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Transcrição:

Processo nº 0513531-91.2010.4.05.8400 Requerente: Geraldo Umbelino da Silva Requerido: Instituto Nacional do Seguro Social INSS Origem: Seção Judiciária de Rio Grande do Norte Relator: Juiz Federal Rubens de Mendonça Canuto Neto PREVIDENCIÁRIO. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA REGIONAL. APOSENTADORIA ESPECIAL. TRABALHADOR RURAL EM AGROINDÚSTRIA. ATIVIDADE EM CONDIÇÕES ESPECIAIS. ENQUADRAMENTO POR CATEGORIA PROFISSIONAL. EXISTÊNCIA. TEMPO PARA APOSENTADORIA ESPECIAL. INSUFICIÊNCIA. INCIDENTE CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE. - As atividades agropecuárias exercidas por trabalhadores vinculados à antiga Previdência Social Urbana, ou seja, àqueles empregados de empresas agroindustriais ou agrocomerciais enquadramse no item 2.2.1 do Anexo do Decreto n. 53.831/64 ( Agricultura - Trabalhadores na agropecuária ), sendo consideradas especiais, por categoria profissional, até a vigência da Lei n. 9.032/95, - O titular de aposentadoria por tempo de contribuição não tem direito à conversão desse benefício em aposentadoria especial quando não preenche o tempo exigido (25 anos) de trabalho em condições especiais. - Incidente de uniformização conhecido e parcialmente provido apenas para reconhecer como especial a atividade agropecuária exercida pelo empregado rural de empresa agroindustrial antes da vigência da Lei n. 9.032/95, sem transformar o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição em aposentadoria especial. I - RELATÓRIO Trata-se de incidente de uniformização de jurisprudência suscitado de acórdão proferido pela Turma Recursal Federal do Rio Grande do Norte no Processo 0513531-91.2010.4.05.8400 onde é apontado como paradigma acórdão proferido pela 2ª Turma Recursal Federal de Pernambuco no Processo 0526068-65.2009.4.05.8300.

O requerente sustenta que trabalho rural em empresas destinadas ao ramo da agroindústria enquadra-se na previsão contida nos Decretos 53.831/64 e 83.080/79, sendo caracterizado como tempo especial. Ao final, requer a reforma do acórdão na parte em que não considerou especial atividade prestada entre temporal de 23/02/1974 e 15/05/1981 como empregado rural de empresa agroindustrial (Usina Estivas S/A), condenando-se o INSS a conceder o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição. O INSS apresentou contrarrazões alegando, preliminarmente, que o pedido de uniformização visa ao reexame de provas e que o acórdão paradigma versa sobre matéria diversa da discutida neste incidente. No mérito, defende que o exercício do cargo de trabalhador rural antes da Lei nº 9.032, de 28.04.1995, não é considerado como atividade agropecuária, não se enquadrando, pois, no item 2.2.1 do Decreto 53.831/64. II - VOTO O pedido de uniformização de jurisprudência para as Turmas Regionais de Uniformizações é cabível quando houver divergência sobre questão de direito material entre acórdãos proferidos por Turmas Recursais da mesma região, sendo o incidente julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência do Desembargador Federal Coordenador (art. 14, 1º e 2º, da Lei nº 10.259/01). A 2ª Turma Recursal Federal de Pernambuco, julgando recurso inominado interposto no Processo 0526068-65.2009.4.05.8300, decidiu que a atividade desempenhada como empregado de empresa destinada ao ramo da agropecuária enquadra-se na previsão contida nos Decretos 53.831/64 e 83.080/79, até 28.04.95. Em sentido contrário, pelo acórdão vergastado, a Turma Recursal Federal do Rio Grande do Norte decidiu que o exercício do cargo de trabalhador rural antes da Lei nº 9.032, de 28.04.1995, não é considerado como atividade agropecuária, não se enquadrando, pois, no item 2.2.1 do Decreto 53.831/64. A divergência não se deu quanto a questões fáticas (efetiva existência do vínculo empregatício, natureza jurídica da atividade desenvolvida pela empresa

empregadora, condições de trabalho etc.), mas sobre questão de direito (qualificação como especial das atividades exercidas por empregado rural de empresa agroindustrial antes da Lei n. 9.032/95). Daí por que para julgamento do incidente não é necessário revolver matéria probatória, sendo evidente que o acórdão paradigma decidiu de modo diverso questão jurídica similar à versada neste incidente. Sendo o incidente admissível, passo à análise de seu mérito. O Decreto n. 53.831/64, que relacionava atividades consideradas especiais, somente era aplicável aos segurados vinculados à Previdência Social Urbana. O regime da Previdência Social Rural (FUNRURAL), então disciplinado na Lei Complementar n. 11/71, não contemplava sequer a concessão de benefício de aposentadoria por tempo de serviço (ou contribuição) para os trabalhadores rurais, tampouco de aposentadoria especial. Se os trabalhadores rurais regidos pela Lei Complementar n. 11/71, mesmo exercendo apenas estas atividades por mais de 35 anos, não tinham direito ao benefício de aposentadoria por tempo de serviço ou de aposentadoria especial (somente podendo obter aposentadoria por idade, e mesmo assim apenas um integrante do grupo familiar o arrimo de família), não possui nenhum fundamento jurídico a pretensão de se computar o tempo de trabalho vinculado ao FUNRURAL como tempo de serviço especial para a obtenção de aposentadoria no regime ora unificado. Na realidade, a pretensão decorre de um equívoco de interpretação: o de que a qualificação da atividade agropecuária como especial, prevista no item 2.2.1 do Anexo do Decreto n. 53.831/64, aplicar-se-ia a todos os trabalhadores vinculados à Previdência Social Rural. Esse equívoco é até certo ponto compreensível, pois logo vem à mente, pela própria denominação dos regimes previdenciários, que todos os trabalhadores na agropecuária eram vinculados à Previdência Social Rural. Assim, o Decreto n. 53.831/64 (item 2.2.1 do Anexo) seria aplicável aos trabalhadores na agropecuária vinculados ao FUNRURAL ou não teria sentido absolutamente nenhum, visto que

rurícolas não poderiam ser vinculados à Previdência Social Urbana. Não é assim, entretanto! Na época da edição do Decreto, os trabalhadores que exerciam atividades agropecuárias poderiam ser vinculados ao FUNRURAL ou à Previdência Social Urbana. Isso porque os empregados rurais de empresas agroindustriais ou agrocomerciais eram segurados obrigatórios da Previdência Social Urbana, nos termos do art. 5º, VIII e IX, do Decreto n. 83.081/79, in verbis: Art. 5º É segurado obrigatório da previdência social urbana, filiado ao regime da CLPS e legislação posterior pertinente, ressalvadas as exceções expressas: (...) VIII - o empregado de empresa agroindustrial ou agrocomercial que presta serviços no seu setor agrário e no seu setor industrial ou comercial, indistintamente; IX - o empregado de empresa agroindustrial ou agrocomercial que, embora prestando exclusivamente serviços de natureza rural, vem sofrendo no seu salário desconto das contribuições para a previdência social urbana pelo menos desde 25 de maio de 1971, data da Lei Complementar nº 11, de 25 de maio de 1971. Durante o período em que vigorou a separação dos regimes previdenciários urbano e rural, a vinculação do trabalhador à Previdência Social era feita segundo a atividade principal da empresa, e não de acordo com a natureza da atividade exercida pelo trabalhador. Por exemplo: o trabalhador que exercesse atividade eminentemente urbana para empresa rural (v.g, motorista da fazenda) era vinculado à Previdência Social Rural, enquanto o trabalhador que exercesse atividades rurais em empresa urbana era segurado obrigatório da Previdência Social Urbana. Nesse sentido, trabalhador que exercia atividades rurais (v.g., corte de cana) em agroindústrias (estabelecimentos que desenvolvem atividades empresarial de natureza dúplice, urbana e rural, como as usinas de açúcar e álcool) era vinculado à Previdência Social Urbana, podendo obter benefício de aposentadoria por tempo de contribuição ou especial. Apenas para esses trabalhadores rurais vinculados à Previdência Social Urbana é que era aplicável a disciplina estabelecida no Decreto n. 53.831/64 (item 2.2.1

do Anexo), que previu o cômputo do tempo de serviço exercido em atividade agropecuária como especial. Aos trabalhadores rurais vinculados ao FUNRURAL, para os quais não era prevista a concessão de benefício de aposentadoria por tempo de serviço ou especial, não há possibilidade de cômputo do tempo de serviço como especial. Aliás, tais trabalhadores somente poderão computar seu tempo de serviço (sem qualquer acréscimo) se efetuarem o recolhimento das contribuições (art. 55, 2º, da Lei n. 8.213/91). Em suma: a categoria profissional a que se referia o item 2.2.1 do Anexo do Decreto n. 53.831/64 ( Agricultura - Trabalhadores na agropecuária ), restringia-se aos trabalhadores empregados de empresas agroindustriais ou agrocomerciais que, embora exercendo atividades tipicamente rurais, eram inclusos na Previdência Social Urbana. Nesse sentido, eis alguns precedentes: PREVIDENCIÁRIO. PRELIMINAR. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. RECONHECIMENTO DE TEMPO ESPECIAL. COMPROVAÇÃO DAS CONDIÇÕES AGRESSIVAS DA ATIVIDADE. RURÍCOLA. RUÍDO. CONVERSÃO. POSSIBILIDADE. CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA APOSENTADORIA. ARTIGO 201 7 CF/88. TERMO INICIAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CUSTAS PROCESSUAIS. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. (...) V - Embora o item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64 disponha como insalubres as funções dos trabalhadores na agropecuária, não é possível o enquadramento de todo e qualquer labor rural. VI - A especialidade da atividade campesina, incluída no regime urbano, nos termos do Decreto nº 704/69, é assegurada ao empregado de empresa agroindustrial que se encontrava no Plano Básico da Previdência Social ou no Regime Geral da Previdência. VII - In casu, restou comprovado que o requerente laborou como rurícola em empresas agroindustriais denominadas Usina Açucareira Paredão S/A e Agropecuária Santa Maria do Guataporanga, respectivamente de 19/01/1972 a 24/12/1973 e de 07/01/1974 a 31/08/1978, deste modo, fazendo jus ao enquadramento pretendido. (...) XVIII - Apelação do autor provida. (AC 200861110009307, JUIZA MARIANINA GALANTE, TRF3 - OITAVA TURMA, 22/09/2009).

PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE RURAL E ATIVIDADE URBANA. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. CONVERSÃO. LAUDO TÉCNICO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. REQUISITOS NÃO PREENCHIDOS. (...) 6. A atividade na lavoura não está enquadrada como especial, porquanto o código 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64 se refere apenas à agropecuária. Assim, ainda que o rol das atividades especiais elencadas no Decreto não seja taxativo, é certo que não define o trabalho desenvolvido na lavoura como insalubre. Aliás, é específico quando prevê seu campo de aplicação para os trabalhadores na agropecuária, não abrangendo, assim, todas as espécies de trabalhadores rurais. (...) 11. Preliminar rejeitada. Reexame necessário e apelação do INSS parcialmente providos. Recurso adesivo do autor desprovido. (AC 200603990463692, JUIZ JEDIAEL GALVÃO, TRF3 - DÉCIMA TURMA, 11/07/2007). O trabalho na agricultura para empresa agroindustrial ou agrocomercial, a exemplo das Usinas de Açúcar e Destilarias, é considerado especial, podendo ser convertido em comum para concessão de Aposentadoria por Tempo de Contribuição, caso devidamente comprovado. O mesmo não se pode dizer do trabalho rural prestado a empresas rurais ou por conta própria, seja como autônomo seja em regime de economia familiar. A Advocacia-Geral da União editou o Parecer/CONJUR/MPS/Nº 32/2009, aprovado pelo Coordenador-Geral de Direito Previdenciário da Consultoria Jurídica do Ministério da Previdência Social, que estabelece em quais condições poderá haver, para fins de reconhecimento de atividade especial do trabalhador rural em agropecuária, o enquadramento no código 2.2.1, do Anexo ao Decreto 53.831/1964. Através do Memorando-Circular Eletrônico PFE-INSS/CGMBEN Nº 012/2009, esse parecer foi encaminhado aos Chefes de Procuradorias, Chefes de Serviço/Seção de Matéria de Benefícios e Procuradores Federais que atuam em Matéria de Benefícios com o objetivo de orientar a todos os procuradores que adotem esta mesma linha de defesa na atuação judicial, esclarecendo que estamos tomando as providências para internalizar este conceito no âmbito do INSS, com proposta de alteração da Instrução Normativa nº 20/2007. A orientação da AGU, respaldada em precedentes do STJ e do TRF da 3ª Região, é no sentido que a atividade agropecuária (prática da agricultura e da pecuária

nas relações mútuas) exercida por trabalhadores amparados pela Previdência Social Urbana ou pelo RGPS enquadra-se no item 2.2.1 do Anexo ao Decreto n. 53.831/64. Assim, é considerada atividade especial possível de conversão por enquadramento no critério de serviços e atividades profissionais em relação ao trabalho exercício até 28/04/1995, data da vigência da Lei n. 9.032/95, que extinguiu a presunção decorrente de grupos ou categorias profissionais. Ainda na linha dos precedentes jurisprudenciais, firmou-se o entendimento que a atividade rural amparada pela Lei Complementar n. 11/71, tal como a atividade rural de exploração de lavoura, não se enquadra como especial e, por isso, não pode ser convertida. A orientação da AGU alinha-se perfeitamente ao entendimento ora adotado: somente se considera especial a atividade agropecuária exercida por trabalhadores vinculados à antiga Previdência Social Urbana, ou seja, àqueles empregados de empresas agroindustriais ou agrocomerciais e a conversão pela categoria profissional apenas é possível até 28/04/1995, quando entrou em vigor a Lei n. 9.032/95. Após 28/04/1995, a atividade somente pode ser considerada especial caso sejam comprovados o tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais e a efetiva exposição aos agentes ou a associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física. A comprovação deve ocorrer pela apresentação de formulários próprios ou de PPP. Preenchidos esses requisitos, a atividade agropecuária na agroindústria ou no agrocomércio pode ser considerada especial, gerando direito à conversão para concessão de aposentadoria por tempo de contribuição. Isso mesmo após 28/05/2008, conforme acima demonstrado. Nesse passo, considerando que a empresa Usina Estivas S/A se insere no conceito de empresa agroindustrial, tenho que a atividade de trabalhador rural, bem como as de cabo de turma e apontador, que também possuem natureza rural, enquadram-se no item 2.2.1 do Anexo do Decreto n. 53.831/64 ( Agricultura - Trabalhadores na agropecuária ), razão por que reconheço como especial o período de atividade rural compreendido entre 23/02/1974 a 15/05/1981.

Embora o aludido período (de 23/02/1974 a 15/05/1981) seja considerado de atividade especial, para verificar se o requerente tem direito à transformação de sua aposentadoria por tempo de contribuição em aposentadoria especial deve-se proceder ao seu somatório com o período reconhecido especial na sentença constante no anexo 23 (01/06/1981 a 16/12/1998) 1. Como resultado tem-se, de tempo de trabalho especial, 24 anos, 09 meses e 07 dias. Não tendo o requerente completado 25 anos de trabalho especial, não faz jus à transformação de seu benefício de aposentadoria por tempo de contribuição em aposentadoria especial. Por todo o exposto, CONHEÇO E DOU PARCIAL PROVIMENTO ao pedido de uniformização regional apenas para reconhecer como especial as atividades desenvolvidas pelo requerente na Usina Estivas S/A entre 23/02/1974 e 15/05/1981, sem determinar a conversão da aposentadoria por tempo de contribuição em aposentadoria especial. É como voto. III ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos, ACORDAM os Juízes da Turma Regional de Uniformização do Tribunal Regional da 5ª Região, À MAIORIA DE VOTOS, vencida a Juíza Federal Joana Carolina Lins Pereira, em CONHECER E DAR PARCIAL PROVIMENTO AO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO, nos termos do voto do Relator. Recife, 11 de setembro de 2012. RUBENS DE MENDONÇA CANUTO NETO 1 Os períodos de 17/12/1998 a 31/12/2003 e de 01/01/2004 a 25/08/2008 não foram reconhecidos como especiais na instância ordinária por questões fático-probatórias, razão por que não foram nem poderiam ser objeto deste pedido de uniformização de jurisprudência.

Juiz Federal Relator