propriedades do grupo dos ternos pitagóricos

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V Bienal da SBM Sociedade Brasileira de Matemática UFPB - Universidade Federal da Paraíba 18 a 22 de outubro de 2010 propriedades do grupo dos ternos pitagóricos Thais Silva do Nascimento & Martinho da Costa Araujo 1 Introdução Um tema muito antigo, mas que ainda desperta muito interesse são os Ternos Pitagóricos (TP). Existem vários modelos de se produzir (TP). Em ([2,3]) é apresentada uma maneira de associar um (TP) a um elemento de um grupo P. Este trabalho tem como objetivo apresentar algumas propriedade do grupo P. Uma identidade famosa atribuida a Diophantus (325-409 A.D.) mostra que dados dois inteiros, que podem ser escritos como a soma de dois quadrados, o seu produto também é soma de dois quadrados, ver([1]), ou seja, (a 2 + b 2 )(x 2 + y 2 ) = (ax by) 2 + (ay + bx) 2 (1.1) De fato, (a 2 + b 2 )(x 2 + y 2 ) = a 2 x 2 + a 2 y 2 + b 2 x 2 + b 2 y 2 (a 2 + b 2 )(x 2 + y 2 ) = (a 2 x 2 2axby + b 2 y 2 ) + (a 2 y 2 + 2axby + b 2 x 2 ) (a 2 + b 2 )(x 2 + y 2 ) = (ax by) 2 + (ay + bx) 2. Fazendo a 2 + b 2 = c 2 e x 2 + y 2 = z 2 com c, z Z, esta identidade sugere uma maneira de construir um terno pitagórico (TP) a partir de outros dois, ou seja, uma nova tripla onde suas coordenadas satisfazem o Teorema de Pitágoras. Observe que se os ternos (a,b,c) e (x,y,z) são pitagóricos, então também é pitagórico. (ax by, ay + bx, cz) Assim, se (a,b,c) é um TP, dizemos que ele representa um Triângulo Pitagórico, ou seja, triângulo retângulo com catetos a, b e hipotenusa c. Deste modo, podemos definir uma operação, a qual chamaremos de adição, que associa a dois ternos pitagóricos (a,b,c) e (x,y,z) o novo terno pitagórico (ax by, ay + bx, cz). Um Terno Pitagórico Pimitivo (ou Triângulo Pitagórico Primitivo) é um TP (a,b,c), com a, b, c Z e mdc(a,b,c) = 1. Ao invés de considerar o conjunto de todos os ternos pitagóricos, iremos considerar apenas o conjunto P = {(a, b, c) : a, b, c Z, a 2 + b 2 = c 2 e mdc(a, b, c) = 1}, onde terno (ka, kb, kc) será representado pelo seu primitivo (a, b, c). Assim, vamos definir em P a operação, chamada de adição de dois ternos pitagóricos por: (a, b, c) (x, y, z) = (ax by, ay + bx, cz). (1.2) Universidade Federal de Mato Grosso, UFMT, MT, Brasil, thaisnascimento.cv@gmail.com Universidade Federal de Mato Grosso, Dpto. de Matemática, MT, Brasil, martinho@ufmt.br

Vamos assumir que ax by > 0 e mostraremos que o conjunto P com esta operação de adição é um grupo. Para facilitar a verificação das propriedades de P iremos fazer uma identificação de uma tripla em P com pontos no círculo unitário no plano complexo, ou seja, mostraremos que P é isomorfo a um subgrupo do círculo unitário S 1, o que nos levará a uma representação geométrica dos elementos de P. Em seguida, verificaremos algumas propriedades deste grupo constatando que o mesmo é um grupo abeliano gerado pelo conjunto de triângulos que tem como hipotenusa um primo da forma 4n + 1 e que isto nos diz quantos triângulos retângulos tem a mesma hipotenusa, conforme ([2,3]). 2 Algumas propriedades de P Cada terno pitagórico primitivo (a,b,c) determina um número complexo z = a+ib, com módulo z = a 2 + b 2 = c. Para z = a+ib e w = x+iy, podemos escrever (1.1) na forma z w = zw. O segmento da origem a z intercepta o círculo unitário S 1, no plano complexo, num ponto e iα = a c + ib c. Figura 1: Círculo Unitário S 1 no Plano Complexo De fato, seja w = cos α + i sin α o ponto de interseção entre o círculo unitário e z = a + ib. Temos que w = kz e w = 1, k R. Segue daí que k = 1 c, logo w = eiα = a c + ib c. Lema 2.1. Seja S 1 o círculo unitário no plano complexo, então a função φ : P S 1 definida por φ((a, b, c)) = e iα = a c + ib é um homomorfismo injetor. c Prova: Sejam (a, b, c) e (x, y, z) P, considere φ((a, b, c)) = e iα = a c + ib c e φ((x, y, z)) = eiβ = x z + iy z. Então ax by ay + bx φ((a, b, c) (x, y, z)) = φ((ax by, ay + bx, cz)) = + i ( ) ( ) cz cz a + ib x + iy φ((a, b, c) (x, y, z)) = = e iα e iβ = φ((a, b, c))φ((x, y, z)). c z Logo φ é um homomorfismo. Além disso, se e iα = e iβ então a c = x z e b c = y ay = bx. Como mdc(x, y, z) = 1, z existem r, s Z tais que xr + ys = 1. Segue daí que a = x(ar + bs), b = y(ar + bs) e c = z(ar + bs). Mas mdc(a, b, c) = 1, logo (a, b, c) = (x, y, z). Portanto φ é um homomorfismo injetor. Deste modo, a soma de ternos pitagóricos em P corresponde ao produto de números complexos. Visualizando no círculo unitário, temos que a nossa adição em P corresponde a adição de ângulos em S 1. Segue, diretamente desta correspondência, que a adição definida em (1.2) tem as seguintes propriedades: associativa: [(a, b, c) (x, y, z)] (u, v, w) = (e iα e iβ )e iγ = e iα (e iβ e iγ ) = (a, b, c) [(x, y, z) (u, v, w)]

comutativa: (a, b, c) (x, y, z) = e iα e iβ = e iβ e iα = (x, y, z) (a, b, c) O triângulo degenerado (1,0,1) é o elemento identidade, pois (a, b, c) (1, 0, 1) = e iα e i0 = e iα = (a, b, c) Para garantir que P é fechado para esta soma, precisamos analisar o caso ignorado até agora ax by 0, ou seja, γ = α + β π 2. Considere γ = θ + π 2, com 0 θ < π 2, então o triângulo (cos γ, sin γ, 1) é congruente ao triângulo (cos θ, sin θ, 1), que é obtido por uma rotação de π 2 em relação a origem. Para garantir o inverso em P, sempre que γ = α + β π 2 reduziremos o ângulo soma módulo π 2. Por exemplo, reduzimos o ângulo γ = π 2 módulo π 2 para 0, que corresponde ao elemento (1,0,1). Segue daí que (a, b, c) e (b, a, c) são inversos um do outro, pois γ = α + β = π 2 então (a, b, c) (b, a, c) = (1, 0, 1). Note que embora os triângulos (a, b, c) e (b, a, c) sejam congruentes, estamos considerando-os como elementos diferentes em P. Figura 2: Representação de um complexo sobre S 1 Em resumo, o conjunto P dos ternos pitagóricos primitivos é um grupo abeliano com a operação de adição definida por : (a, b, c) (x, y, z) = { (ax by, ay + bx, cz), se ax by > 0 (ay + bx, ax by, cz), se ax bt 0. O elemento identidade de P é o triângulo degenerado (1,0,1) e o inverso aditivo de (a, b, c) é (b, a, c). E o núcleo ker(φ) = {(a, b, c) : φ(a, b, c) = 1} = {(1, 0, 1)} o que é equivalente a dizer que φ é injetiva. A construção geométrica do produto de dois complexos dá uma interpretação alternativa da operação do grupo P. Dados (a, b, c), (x, y, z) P podemos multiplicar v = a + ib e w = x + iy geométricamente, para o caso em que α + β π 2, obtendo a soma (a, b, c) (x, y, z). Figura 3: Representação Geométrica da soma de TPP

3 P é um grupo livre Para cada (a, b, c) em P, o conjunto (a, b, c) = {n(a, b, c) : n Z}, onde (1, 0, 1), se n = 0 n(a, b, c) = (a, b, c) (a, b, c), } {{ } se n N = {1, 2, 3,...}. n vezes Lembramos que n(a, b, c) é o inverso de n(a, b, c), e que (a, b, c) é um subgrupo de P, chamado de subgrupo cíclico gerado por (a, b, c). Vamos mostrar que P é soma direta de grupos cíclicos infinitos, ou seja, se {g i } é o conjunto de geradores de subgrupos de P, então cada g P é uma combinação linear da forma n 1 g i1 n k g ik, com g ik distintos, os coeficientes n i Z inteiros não nulos e k N. Lema 3.1. Se a, b, r, k, s Z e p é primo tal que rsab p 2 k (mod p 2 ) e a 2 + b 2 r 2 + s 2 0 (mod p 2 ), então exatamente uma das afirmações é verdadeira: ra + sb rb sa 0 (mod p 2 ) ou ra sb rb + sa 0 (mod p 2 ). Prova: Temos que (ra sb)(ra + sb) = r 2 (a 2 + b 2 ) b 2 (r 2 + s 2 ). Mas a 2 + b 2 r 2 + s 2 0 (mod p 2 ), então (ra + sb)(ra sb) 0 (mod p 2 ). Se p (ra + sb) e p (ra sb), então p 2sb e p 2ra, o que implica que p 2 2rasb, contrariando a hipótese de que rsab p 2 k (mod p 2 ). Logo ra + sb 0 (mod p 2 ) ou ra sb 0 (mod p 2 ). Se ra + sb 0 (mod p 2 ), então (ra + sb) 2 0 (mod p 4 ). Por hipótese (a 2 + b 2 )(r 2 + s 2 ) 0 (mod p 4 ) e como (rb sa) 2 + (ra + sb) 2 = (a 2 + b 2 )(r 2 + s 2 ) 0 (mod p 4 ), temos que (rb sa) 2 0 (mod p 4 ), ou seja, (rb sa) 0 (mod p 2 ). Portanto, ra + sb rb sa 0 (mod p 2 ). Analogamente, se ra sb 0 (mod p 2 ), então ra sb rb + sa 0 (mod p 2 ). Proposição 3.1. O grupo P dos ternos pitagóricos primitivos é um grupo cíclico infinito, gerado pelo conjunto dos ternos (a, b, p), com p primo, p 1 (mod 4) e a > b. Prova: Tome (r, s, d) P, (r, s, d) (1, 0, 1) e consideremos a decomposição em fatores primos de d, ou seja, d = p n 1 1 pn 2 k. Nosso objetivo é mostrar que podemos escrever (r, s, d) = e 1n 1 (a 1, b 1, p 1 ) e k n k (a k, b k, p k ), onde a j > b j, e j = ±1, p j 1 (mod 4), 1 j k. Para isso consideremos as seguintes afirmações, ver([4]). I.) Um terno pitagórico (r, s, d) é unicamente determinado por um par de inteiros positivos relativamente primos (m, n) com m > n e de paridade opostas tal que r = m 2 n 2, s = 2mn e d = m 2 + n 2. II.) Um inteiro positivo primo d e ímpar se escreve como a soma de dois quadrados se, e somente se, d 1 (mod 4). Portanto, podemos afirmar que o primo p será a hipotenusa de um triângulo pitgórico primitivivo se, e somente se, p 1 (mod 4). E esta hipotenusa terá representação única como soma de dois quadrados: p = m 2 + n 2. Para a = m 2 n 2, b = 2mn, temos que p 2 = a 2 + b 2. Assim, se d = p, temos duas possibilidades (r, s, d) = (a, b, p) ou (r, s, d) = (b, a, p) = (a, b, p). Considere um triângulo (r, s, d), onde d = pq, com p, q primos e p 1 (mod 4). Então existe um único par de inteiros (a, b) com a > b tal que p 2 = a 2 + b 2, de modo que as equações tem as seguintes soluções (r, s, pq) = (a, b, p) (x, y, z) e (r, s, pq) = ( (a, b, p)) (x, y, z),

(x, y, z) = (r, s, pq) ( (a, b, p)) = (rb sa, ra + sb, p 2 q) e (x, y, z) = (r, s, pq) (a, b, p) = (ra sb, rb + sa, p 2 q). Desde que rsab p 2 k mod p 2 e a 2 + b 2 r 2 + s 2 0 mod p 2. Pelo lema, apenas uma das soluções (x, y, z) acontece. Além disso, p 2 é fator comum a todas as coordenadas da tripla (x, y, z). Cancelando p 2 da solução, rb sa ra + sb ra sb rb + sa concluimos que (x, y, z) = (u, v, q), onde u = p 2, v = p 2 ou u = p 2, v = p 2 são inteiros. Logo (r, s, pq) = (u, v, q) (a, b, p) ou (r, s, pq) = (u, v, q) ( (a, b, p)). (1.3) Agora, basta analizar os seguintes casos: Caso 1.) Se p = q então (r, s, p 2 ) = 2(a, b, p) ou (r, s, p 2 ) = (1, 0, 1) e (r, s, p 2 ) = (1, 0, 1) ou (r, s, p 2 ) = 2(a, b, p), obtemos dois triângulos. Caso 2.) Se p q e como q é a hipotenusa do triângulo pitagórico (u, v, q), então existe um único par de inteiros (f, g) com f > g tal que q 2 = f 2 + g 2, ou seja, (u, v, q) = (f, g, q) ou (u, v, q) = (g, f, q) = (f, g, q). Substituindo em (1.3), obtemos quatro triângulos (r, s, d) = { (f, g, q) (a, b, p) ou (f, g, q) ( (a, b, p)) ( (f, g, q) (a, b, p) ou ( (f, g, q)) ( (a, b, p)). Para d = p n1 1 p n2 k, temos um número finito de primos e prosseguindo com este raciocínio, temos que (r, s, d) = e 1 n 1 (a 1, b 1, p 1 ) e k n k (a k, b k, p k ), onde a j > b j, e j = ±1, p j 1 (mod 4), 1 j k. Portanto, temos que P = (a k, b k, p k ), a k > b k, p k 1 (mod 4), p k um fator primo de d e k N. Este resultado nos permite concluir que existem 2 k triângulos pitagóricos primitivos com a mesma hipotenusa d = p n 1 1 pn 2 k. Referências [1] stillwell, i. n. - Elements of Number Theory, 1nd ed, New York: Springer-Verlag, 2003. [2] mccullough, darryl - Height and Excess of Pythagorean Triples, Mathematics Magazine, vol 57, 1, January, 1984. [3] eckert, ernest j. - The Group of Primitive Pythagorean Triangles, Mathematics Magazine, vol 78, 1, Frebuary, 2005. [4] chowdhury, k. c. - A First Course In Number Theory, 1nd ed, Daya Ganj, New-Delhi: Asian Books Pvt. Ltda, 2004. [5] garcia, arnaldo e lequain, yves - Elementos de Algebra, 4 ed, Rio de Janeiro: IMPA, 2006. [6] maor, eli - Trigonometrics Delights, Princeton University Press, 2002. [7] - divulgamat.ehu.es/weborriak/testuakonline/03-04-lcandres.pdf, acessado em 19 de maio 2010. [8] - http://www2-fs.informatik.uni-tuebingen.de/ borchert/arithmeticalcircuits/grosswald.pdf, acessado em 19 de maio 2010.