE), 2005. VERKHOSHANSKI, Y. (1999). Tudo sobre el método pliométrico, medios y metodos para la mejora de la fuerza explosiva.barcelona: Paidotribo. VERKHOSHANSKI, Y. Força: treinamento de potência muscular método de choque. Londrina: Centro de Informações Desportivas, 1998. VERKHOSHANSKI, Y. Treinamento desportivo. Porto Alegre: Artmed, 1999.

VITTORI, C. (1996). The european school in sprint trainning - the experience in italy. New studdies in Athletics, 11(2-3), 85-92. ZINTL, F. (1991). Entrenamiento de la resistencia.barcelona: Martinez Roca.